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Teoria B1 - Professor Carlos Manuel de Castro Cabral Machado PDA – João Paulo Soares 201900289

*As respostas não devem exceder os 8000 caracteres (sem espaços).

2 – A obra de Adolf Loos é comentada por Aldo Rossi em Adolf Loos: 1870-1933 (1959) e por Álvaro Siza
em Imaginar a evidência (1998). Tendo como referência a sua própria leitura dos textos do arquiteto
austríaco – Ornamento e Delito (1908) e Arquitetura (1910) – Descreva o que considera mais importante
no pensamento e obra de Loos. Os textos de Rossi e Siza podem ser usados como um primeiro
enquadramento a partir do qual elaborar a sua própria leitura.

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Através de duas obras textuais do autor, Ornamento e Delito (1908) e Arquitetura (1910), e citando
exemplos de projetos criados e executadas por Adolf Loos, estabelece-se um ponto de vista a ser
entendido:

“Ornamento é força de trabalho desperdiçado e assim saúde desperdiçada. Foi sempre


assim. Mas hoje também significa material desperdiçado e ambos significam capital
desperdiçado.”(LOOS, A. 1908. p.6)

A leitura rápida do texto Ornamento e Delito, direciona que o pensador repudia veemente qualquer tipo
de ornamento e que a arquitetura a seu ver deve ser “lisa”, desprovida de qualquer sobra que não seja
necessária à criação. Muito devido ao formato da escrita do texto, que como manifesto, defende uma
posição de forma agressiva. Já ao lermos Arquitetura (1910), entendemos melhor sua visão sobre o
ornamento e sua crítica. Trata-se de criar uma arquitetura que não é para ser vista, com rebuscamentos
desnecessários, apenas para a imagem criada ser impactante, mas sim uma arquitetura com essência,
uma arquitetura para ser vivida e gerar vivências em quem habita o espaço. Para Loos, a arquitetura deve
ser provida daquilo que ele chama de cultura: “Chamo de cultura o equilíbrio entre o interior e o exterior
do ser humano, que garante um modo de pensar e atuar sensato.” (LOOS, A. 1910. p.222)1

A relação com a materialidade apresenta-se importante na produção de Loos e ajuda a entender melhor
seu pensamento. Ao observar-se a obra de Adolf Loos, principalmente na relação com os ornamento e o
seu entendimento de como deve ser a criação, sua produção no campo do desenho de mobiliário e
interiores cria uma linha de pensamento sobre como o arquiteto aborda a essencialidade dentro de sua
obra. No texto do arquiteto Álvaro Siza, Imaginar a Evidência (1998), é possível começar a traçar o que é
uma arquitetura, uma criação, sem sobras, desprovida de ornamentos e carregada de essencialidade. “As
reflexões de Adolf Loos Sobre o design, importantes e atuais, sublinham como a necessidade, ainda mais
do que a arte, é fundamento primeiro para se alcançar um objeto perfeito.” (SIZA, A., 1998. p.135)

Loos, desenha em sua carreira mobiliários que no geral estão vinculadas a sua produção em arquitetura.
Alguns de seus mobiliários mais conhecidos são produzidos pela indústria Thonet, empresa austríaca de
produção de mobiliários fundada por Michael Thonet em 1819. Para analisar a produção de Loos com a
Thonet, observa-se alguns aspectos da própria história da Thonet e o que a torna importante no contexto
de Adolf Loos.

Michael Thonet e Adolf Loos são contemporâneos em Viena e sua aproximação no campo do design é
inevitável. Tanto na de área de atuação como em pensamento sobre como a criação deve ser tratada. A
materialidade que deve ser entendida, os meios de produção devem ser implementados e a essência
desse espirito do momento traduzida nos objetos e na arquitetura. Assim, olhar para o mobiliário criado
por Loos no contexto dos móveis Thonet (Imagem 02) é importante.

“Loos também desenhou uma cadeira Thonet, e é uma cadeira maravilhosa; olhando-a
podemos dizer: É uma cadeira Thonet!, sem acrescentar mais nada. E contudo é
evidente algo de especial nas proporções e em alguns pormenores que dão pouco nas
vistas, de modo que a impressão geral é de uma coisa absolutamente singular,
sensacional, mas ao mesmo tempo banal. Creio que no momento em que estes dois

1Do original: ““Llamo cultura al equilíbrio entre el interior y el exterior del ser humano, que garantiza um modo de
pensar y de actuar sensato.”

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aspectos coexistem, esteja alcançada a quinta essência da perfeição.” (SIZA, A., 1998.
p.135)

Imagem 01: Icônica Cadeira No.14, Michael Thonet, 1859, forma derivada de uma Imagem 02: Cadeira criada por Adolf
função e uma possibilidade do trabalho no material específico, a madeira curvada, Loos para o Café Museum em Viena
bentwood. (Fonte:Thonet Gmbh, 2019) (1898), produzida pela Thonet,
explorando a materialidade. (Fonte:
Café Museum, 2019)

Nas palavras de Álvaro Siza, é possível alcançar a perfeição quando se tem um equilíbrio entre o banal e
o singular, e isso pode ser observado na cadeira criada por Loos. Simples em sua forma, carregada de
aspectos de funcionalidade, trata-se de uma cadeira, “quatro pés, um assento e um espaldar”, porém
ainda com algo peculiar em seu desenho, formas e proporções. Siza aponta sobre a obra de Loos o aspecto
da essência, seja na materialidade ou no desenho, mas principalmente na depuração da ideia, que
caminha na busca do equilíbrio entre essência banal e algo que traga singularidade. No caso das cadeiras
Thonet aponta-se o aspecto da novidade como ato que afasta a essência da banalidade, trata-se assim de
um equilíbrio delicado, e que, também como colocado por Siza, só se alcança através da observação e da
vivência.

