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Há 100 anos da fundação da Internacional Comunista de Lênin e

Trotsky, a propósito da possibilidade do “colapso socioecológico” capita-


lista, fazemos um chamado público revolucionário urgente aos trabalha-
dores de pé, organizados ou não, industriais e dos serviços, aposentados e
desempregados, dos países imperialistas e países semicoloniais. América
do Sul, do Centro e do Norte, África, Ásia, Oceania e Europa. Também aos
ativistas e dirigentes dos partidos de esquerda; correntes internacionais,
centrais operárias, sindicatos, movimentos sociais e associações; cien-
tistas, intelectuais e artistas; mulheres, negros e imigrantes, indígenas e
camponeses; estudantes, jovens e crianças; lgtbi’s, presos políticos e pá-
rias, pessoas com deficiências e oprimidos em geral.
do Partido Obrero (PO) da Argentina pelo regime interno. O eleitoralismo da FIT
(em especial, do PTS), a adaptação ao regime democrático burgues e modo de
lutar contra o ajuste de Macri, 2019; a ruptura fracional do Committee for Inter-
O capitalismo imperialista decadente nestas primeiras décadas national Workers (CIW) na Europa por questões políticas e metodológicas, 2019;
do século XXI é um inferno real para bilhões de animais domésticos e dissolução da International Socialist Organization (ISO) nos USA, 2019, por ví-
selvagens e para a natureza, assim como para os bilhões de trabalhadores cios oportunistas frente ao Partido Democrata (corrente DAS, Ocasio-Sanders,
e setores populares e oprimidos. Este sistema está nos levando ao simples setores oprimidos) e atentados à moral revolucionária (violação sexual encoberta
e nítido, porém complexo, “colapso civilizatório”. pela direção, etc); ruptura 2016 do PSTU Brasil, onde um setor gira para o oportu-
O aquecimento do clima em aumento e aceleração promete ultra- nismo do PSOL; expulsão do Secretariado Unificado europeu (FI, ecossocialista)
passar mais de 1.5 e 2 °C graus em uma espiral catastrófica em relação à a um setor centrista que está contra a política dos partidos amplos e pela ditadura
era pré-industrial nas próximas décadas [3], as emissões recorde atuais do proletariado, saída do MST argentino do SU e criação da LIS, 2018-2019; débâ-
de dióxido de carbono (CO2) em mais de 415 ppm e gases de efeito estufa, cle eleitoral do Podemos, Syriza e o NPA, crise do neorreformismo e curto auge
como há 3 milhões de anos não se via, estão afetando os ecossistemas, a do mesmo nos países; ascenso de Trump e da nova direita, crise e degeneração do
agricultura, a saúde pública e a vida material humana[4]. nacionalismo burguês na Venezuela (ditadura madurista), Nicarágua (o rato Or-
Há um processo em curso e hipotético do que alguns cientistas tega), Honduras, etc; ruptura do partido FARC Colômbia, integração ao regime e
chamam a 6ª extinção massiva de espécies, ao menos 1 milhão em perigo fragmentação do stalinismo mundial, em especial, na Índia e Nepal, etc.
atual e redução de 60% da fauna silvestre nos últimos 40 anos. O aumento
do maltrato animal estrutural e a criação industrial intensiva de gado, o
desmatamento e alguns agroquímicos nocivos e OMG (Organismos Mo-
dificados Geneticamente), com custos negativos para eles e as plantas,
para a natureza e para os próprios trabalhadores e consumidores.
A perspectiva desigual e combinada é de esgotamento e finitude
do petróleo nas próximas décadas [5], o gás e em uma muito menor
medida o carbono contaminante. O boom e declive das commodities, seu
impacto nos preços internacionais e as regalias nacionais, as dificuldades
de transição e “plano B” para uma nova e inédita matriz energética ma-
terial “renovável” depois de 2 séculos de capitalismo industrial e sendo
mais de 7,6 bilhões de humanos, com perspectiva de crescer 2 ou 3 bilhões
mais, depois de 2050 e no final do século.
