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w& Volume t LUIZ GUILHERME MARINONI “ 2 A Influéncia dos Valores do Estado Liberal de Direito e do Positivismo Juridico TEORIA GERAL Sobre os Conceitos DO PROCES SO Clasicos de Jurisdigao EDITORA I a ? REVISTA DOS TRIBUNAIS 24 A JURISPICAO NO ESTADO CONSTITUCIONAL da legalidade foi a de que ridual, Par aver stado de Direito Liberal a jtradigio européia— daescatisticacon- jo de superioridade. Nate fica e exclusiva do legistaivo. a obra que idealizou a teoria da separagio dos “poder de julgar” deveria ses ex rodutiva de “dire mac o que ji havia sido, “urn texto exato dal procedentes de siete. criagaa do 26 AJURISDIGAO NO ESTADO CONSTITUCIONAL Francesa eram tao comprometidos c + inovagio introduzida pel ‘experienciapessoal, pois nasceut Charles-Louis de Secondatem lo herdado do seu tio no apenas: President a mortier vo Parlement de nome de Montesquiea.? igdosocial, como ain~ izes com o poder, nessa ‘so idealizando a teoria da separaso dos poderes,» e assim propondo que ot Jos deveriam se limitara dizer as palavras dale.”* da reve a eoragem de denuinciar a rlagées espirias dos lei ea sua validade conectadaexchisiva estou oridade da forte da sua pe vale em cazio da auroridade que 2 edita,independente- ins dejustiga, nao hi como direcionara pro~ iedade. Daisetercomocertnqueateoriade rnin ri JURISDIGAO, ESTADO LIBERAL, EPOSITIVISMO 27 lade tinha estreitaligacdocom oprincipio «lalibercade, valor perseguido pelo Estado liberal a partir das idéias de que a Admi- podia fuzer quealeiautorizasse ede ques cidaclios podiam fazer 1 lei no vedasse, Conforme anota Carl Schmitt, da ideia funda mental da liberdade bucguesa—protegio-dos-eidadaos contra-os-abusos-do-poder ‘blico - deduzem-se duas conseqteneias, que integram o» dois prinefpios ipicos ibuipde:aesiera deliber \do,restando a libercade -laé {do individuo ifimitada em prineipio, enquanto afaculdad limitacla principio deorganiziara pritica aq 1 o poder do Estado (limitado em principio) fepirte-se eencerra-se em um sistema de competéncias circunscritas." perio da le, como i fidoem contraposicio aid antesde rudo, que o proprio leg dlolegislador lei s6 € possivel,todavia,enquanto alei éuma norma com certas pro~ priedades.” Estas sio sintetizadas naexpressao aliberdade e aigualdade ~ formal — dos cidados, a let deveria guardaras caracteris~ ticas da generafidadee da absiragao. A norma nao poceria tomar em consideragio alguem em expecifico ou ser feita para uma determined hipotese, A generalidade garantia de imparcialidade do poder fence tos cilachios~ que por ser serem “iguais”, deveriam ser tratados sem discriminagl bstragio c sgacanti da estabilidade ~ de longa vida ~ do ordenamento: ‘A igvaldade, que no tomava em contaavidareal das pessoas, era vista como naga das posigies sociais, pouco it~ mncretas, © Estado liber esobesda autorida- ledco Estado trumento a servigo da liberdade burguess, jigeral cabstrata, Para ntoviolar nha preocuparao com adetesa do cidadio dest comasdiferentesnecessidades sociais.”. rte as pessoas privadas, especialmente as relagoes “resitutradora part 0 exqjuetna iberal de dso dos poderes 9 de Dirato oniundo 5 how subjetvos ge ex legitimar yeternizar elas uo ig ISDILAO, atural das aabstragioe ‘de jvizinterpretara iciou considerarcitcunstincias espectais ou concre- «ébvio, dened adiantariaurnale’ marada pelagenerilidadee pela abstra- pudesse conformi-la isdiferentes situaydes concretas. Isso, segundo os obscureceria a previsibilicace ea certezado direito, pensados como ara manatengao da iberdade,Compreene se nessa cimensiona n saber precisamente 08 