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A Representação da estética negra nas imagens da Arte: Um estudo de caso na Escola

Estadual Everaldo da Silva Vasconcelos Junior

Ana Cláudia Cardoso de Azevedo 1


Danielly Ana Dias de Lemos Lima 2
Josyvane Pereira da Silva 3

RESUMO: A representação da estética negra nas imagens da Arte tem por objeto de estudo as percepções de
alunos - adolescentes - acerca destas imagens. Intentamos selecionar distintas “obras de arte” de diferentes períodos
históricos e após fazer uma prévia e sucinta análise histórica, econômica, social, estética e artística, apresentar aos
alunos de uma Escola da Rede Estadual de Ensino do Estado do Amapá, objetivando averiguar a percepção e a
recepção destes adolescentes frente às imagens apresentadas, correlacionar com os pensamentos de autores que
pesquisaram/pesquisam sobre o tema e conjecturar de que maneira esta pesquisa poderá auxiliar na percepção e
desconstrução de estereótipos do lugar do negro na arte.

Palavras-chave: Estética Negra; Imagens da Arte; Adolescentes.

ABSTRACT: The representation of the black esthetics in the images of the Art has for study object the students'
perceptions - Teenagers - concerning these images. We attempted to select different " works of art " of different
historical periods and after doing a previous and brief analysis historical, economical, social, aesthetics and artistic,
to present to the students of a School of the State Net of Teaching of the State of Amapá, aiming at to discover the
perception and the reception of these Teenagers front to the presented images, to correlate with the authors' thoughts
that research on the theme and to conjecture that sorts out this research it can aid in the perception and
deconstruction of stereotypes of the black's place in the art.

Key-words: Black aesthetics; Images of the Art; Teenagers

1
Licenciatura Plena em Artes Visuais/Especialização em Gestão do Trabalho Pedagógico: Administração,
Orientação e Supervisão, pela Faculdade Internacional de Curitiba - FACINTER/IBPEX-Macapá/Professora da Rede
Estadual de Ensino/Pós Graduanda em Metodologia do Ensino da Arte - Pela Faculdade APOENA/ Macapá.
2
Curso de Formação de Professores pela Escola Estadual Dr. Hermelino Gusmão (1999); Licenciatura em
Pedagogia pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI (2011); Licenciatura em Artes Visuais pela
UNIFAP (2015) Pós-Graduanda em Metodologia do Ensino de Artes pela Faculdade de Tecnologia de Macapá
(2015). Professora da Rede Estadual de Ensino.
3
Licenciatura plena em Educação Artística pela Universidade Federal do Pará-UFPA/ Especialização em
Organização e gestão de Instituições Educacionais-FAMA - Professora da Rede Estadual de Ensino- Pós Graduanda
em Metodologia do Ensino da Arte - Pela Faculdade APOENA/ Macapá.
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Introdução

A opção pela temática “A representação da Estética Negra nas imagens da Arte: um


estudo caso na Escola Estadual Everaldo da Silva Vasconcelos Junior” justifica-se frente à
necessidade de transpor a barreira do preconceito preconizado ao longo dos anos nas imagens da
Arte e reproduzido sem qualquer reflexão nas aulas de Artes.

Enquanto Professoras atuantes da Educação Básica, entendemos que levantar questões


acerca da representação do negro em vários momentos da Arte através da apresentação de obras
de artistas que trazem o negro como foco em suas produções é uma maneira de dissolver as
formas de convencionalismos disseminados nas aulas de Artes.

A relevância desta Pesquisa baseia-se na medida em que se constitui como um importante


instrumento para nos revelar quais as percepções de alunos acerca do negro por meio das imagens
que o representam presentes na história da Arte.

O método para a coleta de dados deu-se através da narrativa oral dos alunos com idade
entre 14 e 16 anos, da Escola Estadual Everaldo da Silva Vasconcelos Junior, situada na Rua
Presidente Emílio Garrastazu Médici S/N Bairro Paraiso Santana-AP, - colaboradores da
Pesquisa - além de entrevistas em profundidade na modalidade não estruturada com o intuito de
perceber como os adolescentes apreendem as imagens da Arte, sendo elas preconceituosas ou
não. Utilizamos ainda, técnicas de pesquisa bibliográfica, investigando autores e suas reflexões a
respeito do tema.