A ausência de medidas efetivas (Geoengenharia solar…? Tratado
de Paris e Protocolo de Kyoto…? Objetivos do Milênio e Desenvolvimen-
to Sustentável…?) e o caráter suicida dos governos capitalistas da ONU e
o empresariado mundial para lidar com a mudança climática crônica e
multidimensional que já está afetando dezenas de milhares de pessoas e
lativos (por desapropriação), cruciais para uma transição anticapitalista. Sobre trabalhadores em cidades, zonas costeiras e campos por todos os lados.
as relações de crise entre capital – natureza, nos últimos vinte anos, os marxistas Todos estes processos complexos, desiguais e combinados, estão
tem apresentado: a quebra metabólica da sociedade e da natureza na produção relacionados intimamente com a superprodução capitalista, a exploração
imanente capitalista; a contradição entre as condições de produção material e as irracional da natureza e sua destruição antiecológica para a taxa de lucro
condições de reprodução ecológica; a ecologia do capital e os limites da biosfera; e a acumulação do capital como fim em si em toda a sociedade mundial. A
a união da crise social e a crise ecológica a partir de um vetor de classe e dos valo- crise ambiental e ecológica se conjuga e interrelacional com uma série de
res de uso e de mudança, etc. crises cíclicas econômicas de corte comercial e financeiro, locais, regio-
[7] Em Reforma e revolução (1899), capítulo IV da parte II (às vezes aparece nais e globais (2007-2008, a mais recente e da magnitude da de 29; hipóte-
como epílogo), Rosa Luxemburgo, já falava sobre a teoria marxista ortodoxa so- se de uma nova recessão mundial nos próximos 5 anos ou década), planos
bre a crise capitalista (mais além de seu caráter “cíclico” e “plural”) nos termos do de ajuste e privatização dos serviços sociais (água, luz, gás, eletricidade,
“colapso do capitalismo” (Der Zusammenbruch), traduzida erroneamente para o saúde, moradia, educação, aposentadorias, etc), as guerras imperialistas
espanhol como afundamento. e capitalistas pelos recursos naturais e sociais.
Em A doutrina socialista (1899), Capítulo II, a), o primeiro Karl Kautsky polemiza As sequelas de tudo isto e impacto em nossa classe social são a
com o revisionista Bernstein ao falar da teoria marxista da derrocada do capital, fratura neocolonial do Norte-Sul; a desnutrição, a fome e a sede; o de-
unindo os fatores objetivos e subjetivos, contra a tosca crítica sobre a suposta semprego, os salários precários, carestia material e desigualdades sociais
teoria objetivista-fatalista da necessidade do socialismo por causas econômicas multimodais; êxodos migratórios colossais e implicações à saúde pública;
de Marx e Engels. destruição de territórios e habitats, dívidas hipotecárias e déficit de mora-
O Manifesto de Zimmerwald (1915), escrito por Trotsky em nome de socialistas dia popular; assassinatos e torturas, violências multimodais e opressões
antiimperialistas de onze países, também falou do “colapso da civilização” em (gênero, sexual, racial, etc); corrupção institucionalizada; etc. Os padeci-
plena carnificina da Primeira Guerra Mundial. mentos de ansiedade climática, stress laboral e síndrome burnout, trans-
Os debates energéticos, ecológicos contemporâneos e sistêmicos, vem enrique- tornos mentais e psicológicos, doenças ocupacionais e físicas, suicídios e
cer a teoria materialista sobre a crise estrutural (o colapso) do capital como siste- dependências, etc, são a amostra desta decadência e barbárie capitalista,
ma e a transição socialista, a teoria da revolução permanente e o comunismo. É aprofundada como nunca antes.
necessário que o marxismo ortodoxo, isto é, o materialismo histórico dialético,
atualize estes dois polos sociedade – natureza de uma mesma realidade proces-
sual e no mesmo nível critique tanto o colapsismo pequeno burguês e burguês
como o revisionismo anticatastrofista (Rolando Astarita, etc). É hora de abordar
seriamente a economia, a política e as ciências (naturais e sociais) como um todo Tudo isto põe em sério risco civilizatório, como nunca antes e de
complexo. modo inédito, a liberação social integral e necessidades materiais dos tra-
[8] Mahecha, Eduardo (2019). Nahuel Moreno sobre a ecologia e a crise do capita- balhadores e seus aliados populares, a espécie humana e o resto de espé-
lismo mundial (2019). Disponível em Blog Socialist XXI: https://blogsocialist21. cies animais e vegetais do planeta. No empenho de abordar os problemas
wordpress.com/2019/04/21/nahuel-moreno-sobre-la-ecologia-y-la-crisis-del-ca- mais urgentes e imediatos da humanidade, os “materiais” , é necessário
pitalismo-mundial/ que os trabalhadores e suas vanguardas estudem, conheçam e analisem
[9] Fatos recentes da “crise da esquerda” mundial: divisão fracional interna criticamente, toda uma série de teorias socionaturais e evidências empí-
ricas sobre riscos civilizatórios e perigos globais, colapsos socioecológi-
cos, tipos de crises sistêmicas, transições de sistemas complexos e pos-
sibilidades de extinção, cenários de gestão de recursos e entropias, crise [1] Trotsky, L. Os cinco primeiros anos da Internacional Comunista, Edicions In-
capitalista e transições pós capitalistas, de autores tais como: Paul Crut- ternationals Sedovs, 1921/2017, pág. 162.
