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br/governo-reduz-investimento-na-eja-e-deixa-modalidade-com-os-
dias-contados/ consulta em 15/01/2020

GOVERNO REDUZ INVESTIMENTO


NA EJA E DEIXA MODALIDADE COM
OS DIAS CONTADOS
 JORNALISTA: MARIA CARLA

 15 DE JANEIRO DE 2020

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) está com os dias contados. A


previsão é do Orçamento federal para 2020, que registra o pior
investimento dos últimos anos. A lei do Orçamento Anual do governo
Jair Bolsonaro destinou apenas R$ 25 milhões para o setor. Em 2019,
o ministro da Educação, Abraham Weintraub, aplicou somente R$
16,6 milhões na área, o que corresponde a 22% dos R$ 74 milhões
previstos, segundo O Globo.
Um levantamento feito pelo Sistema Integrado de Operações (Siop)
mostra que este foi o menor investimento no programa da década. Em
matéria sobre o tema divulgada no dia 29/12/19, O Globo destacou
que, “em 2012, por exemplo, durante o governo da ex-presidenta
Dilma Rousseff (PT), o investimento no EJA foi de R$ 1,6 bilhões,
valor 115 vezes maior do que de 2019”.
A revista Rede Brasil Atual, de 20/12/19, por sua vez, afirma que, dos
R$ 54,4 milhões destinados ao programa, em 2019, apenas R$ 1,5
milhão foi aplicado, valor que equivale a 2,8% do total. “Mais R$ 1
milhão foi usado para cobrir os chamados restos a pagar de 2018.
“Eles não têm nem o que executar. Destruíram todos os programas
que existiam. É até de se perguntar: gastaram dois milhões no quê?”,
questiona o coordenador da Unidade de Educação de jovens e
Adultos da Ação Educativa da ONG Ação Educativa, Roberto Catelli”.
Além da falta de investimento, a EJA, no governo Bolsonaro, passou
por uma profunda desarticulação na época em que o ex-ministro da
Educação Vélez Rodriguez extinguiu a Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi), que era
responsável por fomentar políticas para o setor em estados e
municípios.
Enquanto o governo Bolsonaro elimina uma das principais políticas
públicas de Estado de inclusão educacional, mais da metade dos
brasileiros com mais de 25 anos não tem Ensino Médio completo,
número que corresponde a 52,6% da população. Esse dado é do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD
Contínua) 2018 mostra que a taxa de analfabetismo das pessoas de
15 anos ou mais de idade, no Brasil, foi estimada em 6,8% (11,3
milhões de analfabetos). Erradicar o analfabetismo no Brasil não é
tarefa fácil. São séculos de governos como o de Bolsonaro, que
alijaram milhões de brasileiros da possibilidade de estudar. Os
números confirmam a declaração de Darcy Ribeiro, antropólogo,
educador, romancista, criador da Universidade de Brasília (UnB): “A
crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto”.
DESINVESTIMENTOS
“Nem os governos neoliberais dos anos 1990, que investiram o
mínimo que puderam na educação, ousaram jogar o Brasil em tão
grande obscurantismo educacional. Ao contrário, criaram, mesmo
timidamente, políticas de inclusão social e educacional. O governo
Bolsonaro faz questão de dilapidar, apressadamente, tudo isso,
principalmente a cultura e a educação. Não cumpre a Constituição e
ignora que o acesso à Educação de qualidade é direito fundamental
para a ampliação da cidadania, para o aprofundamento da democracia
e para o desenvolvimento do País”, afirma Rosilene Corrêa,
coordenador de Finanças do Sinpro-DF.
Ela informa que os países desenvolvidos do mundo investiram pesado
na educação e mostraram que somente com investimentos públicos
em educação conseguiram erradicar o analfabetismo e,
consequentemente, reduziram a pobreza, a criminalidade e ampliaram
o crescimento econômico, o bem-estar e o acesso da população aos
direitos fundamentais.
“A EJA não é somente alfabetização de adultos, é também a
conclusão dos estudos até o Ensino Médio. A política de permanência
