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18/12/2016 Meninos 

negros na escola: poder, racismo e masculinidade | Ensaios de Gênero

— Ensaios de Gênero
Um espaço para se ensaiar política, educação, feminismo e coisas do gênero…

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Bem­vinda/o!
Por Adriano Senkevics Meninos negros na escola: poder, racismo e O blog Ensaios de Gênero foi criado em 2011
10/02/2015
masculinidade por Adriano Senkevics e conta com a
colaboração de Lucas Passos e Matheus
Cotidiano Escolar,
Masculinidades França, além de convidadas/os especiais. O
Parte deste texto foi originalmente publicada na resenha intitulada “Diferentes e desiguais”, intuito da página é discutir política, educação e
4 Comentários publicada por Adriano Senkevics na revista Em Aberto, v. 27, n. 92, p. 191­196, 2014. Para acessar feminismo, lançando mão dos estudos de
gênero para analisar diferentes aspectos da
o artigo original, clique aqui. Se preferir acessar o número completo da revista, clique aqui. Abaixo,
sociedade, sempre com um viés progressista
apresento uma versão modificada do texto original, apenas com o intuito de publicação no blog
a fim de contribuir em transformações sociais.
Ensaios de Gênero.
Convidamos nossas/os leitoras/es a nos
enviar comentários (dúvidas, sugestões e
Há variadas formas de se abordar a questão das diferenças – de gênero, cor/ raça, idade, origem, críticas) sempre que tiverem interesse, além
etc. – na escola. Uma delas, bastante em voga na atualidade, tende a enfatizar o aspecto de estarmos abertos a parcerias e contatos.
multicultural que usualmente caracteriza a sociedade brasileira. Celebra­se nossa tão falada Boa leitura!
diversidade, porém, nem sempre tal abordagem mostra­se suficientemente capaz de
apreender as disparidades de acesso ao poder que permeiam as relações sociais. Ao invés de
encerrar o debate na diversidade cultural, é preferível tomá­lo como um ponto de partida para Calendário
questionar o acesso diferenciado a bens simbólicos e materiais pelo conjunto da população e, em
FEVEREIRO 2015
particular, pelo alunado.
D S T Q Q S S
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Foi com esse intuito que Marília
8 9 10 11 12 13 14
Carvalho organizou a obra Diferenças e
15 16 17 18 19 20 21
desigualdades na escola, publicada em
22 23 24 25 26 27 28
2012. Composto por sete capítulos, o
segundo deles, intitulado Formas de ser « nov   mar »

menino negro: articulações entre
gênero, raça e educação escolar, de
Curta nossa página!
autoria de Andréia Rezende e Marília
Carvalho, é fruto do trabalho de
conclusão de curso da primeira autora e Ensaios d...
traz importantes reflexões sobre as 6,8 mil curtidas
relações de gênero e as desigualdades
educacionais, com ênfase nos meninos
e especial atenção para as articulações
No Brasil, os meninos negros compõem o grupo que
entre gênero e outras categorias Curtir Página
enfrenta maiores obstáculos para avançar em sua
sociais, tais como cor/raça e classe.
escolarização.
Neste texto, discuto algumas
contribuições desse capítulo. Textos mais recentes
O ponto de partida das autoras é a constatação, devidamente caracterizada por Fúlvia Rosemberg Da experiência vivida à prática reflexiva: o
e Nina Madsen (2011), de que as desigualdades de gênero na escolarização têm beneficiado as projeto educativo “Mulheres na História”
mulheres desde as últimas décadas. Sabe­se que as trajetórias escolares das garotas são menos Crise do ensino médio: desafio autêntico ou
discurso alarmista?
acidentadas que a de seus pares masculinos. Além disso, são os meninos que ostentam maiores
Uma introdução ao debate de gênero na
taxas de reprovação e evasão, assim como menores taxas de conclusão dos ensinos fundamental e
educação (ou por que superar a falácia da
médio. Não basta, contudo, descrever essas diferenças entre os sexos sem lançar mão de uma
“ideologia de gênero”)
análise de gênero que procure investigar o contexto sociocultural que produz e mantém tais Como são produzidos os dados de cor/raça
disparidades. Nesse sentido, o primeiro passo adotado por Rezende e Carvalho é levantar a nos principais instrumentos de pesquisa
seguinte questão: “quem são os meninos que fracassam na escola?”. educacional no Brasil?
Como as rotinas de crianças podem ser
Uma importante pista é articular as desigualdades de gênero com as desigualdades de cor/raça, profundamente marcadas por gênero?
dado que as relações raciais estão imbricadas com hierarquias entre populações percebidas e Gênero nas universidades federais: uma
classificadas como brancas, negras ou indígenas (Guimarães, 2009), no contexto brasileiro. análise do perfil de estudantes por sexo
O patrão e a babá: sobre a individualização da
Reconhecendo que são os meninos negros provenientes de camadas pobres da população as
culpa
principais vítimas do fracasso escolar, as autoras objetivam discutir a construção das
Paternidades, gênero e a democracia
masculinidades em meninos negros e a relação que eles estabelecem com o processo de constitucional
escolarização. “Que horas ela volta?”: um filme para se
pensar a estratificação social no Brasil