zen, Will Steffen e James Hansen, Mark Lynas; Jared Diamond, Joseph [2] Moreno, N. Tese de Fundação da Liga Internacional dos Trabalhadores, #1,
Tainter y Luke Kemp; McAnany Patricia e Norman Yoffee; Pablo Servigne 1982.
e Raphaël Stevens, Raphael Stevens, Carlos Taibo, Manuel Casal Lodeiro, [3] Wilke, Carolyn. CO2 emissions are on track to take us beyond 1.5. degre-
Renaud Marcovaldo; Antonio Turiel Martínez, Ferran Puig Vilar, Richard es of global warming. Disponível em Science News: https://www.sciencenews.
Heinberg, Antonio García-Olivares, Dmitry Orlov; Jorgen Randers, Den- org/article/co2-emissions-global-warming?fbclid=IwAR2FEak3juSfrjL8jFcE-
nis Meadows e William Behrens, Giorgos Kallis; Emilio Santiago Muiño, -WVM4ctk20pScOfoeSIc1zW22kjdtx3mc0Uop18
Jorge Reichmann, Ramón Fernández Durán, Alberto Matarán e Oscar [4] Martins, Alejandra. Que consequencias há que tenhamos superado o recorde
Carpintero; Ramon Sans Rovira e Elisa Pulla Escobar; Richard Wolff, Mi- de CO2 em tres milhões de anos. Disponível em BBC News Mundo: https://www.
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Baquedano Muñoz; Eric A. Schutz, Michael Löwy, John Foster, Christian [5] Iturbe, Alejandro. O fim do petróleo? Disponível em Marxismo Vivo – Revista
Stache, Andreas Malm, Fred Magdoff, Daniel Tanuro, etc. Teórica da LIT: http://marxismovivo.org/wp-content/uploads/2018/12/Primera-E-
O imperialismo decadente, às vezes chamado de neoliberalismo, poca/ESP/MV12/mv12/mv12esp.pdf
fez aparecer como nunca antes na história, mas semelhante a outros tem- [6] Algumas das contradições sistêmicas do capital que gerariam sua crise estru-
pos de transição, versões de socialismos utópicos por toda parte (v.g. de- tural segundo o método marxista são: a lei da queda tendencial da taxa de lucro, a
crecentistas; ecossocialistas; neoanarquistas, primitivistas, indigenistas lei da concentração-acumulação do capital e a miséria relativa crescente da classe
e comunitaristas; pós-modernistas, etc) e também não poucos capitalis- operária e das massas; a tendência à socialização da produção (o trabalho social)
mos utópicos e distópicos (v.g. tecnolátricos verdes neoliberais; colapsis- frente à apropriação da propriedade privada; o peso superior das forças destruti-
tas; ecofascistas; neomalthusianistas e neodarwinistas, escatologias reli- vas sobre as forças produtivas em uma fase desenvolvida do capital (v.g. capital
giosas e apocalípticas, etc). É necessário que o socialismo científico em financeiro); as amarras do desenvolvimento das forças produtivas e as relações
reconstrução, o marxismo revolucionário dissipe a aparência da realida- sociais de produção; o aumento desigual e combinado do nível de consciência de
de, conheça, reabsorva os conteúdos materialistas e critique estas ideolo- classe e organização social e política do proletariado frente às forças do capital;
gias, mas sobretudo, ofereça uma alternativa de transição anticapitalista etc.