compromiesos ida de que essaafiemagiode Montesquieu revela CAO, ESTADO LIBERAL, E POSITIVISMO 29 ‘com base nessas premissas a ciéneia do dit vorigSes legskativas nada mais eram do queparticulas cons rénprete pe inte uma operagaointelectivayasestruturas que 0 s4s- —entawanyieto é, 08 seus prineipios. Base é 0 fundamento da interpretagao sister ‘hene da mlogi dos metodosde interpretagao que, na presensade uma lacuna, is ‘deumma disposigao expressa para resolver ridica, per- erseam individualizas a norma precisa em coeréncia com osisterna. A.sistematic: {Thee scompanhava, portanto,a plenitude do direito™.* 2.2. O positivismojuridico © positivismo idico ¢ tributario dessa concepsa0 de diseito, pois, partindo ade queo direito se resume | é fruto exclusivo das casas legislati~ nitaa stividade do jurista descriyio daleie i buscada vontadedo legslador. © positivismo jurcico nada mais é do que uma tentativa de adapraga do positwismio filossfico ao domfniodo dreito.Imaginou-se, sab ordtulo de positivismo “que seria possive criar uma circa jaridica a partir dos raétodos das cién~ ‘objexividade da observasao eda experimentagao. Se o investigador das eiénciasnaturais pote re joscomn base emprocedi~ mentoslogicos até conclvira zespeito da verdade ou dafalsidade de urna proposiga0, suds se que a tarefa do jurista poderia ser submerida a essa mesma ligica, Nessa Tinh, os juristas sempre chegariam a um resultado correto oa falso na descrige de dite postive como se fisicos ou quimicos fossem. vig ju jcativa de 19.42, Refesind pltarrenee ea cna jervemparacebmatar La edad de ladecodificacion p. 93). ita de aireite Norte 'D potioime juriice, Joseph Ra, ‘oleman, Negative and positive positivism, Cx fourm af Legal Studi, 1 cd interns 8 conan 4a ba aA CUSIS LLUCLUNAL JURISDIGAD, DO LIBERAL, B POSITIVISMO 3t oda normayuinit-ver quest foprocedimento esta- estava apenas nadependéaciada obser ara asua criagao. Além do mu: denamento juridico, afirmando a ua plenitude. A lei, compreendica 0 de lei on como Codigo, era dotada de plenitude e, portanto, lar resposta ans conilitos de interesses. hes a io ras tambem foio respons wo das tarefas e das responsabilidades di profestores ejuristas,limitando-asa uma aplicagio na pratica fo a universidade e na elaboragao doutrinasia.”” starus quoou dos que a sociedade se 2.3 Ajurisdigio como fungio dirigida a tutelar os dis vos privados violados ——garpetoituminismo toi ace ‘Ao interferenciado valores da igual ms raga de pocleres como mecanis: Esta nas rlagdes privadas ede principio da: mode suborcinagao do executivo ¢ do judi inexeptica, que, além detersido influencia~ merrtcmarcada peloporitivismojuridicne;assim— missio do jute ei. racial defesa da esfera de liberdade do partic Napoca, atuavaa chamada pel idéa d tese de que (uuralmente ares mediante a Au apenas supremaciada lei seria capar de protegeressesdireitos dera 2 jurisdigdio a fangio de proteger os direitos subjetivos dos parti aplicagio “Maisprecisamente,ajusisdicio tinha a fungio de viabilizara eparaciododano, tuna yee que, nessa época, nto se admitia que o juiz pudesse atuar antes de uma ag30 humana ter violado oor rato juridico, Sea liberdadeera garantidana medida em queo Estado naointerferia nasrelagbes privadas,obviamente nto se pociadar ao juie o poder de evitara pritica de uma conduta sob o argumento de que ela foderia li. Na verdade, qu \geséncia do juiz, sem que houvesse sido vio: seria vista como um atentado a tibertade individu Giuseppe Manfiedini ~ um doutrinador italiano da época~,a0 eserever, em 1884, 0 seu Programma det rorsadidirite pios informadoresda procedura civileaquele