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RESUMO: A representação da estética negra nas imagens da Arte tem por objeto de estudo as percepções de
alunos - adolescentes - acerca destas imagens. Intentamos selecionar distintas “obras de arte” de diferentes períodos
históricos e após fazer uma prévia e sucinta análise histórica, econômica, social, estética e artística, apresentar aos
alunos de uma Escola da Rede Estadual de Ensino do Estado do Amapá, objetivando averiguar a percepção e a
recepção destes adolescentes frente às imagens apresentadas, correlacionar com os pensamentos de autores que
pesquisaram/pesquisam sobre o tema e conjecturar de que maneira esta pesquisa poderá auxiliar na percepção e
desconstrução de estereótipos do lugar do negro na arte.
ABSTRACT: The representation of the black esthetics in the images of the Art has for study object the students'
perceptions - Teenagers - concerning these images. We attempted to select different " works of art " of different
historical periods and after doing a previous and brief analysis historical, economical, social, aesthetics and artistic,
to present to the students of a School of the State Net of Teaching of the State of Amapá, aiming at to discover the
perception and the reception of these Teenagers front to the presented images, to correlate with the authors' thoughts
that research on the theme and to conjecture that sorts out this research it can aid in the perception and
deconstruction of stereotypes of the black's place in the art.
1
Licenciatura Plena em Artes Visuais/Especialização em Gestão do Trabalho Pedagógico: Administração,
Orientação e Supervisão, pela Faculdade Internacional de Curitiba - FACINTER/IBPEX-Macapá/Professora da Rede
Estadual de Ensino/Pós Graduanda em Metodologia do Ensino da Arte - Pela Faculdade APOENA/ Macapá.
2
Curso de Formação de Professores pela Escola Estadual Dr. Hermelino Gusmão (1999); Licenciatura em
Pedagogia pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI (2011); Licenciatura em Artes Visuais pela
UNIFAP (2015) Pós-Graduanda em Metodologia do Ensino de Artes pela Faculdade de Tecnologia de Macapá
(2015). Professora da Rede Estadual de Ensino.
3
Licenciatura plena em Educação Artística pela Universidade Federal do Pará-UFPA/ Especialização em
Organização e gestão de Instituições Educacionais-FAMA - Professora da Rede Estadual de Ensino- Pós Graduanda
em Metodologia do Ensino da Arte - Pela Faculdade APOENA/ Macapá.
2
Introdução
O método para a coleta de dados deu-se através da narrativa oral dos alunos com idade
entre 14 e 16 anos, da Escola Estadual Everaldo da Silva Vasconcelos Junior, situada na Rua
Presidente Emílio Garrastazu Médici S/N Bairro Paraiso Santana-AP, - colaboradores da
Pesquisa - além de entrevistas em profundidade na modalidade não estruturada com o intuito de
perceber como os adolescentes apreendem as imagens da Arte, sendo elas preconceituosas ou
não. Utilizamos ainda, técnicas de pesquisa bibliográfica, investigando autores e suas reflexões a
respeito do tema.
É evidente que existem várias e diferentes maneiras de tentar definir a arte. Porém, uma
delas é consensual, a de que a Arte é uma forma de expressão humana e está inserida na cultura
dos povos. Barroso, 2015, defende que as obras de arte são produções simbólicas que
representam e expressam os valores culturais enraizados e defendidos por uma determinada
comunidade.
O que não nos damos conta é de que essas imagens, apresentadas nas aulas de História da
Arte sem nenhuma forma de reflexão, são possiblidades de aprendizagens, e as consequências
dessa aprendizagem que não comunga com preceitos de igualdade e nem tão pouco de respeito ao
próximo podem ser desastrosas, pois produzem agravos significativos a quem sofre qualquer tipo
de preconceito.
Sendo assim, a escola não só pode como deve abordar imagens/questões (de preconceitos,
por exemplo) que não estão incluídas explicitamente nos currículos, embora os mesmos até
apresentem uma abertura para estas questões da contemporaneidade serem introduzidas na
escola.
As pessoas não herdam, geneticamente, ideias de racismo, sentimentos de preconceito e
modos de exercitar a discriminação, antes os desenvolvem com seus pares, na família,
no trabalho, no grupo religioso, na escola. Da mesma forma, podem aprender a ser ou
tornar-se preconceituosos e discriminadores em relação a povos e nações. (LOPES,
2005, p.188)
Apesar de grande parte das escolas demonstrarem sensibilidade quanto às questões que
envolvem preconceito, pouco se tem feito para eliminar, no campo das relações, atitudes
preconceituosas de discriminação e de racismo, preconizado ao longo dos anos nas imagens da
Arte e reportado sem qualquer ponderação nas aulas de Artes. Nas palavras de PAIVA, 2013, p.