à classe operária mundial e aos povos oprimidos. Em 17 contradições do capitalismo e fim do capitalismo (2014, Cap. III), a partir
Todas estas teorias socionaturais interdisciplinares com diferen- de uma teoria econômica marxista do valor-trabalho e financeirista (“capitalcên-
tes vieses e interesses de classe, prognósticos, evidências empíricas e mo- trico”), David Harvey nega ou pelo menos é cético a uma hipótese colapsista ou
delos de sociedade, estudam as transições e magnitudes das crises siste- catastrofista do capital por fatores ambientais pelas oportunidades de investi-
máticas. O marxismo, patrimônio cultural da classe operária mundial, é o mento, adequação tecnológica e acumulação do capital em meio a desastres, tal-
pioneiro destes estudos materialistas e o único que está à altura da análise vez por sua postura como geógrafo e seu reformismo de esquerda.
científica e da política revolucionária, ao indagar as causas materiais e Não obstante o autor sim assinala as “contradições perigosas” do crescimento
subjetivas, desiguais e combinadas, da transição de um modo de pro- exponencial do capital em relação à espoliação da natureza e os limites acumu-
melhorar nossos nichos tecnológicos. Um ato de dignidade humana dos dução a outro em determinadas zonas geográficas e sistemas, períodos
de baixo ao menos uma franja massiva não lumpenizada dela ante o cená- históricos e épocas, por diferentes fatores concretos, particularidades e
rio da crise civilizatória capitalista a todo nível. generalidades, inclusive mudanças de regimes políticos, quedas de go-
Como diria nosso Gabo, em uma suprema atitude humanista e vernos e as revoluções na natureza, nas ciências e na sociedade. O papel da
antiniilista, ante a espada de Demócles do perigo termonuclear de seu luta de classes e as contradições das relações sociais das forças produtivas
curto século e rememorando seu mestre Faulkner: “Me recuso a aceitar o (natureza, seres humanos e técnica) em todos estes processos como uma
fim do homem…!” (Cem Anos de Solidão, Discurso Nobel ante a Acade- totalidade viva e complexa.
mia Sueca, 1982). O marxismo revolucionário foi a primeira corrente sociopolítica
Pois bem, trabalhadores de todo o mundo e revolucionários, se e científica que mostrou uma teoria do colapso do capitalismo verificável
a grande família humana desejar ter uma segunda oportunidade sobre a baseado no desenvolvimento objetivo das forças produtivas do capital, os
Terra, afrontemos então o perigo civilizatório de nosso século XXI, recu- limites históricos [6] de suas forças destrutivas e as relações sociais entre
sando-nos a perecer, isto é, a sermos derrotados não pela “natureza” e sim as classes atuantes e suas condições materiais de existência.
pela frente contrarrevolucionária da burguesia moribunda e da pequena As crises cíclicas de valorização catastróficas de superprodução
burguesia niilista na luta de classes em andamento e final. e superacumulação, o fator subjetivo social e político crucial das revolu-
ções proletárias e populares com partidos organizados de classe e massas
mobilizadas em uma guerra social prolongada (agora estamos chegan-
do às “últimas batalhas”). O trabalho como coveiro ativo do capital e o
próprio capital em fator objetivo de crise social (e agora de crise natural:
“mudança climática antropogênica”) na luta de classes econômico-políti-
ca de guerras, crises e revoluções.
Não em vão nos chamaram ‘catastrofistas’[7] e outros epítetos
para assinalar com objetividade a crise estrutural capitalista e seus estra-
gos, mas estamos deixando de ser um demodé e alguns setores de opinião
pública começam a falar do colapso civilizatório da civilização industrial
contemporânea, do sistema capitalista existente, inclusive a representar
e consumir nas artes estes cenários, dados os desastres ambientais e tra-
gédias sociais que diariamente se veem nos meios de comunicação, se vi-
vem e se estudam suas causas.
Mas as derrotas, erros sectários e atrasos programáticos, nossa
cegueira ignorante e negacionismo já tem um custo político imenso e
também um benefício, segundo a lei do desenvolvimento desigual e com-
binado, se abrirmos os olhos de uma vez por todas e reconhecermos nos-
sos erros e os corrigirmos, apesar do atraso.
co, o pior que possamos imaginar e possível, com o dobro de força e con-
vicção haveria que lutar pelo imperativo da sobrevivência material dos
explorados e oprimidos, para enfrentar a contrarrevolução imperialista e
Se os trabalhadores não lutarem com mais afinco e se rebelarem
o quanto antes, durante e depois do possível processo de colapso socio- fascista. Colapsar melhor, mal inevitável menor, lutar pela minimização
ecológico do capitalismo, sua crise civilizatória… estamos re-fodidos. O dos danos à nossa classe, pois nem tudo está perdido e a luta de classes
atraso contrarrevolucionário que o stalinismo provocou no século XX e a não acaba.