Em relação aos procedimentos técnicos, a pesquisa é de natureza Participante, uma vez


que envolve, como o próprio nome sugere, a participação de diversos atores e neste caso, do
contexto educacional, considerando a comunicação e o diálogo como elementos fundamentais.
Assim sendo, a sala de aula passa a ser, não apenas um espaço de aprendizagens, mas também
um ambiente de observação, onde nós, Professores temos a possibilidade de obter um diagnóstico
mais preciso da realidade em sala de aula e a partir de então, construir estratégias de ação em
busca de uma educação mais eficaz.

As indagações que permeiam este processo investigativo resumem-se em como as


imagens de representação do negro são constituintes de subjetividades? Qual a intensidade da
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vinculação da imagem de inferioridade do negro ao longo da história e quais as suas


consequências nas percepções dos adolescentes?

1. A Arte como processo de expressão e modo de comunicação

É evidente que existem várias e diferentes maneiras de tentar definir a arte. Porém, uma
delas é consensual, a de que a Arte é uma forma de expressão humana e está inserida na cultura
dos povos. Barroso, 2015, defende que as obras de arte são produções simbólicas que
representam e expressam os valores culturais enraizados e defendidos por uma determinada
comunidade.

Se analisarmos a Arte como um reflexo, um produto da sociedade, entenderemos o


motivo pelo qual muitos artistas do início do século passado representavam a estética negra
sempre com a mesma condição: a de escravos.

Além de processos de expressão ou modos de comunicação, as formas artísticas têm a


possibilidade de influir nos gostos, ideias, comportamentos ou atitudes de determinados grupos
sociais ou de suscitar escândalo ou polêmica. (Barroso, 2015, p.84).

O que não nos damos conta é de que essas imagens, apresentadas nas aulas de História da
Arte sem nenhuma forma de reflexão, são possiblidades de aprendizagens, e as consequências
dessa aprendizagem que não comunga com preceitos de igualdade e nem tão pouco de respeito ao
próximo podem ser desastrosas, pois produzem agravos significativos a quem sofre qualquer tipo
de preconceito.

A despeito disso, (BRITO, 2009, p. 08 e 09) esclarece:


A escola comprometida com um trabalho educacional contra-hegemônico e antagônico
que vai de encontro à consciência de superioridade quanto aos valores da cultura
dominante, não pode silenciar-se diante de situações geradoras das desigualdades raciais
que, via de regra, estigmatizam os afro-descendentes e indígenas, com maior ou menor
ênfase, como se estes fossem inferiores. Pelo contrário, sua postura precisa ser de
denúncia e combate, problematizando tais questões entre os sujeitos que dela fazem
parte. Logo, o seu papel no desenvolvimento das relações humanas, nos estudos e
reflexões de conflitos étnico-raciais torna-se cada vez mais importante, pois, em sua
cotidianeidade travam-se atitudes envolvendo diferentes linguagens, ações, livre arbítrio,
valores e crenças que influenciam as relações interpessoais no desenrolar do processo
educativo.
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Sendo assim, a escola não só pode como deve abordar imagens/questões (de preconceitos,
por exemplo) que não estão incluídas explicitamente nos currículos, embora os mesmos até
apresentem uma abertura para estas questões da contemporaneidade serem introduzidas na
escola.
As pessoas não herdam, geneticamente, ideias de racismo, sentimentos de preconceito e
modos de exercitar a discriminação, antes os desenvolvem com seus pares, na família,
no trabalho, no grupo religioso, na escola. Da mesma forma, podem aprender a ser ou
tornar-se preconceituosos e discriminadores em relação a povos e nações. (LOPES,
2005, p.188)

Entretanto, compete a cada educador a tarefa de proporcionar espaços e oportunizar


momentos de reflexão, discussão e ampliação de saberes concernentes aos estudos das imagens
da Arte. (LOPES, 2005, p.189), 2005 ilustra:

