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Bento et al.

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INCLUSÃO DE TRABALHADORES PORTADORES DE DEFICIÊNCIA FÍSICA NO


COMÉRCIO VAREJISTA DE JACAREÍ/SP

Lívia Valéria Veríssimo Bento1, Flávio Edmundo Novaes Hegenberg1,


Miguelangelo Geimba Lima1, Luciele Cristina Pelicioni1

RESUMO: A presente pesquisa tem como objetivo analisar e sugerir melhorias para o
Programa de Inclusão de Profissionais Portadores de Deficiência Física com relação a todos
os outros colaboradores envolvidos no ambiente de trabalho. Partindo do estudo de caso de
uma empresa do segmento varejista na cidade de Jacareí e com base nas informações obtidas
a partir de pesquisas de satisfação e questionários realizados, foi possível desenvolver um
plano de treinamento focando os principais pontos de desenvolvimento e ações estratégicas
que busquem técnicas de conscientização, de motivação, transposição das barreiras
arquitetônicas e mudanças atitudinais, proporcionando aos colaboradores uma ampla visão de
negócios, oferecendo aos clientes, fornecedores e sociedade uma empresa com diferencial
competitivo no atendimento personalizado e nos relacionamentos interpessoais. Concluiu-se
que novos trabalhos podem ser alcançados, além do proposto, tendo em vista que poucos
estudos têm sido desenvolvidos na cidade de Jacareí com o intuito de atingir maiores
resultados na gestão de pessoas.

Palavras-chave: Inserção. Profissional com deficiência física. Treinamento.

Recebido em 20 abr. 2013


Aceito em 29 set. 2013

1
Faculdade de Tecnologia São Francisco - FATESF
flavio.leeds@gmail.com

Rev. Fatesf, Jacareí, v.3, n.2, p.221-233, jul./dez. 2013. ISSN 2237-8847
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Inclusion of workers with physical disabilities in retail business in Jacareí city

ABSTRACT: This study aims to analyze and suggests improvements to the Inclusion
Program of Professionals with Physical Disabilities with respect to all other employees
involved in the work. The study is based on a company in the retail sector in the Jacareí city.
Based on the information, satisfaction surveys were conducted through questionnaires, where
it was possible to develop a training plan focusing on the main points of development and
strategic actions that seek awareness techniques, motivation, architectural barriers and
attitudinal changes. This gave the employees a broad view of business, providing customers,
suppliers and society a company with competitive personalized service and interpersonal
relationships. It was concluded that further work can be achieved, the proposed addition,
given that few studies have been developed in the city of Jacareí in order to achieve greater
results in people management.

Keywords: Insertion. Professional with physical disabilities. Training.

1 INTRODUÇÃO
A aceitação dos profissionais portadores de deficiência no mercado de trabalho tem
levantado diversas questões político-sociais, mesmo após anos de conquistas e superações,
pois a construção de uma sociedade inclusiva que reconheça, respeite, valorize, conviva e
aproveite sua própria diversidade é algo extremamente complexo (BAHIA e SCHOMMER,
2010).
As dificuldades encontradas no processo de inclusão social para os profissionais
portadores de deficiência física demonstram a grande necessidade de treinamentos e
desenvolvimento que se agravam pelas barreiras encontradas no ambiente de trabalho. Diante
de tantas responsabilidades que passam a ser atribuídas às empresas, é certo que
provavelmente, por falta de informação, nem todos sabem exatamente como interagir com
estes profissionais, desconsiderando suas capacidades para exercer uma função ativa na
organização, criando diversos obstáculos para um efetivo relacionamento interpessoal, além
de influenciar, negativamente, na convivência profissional. Desse modo, a quebra das
barreiras atitudinais é tão imprescindível quanto a quebra das barreiras arquitetônicas.
Prestar um atendimento eficiente e de qualidade aos colaboradores com deficiência
física, visando sua inserção na organização, permite entender as necessidades específicas,