quesintetizaria anecessidade de se Ferirace direitos privados a méxima garantia social com 0 minim de saerficio de I~ berdade individual. Disse Manfredini “guc cada resrigda & Tiberdade da positivas humanas,¢ queconsequent alc. 1ONAL, JURISDIGAO, ESEAI LIBERAL, EPOsITivisMo 33 do s¢ livrou do peso dos valores do Estado liberal, io de su- Quando Mortaraafirma quea jarisdicio temo fim dedetenser o dieico obje- “aves Tea cnto- que esse objetivo deveser realizado mediante aceclaragio ou aatiae ‘oda lei, Portanto, a doutrina de Moreara se diferenciou, em relago As lisoes récestualistas que sustentaram a concepgio de jurisdigao vista pens cm rezdode ter revelado a nacurezspiblica do processe, masse aos valores cultura ¢ideolbyicos do Estado liberal. 1m significado em peciinia, Foi quando surgiu a idéia dereparagio lente,o que obviamente também teveinluéncia sobre concep fangdo dirgida a dar tutla aos dicitos privados violados. (Ora, se todos os direitos podiam ser convertidos em pes do se preacupavacom atutela daintegridade do direito mater manter em funcionamento os mecanismos de mercado, logica nnecessiriaa prestagio} ial preventiva, bastando aquela que pudesse ci no bolso do particular o equivalente monetiri. pan gnpeiteccsoe 2:5 A teoria de Chiovenda: a jurisdigao como atuagio da vontade concreta dalei . . . _ Ginseppe Chiovenda, em 1903, proferiu uma cont 2.4 Dateoria da protesdo dos direitos subjetivos privados a teorin famoseneetstadon doprocemo civil -demonctrando a autonomia daagi daatuagdo da vontade dalet ree vubjetivo material” Essa conferencia, ao desvincular aa 5 ‘material, dda era privatista do processo, ¢ eafirmou a tendéncia scons tails realizado tem anterior ibe venir oque separa co que inaugurada por Mortara Jo ealce da natareza publicista do processo cil ag soriasda protecia dos direitos subjetivos privados ¢ da atuacioda von- |A jurisdicdo, mergulhadano sistema de Chiovendsa, €vista como fungio volta oda vontade concreta da lei Segundo Chiovenda,ajurisdiaa,no proceso va e obrigatéria da ativicade inte ‘Aatuacio davontadeds lei revela apreocupagaoem salientar que ajurisdiyao 3 afimmagio do direitn objetivo, hegou a dizer q risa |, Commentara del Codie e dele egy oi provera vie gern pistarna a Moctara pe Chiovenda, Lodovieo Mortara, Ri Dintte Pre Civil 1997, idad y derogacion’ teoria de Kelsen, La valid de! derecho, p. 7-40. 5 i ‘oes legisla siagao do direito eao juiza sua aplica~ ste sonalidaaasacuc yey elnnceinas genar eo fadioniom phn o poder politico por exceléncia, o judici corpo de profissionais que nada podia crias:”” Detuide que nis pode tonfundat apart da worma prado ca cnr vido da norma individual de casocomereo, Cando se ster, na Hn da, Embora a doutrina da criagio da norma individual io este preso ae texto da fei— como ficara claro q) | wepreseatouums critics a posigile que enxerg. capo das nermas gerais EPOSITIVISMO 35 ISDICAO, ESTADO LIBERA problemaszagioda dogmitica proces civil jamaischegou aquestionaspor exc flo,oacessodoscidadiiac Poder Judicirio ca sfetvidade dos procedimentos para tender aos direitos das classes desprivilegiadas. 'ana,apesarde tercontribuido para desen- teve-ne iel wo positivismo clistica 2.6 Adoutrina de Carneluttizajusta composicio dalide Carnelutiatribuiu Ajurisdigio a fungao dejustacomposigao dalide,entendi dacomo o conflito de interesses qualificado pela pretensio de um e pela resistenc ‘tro interessado.