Professor e alunos devem organizar-se em comunidades de aprendizagem, onde cada um


chegue com seus saberes e juntos vão construir novos conhecimentos num processo de
trocas constantes, desmistificando situações de racismo, preconceito e discriminação
arraigados nos grupos sociais e nas pessoas individualmente. Nesse aprender coletivo,
professor e alunos acabam por enriquecer o processo educativo para ambos os sujeitos
da aprendizagem. Especialmente quando se trata de racismo, preconceito e
discriminação, o investigar e o aprender juntos garantem aprendizagens de melhor
qualidade, porque ruídas coletivamente.

2. Percepção dos adolescentes acerca das imagens do negro representadas em “obras de


Arte”.

Apesar de grande parte das escolas demonstrarem sensibilidade quanto às questões que
envolvem preconceito, pouco se tem feito para eliminar, no campo das relações, atitudes
preconceituosas de discriminação e de racismo, preconizado ao longo dos anos nas imagens da
Arte e reportado sem qualquer ponderação nas aulas de Artes. Nas palavras de PAIVA, 2013, p.
3262, isso ocorre por que:

O ambiente escolar é, infelizmente, um lugar onde o legado africano e a presença dos


negros ainda são vistos de forma preconceituosa, seja pela sua desvalorização ou pela
sua hiper valorização exótica, fazendo-se presentes em murais temáticos somente em
feriados nacionais, como o Dia da Consciência Negra.
Desejosas para melhor compreender como imagens de representação do negro são
constituintes de subjetividades e quais as suas consequências nas percepções dos adolescentes,
realizamos um Estudo de Caso com sete alunos do Ensino Médio da Escola Estadual Everaldo da
Silva Vasconcelos Junior, em Santana-AP, onde ministramos uma “aula” com o tema em
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questão, aplicamos um questionário com perguntas subjetivas, com o intuito de permitir maior
expressividade das concepções dos adolescentes acerca das imagens apresentadas e em seguida
sugerimos que os colaboradores representassem a estética negra em um objeto artístico, o
desenho em papel A3. Neste momento sentimos certa resistência dos colaboradores ao se
expressar através do desenho. Exemplificamos com as pinturas de Basquiat, que não se trata de
um “desenho perfeito”, contudo demonstra com clareza o preconceito que o artista sofria. Diante
disso, a C2 optou por reproduzir a obra Autorretrato de 1982.

FIGURA 1: Produção da C2
Fonte: As Autoras

Embora tenhamos nos respaldado com autorizações escritas dos responsáveis dos
alunos, para manter uma postura ética de pesquisadoras e garantir a seguridade da identificação
dos adolescentes, destacaremos a fala destes colaboradores como C1, C2, e assim por diante.

Ao indagar se o (a) colaborador (a) considera importante o debate/reflexão em torno das


situações de preconceitos presentes nas imagens da Arte, a resposta “sim” foi unânime, conforme
destacou a C2: “... por que no ‘país’ (grifo da autora) em que vivemos ainda tem muito
preconceito por uma sociedade que se sente superior aos outros”. A respeito disso, ARROYO,
2010, p. 113 nos alerta:
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O diálogo tem privilegiado estratégias de combate ao racismo na sociedade e no sistema


através de ações educativas. O racismo é visto como um problema cultural, moral, de
mentalidades, logo seu combate passa a ser caracterizado como uma intervenção
educativa, pedagógica e, consequentemente, dar ênfase em intervenções no sistema
escolar visto como um dos espaços educativos por excelência, como um espaço
pedagógico e cultural, capaz de mudar imaginários, valores, culturas e condutas.

No que concerne aos sentimentos abrolhados nos colaboradores após observar as


imagens que selecionamos e ilustramos em um “banco de imagens” (em anexo), as respostas
diferenciaram-se apenas em alguns pontos, como podemos perceber na fala do C5 que declara
sentir a indiferença, “por que naquele tempo a desigualdade social predominava e os artistas
daquela época representavam em forma de pintura para que isso passasse a não ser esquecido”. Já
a C4 declara que em algumas imagens, percebe que eles (os artistas) colocam o negro como se
fossem diferentes e menos importantes.