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relevantes para o seu desenvolvimento profissional, como também dos produtos e serviços
oferecidos pela empresa. Possivelmente, além do convívio profissional entre os funcionários,
os resultados podem servir para promover um excelente atendimento a uma parcela de
consumidores e fornecedores até então inexplorada no comércio varejista.
Promover a inclusão de profissionais portadores de deficiência em uma organização não
é só considerar o fator cidadania, mas também o de responsabilidade social perante o
próximo, já que uma boa gestão de pessoas pode ser o segredo tão almejado no cenário atual.
O sucesso no mercado varejista da era pós-moderna está inteiramente relacionado à
inteligência nos negócios organizacionais. Aprimorar as necessidades e programar uma boa
política de treinamento e desenvolvimento é ser “inteligente” o bastante para investir tempo e
recursos em pessoas que se tornem imprescindíveis ao sucesso em longo prazo.
O objetivo do presente trabalho foi analisar e sugerir melhorias para o Programa de
Inclusão de Profissionais Portadores de Deficiência Física com relação a todos os outros
colaboradores envolvidos no ambiente organizacional. Partindo do estudo de uma empresa do
segmento varejista do município de Jacareí, foram identificadas suas práticas, valores, fatores
de sucesso e os motivos que competem para sua manutenção.
As estratégias identificadas no estudo buscam técnicas de conscientização, de
motivação, infraestrutura, de tomadas de ações que influenciam diretamente nos padrões de
atendimento da empresa, com a perspectiva de mudanças positivas.

2 MATERIAL E MÉTODOS
O material utilizado no presente trabalho é proveniente de um estabelecimento do ramo
do comércio varejista brasileiro.
A empresa estudada está no mercado há mais de 100 anos e é uma das maiores e mais
tradicionais empresas de varejo do Brasil. Dados da própria rede do comércio varejista a
apontam como líder no setor de cama, mesa e banho. Além disso, está entre as cinco maiores
redes de lojas de roupas e entre as dez maiores do setor de eletrodomésticos com mais de 15
mil colaboradores atuantes, cerca de 280 lojas espalhadas por sete estados brasileiros.
O trabalho proposto foi realizado em uma de suas filiais, situada em Jacareí, no Estado
de São Paulo. Somente esta loja possui, atualmente, um quadro de 31 colaboradores atuantes
em vários segmentos. Ela também participa e realiza ativamente o seu papel de empresa
cidadã, disponibilizando uma divisão entre as lojas da porcentagem de vagas estabelecidas
para os portadores de deficiência, cumprindo as normas constituídas pela lei de cotas
determinada.

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A rede varejista trabalha com o programa de inclusão de portadores de deficiência há


aproximadamente sete anos e a cada dia busca aprimorar o desafio em relação ao respeito da
diversidade. A seleção dos candidatos para o preenchimento das vagas está vinculada ao
processo comum de contratação, contando com análise curricular, testes de conhecimento,
dinâmica em grupo e entrevista pessoal que varia de acordo com as especificações das vagas.
O profissional portador de deficiência selecionado para trabalhar na empresa estudada
passa por todo o ciclo de integração e treinamentos on-line, o que contribui efetivamente para
o desempenho das atividades atribuídas, garantindo seriedade na gestão de pessoas e objetivos
organizacionais.
A pesquisa fez uso de sites e livros relacionados ao tema estudado, de entrevistas
realizadas a partir de 100 questionários avaliados pelos consumidores portadores de
deficiência física, bem como da participação do colaborador portador de deficiência física e
da coordenação da empresa estudada, que possui ampla experiência no mercado de varejo e
atua efetivamente a favor do programa de inclusão, priorizando o bom atendimento aos
consumidores portadores de deficiência física que frequentam ativamente os estabelecimentos
comerciais do varejo da cidade.
Como proposta de melhoria contínua para o programa de inclusão, processo de inserção
e adaptação do profissional portador de deficiência física, deve-se desenvolver um
treinamento a todos os colaboradores sobre a tratativa de como atender bem e abordar as
maneiras de lidar com as dificuldades propostas no dia a dia do trabalho com esses
profissionais.
Para concretizar essa melhoria, foi realizada uma pesquisa de satisfação através de
questionários, em que foram analisados os principais pontos de desenvolvimento das quatro
etapas do estudo, ou seja, 1ª etapa: questionário realizado pela coordenação da loja; 2ª etapa:
questionário realizado com o profissional portador de deficiência física da empresa; 3ª Etapa:
questionários avaliados pelos 100 consumidores portadores de deficiência física que
frequentam ativamente os estabelecimentos comerciais do varejo da cidade de Jacareí e por
fim a 4ª etapa: análise comparativa das três primeiras etapas. Tal estudo proporcionou aos
colaboradores uma ampla visão de negócios, oferecendo aos clientes, fornecedores e
sociedade uma empresa de diferencial competitivo no atendimento personalizado e nos
relacionamentos interpessoais.
O presente trabalho também buscou empresas concorrentes do mesmo segmento da
organização estudada, a fim de evidenciar e comparar os resultados da pesquisa desenvolvida.

