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TECNÓLOGOS X ENGENHEIROS:
ASPECTOS DE UMA LUTA EM TORNO DA DEFINIÇÃO DE
UMA PROFISSÃO
Florianópolis
2015
Lúcio Américo Gomes Dall Fôrno
________________________
Prof. Yan de Souza Carreirão, Dr.
Coordenador do Curso
Banca Examinadora:
________________________
Prof.ª Marcia da Silva Mazon, Dr.ª
Orientadora
Universidade Federal de Santa Catarina
________________________
Prof. Marival Coan, Dr.
Instituto Federal de Santa Catarina
________________________
Prof. Amurabi de Oliveira, Dr.
Universidade Federal de Santa Catarina
________________________
Prof.ª Laura Senna Ferreira, Dr.ª
Universidade Federal de Santa Catarina
Este trabalho é dedicado à minha mãe,
ao meu pai (in memorian), à minha
orientadora, aos meus professores,
meus amigos, meus colegas de pós-
graduação, aos servidores, alunos e
egressos do IFSC e das demais
instituições de ensino que oferecem
cursos de graduação na modalidade de
“cursos superiores de tecnologia”.
AGRADECIMENTOS
INTRODUÇÃO ................................................................................... 17
1.1 REFERENCIAL TEÓRICO ....................................................................... 21
1.1.1 O Sistema de Ensino e A Construção de Um Mercado de Trabalho . 21
1.1.2 Papel do Estado na Definição das Profissões ....................................... 25
1.2 A (DES)REGULAMENTAÇÃO DOS TECNÓLOGOS DA
ENGENHARIA ................................................................................................ 29
1.3 JUSTIFICATIVA DA ESCOLHA DO TEMA .......................................... 32
1.3.1 O Debate sobre a Escassez de Mão de Obra Qualificada no Brasil ... 32
1.3.2 Contribuição para as Diferentes Áreas da Sociologia ......................... 34
1.4 OBJETIVOS ............................................................................................... 35
1.4.1 Objetivo Geral........................................................................................ 35
1.4.2 Objetivos Específicos ............................................................................. 35
1.5 METODOLOGIA ....................................................................................... 35
2 OS MERCADOS E AS PROFISSÕES ENQUANTO OBJETOS
DA SOCIOLOGIA .............................................................................. 37
2.1 SOCIOLOGIA DOS MERCADOS ............................................................ 37
2.2 SOCIOLOGIA DAS PROFISSÕES ........................................................... 41
3 OS CSTs NO BRASIL ..................................................................... 47
3.1 HISTÓRIA DOS CSTs NO BRASIL ......................................................... 47
3.2 DEFINIÇÃO DOS CSTS CONFORME O MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
.......................................................................................................................... 59
4 ASPECTOS DA CONSTRUÇÃO DOS LIMITES
PROFISSIONAIS DOS TECNÓLOGOS DA ENGENHARIA ...... 61
4.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DAS ASSOCIAÇÕES OU SINDICATOS .... 61
4.2 TRAMITAÇÃO DO PROJETO DE LEI Nº 2.245/2007 ............................ 62
4.3 AÇÕES JUDICIAIS E A DELIMITAÇÃO DAS ATIVIDADES DA
PROFISSÃO ..................................................................................................... 64
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................... 67
REFERÊNCIAS .................................................................................. 69
17
INTRODUÇÃO
1
Na segunda seção dessa dissertação será explicada com mais detalhes a
contribuição da Sociologia para uma explicação da construção social dos
mercados.
2
De acordo com o art. 2º, parágrafo único, e o art. 6º, alínea a, da Lei n. 5.194
de 24 de dezembro de 1966, o exercício legal das atividades profissionais de
engenheiro só é possível para quem se registrar no conselho regional
competente da sua região. O art. 84 da mesma lei também exige o registro do
profissional de nível médio. Considerando que o Art. 7º dessa lei se refere às
atividades profissionais do engenheiro, do arquiteto e do engenheiro agrônomo
em termos genéricos, a Resolução do CONFEA nº 218 de 29 de Junho de 1973,
para efeito de fiscalização do exercício profissional “em nível superior e em
nível médio”, designou as diferentes atividades da área, bem como a
competência do “técnico de nível superior ou tecnólogo”. Além disso, o
cadastramento da instituição de ensino e do curso no CREA competente é um
facilitador para aprovar um registro profissional. Os requerimentos de tal
registro por egressos de cursos não cadastrados não serão aprovados nas
chamadas “Inspetorias” e serão encaminhados à sede do Conselho, demorando
mais para serem aprovados (CREA-SC, 2014).