Ao analisar as respostas dos colaboradores, entendemos que ao observar as imagens, os


alunos conseguiram perceber, identificar e repudiar dentro de instantes, as que representam o
negro em situações de inferioridade. Isso nos leva ao entendimento de que a reflexão e o diálogo
são possibilidades importantes de aprendizagens e o espaço da sala de aula é um lugar bastante
propício para este tipo de atividade.

Seguindo a análise das respostas dos colaboradores quanto à relação das “imagens
enquanto agenciadoras de preconceito”, a maioria dos alunos descreveu imagens que representam
o negro sempre como mercadoria, como objeto de um espaço a ser ocupado, como um mero
serviçal. Uma postura que reflete...

A ignorância em relação à história antiga dos negros, as diferenças culturais, os


preconceitos étnicos entre duas raças que se confrontam pela primeira vez, tudo
isso, mais as necessidades econômicas de exploração, predispuseram o espírito
europeu a desfigurar completamente a personalidade moral do negro e suas
aptidões intelectuais. O negro torna-se, então, sinônimo de ser primitivo,
inferior, dotado de uma mentalidade pré-lógica. (MUNANGA, 1986, p. 9).

Para compreendermos a relação de compra e venda (mercadoria) dos escravos é


necessário entender que existiam duas formas de venda desses negros, uma era venda privada e a
outra eram leilões públicos. Na venda privada de escravos a modalidade supõem que havia um
entendimento prévio entre o vendedor e o comprador, onde em um acordo o preço era fixado, e
também permitiam flexibilidades no negócio se necessário. No leilão o escravo tinha o preço
estabelecido pelo lance mais alto o que caracterizava esta modalidade. Com o desenvolvimento
urbano do Brasil essa modalidade de comercialização de escravos cresceu, pois passou haver
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necessidade de mão-de-obra na construção, no transporte e no comércio. Segundo MUNANGA


(2005):
... uma parte dos homens nasceu forte e, resistente, destinada expressamente pela
natureza para o trabalho duro e forçado. A outra parte – os senhores, nasceu
fisicamente débil; contudo, possuidora de dotes artísticos, capacitada, assim,
para fazer grandes progressos nas ciências filosóficas e outras.
(GRIGULEVICH, 1983, p. 105). p. 43 apud Aristóteles;

Os alunos reconhecem que o artista realizou a obra com base no momento histórico
em que viviam, por isso davam tanta ênfase a situação desumana em que os negros viviam. Mas
outros dizem que consideram desnecessário fazer a exposição, mesmo que em pinturas, do
sofrimento dos negros. Reconhecer a importância do negro para o contexto da história é de
fundamental importância pois nosso país tem em suas estruturas o sofrimento, o sangue e a vida
de inocentes que buscavam apenas por uma condição de vida igualitária.

Apesar de ter sido retratado com tanto sofrimento, o negro passou a ser uma figura
importante no cenário brasileiro. Trazido para fortalecer a economia o negro foi inserido nas, mas
diversas áreas de trabalho, como na área agrícola, artesanato e até nos trabalhos domésticos.

Assim o negro passou a fazer parte da construção do país e também da família


brasileira. Falar sobre a contribuição do negro para a formação da sociedade brasileira e falar
daqueles que plantaram, construíram casarões, igrejas, fortes e cidades inteiras num mundo feito
para brancos que os viam apenas como objetos, ferramentas sem nome, sem memória, sem
história e sem mérito algum pelo que realizaram na construção do país e da sociedade, que cada
vez, mas se influenciava pela cultura, religião e até mesmo pela miscigenação do negro com
branco.