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No entanto, devido a questões internas e burocráticas, as empresas solicitadas não autorizaram


a divulgação das informações para conclusão deste trabalho.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com o estudo realizado pelo Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE, 2010), existem na cidade de Jacareí cerca de 13.469 portadores
de deficiência física, conforme classificação estabelecida na Figura 1.

Fonte: IBGE, 2010.


Figura 1 – Portadores de deficiência física na cidade de Jacareí.

Dentre essas estatísticas, a Federação da Indústria do Estado de São Paulo (FIESP,


2010) aborda que somente 502 trabalhadores possuem carteira assinada em Jacareí, o que
significa um percentual de 0,16% em relação à população geral da cidade.
A partir da análise dos dados obtidos nas respostas do questionário, pode-se observar
que a empresa estudada possui, em sua unidade de Jacareí, uma loja parcialmente adaptada
para locomoção dos portadores de deficiência física. Um dos motivos que ainda não levaram a
tais mudanças para o “Programa de Inclusão de Portadores de Deficiência” é que as alterações
na infraestrutura e no mobiliário do estabelecimento afetam significativamente o
departamento financeiro, devido ao alto custo de investimento. Antecipadamente, a
coordenação da loja justifica que são poucos os consumidores portadores de deficiência física
que frequentam o estabelecimento, porém concorda que diversas ações devem ser tomadas
para melhoria do ambiente organizacional, devido à existência no quadro de funcionários de
um profissional portador de deficiência física e relativamente por atenderem uma parcela
pequena de consumidores com deficiência.

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Conforme Freund (2001), a deficiência está relacionada a questões que precisam ser
situadas em um espaço determinado. Relata, ainda, que pouca valorização tem sido dada a
este tema como um elemento que produz tanto a saúde como a doença. Para o autor, o espaço
sócio-material não é um objeto sem movimento, mas que a estrutura expressa a vida social.
Segundo os dados coletados, a empresa estudada tem previsto em seu planejamento a
reforma da loja. A intenção é modernizar todo o ambiente e adaptá-lo às novas exigências da
lei para os portadores de deficiência física, disponibilizando elevador de acesso ao piso
superior, banheiros adaptados, aumento das larguras dos corredores, construção de novas
rampas, prateleiras acessíveis, etc.
O direito atribuído por lei para empregar profissionais portadores de deficiência no
mercado de trabalho não beneficia somente o empregado, mas o empregador. A empresa
relata que a importância deste tema leva à conclusão dos seus objetivos organizacionais.
Respeitar o próximo e fazer a diferença é construir um mundo mais inclusivo para seus
funcionários e consumidores.
Outro assunto abordado com a coordenação da empresa foi em relação ao desempenho
do profissional portador de deficiência física. Segundo a organização, todos os profissionais
portadores de deficiência física que já trabalharam na loja, sem exceção, sempre apresentaram
um nível de altíssima capacitação. Reforça ainda que esses profissionais são muito atenciosos,
responsáveis, comprometidos com as atividades e contribuem significativamente com as
vendas dos produtos e serviços oferecidos por mais dificuldades que eles encontrem no dia a
dia.
Com os resultados coletados pelo questionário e entrevistas realizadas com a
coordenação do estabelecimento, abordou-se o tema relacionamento interpessoal entre os
próprios colaboradores. Diante disso, destacaram-se algumas dificuldades no próprio
ambiente de trabalho. De acordo com a empresa, houve situações em que os colaboradores
não souberam abordar o profissional portador de deficiência física bem como os
consumidores com tal deficiência, talvez por nunca terem convivido com essas pessoas ou por
não serem instruídos sobre a maneira correta para abordá-las.
Os resultados da entrevista e questionário realizado com o profissional portador de
deficiência física da empresa mostram que as barreiras arquitetônicas da empresa são
diversas, mas que as limitações variam muito em relação ao tipo de deficiência física
relacionada (perda ou dano de um ou mais membros do corpo, distrofia muscular, doenças
congênitas, paralisias e entre outras). O profissional alega que sua deficiência (distrofia
muscular do membro superior esquerdo) não o limita nas atividades exercidas no dia a dia do

