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A hermenêutica da Sagrada Escritura na Igreja

A Bíblia é o livro da Igreja e por isso deve ser interpretada na


Igreja e com a Igreja. A Palavra de Deus deve ser lida e interpretada com o
mesmo Espírito com que foi escrito, por isso é necessário que aqueles que a
estudam e todo o Povo de Deus se aproximem dela por aquilo que ela
realmente é: como Palavra de Deus que se nos comunica através de palavras
humanas. Como diz Santo Agostinho, “não acreditaria no evangelho se não me
movesse a isso a autoridade da Igreja Católica”. (P. 45)
São Jerônimo recorda-nos que sozinhos nunca podemos ler a
Escritura, pois a Bíblia foi escrita pelo Povo de Deus e para o Povo de Deus.
Uma autêntica interpretação da Bíblia deve estar sempre em harmônica
concordância com a fé da Igreja Católica, em comunhão com a Igreja.
Bento XVI ressalta que a Igreja reconhece os benefícios que a
exegese histórico-crítica e os outros métodos de analise do texto,
desenvolvidos em tempos mais recentes, trouxeram para a vida da Igreja. A
história da salvação não é uma mitologia, mas uma verdadeira historia e, por
isso, deve-se estudar com os métodos de uma investigação histórica séria.
O Concílio Vaticano II da ênfase a dois aspectos. Por um lado, o
estudo dos gêneros literários e a contextualização, ou seja, na visão histórico-
crítica; e por outro lado, indica que a mesma deve ser interpretada, como já foi
dito, com o mesmo Espírito com que foi escrita observando ainda a unidade de
toda a Bíblia, a Tradição viva de toda a Igreja e a analogia da fé, ou seja, na
visão teológica.
Bento XVI, pede para que observamos esses dois modos que
não podem ser separados. Não podemos ficar preso no texto passado para
que não fazermos um história de literatura, não reduzirmos tudo ao elemento
humano e não por em dúvida os mistérios fundamentais da Igreja.
Como lembra João Paulo II, a fé e a razão são dois pilares
fundamentais e inseparáveis, por um lado, é necessária uma fé que, mantendo
uma adequada relação com a reta razão, nunca se estreite em leituras
fundamentalistas. Por outro, é necessária uma razão que, investigando os
elementos históricos presentes na Bíblia, se mostre aberta e não recuse
conhecimentos previamente adquiridos pelos exegetas.
No tocante ao sentido literal e o sentido espiritual da Escritura,
lembra o documento da Igreja que “só se é fiel a intencionalidade dos textos
bíblicos na medida em que se procura, no coração da sua formulação, a
realidade de fé que os mesmos exprimem e em que se liga esta realidade com
a experiência crente do nosso mundo”(P. 57). Diante disso, nos detemos no
entendimento da partirmos do sentido literal para o sentido espiritual, buscando
sempre superar uma superação da “letra”. Transcender o texto escrito, ir além,
assim com São Paulo viveu plenamente em sua vida esta passagem. “ A letra
mata, mas o Espírito vivifica”(2 Cor 3, 6).
A Bíblia é uma coletânea de livro, porém, não o podem ser lidos
e interpretados separadamente. Ela constitui, apesar de vários, “um único livro
e este livro é Cristo, fala de Cristo e encontra em Cristo sua realização”(P. 59).
Existe uma unidade intrínseca em todos os textos, e isso caracteriza também a
unidade entre o Antigo e o Novo Testamento, ou seja, eles se completam entre
si, como Jesus declara no Evangelho de João, “ninguém pode anular a
Escritura”. No Novo Testamento, se da o comprimento as Escrituras do povo
judeu, no aspecto de continuidade, ruptura, cumprimento e superação com a
revelação do Antigo Testamento. “Por isso os cristãos lêem o Antigo
Testamento à luz de Cristo morto e ressuscitado.”(P. 61).
Neste contexto da relação do Antigo e Novo Testamento,
ressalta o documento da Igreja que os que estudam a fundo os textos
considerados obscuros e de difícil interpretação sejam exemplificados a todos
os fieis, pois nenhuma parte da Escritura deve ser desconsiderada por
aparecerem problemáticos.
Chama atenção, este documento para as interpretações
fundamentalistas que não respeitam o texto sagrado em sua natureza
autêntica, promovendo interpretações subjetivas e arbitrárias, difundindo por
exemplo interpretações anti-clericais das próprias Escrituras. A Igreja, estuda
as Escrituras desde a antiguidade. O documento ressalta a importância do
dialogo entre os pastores, teólogo e exegetas, pois esta cooperação ajudará no
trabalho em favor da Igreja inteira.
Mesmo que a Bíblia, não comunga de uma igualdade total no
referente a alguns textos, a Igreja destaca os estudos bíblicos no dialogo
ecumênico, observando que a Bíblia é um exímio instrumento da mão de Deus
para a unidade que o Salvador oferece a todos os homens. Destaca-se o culto
ecumênico, entretanto, não se pode substituir a participação na Santa Missa
nos dias de preceito por um culto ecumênico.
Além do mais, a interpretação bíblica não pode ficar só na
intelectualidade. Devem ser usados métodos interpretativos adequados e que
os estudantes tenham uma profunda vida espiritual, pois só é possível
compreender a Escritura se a viverem.
Por certo, que é na Igreja, que a Palavra de Deus deve ser
rezada e interpretada, pois foi a Igreja quem por toda a história a carregou
consigo. A Bíblia é a Palavra de Deus, é a história escrita do povo escolhido e
foi através da Igreja que a Palavra se conservou até nos dias de hoje.
A interpretação da Sagrada Escritura ficaria incompleta se não
com a total colaboração dos que a vivenciaram verdadeiramente, os Santos. A
santidade na Igreja representa uma interpretação da Escritura da qual ninguém
pode prescindir. Não existe santidade sem a Palavra e é na santidade que a
Palavra se torna viva.

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