na educação pública tem sido ameaçada, sobretudo as políticas
focadas no segmento da população que já havia sido prejudicado pela
falta de oportunidade e de políticas públicas de permanência”, afirma
Cláudio Antunes, coordenador de Imprensa do sindicato.
Em pouco mais de 2 anos, o desinvestimento em educação retirou do
Distrito Federal o selo de unidade da Federação livre de
analfabetismo, que ganhou em 2014. Em 2019, o governador Ibaneis
Rocha (MDB), que segue a cartilha neoliberal do governo Bolsonaro,
fechou várias turmas e turnos noturnos oferecidos pela rede pública
de ensino.
“Aqui no DF a gente vai observar ainda mais fechamento de turmas e
turnos de EJA, que já vem acontecendo desde o ano passado e,
agora, com Bolsonaro, vai acentuar pela falta de investimento. O
objetivo é claro. Isso aí é um projeto de governo para sucatear a
educação pública. Hoje a gente observa isso na EJA”, finaliza Letícia
Montandon, diretora do Sinpro-DF.
ESTRAGO SILENCIOSO
O título da matéria da revista Veja fazia o alerta: “O estrago silencioso
na educação”. Na matéria, a Veja denunciou que o estrago ia além do
contingenciamento de verbas para as universidades federais e o corte
de R$ 348 do lote destinado à produção e distribuição de livros
didáticos e da interrupção total da Secadi.
“O impacto do sucateamento foi traduzido nos dados divulgados pelo
Censo Escolar de 2018: o número de matrículas da EJA diminuiu
1,5%, totalizando apenas 3,5 milhões de estudantes matriculados no
ano passado. O número é extremamente baixo para um país que, em
2017, tinha 11,5 milhões de pessoas analfabetas acima dos 15 anos
de idade, segundo o IBGE”, dizia a revista.
Ainda segundo a Veja, a taxa de alfabetização da população acima de
15 anos está abaixo do previsto. A meta a ser atingida em 2015 era de
93,5%; em 2019, 4 anos após o fim do prazo, essa porcentagem ainda
estava em 91,5%. Isso significa que as metas estabelecidas pelo
Plano Nacional da Educação (PNE), cujo objetivo é acabar com o
analfabetismo absoluto e reduzir em 50% o analfabestismo funcional,
dificilmente serão atingidas até 2024, quando termina o prazo para
alcançá-las.
PERMANÊNCIA
“A EJA não é somente alfabetização de adultos, é também a
conclusão dos estudos até o Ensino Médio e melhorar esses índices.
Para levar a população que não conseguiu concluir o ensino básico
para a escola, é preciso investir também em política de permanência.
Essa é uma das políticas mais ameadas pelos governos federal e
distrital, sobretudo as políticas focadas no segmento da população
que já havia sido prejudicado pela falta de oportunidade e de políticas
públicas de permanência”, afirma Berenice Darc, diretora do Sinpro-
DF.
A EJA já vinha sofrendo reduções significativas de orçamento desde
2014, quando a receita disponível a essa modalidade foi de R$ 679
milhões. Em 2017, no governo de Michel Temer (MDB), o orçamento
foi de R$ 161,7 milhões. Em 2018, foram R$ 68,3 milhões. Os dados
constam da página Siga Brasil, sistema de acompanhamento do
orçamento federal, mantido pelo Senado. Apesar das reduções, a
execução do orçamento vinha sendo próxima àquilo que fora
planejado. Já este ano, “o quadro é de desolação”, na avaliação de
Roberto Catelli.
Nos anos 1970, em vez de EJA, a alfabetização e escolarização de
adultos era conhecida como ensino supletivo. Mudou de nome para
EJA porque se aperfeiçoou com novas e mais eficientes metodologias
de ensino. Nos anos 1980, se fortaleceu. No atual orçamento
destinado à educação na EJA, o valor estimado para cada estudante é
de 2.870,94 reais, de acordo com o Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb).
Com informações de O Globo, revista Rede Brasil Atual, UOL, site do
IBGE, site do MEC, O Estado de S. Paulo, revista Veja, revista Fórum.

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