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trabalho, devido a sua facilidade de adaptação aos ambientes, mas ressalta que a
acessibilidade é para todos, independentemente de ser um portador de deficiência física ou
não. Aborda ainda que sua maior dificuldade, enfrentada diariamente, é a questão do
relacionamento interpessoal perante seus colegas de trabalho e sugere que a existência do
preconceito em relação a sua deficiência seja talvez por decorrência da falta de informação de
alguns colegas. Destacou também que o Programa de Inclusão de Portadores de Deficiência
da loja necessita de manutenção, partindo desde o princípio da contratação do profissional até
o processo final de demissão.
Conforme Neri et al. (2003), um dos principais motivos de existir o preconceito é
devido à desinformação acerca dos desejos, potencialidades e dificuldades de um determinado
grupo da população.
Os dados das entrevistas e questionários realizados com uma parcela de consumidores
portadores de deficiência física que frequentam a empresa estudada e outras lojas do mesmo
segmento do varejo na cidade de Jacareí foram obtidos com a colaboração de 100
consumidores portadores de deficiência física. A Figura 2 apresenta uma amostragem das
faixas etárias dos consumidores portadores de deficiência física da cidade de Jacareí.

Figura 2 - Faixa Etária dos Consumidores Portadores de Deficiência Física.

A Figura 2 permite observar que a maioria dos consumidores portadores de deficiência


física que frequentam os estabelecimentos comerciais do varejo na cidade de Jacareí, são
consumidores da faixa etária com menos de 30 anos, que equivalem a 53% da população
pesquisada. Em segundo lugar, destacaram-se os consumidores na faixa entre 31 e 40 anos

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que representam 31%. Consideravelmente, consumidores ativos que adquirem produtos e


serviços como qualquer outro consumidor ajudam a manter e a mover a economia brasileira.
Em relação à opinião dos consumidores portadores de deficiência física sobre as
barreiras arquitetônicas das lojas de varejo de Jacareí, observou-se que 27% dos consumidores
portadores de deficiência física não encontram nenhuma dificuldade na infraestrutura das
lojas para sua locomoção. Porém, 73% dos consumidores com tal deficiência expressaram
suas opiniões quanto às barreiras arquitetônicas que enfrentam constantemente quando vão as
compras. É fato ainda encontrarem-se muitas lojas da rede varejista que possuem limitações
de acessibilidade aos portadores de deficiência física, impossibilitando a locomoção dentro
dos estabelecimentos comerciais.
Além disso, 86% dos consumidores portadores de deficiência física que responderam ao
questionário de avaliação alegaram que os estabelecimentos comerciais da rede varejista não
possuem colaboradores treinados e capacitados para atenderem à população portadora de
algum tipo de deficiência. Já os 14% restantes dos entrevistados afirmaram que existem
profissionais treinados e aptos a lidar com esta parcela de consumidores, trazendo um
diferencial no atendimento.
Esse diferencial no atendimento está vinculado com o fator de qualidade e fidelização
que a empresa deve constantemente desenvolver para maximização das vendas dos produtos e
serviços oferecidos aos clientes.
Dessa forma, 94% dos consumidores portadores de deficiência física alegaram que o
preconceito ainda prevalece como um obstáculo para sua inserção na sociedade brasileira,
porém somente 6% da população avaliada discordam de tal afirmação. Diante dos resultados
apresentados, pode-se verificar que o preconceito, infelizmente, pode estar vinculado com os
princípios e valores de alguns seres humanos e por isso deve ser trabalhado com muito mais
rigor dentro deste processo de inclusão.
Para a UNESCO (2007), é necessário eliminar todos os preconceitos que norteiam as
pessoas portadoras de deficiência, sabendo expressar as denominações apropriadas e
compreender melhor o verdadeiro significado de ser um portador de deficiência, afinal, são
pessoas diferentes e iguais às outras ao mesmo tempo, mas com características e limitações
variadas.
A Figura 3 apresenta os dados obtidos pelos questionários no que tange o respeito
atribuído no atendimento preferencial aos consumidores portadores de deficiência física nas
redes varejistas da cidade de Jacareí.

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Figura 3 – Opinião dos consumidores portadores de deficiência física quanto ao atendimento


preferencial prestado nas lojas varejista da cidade de Jacareí.