Além da cadeira desenhada, observar o espaço para o qual ela foi desenhada nos ajuda a entender a
arquitetura desenvolvida e defendida por Loos. O Café Museum (Imagem 03) em Viena, 1899, é um
exemplo de uma arquitetura que Loos tem orgulho. “Meu maior orgulho é que os interiores que eu criei
sejam totalmente desprovidos de efeitos fotográficos e que os habitantes de meus interiores não
reconheçam suas próprias casas na foto, (...).”2 (LOOS, A. 1910. p.225)

O projeto, seja ele de arquitetura ou mobiliários, deve ser um reflexo da essência do momento. As
cadeiras desenvolvidas para o Café Museum, tem em seu desenho e formas o reflexo do processo
industrial criado. Tem a essência da sua própria criação. O ambiente interno do citado Café Museum, tem
nos materiais utilizados, a essência deles, não escondidas por ornamentos, que seriam belíssimos nos
desenhos, mas que omitiriam a essência no espaço quando habitado. Essa é a arquitetura, não para ser
vista, mas para ser sentida, isso é defendido por Loos.

Nesse aspecto da observação e da vivência, Loos defende que é importante valorizar que “cada material
tem sua própria linguagem formal e nenhum material pode absorver as formas de outros, já que essas
formas são resultado da utilidade e do processo de fabricação dos mesmos.” (LOOS, A., 1898. p.67). Sendo
assim, somente através do entendimento de seu contexto, que é importante lembrar, é formado pelas
referencias passadas somado as novidades a surgir para o futuro, é que podemos criar algo inovador e
que evolua a sociedade.

2Do original: “Mi mayor orgullo es que los interiores que he creado resultan enteramente carentes de efecto em
fotografia y que los habitantes de mis interiores no reconozvan em foto sus propias vivendas, (...).”

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Imagem 03: Café Museum em Viena, 1899, projeto de Adolf Loos. (Fonte: Café Museum, 2019)

Elenca-se alguns termos para aprofundar a discussão, essência e vivência. Como analisado a partir da
produção de Adolf Loos, sua obra em arquitetura somado a seus escritos, direcionam a análise do
pensamento de Loos em um sentido que não se deve existir um ruptura com o passado, mas sim um
entendimento profundo da tradição e sua atualização com o espirito no momento, ou melhor, o contexto
em que se produz. Em retoma à análise do Café Museum em Viena, o desenho não deve negar todas as
referências passadas e o contexto atual, mas sim reler esse passado e atualizar segundo as técnicas atuais
e características do local. Essa ligação intensa da produção de Loos com o sítio especifico e ao contexto
do período, faz com que o arquiteto seja referência em escolas que tem como princípio a valorização do
contexto e das características do sítio, como a Escola de arquitetura do Porto, aqui representada na
análise de Álvaro Siza.

Adolf Loos é um pensador que presa pela tradição, mas que exigi a atualização das técnicas e funções ao
contexto atual e isso torna-se claro através da leitura de historiadores italianos que ajudaram a
estabelecer a importância do autor, principalmente a partir da retomada das obras de Loos, por Aldo Rossi
em Adolf Loos: 1870-1933 (1998). Através de Rossi, é possível ter uma visão clara do pensamento do Loos
e elencar pontos importantes dele, como a relação da arquitetura, do artesanal e da arte.

Rossi escreve sobre Loos que, “Arte e artesanato, ou, para concordar com o pensamento de Loos, arte e
arquitetura, não têm nada em comum: eles operam em dois campos diferentes e as coisas dão errado a
todos quando se confundem.”3 (ROSSI, A. 1977. p.54-55) Essa relação da arte e arquitetura é importante
no pensamento de Loos, pois como apontado por Rossi lendo Loos, a arquitetura tem um caráter prático
de utilização que em muitos pontos a afasta da arte. “A arquitetura não é arte: somente uma pequena
parte da arquitetura pertence a arte”4 (ROSSI, A. 1977. p.54). Para Loos, a arquitetura deve ser comparada
à artesania, que cria objetos que são reflexos da cultura, das tradições, a partir das técnicas disponíveis,
sendo assim carregadas de essência, sem sobras. Quando a arquitetura se aproxima da arte do museu e
não do objeto criado artesanalmente e que cumpre uma necessidade, existe algo de errado com essa
arquitetura. Essa é a arquitetura do ornamento. Loos valoriza aquela arquitetura que, assim como o
objeto artesanal, valoriza o material, não o negando, e tem suas formas como decorrente de uma
utilização e crítica a arquitetura que é feita como um objeto de arte a ser exposto em um museu, que é
criada para ser vista, a partir de ornamentos, e não vivida por aqueles que habitam.

3 Do original: “El arte y la artesania, o, para estar de acuerdo com el pensamento de Loos, el arte y la arquitectura, no
tienen nada en común: operan em dos campos distintos, y las cosas van mal para todos cuando se confunden.”
4 Do original: “La arquitectura no es arte: solo uma pequena parte de la arquitectura pertenece al arte.”

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BIBLIOGRAFIA

LOOS, Adolf (1908). Ornamento e Delito. Tradução Anja Pratschke, São Paulo: Babel-USP, 2002

LOOS, Adolf (1910). Arquitectura. In Coleccion Arquitectura y Critica.

LOOS, Adolf (1898). The principle of cladding. In: Spoken into the void: Collected Essays, 1897-1900. p.66-
69. Cambridge: The MIT Press, 1982.

ROSSI, Aldo (1977). Para una arquitectura de la tendencia. Barcelona: Gustavo Gili.

SIZA, Álvaro (1998). Imaginar a Evidência. Porto, Edições 70.

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