Questionados sobre a religião, os alunos falaram um pouco sobre o conhecimento que


possuem a respeito e citaram o candomblé, uma das muitas designações religiosas existentes na
cultura africana, consideram também o fato de que mesmo escravizado o negro não deixa de
cultuar seus rituais religiosos, a contribuição negra é inestimável, principalmente porque os
africanos, ao invés de se isolarem, aprenderam a conviver com outros setores da sociedade, a
prática de sua religião servia como o fortalecimento a manutenção existencial de sua cultura . O
escravo pratica sua vida religiosa em níveis diferentes, antagônicos e irredutíveis, um ao outro,
somente compatíveis por jamais se encontrarem.
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Conforme Ortiz (2005, p.133) "É no dia-a-dia dos homens que se assegura a
permanência do mundo sagrado. O mito religioso penetra, dessa forma, o universo profano para
atingir inclusive a cotidianidade daqueles que o suportam". O escravo defronta-se com duas
práticas religiosas: a católica, difícil de assimilar, mas prestigiosa, pois é a do senhor baseada
num deus da santíssima trindade ou trinário, mais temida que amada, vingador no presente, mas
prometedor do paraíso além da morte; a africana de tantas facetas quando as nações e
comunidades, mas que procura gradualmente unificar-se, abrir-se a todos para dar coerência e
alma à quase totalidade de cada comunidade negra.

Os alunos foram levados a pensar suas interpretações a respeito das obras,


principalmente sobre as de Debret. Interrogados sobre que tipo de mensagem essas pinturas
representava cada um deles citou em suas considerações uma palavra relacionada diretamente à
condição desumana do negro na história: para C1 inferioridade, C2 desprezo, C3 trabalho, C4 e
C6 sofrimento, C5 desigualdade, C7 a indiferença.

De forma unânime, os colaboradores conseguem perceber que o negro sofreu e ainda


sofre o preconceito em virtude de sua cor e de sua raça, eles sabem que mesmo sendo parte
integrante e importante um povo miscigenado, o negro é visto como um ser a margem da
sociedade alicerçada por ele, na qual classes são separadas por cor, condição social e religiosa,
mas acreditam também que com todas as mudanças acontecidas no mundo, que ainda vai chegar
o momento, em que o negro vai ter reconhecido na história do Brasil, o seu nome como fundador
efetivo de um país que renega sua identidade.

Quando um artista se propõe a realizar algo que considere de relevante importância, ele
a faz com afinco, e segue seus ideais, seus anseios pessoais e o que incomoda. Assim, Kehinde
Wiley, que sendo um artista negro, com o uso de suas habilidades na pintura revela suas
inquietações ante a inclusão do negro na arte, não meramente como expectador e sim como autor
e obra inclusa nesta arte.

Representada de maneira bela, exuberante e por vezes aristocrática. Na qual sempre


esteve às margens, retratado em demasia como um vassalo, um escravo... Kehinde recoloca o
negro em outras posições de forma igualitária, soberba, exaltando a beleza negra em toda sua
extensão e sua importância na sociedade como ser humano capaz e digno.
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Figura 2 - Kehinde Wiley


Fonte: www. gazetadopovo.com.br

Sobre o artista, os alunos da referida escola consideram o seu trabalho um grande


marco para a arte voltada para o negro, mesmo sendo o artista um desconhecido para eles e
muitos outros. Comparado a Debret e Manet (artistas que tiveram suas obras retratadas nesta
intervenção) em que o negro fora representado como dito anteriormente, sempre realizando
tarefas do dia a dia. Segundo as palavras dos colaboradores, “ele retrata os negros como
protagonistas de suas obras” (C1); “Ele coloca o negro no papel principal, ele faz o negro sua
inspiração”. (C4)

Sobre o fotógrafo Pierre Veger um francês, diga-se de cor branca, que se encantou
com o Brasil, principalmente com a cultura negra, ou melhor, afro-brasileira, sua paixão fora
tanta que se tornou praticante do Candomblé e suas obras refletem essa cultura, numa das fotos
observadas pelos alunos, a imagem de garotos jogando capoeira, o típico esporte de luta e dança
oriunda dos povos africanos, sobre a qual muitos dos alunos sentiram-se atraídos e
familiarizados. Afinal, somos um país pluricultural, de Norte a Sul, compartilhamos diversas
culturas. Os alunos sentiram-se alegres recordando momentos que praticaram essa modalidade.
De acordo com eles “Pierre tenta passar a compreensão que o povo negro é forte” (C4) ou
“demonstra o sentimento de felicidade, de liberdade, e que eles podem fazer o que eles gostam”.
(C5)