Conforme análise da Figura 3 pode-se observar que 42% dos consumidores portadores
de deficiência física consideraram que o atendimento preferencial é respeitado nos
estabelecimentos comerciais de Jacareí, mas 11% dos consumidores alegaram que o direito
conquistado às vezes não é respeitado. Segundo a população avaliada, 47% afirmaram que o
atendimento preferencial nas redes varejistas passa despercebido, portanto, acabam
descumprindo a legislação e desrespeitando os direitos adquiridos pelos portadores de
deficiência.
Segundo Tôrres (2012), atualmente, a Lei 10.048 de 08 de novembro de 2000, prevê a
obrigatoriedade do atendimento prioritário aos portadores de deficiência, gestantes, idosos
acima de 60 anos e pessoas com crianças de colo. Tal lei, também prevê obrigatoriedade de
atendimento prioritário, imediato e personalizado a esse público nas repartições públicas,
bancos e concessionárias de serviços públicos
De maneira notória, este tratamento personalizado e de imediato não deve ser somente
em alguns lugares específicos de atendimento público, mas também em estabelecimentos
comerciais do varejo, que por sinal, devem cumprir a lei para dar atendimento prioritário às
pessoas preferenciais.
A Figura 4 expressa os sentimentos dos consumidores portadores de deficiência física
no que tange as suas maiores dificuldades quando vão às compras nas lojas comerciais do
varejo da cidade de Jacareí.

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Figura 4 - Dificuldades enfrentadas nas lojas varejistas para o consumidor portador de


deficiência física.

Mediante as informações da Figura 4, a pesquisa demonstrou que as dificuldades dos


consumidores portadores de deficiência física estão concentradas, principalmente, em dois
fatores. As barreiras encontradas na infraestrutura e o atendimento de qualidade dos
estabelecimentos comerciais contaram com 35% das opiniões; 32% alegaram que somente o
atendimento do estabelecimento necessita de manutenção; 22% dos resultados apontaram que
exclusivamente são as barreiras arquitetônicas; 9% dos entrevistados afirmaram que são por
outros motivos, como por exemplo o estacionamento preferencial para portador de deficiência
e, para finalizar, 2% dos dados obtidos apresentaram que as maiores necessidades são o
atendimento diferenciado e por outros motivos relacionados ao tema.
Quanto à opinião dos consumidores portadores de deficiência física sobre o fato de as
lojas da rede varejista em Jacareí possuírem algum atendimento personalizado para essa gama
de consumidores portadores de deficiência, a pesquisa mostrou que 94% dos consumidores
pesquisados afirmaram que não existem lojas de varejo que têm um atendimento
personalizado para atender pessoas portadoras de algum tipo de deficiência. Porém, 6% dos
avaliados, alegaram que existe esse diferencial competitivo no mercado, mas as referências e
justificativas desses consumidores são de lojas do varejo das grandes cidades.
A visão dos consumidores portadores de deficiência física quanto à busca incessante de
melhorar o Programa de Inclusão de Portadores de Deficiência de uma empresa mostrou que
89% dos entrevistados concordaram que medidas eficazes afetam positivamente o
atendimento dos estabelecimentos. Já, 11% dos consumidores discordaram do
questionamento, alegando que tais fatores estão vinculados com a educação de cada
indivíduo, dificultando a convivência entre eles.

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As empresas cada vez mais têm valorizado o relacionamento interpessoal entre os


colaboradores ao invés de analisarem somente as habilidades técnicas dos seus profissionais.
Relacionar-se é saber lidar com as diferenças e colocar-se na situação do próximo,
compreendendo e respeitando as diversas particularidades de cada indivíduo.
A análise comparativa dos resultados apresentados nas três primeiras etapas da pesquisa
demonstrou as relações intrínsecas entre os dados obtidos e a realidade da empresa estudada.
De acordo com a pesquisa, as maiores dificuldades enfrentadas pelo portador de
deficiência física, como profissional, consumidor e ser que se relaciona com os demais
colaboradores de uma organização, concentram-se em um eficiente programa de inclusão
social que atenda as suas necessidades e aspirações.
As barreiras arquitetônicas encontradas pelos portadores de deficiência física são
relativamente obstáculos vivenciados diariamente dentro da sociedade brasileira. A princípio,
as questões de acessibilidade têm levado a população e entidades a vários conceitos político-
socias que lhes são assegurados através da Constituição.
Para atender a tais princípios politico-sociais e à Constituição Brasileira, observou-se a
real necessidade da organização estudada em buscar a modernização de sua infraestrutura e
mobiliário para atender às particularidades do Programa de Inclusão de Profissionais
Portadores de Deficiência, bem como oferecer um atendimento de qualidade aos clientes
portadores de deficiência física. Sendo assim, a reforma predial do estabelecimento conta com
um novo cenário composto por elevadores de acesso, rampas, banheiros adaptados, prateleiras
acessíveis, entre outros recursos que irão facilitar na mobilidade tanto do seu colaborador
quanto de seus consumidores portadores de deficiência física.
No contexto da pesquisa, observou-se que o atendimento aos consumidores portadores
de deficiência física da empresa varejista, encontra-se debilitado em relação à capacidade dos
colaboradores em técnicas específicas de atendimento capazes de suprir as exigências e
desejos de tais clientes. Contudo, a organização oferece atualmente a todos os funcionários
cursos on-line sobre técnicas gerais de atendimento aos clientes a fim de preparar este
colaborador para um atendimento diferenciado aos diversos perfis de consumidores.
Diante dessa problemática, sugere-se um projeto de treinamento e desenvolvimento
relacionado aos comportamentos interpessoais e a técnicas específicas de atendimento a
pessoas portadoras de deficiência física. Em geral, nem todos estão habituados a abordar estas
diferenças, por isso, provavelmente, o projeto proposto proporcionará aos colaboradores a
chance de se desenvolverem e minimizarem as dificuldades que possam surgir no dia a dia da