derrota do proletariado mundial com a restauração capitalista na Europa A revolução permanente e o método do programa de transição
do Leste, o Sudeste Asiático e o Caribe, tem custos históricos. não deixam de ter vigência em um cenário pré-colapso, colapso do capi-
talismo e transição pós-colapso, a menos que triunfe a extinção humana e
Vamos ao aprofundamento (já estamos vivendo) da barbárie con-
tra a classe operária e os setores populares, principalmente nos países se- a crise sócio-ecológica degrade a vida humana, tão somente devem atuali-
micoloniais, mas também imperialistas. Vamos a holocaustos massivos zar-se e adequar-se ao contexto da luta de classes final e aos perigos civili-
de pobres e a possibilidade real da auto-extinção humana ou uma sobre- zatórios sócio-ecológicos do imperialismo senil. A ditadura transicional
vivência de uns poucos, em sua maioria camadas ricas e seitas ecofascis- revolucionária do proletariado, seu terror vermelho, é mais necessária do
tas. Se o proletariado e sua vanguarda de classe não conquistarem o poder que nunca. O armamento militar dos trabalhadores e as insurreições so-
ciais armadas, a economia planificada radical de todos os aspectos da vida
político em algum país nas próximas décadas e neste século, abrindo um
novo Outubro vermelho global, é provável que, por razões da crise socio- social (e.g. natalidade, etc) e sustentável com planos de choque e de emer-
ecológica, a civilização humana colapse, se degrade e finalmente se extin- gência. A internacional de partidos centralizados de trabalhadores e mo-
ga. O triunfo da barbárie. vimentos, a democracia operária de novos estados socialistas federados
Esta é a nova magnitude do “perigo iminente” (disse o cientista entre si. A guerra civil a morte, operária e popular, contra os capitalistas
da NASA, Joseph Hansen) e temos pouco tempo, muito pouco tempo, em e as seitas eco-fascistas de direita e esquerda são a única salvação realista
termos históricos – contra o relógio, contra os tempos). Cada ano, quin- terrenal e não metafísica que resta a nós, mortais. Salvo o poder, tudo é
quênio e década que passa sem uma mudança revolucionária, sem uma ilusão.
Revolução de Outubro e o atraso, postergação, conjuração ou desvio des- Após um cenário de lutas contingentes decisivas, oxalá triunfan-
de a segunda pós guerra de numerosos processos revolucionários, é mais tes na estratégia, a aposta seria construir e arar em uma nova base eco-
e mais catastrófica em termos sociais e ambientais: “Os povos do mun- lógico- econômica degradada totalmente inédita, contrário ao que acre-
ditavam nossos mestres pensadores socialistas clássicos do séculos XIX
do terão que pagar com novas guerras e revoluções os crimes históricos
do reformismo” (Trotsky, A revolução traída, 1936). Tenhamos absoluta e XX, para a construção contingente mas necessária de uma sociedade
consciência disso e do perigo iminente, preparemo-nos para o que vier, socialista e suas forças produtivas minguadas em um cenário de escassez
seja o que for. Vivemos tempos em que já não há nada a perder e sim tudo (hipótese materialista) e talvez para dar as últimas batalhas operárias e
a dar. Nenhum momento na história foi tão necessário e urgente o ins- populares antes que tudo pereça ou no menos pior dos casos, para que
trumento partidário (a Internacional) e as organizações de massas com- tudo renasça (por vir). Lutar, lutar e lutar com raiva até à morte. Vonta-
de proletária de viver, instinto de classe de conservação, sobrevivência a
bativas (movimentos) pela resistência, a revolução social e as condições
materiais de existência básicas. Nossa última oportunidade de vencer. todo custo na terra e se for possível em outro planeta, quando deixarem
Nahuel Moreno já advertia em 1982 com literalidade materialista de existir as condições de habitabilidade humana e possamos preservar e
ca na enteléquia da revolução, mas sim confiança formativa desta, critici- em uma conferência internacional de dirigentes revolucionários de mais
dade e autocriticidade (seus erros organizativos, etc) vontade de mudança de 15 países na cidade de Bogotá, Colômbia: “Em sua agonia, o capitalis-
em que, após uma série complexa e dialética das derrotas e vitórias, nossa mo ameaça levar a humanidade à tumba junto com ele. Ou, no melhor
classe e sua vanguarda revolucionária em construção se recupere e não dos casos, afundar a grande maioria dela em um abismo sem fundo, de
seja tão limitada e tão estúpida para não despojar-se e sepultar algumas barbárie, miséria e degradação…só é possível formular os mais sombrios
classes dominantes minoritárias parasitárias (entre 1% e 30% da popula- prognósticos [objetivos], se a revolução socialista mundial não conse-
ção grande burguesa, médio burguesa e pequeno burguesa de estratos guir reverter este processo [destrutivo]” (Ver, Tese de Fundação da LIT-
superiores) e criar uma nova sociedade em transição, ao viver em suas -QI, #1, 1982)[8].