3
Na época da publicação dessa Lei, as atividades profissionais dos arquitetos
ainda estavam sob fiscalização do sistema CONFEA/CREA. Depois da Lei nº
12.378 de 31 de Dezembro de 2010, foi criado o Conselho de Arquitetura e
Urbanismo (CAU), que passou a assumir essa responsabilidade.
19
7
Para complementar, pode-se acrescentar a análise de Boltanski e Chiapello
(2009, p. 325) sobre a passagem do taylorismo à chamada organização
“flexível”, quando os autores dizem que “o título de executivo dá excessiva
importância ao diploma e freia a valorização da experiência e das
competências”, complementando que “apesar de ‘motivar’ antigamente, o título
agora é percebido como um ‘fator de exclusão’”. Na sua análise sobre a
chamada gestão “flexível” nas empresas, Richard Sennet (2011, p. 55-65)
identifica três elementos característicos: as chamadas “reengenharias”; a
tentativa de pôr, cada vez mais rápido, produtos mais variados no mercado; e a
sobrecarga administrativa de pequenos grupos de trabalho. Segundo Laudares e
Tomasi (2003), a gestão horizontalizada dos novos modelos organizacionais
tende à proximidade dos profissionais intermediários com os engenheiros,
passando a demandar deles um nível mais elevado de qualificação, como atesta,
segundo os autores, o aumento da demanda por tecnólogos, profissionais de
nível superior. Os autores citam um exemplo do estado de Minas Gerais, em
que o CEFET, em convênio com uma grande montadora de automóveis,
preparou-se para atender a demanda de uma empresa de requalificar dois mil
dos seus técnicos.
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mais desprovidos dos meios herdados para fazer valer seus diplomas são
as principais vítimas da desvalorização decorrente da ampliação do
acesso aos títulos escolares. Os agentes têm mais chance de ascender na
medida em que sua origem social for mais elevada.
Para contribuir com a análise do papel do capital social no
rendimento que um agente pode obter de seus diplomas, Elias e Scotson
(2000, pp. 174-5) observam que as pessoas não apenas se deslocam
fisicamente de um lugar para o outro, mas de um grupo social para o
outro, tendo que se acostumar com o papel de “recém-chegados” ou
“outsiders”, que tentam fazer parte de grupos com tradições já
estabelecidas, os “estabelecidos”, ou que são forçados a uma
interdependência com eles. Os recém-chegados empenham-se em
melhorar sua situação, enquanto os grupos estabelecidos esforçam-se
por manter a que já têm. Os recém-chegados são percebidos pelos
estabelecidos como pessoas “que não conhecem seu lugar”. Os mais
“antigos” lutam por sua superioridade, seu status e poder, seus padrões e
suas crenças, e em quase toda parte utilizam, nessa situação, as mesmas
armas, dentre elas os mexericos humilhantes, as crenças estigmatizantes
sobre o grupo inteiro e, tanto quanto possível, a exclusão de qualquer
oportunidade de acesso ao poder – em suma, as características que
costumam ser abstraídas da configuração em que ocorrem sob rótulos
como “preconceito” e “discriminação”.
No caso da ampliação do acesso aos títulos escolares, Bourdieu
(2013, p. 198) descreve um fenômeno semelhante ao constatar que os
detentores tradicionais de títulos escolares perseguem a desvalorização
dos pretendentes, seja abandonando-lhes seus títulos para perseguirem
os mais raros, seja introduzindo entre os titulares certas diferenças
ligadas à antiguidade do acesso ao título. Ao analisar a ampliação do
acesso ao ensino superior, Bourdieu (2013, p. 196) chama a atenção para
a posição que ocupam as faculdades na distribuição das instituições de
ensino superior, segundo a origem social de sua clientela. Ele identifica
em algumas faculdades propriedades de “lugares de relegação”, a
começar pelas suas taxas de “democratização” (e de “feminização”).