E outros escolheram a imagem do artista Michel Basquiat, artista afro americano e de


família abastada, que escolheu a arte como trabalho e realização pessoal fazendo uso do grafite e
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expondo suas emoções, angústias e desejos suprimidos. Um dos alunos expressou sua opinião
afirmando: “É como se ele desenhasse tudo o que acontece com sua vida, eu já desenhei tudo que
estaria passado em minha vida, coisas ruins e boas, problemas é como expressa um sentimento
que não podemos dizer pra alguém, em minha opinião podemos expressar sentimentos em
desenhos ou algo assim.” (C7)

Como último item de nossa pesquisa, os participantes foram inquietados sobre se


pudessem representar a estética negra em um objeto artístico o que fariam? Muitos responderam
que fariam algo representando a liberdade, outros o berimbau como um instrumento que traz
felicidade, ou “o símbolo do infinito mostrando a união de brancos e negros”(C4).

Segundo a Lei nº 10.639/03/11.435/08, sobre os conteúdos referentes à história da


cultura afro-brasileira seriam ministrados no âmbito de todo o currículo escolar em especial nas
áreas de Artes, Literatura e História, mas observamos que isso não é cumprido de modo
satisfatório e relevante para a educação. Quem perde certamente é o aluno que deixa de conhecer
sobre a história dos povos que chegaram a esta terra e suas culturas, pois erroneamente acaba por
aprender o preconceito, estereotipando- o de modo negativo, pois cada cultura tem suas
especificidades como é inerente a cada povo formador. O valor da cultura negra que marca tanto
e enriquece o patrimônio cultural brasileiro ainda é praticamente desconhecido pela sociedade,
segundo Marco Aurélio- “ela sofre de um recalcamento pelo estereótipo e se faz presente em
diversos âmbitos” (p.25).

De acordo com o autor acima citado, há uma força tarefa de algumas organizações ou
sociedades ou por parte de educadores preocupados com este recalcamento de estereótipos dentre
os quais está sobre a superação dos obstáculos etnocêntricos na educação que impede a
promulgação de valores principalmente da Estética Negra, sabendo que muitos dos artistas
ocidentais de séculos passados a utilizaram e serviram de inspiração para vários deles como
Picasso, Paul Klee, Modigliani. Ainda, Marco Aurélio ( p.108) diz que...

“as culturas negras se caracterizam pela forma de comunicação


predominantemente oral (...) Caracteriza-se por ser interdinâmica, interpessoal,
ou intergrupal e, portanto, sua simbologia é eminentemente contextual. Daí por
que as formas estéticas das esculturas negras só podem ser percebidas, em toda
a sua plenitude e riqueza simbólica própria, no contexto e nas relações de
comunicação pra qual foram produzidas e criadas.”
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Diante dessas questões e levantamentos sobre a estética negra na atualidade e o que os


alunos reconhecem dessas obras e suas próprias opiniões acerca do assunto e temática, nos
surpreendem em relação ao que fazer para difundir sobre a cultura negra, suas artes ou o artista
negro que a desenvolve. Tudo traz à tona o que ainda falta para conseguirmos alavancar a cultura
rica de nossos antepassados oriundos do continente africano e o que melhorar em nossa prática
pedagógica e na educação de nossos alunos desprovidos de conhecimentos de suas origens e do
tanto ainda há para fazer para erradicar qualquer preconceito com as artes e a estética em que o
negro ou sua ideia esteja inserido. Porque se o racismo é a atribuição de lugares sociais pelo
critério de raça. Mas traz um paradoxo; a humanidade tem uma única raça... a humana!

Referências

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olhar além das fronteiras: educação e relações raciais. Nilma Lino Gomes (Org.). Belo Horizonte:
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ARTISTA polêmico. Kehinde Wiley. Disponível em: ztp://www.gazetadopovo.com.br/mundo/
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