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organização, preparando-os para lidar com os portadores de deficiência física, tanto no


ambiente profissional, seja como cliente ou colaborador, ou no ambiente social.
Ao pensar na inclusão destes profissionais portadores de deficiência física, torna-se
fundamental investir na sensibilização dos gestores e colaboradores, pois trabalhar com o
capital humano nos dias atuais é um grande diferencial na gestão de pessoas. Os gestores
precisam estar convencidos dos diversos benefícios e da real importância deste projeto,
mesmo que num primeiro momento possam parecer desvantajosos devido ao alto custo em
investimento em treinamento e desenvolvimento, pois são eles os responsáveis pelo
gerenciamento das dificuldades enfrentadas pela empresa.
Os colaboradores precisam estar preparados para atender os profissionais portadores de
deficiência física, já que isso, provavelmente, facilitará a comunicação, o relacionamento e
contribuirá com a integração dessas pessoas. Além disso, essa ação promoverá excelentes
resultados internos e externos, tornando a organização sucesso nos negócios em longo prazo,
devido aos ganhos em motivação, clima organizacional, atendimento personalizado, incentivo
ao trabalho em equipe, proporcionando diferencial competitivo perante as partes interessadas
no sucesso da organização como clientes, fornecedores, colaboradores, comunidade,
acionistas, etc.

4 CONCLUSÕES
Após anos de muitas superações e conquistas, os portadores de deficiência no Brasil
vêm buscando desenvolver diversas ações político-sociais para sua inclusão dentro da
sociedade brasileira. A rede varejista estudada contribui abertamente para esta visão social,
através do seu Programa de Inclusão de Portadores de Deficiência, dando a oportunidade a
profissionais e melhorando as condições para receber e atender este público diferenciado.
De acordo com os resultados obtidos, foi observado que, com a aplicação da proposta,
os objetivos possivelmente serão atingidos pela empresa da rede varejista no que se refere às
melhorias para ao processo de inclusão do profissional portador de deficiência física com
relação aos outros colaboradores envolvidos no ambiente organizacional. Observou-se
também que diversos benefícios poderão ser alcançados durante o projeto proposto, como a
melhoria das condições de trabalho, melhor acessibilidade aos trabalhadores e clientes
portadores de deficiência física. Também será possível atingir resultados positivos na
pesquisa de clima organizacional, técnicas de conscientização, motivação, relacionamento
interpessoal e também a questão do efetivo atendimento personalizado a uma parcela de
consumidores até então inexplorada no comércio varejista.

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A partir dos objetivos específicos desta pesquisa, conclui-se que as estratégias


apontadas no estudo acarretaram novos desafios para ampliar a visão organizacional da
empresa na gestão de pessoas e na cultura de cada colaborador, fazendo seu papel de empresa
cidadã e inovando no mercado de trabalho perante a concorrência.
Diante das oportunidades do trabalho, destaca-se a real importância de desenvolver
novos estudos voltados para o mercado varejista com a intenção de atingir melhores
resultados relacionados à gestão de pessoas e aos portadores de deficiência em geral,
abrangendo novas visões humanísticas e empreendedoras para o sucesso em longo prazo das
organizações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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