https://ensaiosdegenero.wordpress.com/2015/02/10/meninos­negros­na­escola­poder­racismo­e­masculinidade/ 1/4
18/12/2016 Meninos negros na escola: poder, racismo e masculinidade | Ensaios de Gênero
Por masculinidades, adota­se o arcabouço teórico Cotas raciais e de renda: às voltas com a
desenvolvido pela australiana Raewyn Connell (2005), legislação federal
para quem a masculinidade é uma configuração de Educação, o que será amanhã?
Gênero e raça em quatro edições do Enem: o
práticas em torno da posição que os homens ocupam nas
perfil dos inscritos
relações de gênero, isto é, práticas que os constroem
Gênero e municípios brasileiros: quem está à
enquanto homens (ou meninos, no caso) dentro de uma frente da gestão?
estrutura que atribui significados distintos àquilo que se 4 anos de Ensaios de Gênero
entende como masculino ou feminino. Fala­se, Sobre o natimorto Comitê de Gênero
evidentemente, das relações de poder que constituem o
gênero. As autoras, assim, partem de um referencial
teórico atual e lançam­se aos desafios de compreender Assuntos
como as masculinidades não dependem unicamente
Artes Cênicas / Visuais
das relações de gênero, mas são também interpeladas Atualidades
por outras categorias como cor/raça e classe social, Blog
visto que a produção do fracasso escolar incide, ao Cinema
mesmo tempo e num mesmo sujeito, majoritariamente, Desconstrução
sobre meninos negros e pobres. Essas categorias não Educação
se somam como num colar de contas. Pelo contrário, elas Cotidiano Escolar
Capa da revista Em Aberta, volume Funções Sociais
se cruzam, se modificam, se recriam.
27, número 92, 2014, em que foi Políticas Educacionais
publicada a resenha que serviu de Foreign Language
Para essa pesquisa, em particular, Rezende e Carvalho
base para esse post. Literatura
entrevistaram quatro meninos negros de oito anos de
Masculinidades
idade – ficticiamente chamados de Flávio, Reinaldo, Ícaro Mídia
e Lauro – e suas professoras Priscila e Meire. Os rapazes Mercado de Trabalho
foram entrevistados em 2006, quando se encontravam na 2ª série do ensino fundamental de uma Pessoalidades
escola pública do município de São Paulo. Nas entrevistas, gravadas, que foram realizadas em Política / Economia
duplas, os alunos foram indagados acerca dos significados de ser menino e menina, de ser Raça / Cor / Etnia
Religião
bom ou mau aluno e de ser negro, com o intuito de perceber como e em quais aspectos eles se
Sexualidade / LGBT
diferiam ou se aproximavam entre si.
Teoria Feminista
Conceituando
O primeiro aspecto digno de nota é justamente a classificação racial dessas crianças. Um incômodo
Queer
com as categorias “preto” e “negro”, imbuídas de preconceitos já internalizados pelos meninos, os
levaram a preferir o termo “moreno”. Concluem as autoras que esse termo aponta para um
afastamento da negritude em prol de um pretenso branqueamento. Dado que a classificação Arquivos
racial é um processo subjetivo, que mistura elementos fenotípicos (tais como a tonalidade da pele e
o tipo de cabelo) com um olhar acerca dessas diferenças que é inevitavelmente social, é esperado Selecionar o mês
que a cor/raça com a qual o sujeito se identifique extrapole as usuais categorias apresentadas.