carnes os efeitos devastadores do capitalismo moribundo e estar em suas Em que pese a urgência e impaciência sensata, não há que deixar-
maxilas…será um prazer fazer os colapsólogos e capitalistas tragarem to- -se levar pelo niilismo e derrotismo, o pessimismo e irracionalismo, tão
das suas fezes, tanto de direita…como de esquerda. característico das frações pequeno burguesas e burguesas degeneradas.
Para eles é mais fácil pensar no fim do mundo, que no colapso do Sobretudo, sucumbir e capitular à cegueira e atraso ideológico das dire-
capitalismo, diriam Fredric Jameson e Joel Kovel, e também é mais fácil ções tradicionais e emergentes do movimento de massas e da esquerda.
conseguir uma “comunidade resiliente” em uma transição facilista (i.e. Seu anticientificismo idealista e desprezo pela teoria revolucio-
socialista utópica) de seus modelos pós capitalistas, após o citado colapso nária, eleitoralismo e imediatismo sindical, seu programa mínimo demo-
penitente e sanador, que seria uma tragédia social de proporções histó- cratizante e de ação em curto prazo, nos leva a derrotas estratégicas. Estas
ricas. Suas saídas são francamente utópicas e “realistas” contrarrevolu- direções traidoras, negacionistas e ignorantes (tanto reformistas como
cionárias, sem perder de vista o êxtase autoritário pelas distopias e seu centristas; tanto pequeno burguesas como operárias[9]) constituem um
ranço eco-fascista pelo colapso (v.g. Miguel Fuentes, entre outros): “Sua sério obstáculo na luta contra os governos do capital e da burguesia en-
auto-alienação alcançou um grau que lhe permite viver sua própria des- quanto classe, a luta pelo poder operário-popular e a preparação para en-
truição como um gozo estético de primeira ordem. Este é o esteticismo da frentar o colapso capitalista em um período de transição tortuoso e im-
política que o fascismo propunha”. (W. Benjamin, A obra de arte na época previsível.
de sua reprodutibilidade técnica, 1936). Seguindo León Trotsky, hoje é mais que necessário e urgente uma
Mesmo que hipoteticamente estivéssemos já, desde os anos 90 revolução antiburocrática no interior das organizações sociais e políticas
(ou antes, desde os anos 70) e nos próximos 15,30 ou 50 e 80 anos em ponto dos trabalhadores. Um programa operário revolucionário de transição
de não retorno e irreversível em termos de degradação ambiental e social atualizado e de combate, uma nova internacional proletária de partidos
em 2015 e 2017, após a segunda metade do século XXI ou outra data pes- antissistema e movimentos – como a III Internacional fundada há um
simista, otimista ou realista, a qual varia segundo os prognósticos cien- século, em 1919 – para a revolução socialista mundial no século XXI e o
tíficos e políticos materialistas, como as profecias religiosas e predições enfrentamento do colapso socioecológico ( ou melhor, sistêmico) do im-
pseudocientíficas idealistas e supersticiosas populares. perialismo, a fase superior e final do capitalismo. A era viva das crises,
Assim fosse lamentavelmente inevitável o colapso sócio ecológi- guerras e revoluções. Hoje mais do que nunca é verdadeiro o postulado
co (ou sócio natural) sem nenhuma revolução triunfante e por uma série em sua magnitude extrema de que “a crise da humanidade se reduz à cri-
de derrotas atrás de si, uma forma em que o fim do capitalismo se conju- se de sua direção revolucionária” (León Trotsky, Programa de transição,
gara com o fim da civilização. Ainda nesse cenário desfavorável hipotéti- 1938).