® A lide, no sistema de Camelutti, ocupa o lugar da ago no sistema chiovendiano. Como visto, Chiovenda, ao desenvolver 0 esta autonomiaem relagioao direit aglo eo discito subjetivo material teve 0 Gaconcepeao privatista deprocesso, Como fez questi de frisas Cristina Rapisarda aeoria ‘como funcao voltad: jontadecon exces dale ital, com o principio da auto- da agdo, demonstrou a cua terial, Porém, ese trabalho de separacto entr ide demonstrar a superagan por conseqiién igie dos poderes. jnvisdigiodentrodoquadro 4qualas partes precisavam do juizno conflitodeinteresses— ado com afi JURISDIGAO, ESTADO LIBERAL, & POSITIVISMO az individual faria parte do ordenamente, ou teria narureca constitu ma superion para cs parte De qualquer mane’ daa partir da ideia que esta presente no sistema de Carnelutti, de que a Bla imine par comp or ide sede Resear ten atividade eens, nee link, int oordenamento den endo aime def pstrata, isto é, a lei. A sentenga, a0 tomaralei particular pers superion A norm ee pena por indiiduicar« ‘Connudo,ao individualizara norma superior 0 juiza declara. Quando torna “gnorna concreta,ou compée a lide no sentido da dourrina de Carnelurt st pores Ge adequsyio di norma jrexstemte —ao-cavo-coneretork-certo Gea norma juridia, genéricae abstrata, pode ser conerecizada ands que sem 2 aes wsidade do processo, Pura tanto, basta que um fato se enquaure petfeitainente evisiy da nermaabstrata. Masse isso ndo acorre — até mesto wee primeira vista ede comum acordo,conchuirse wm fatoseadapta&previsio ds vapvaea abstrata--, surge como necessaria 1 jurisdigao para dizer se ofato ocorrido esta por ela albergado. Mediante w lade de conhecimento do fato € de Jateleeqio da norma, o Juiz, 10 profesira sentenga,individualiza anorma, tomnan- ddo-a concreta para os itigantes. “so quer dizer que as concepydes de queo iz aruaa vontade da juizedita anormado caso concreto éederanm a mermafonteypotsa segu ‘que sentenca prockyzanormaindividual, quer dizer apenas que o juiz, depots acinar concretiga a norma jd exintentea gual, dessa forma, também édeclarada’® dalide’, de Carnelutti,e de“atuagioda ay que sentenca torna concreta a norma abstrata e genérica sto é, fz pa ders ‘execucio dasentenga, pois a prism direito.” Por isso, o legislaclor inde superar inte lo, Re obvio que e trad Por otra pare, es supa ve ba valdlez Kelen, Teoria gral dy eta 1 He delac ie KONAL Quando osprocessualistas clissicos sustentam queascntenga fixaa Ici docaso sentenca nao ¢ fel lei que preexiste processo terencerrado ~e produzida vale como lei para as partes. Dizia, por do proses quand nca nao pudesse mais ser diseutida, ocasifo em admits falta de certeza nem conilivo sobre rela jaridica gad. His lip do het arta allano.* Asn como al eaksenpuandecriten suds porque correponda a justia social, send unicaments pole autoridade de que t ‘uma veztransitada ema jul- cao, vale no pore sia just, sendo posque ter, para o cio concietoya mesma forga da lei (lec expeciais). Em um certo ponto, inde elegalmente possivel examinar suleiéa que ojuiz proclaina material os declan juga Sendo: aferidas nei, etc ite peau usta ASE. swbreel praca seth. 158 LIBFRAL, EPOSITIVISMO 39 IRISDIGAO, ESTA sr eddemonstrar que aadesa0d ieoriawnitiria nore Preset per id gualucrrompimentocom oposite disse, nto,que asconcepgSesdeCameluttie Calamandreiapesae Ielenamento juridico, nao se desligaram ca idéia de Ibordinatkrdotegistador,devendo dectarar jae as de Carneluttic prescingivel parase compre Deixe-seclaro, po de fliadas A coria unitéria do ‘qiea fungio do jutzestresttarTeEnte lei, Na verdade, adistingao entre a formulagao de Chiow Calamandsei esti em que, rimeire a jurisdigio dec! va regre, qt indegra cordenamentojuridica,enqvant, Pa SP atedeisardedectarar ae cria wmarcgraincividal

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