3262, isso ocorre por que:
questão, aplicamos um questionário com perguntas subjetivas, com o intuito de permitir maior
expressividade das concepções dos adolescentes acerca das imagens apresentadas e em seguida
sugerimos que os colaboradores representassem a estética negra em um objeto artístico, o
desenho em papel A3. Neste momento sentimos certa resistência dos colaboradores ao se
expressar através do desenho. Exemplificamos com as pinturas de Basquiat, que não se trata de
um “desenho perfeito”, contudo demonstra com clareza o preconceito que o artista sofria. Diante
disso, a C2 optou por reproduzir a obra Autorretrato de 1982.
FIGURA 1: Produção da C2
Fonte: As Autoras
Embora tenhamos nos respaldado com autorizações escritas dos responsáveis dos
alunos, para manter uma postura ética de pesquisadoras e garantir a seguridade da identificação
dos adolescentes, destacaremos a fala destes colaboradores como C1, C2, e assim por diante.
Seguindo a análise das respostas dos colaboradores quanto à relação das “imagens
enquanto agenciadoras de preconceito”, a maioria dos alunos descreveu imagens que representam
o negro sempre como mercadoria, como objeto de um espaço a ser ocupado, como um mero
serviçal. Uma postura que reflete...
Os alunos reconhecem que o artista realizou a obra com base no momento histórico
em que viviam, por isso davam tanta ênfase a situação desumana em que os negros viviam. Mas
outros dizem que consideram desnecessário fazer a exposição, mesmo que em pinturas, do
sofrimento dos negros. Reconhecer a importância do negro para o contexto da história é de
fundamental importância pois nosso país tem em suas estruturas o sofrimento, o sangue e a vida
de inocentes que buscavam apenas por uma condição de vida igualitária.
Apesar de ter sido retratado com tanto sofrimento, o negro passou a ser uma figura
importante no cenário brasileiro. Trazido para fortalecer a economia o negro foi inserido nas, mas
diversas áreas de trabalho, como na área agrícola, artesanato e até nos trabalhos domésticos.
Conforme Ortiz (2005, p.133) "É no dia-a-dia dos homens que se assegura a
permanência do mundo sagrado. O mito religioso penetra, dessa forma, o universo profano para
atingir inclusive a cotidianidade daqueles que o suportam". O escravo defronta-se com duas
práticas religiosas: a católica, difícil de assimilar, mas prestigiosa, pois é a do senhor baseada
num deus da santíssima trindade ou trinário, mais temida que amada, vingador no presente, mas
prometedor do paraíso além da morte; a africana de tantas facetas quando as nações e
comunidades, mas que procura gradualmente unificar-se, abrir-se a todos para dar coerência e
alma à quase totalidade de cada comunidade negra.
Quando um artista se propõe a realizar algo que considere de relevante importância, ele
a faz com afinco, e segue seus ideais, seus anseios pessoais e o que incomoda. Assim, Kehinde
Wiley, que sendo um artista negro, com o uso de suas habilidades na pintura revela suas
inquietações ante a inclusão do negro na arte, não meramente como expectador e sim como autor
e obra inclusa nesta arte.
Sobre o fotógrafo Pierre Veger um francês, diga-se de cor branca, que se encantou
com o Brasil, principalmente com a cultura negra, ou melhor, afro-brasileira, sua paixão fora
tanta que se tornou praticante do Candomblé e suas obras refletem essa cultura, numa das fotos
observadas pelos alunos, a imagem de garotos jogando capoeira, o típico esporte de luta e dança
oriunda dos povos africanos, sobre a qual muitos dos alunos sentiram-se atraídos e
familiarizados. Afinal, somos um país pluricultural, de Norte a Sul, compartilhamos diversas
culturas. Os alunos sentiram-se alegres recordando momentos que praticaram essa modalidade.
De acordo com eles “Pierre tenta passar a compreensão que o povo negro é forte” (C4) ou
“demonstra o sentimento de felicidade, de liberdade, e que eles podem fazer o que eles gostam”.
(C5)
expondo suas emoções, angústias e desejos suprimidos. Um dos alunos expressou sua opinião
afirmando: “É como se ele desenhasse tudo o que acontece com sua vida, eu já desenhei tudo que
estaria passado em minha vida, coisas ruins e boas, problemas é como expressa um sentimento
que não podemos dizer pra alguém, em minha opinião podemos expressar sentimentos em
desenhos ou algo assim.” (C7)
De acordo com o autor acima citado, há uma força tarefa de algumas organizações ou
sociedades ou por parte de educadores preocupados com este recalcamento de estereótipos dentre
os quais está sobre a superação dos obstáculos etnocêntricos na educação que impede a
promulgação de valores principalmente da Estética Negra, sabendo que muitos dos artistas
ocidentais de séculos passados a utilizaram e serviram de inspiração para vários deles como
Picasso, Paul Klee, Modigliani. Ainda, Marco Aurélio ( p.108) diz que...
Referências
NUNES, Luciana Borre. As imagens que invadem as salas de aula: reflexões sobre a cultura
visual. Aparecida/SP: Ideias e Letras, 2010.