Ainda, as autoras remontam a estudos, como os de Carvalho (2009), que demonstram a assimetria Recomendamos
entre os atributos utilizados para avaliar um menino ou uma menina. Delas, espera­se obediência,
Base de Dados Ariadne (USP)
dedicação e esforço; deles, iniciativa e participação, ainda que sejam “bagunceiros”. A disciplina, Caderno Espaço Feminino (UFU)
em si, não costuma ser cobrada dos meninos, haja vista que as representações de Cadernos de Pesquisa (FCC)
masculinidades das professoras as incentivam a aceitar alguma dose de insubordinação como Cadernos Pagu (Unicamp)
traço masculino. O mesmo não se pode dizer das meninas, cujo sucesso escolar é visto menos Educação & Realidade (UFRGS)
como fruto de seu talento e mais como recompensa pela sua dedicação. Educação & Sociedade (Cedes)
Educação e Pesquisa (USP)
O que a pesquisa de Rezende e Núcleo de Estudos de Gênero – Pagu
(Unicamp)
Carvalho traz de mais inovador é
Núcleo de Estudos e Pesquisas – Ser­tão
revelar o caráter racial por trás de tais
(UFG)
asserções. Na página 63, as autoras
ONG Ação Educativa
ousam ao afirmar que esses critérios Revista Brasileira de Educação (ANPEd)
mais frouxos para a avaliação dos Revista de Estudos Feministas (UFSC)
meninos não incidem igualmente sobre Sexualidad, Salud y Sociedad (CLAM / IMS /
brancos e negros. Dos segundos, UERJ)
esperar­se­ia uma dose maior de
submissão e agrado – aqui entendidos
Parcerias
como alternativa para que os meninos Ainda há muito para se entender o que acontece dentro
negros fossem reconhecidos na sala de das escolas para que determinadores segmentos sociais Assexualidades
aula como “bons alunos” e recebessem sejam mais ou menos beneficiados em sua trajetória Blogueiras Feministas
elogios das docentes. escolar. Colunas Tortas
Educação Aberta
A essa disparidade, acrescenta­se o Escreva Lola Escreva
estereótipo de delinquente usualmente atribuído aos meninos de pele escura: qualquer atitude Margens Sociológicas
menos dócil e mais agressiva, por parte deles, poderia ser interpretada como sinal de transgressão Panela de Pressão das Ideias
Raewyn Connell
social, precursor de uma masculinidade violenta e amedrontadora. Em seguida, as autoras ilustram
Tempos Safados
como os meninos lidavam com as dificuldades de aprendizado e como enxergavam o binarismo de
Território de Maíra
gênero (menino vs. menina) na sala de aula. Trama Social
Transfeminismo
Encaminhando­nos para a conclusão, pontua­se que o principal mérito do capítulo reside em Transtudo
sua abordagem corajosa de embrenhar­se em um tema delicado e complexo, sobretudo em
virtude da ausência de um corpo sólido de pesquisas a cruzarem gênero, cor/raça e outras
categorias. Suas limitações não se pode deixar de mencionar, e estas são evidenciadas pela Passaram por aqui...
necessidade constante de as autoras buscarem apoio na literatura internacional (que, apesar de
1,815,562 visitantes
enriquecer o trabalho, fala de outro contexto) e pela elaboração de conclusões um tanto quanto
amplas, tendo em vista que o número pequeno de sujeitos entrevistados – coerente com um
trabalho de conclusão de curso, diga­se de passagem – e as dificuldades do objeto de pesquisa Siga o blog!
não lhes permitiram formulações mais assertivas.

https://ensaiosdegenero.wordpress.com/2015/02/10/meninos­negros­na­escola­poder­racismo­e­masculinidade/ 2/4

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