Uma solução para a referida contradição patronal está num
depauperamento do monopólio universitário da colação de graus e a
diversificação do mercado escolar8. Bourdieu e Boltanski (2013, p. 155)
8
Neves (2003) referiu-se a esse fenômeno como “diversificação da educação
terciária”. A “educação terciária” se refere a um nível de estudos que ocorre
após o secundário estando subdividida em instituições como universidades,
instituições politécnicas e colleges, públicas e privadas, e numa variedade de
25
9
Segundo Bourdieu (2013, pp. 45-72), considerando que a cultura difundida
como legítima pela escola é a cultura da elite, o capital cultural transmitido e
herdado pela família influi no êxito escolar dos estudantes.
27
10
Lei nº 5.524, de 5 de novembro de 1968.
11
Conforme o Decreto nº 90.922, de 6 de fevereiro de 1985, os técnicos das
áreas de Arquitetura e de Engenharia Civil, na modalidade Edificações, poderão
projetar e dirigir edificações de até 80 m² de área construída, que não
constituam conjuntos residenciais, bem como realizar reformas, desde que não
impliquem em estruturas de concreto armado ou metálica, e exercer a atividade
de desenhista de sua especialidade. Os técnicos em Eletrotécnica poderão
projetar e dirigir instalações elétricas com demanda de energia de até 800 kva,
bem como exercer a atividade de desenhista de sua especialidade.
30
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Nela, foram realizadas entrevistas com cerca de 40.000 empregadores em 42
países e territórios, 750 somente no Brasil (MANPOWERGROUP INC., 2013).
33
1.4 OBJETIVOS
1.5 METODOLOGIA
3 OS CSTs NO BRASIL
14
Dispõe sobre o exercício das funções de regulação, supervisão e avaliação de
instituições de educação superior e cursos superiores de graduação e sequenciais
no sistema federal de ensino. A elaboração do catálogo atende o inciso VI, § 3º,
do art. 5º.
15
Conforme o art. 42 do referido decreto.
16
Conforme o Art. 4º da Portaria nº 397, de 09 de outubro de 2002 do MTE, “os
efeitos de uniformização pretendida pela Classificação Brasileira de Ocupações
(CBO) são de ordem administrativa e não se estendem às relações de emprego,
não havendo obrigações decorrentes da mudança da nomenclatura do cargo
exercido pelo empregado” (MTE, 2002). Já a regulamentação da profissão,
diferentemente da CBO, deve ser realizada por meio de lei federal, conforme é
lembrado no site do ministério.
59
17
Segundo a Resolução CONFEA nº 1.015 de 30 de junho de 2006, um grupo
de trabalho tem por finalidade coletar dados e estudar temas específicos,
objetivando orientar os órgãos do CONFEA na solução de questões e na fixação
de entendimentos (Idem, 2006).
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18
Essa dificuldade em encontrar discursos de defesa das restrições às atividades
dos tecnólogos também foi percebida ao pesquisar os sites dos conselhos,
incluindo o do CONFEA. A expressão formal dessa defesa por parte dos
conselhos, pelo menos, na web é invisível. Ao colocar a palavra “tecnólogo” ou
similares na busca desses sites, foi mais fácil encontrar discursos elogiosos e de
apoio aos tecnólogos que alguma crítica.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
http://www.tecnologo.org.br/home/sites/default/files/cartilha_tecnologo.
pdf. Acesso em: 14 jun. de 2014.
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idPropos
icao=502823. Acesso em: 14 jun. 2014
http://normativos.confea.org.br/ementas/visualiza.asp?idEmenta=43977
&idTiposEmentas=6&Numero=2276&AnoIni=&AnoFim=&PalavraCh
ave=&buscarem=conteudo. Acesso em: 08 jul. 2014.
______. Roda-Viva. In: ___ (Org.). O golpe na educação. 11. ed. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2002. p. 35-88. Disponível em:
<http://books.google.com.br/books?hl=pt-
BR&lr=&id=9CGnWVnj83IC&oi=fnd&pg=PA8&dq=luiz+antonio+cu
nha&ots=dQyDNIgfJ7&sig=LUQxq2vINz1hoICRqReiwxDF-
7I#v=onepage&q&f=true>. Acesso em: 09 ago. 2014.
https://www.facebook.com/groups/ant.nacional.tecnologos/7645107802
43513/. Acesso em: 11 jul. 2014