a sepultá-lo o mais rápido possível, aproveitando os fatores objetivos de
crises sócionaturais, porque o capitalismo não morrerá de morte natural
As Primaveras Árabes, as greves trabalhistas e as greves climáti- automática, como acreditam os reacionários colapsistas. Por outro lado,
cas da juventude, as mobilizações massivas e resistências aos planos de o efeito negativo do contragolpe regressivo e brutal da contrarrevolução.
ajuste nos quatro continentes, as rebeliões às ditaduras e as mais de 10 O severo deterioramento, escassez e enfraquecimento das forças produti-
revoluções neste século (a mais recente: Sudão e Argélia), muitas delas vas, da natureza, do trabalho vivo e da técnica, diria Marx. Toda uma luta
armadas. As quedas de governos, gabinetes ministeriais e renúncias de de classes viva e uma infraestrutura econômica e produção material em
presidentes e tensões (Porto Rico, Coréia do Sul e Hong Kong), marcam transição e bifurcação.
o caminho de luta ante um inimigo descomunal que vem ganhando e in- O capitalismo moribundo nos lega uma devastação do planeta,
fligindo duros golpes. Reina um caos sob os céus, a situação é excelente! com uma classe que se nega a perecer e ameaça com agudizar a crise cli-
Aproveitemos as poucas ou muitas oportunidades que nos restam. mática e social de maneira barbárica, a todo custo, com tíbias reformas
Só a revolução socialista integral dos trabalhadores e seus alia- para conjurar o monstro que criou, como um aprendiz de bruxo, ao estilo
dos populares, a conquista do poder urgente, a instauração de novos go- de Goethe. Para parafrasear um famoso guerrilheiro proletário antifran-
vernos revolucionários com organizações democráticas de duplo poder quista, a burguesia pode deixar em pedaços regiões consideráveis e a terra
de massas e economias planificadas ecológicas, poderão salvar-nos. Isto inteira antes de abandonar o cenário da história, mas os operários não
é, uma série de insurreições de massas dirigidas por partidos socialistas devemos ter medo das ruínas porque levamos um mundo novo em nossos
de combate, rememorando o gênio político de Lênin e a revolução per- corações e somos construtores inatos e melhores. Esse mundo socialista
manente de Trotsky, podem livrar-nos do aprofundamento da barbárie está crescendo a cada instante, na casca do velho mundo. Todo um parto
existente – ao que parece, já estamos nas fases iniciais dela ou desenvolvi- civilizatório, que pode ser abortado ou não. O capitalismo pode perecer e
da desde o século XX , veja entre outras, a hecatombe da Síria, Palestina, dar origem a uma ordem social nova de múltiplas contradições ou sim-
Iraque e Afeganistão; desastres ambientais e sociais, etc. Um panorama plesmente ser o último modo de produção da história humana, ambas as
qualitativo muito mais dantesco que o imaginado por Rosa Luxembur- possibilidades históricas estão abertas.
go durante a primeira guerra mundial e sua analogia com o colapso de- Salvar nosso habitat, o planeta, e nossas vidas materiais. Esta é
cadente do Império Romano. Muito mais trágico que o que tiveram que a real rota estratégica de nosso século e dos trabalhadores, o socialismo,
viver Lenin e Trotsky, e os revolucionários da segunda pós guerra com as um parto contingente doloroso em que pode nascer uma vida, deformada
bombas nucleares, as invasões imperialistas e as guerras revolucionárias, ou não, ou morrer a criança e sua mãe e pai. A luta por uma nova socieda-
muito mais trágico que o de Marx e Engels com a miséria fabril do século de mundial sustentável sem capitalistas no poder é nosso caminho. Para-
XIX. fraseando Moreno, podemos vencer, não há lei determinista da história,
É provável que o agravamento da crise civilizatória capitalista, nem deus, nem fator climático-energético nem científico, nem político
traga consigo um duplo efeito. Por um lado, o efeito positivo do colapso que diga que não possamos triunfar. As leis objetivas da natureza e da so-
progressivo do sistema dos últimos 500 anos pelas lutas de resistência e ciedade as usaremos em nosso benefício na intensificação da luta de clas-
revolucionárias dos povos e o proletariado favorecido com o fator desesta- ses por muito adversas que sejam as condições materiais de existência, só
bilizador sócio-ecológico. Os operários e oprimidos não tem nada a perder o derrotismo colapsista nos condena de antemão, como o imperialismo.
com o fim e desmoronamento deste pútrido sistema e devem contribuir Não temos fé religiosa na classe operária nem confiança metafísi-

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