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CASTRO, E.G. de; et al.

DILEMA DOS JOVENS NOS ASSENTAMENTOS RURAIS


E SUA INSERÇÃO NO MUNDO DO TRABALHO

ELISA GUARANÁ DE CASTRO1


CAETANA MARIA DAMASCENO2
VALÉRIA DE ANDRADE BRAGA3
CLOVIOMAR CARARINE PEREIRA4
GILMARA GOMES DA SILVA5
DANIEL FERREIRA DA SILVA6
GELMA BONIARES DE CRISTO7
IGOR PEREIRA CONDE8
OLAVO BRANDÃO CARNEIRO9

1. Orientadora, professora do DLCS-ICHS-UFRuralRJ;


2. Orientadora, professora do DLCS-ICHS-UFRuralRJ;
3. Estagiária do DLCS/ICHS, Discente do curso de Ciências Econômicas;
4. Ex-Estagiário no DLCS-ICHS, graduado em Ciências Econômicas e mestrando PPGDA/CPDA/UFRRJ;
5. Ex-Estagiária no DLCS-ICHS, graduada em Economia Doméstica, mestranda PPGDA/CPDA/UFRRJ;
6. Ex-Estagiário no DLCS-ICHS, graduado em Zootecnia, mestrando do PPGER/UFV;
7. Estagiária no DLCS-ICHS, Discente do curso de Zootecnia;
8. Estagiário do DLCS/ICHS, Discente do curso de Agronomia;
9. Estagiário do DLCS/ICHS, Discente do curso de Medicina Veterinária.

RESUMO: CASTRO, E.G. de; DAMASCENO, C.M.; BRAGA, V. de A.; PEREIRA, C.C.; SILVA, G.G. da;
SILVA, D.F. da; CRISTO, G.B. de; CONDE, I.P.; CARNEIRO, O.B. Dilema dos jovens nos assentamentos
rurais e sua inserção no mundo do trabalho. Revista Universidade Rural: Série Ciências Humanas,
Seropédica, RJ: EDUR, v. 27, n. 1-2, p. 29-34, jan.-dez., 2005. O trabalho que ora apresentamos sumariza
alguns resultados da pesquisa "Dilema dos Jovens nos Assentamentos Rurais e sua Inserção no Mundo do
Trabalho". O principal objetivo da investigação foi analisar as formas de reprodução social das famílias
assentadas para apreender o lugar ocupado pelos jovens1 na organização produtiva do lote e no próprio
mundo do trabalho urbano e rural. Os resultados deste trabalho serão objeto de discussão dos assentados,
visando promover um compromisso mais amplo da universidade com a luta desses trabalhadores por
melhores condições de vida. Além disso a pesquisa almejou e conseguiu contribuir para a formação de
futuros profissionais comprometidos com uma reflexão crítica a respeito da realidade rural brasileira.
Palavras-chave: Assentamento rural, produção familiar, economia familiar rural, produção agropecuária,
reforma agrária.

ABSTRACT: CASTRO, E. G. de; DAMASCENO, C. M.; BRAGA, V. de A.; PEREIRA, C. C.; SILVA, G. G.
da; SILVA D. F. da; CRISTO, G. B. de; CONDE, I. P.; CARNEIRO, O. B. Young people from rural
settlements in a dilemma and their insertion into the work market. Revista Universidade
Rural: Série Ciências Humanas, Seropédica, RJ: EDUR, v. 27, n. 1-2, p. xx-xx, jan.-dez., 2005. This
paper summarizes some of the results on the “Young people from rural settlements in a dilemma and their
insertion into the work market” research. The main goal of this investigation was to analyse the ways of
social reproduction of the settled families in order to apprehend the place of the young people in the
productive organization of the plot, and also their place in the urban and rural work markets. The results
of this research will be discussed among the settled people, and the university will try to establish a larger
and more committed alliance fostering better life conditions for them.
Key words: Rural settlement, family production, rural family economy, agricultural production and agrarian
reformation.

1
Adotamos a definição de “jovem”, seguindo o corte
etário proposto pela Organização Mundial da Saúde/
OMS (15-24 anos).

Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Humanas. Seropédica, RJ, EDUR, v. 27, n. 1-2, jan.-dez., 2005. p. 29-34.
2 Dilema dos jovens nos assentamentos...

INTRODUÇÃO trabalhadores que formaram o acampamento


suportaram mais de um ano de luta e
Localizado no município de Seropédica enfrentamento com o grileiro e sua milícia
(criado recentemente - 1996)2 , Eldorado foi armada, marcada por momentos de muita
reconhecido pelo INCRA no início dos anos violência. Essa luta alcançou os jornais e
90 e hoje é constituído de 69 famílias. A após intensa mobilização dos acampados
história de sua formação está ligada à própria formalizou-se a desapropriação e a
história da disputa por terra na região na constituição do Projeto de Assentamento
qual co-exitiram períodos de monocultura Rural Casas Altas. Parte da área da fazenda
agrícola, grilagem e pressão do mercado era ocupada por trabalhadores que
imobiliário. Dentro da estrutura fundiária da produziam como meeiros para arrendatários
região - caracterizada pela "convivência" de locais e foram assentados juntamente com
grandes produtores de gado e pequenos as famílias que participaram da ocupação.
produtores agrícolas (trabalho familiar) -, o O apoio da Igreja Católica, através da
assentamento Mutirão Eldorado pode ser Comissão Pastoral da Terra/CPT, do
considerado como um caso emblemático Movimento dos Sem terra/MST, de
de confronto na luta pela terra. Para parlamentares do Partido dos Trabalhadores/
compreendermos parte dessas relações PT e da própria Universidade Federal Rural
espaciais como relações sociais, do Rio de Janeiro/UFRuralRJ, foi fundamen-
procuramos aprofundar, nesta pesquisa, a tal para o processo de desapropriação e para
análise das relações de produção, das o começo da consolidação do
formas de trabalho familiar e das estratégias assentamento.
de composição de renda das famílias, as Ainda durante o processo de formação
quais, na maioria da vezes, combinam do assentamento foram criadas duas
atividades internas e externas ao associações a Associação dos Pequenos
assentamento, com características urbanas Produtores do Mutirão Eldorado (APPME)
e rurais. que tinha como filiados os assentados que
O Mutirão Eldorado é o retrato vivo dessa participaram do acampamento, e a
realidade. Os trabalhadores que se Associação de Produtores Filhos da Terra
organizaram para buscar terra na região fo- (APROMFIT) formada pelos ex-meeiros.
ram expulsos de um primeiro acampamento Através de financiamento coletivo do
na Fazenda Modelo (Pedra de Guaratiba/ Programa Especial de Crédito para a
RJ), e acamparam na Fazenda Casas Altas. Reforma Agrária (Procera), as associações
Esta área estava desapropriada por decreto adquiriram 1 caminhão e 2 tratores. Os
do Presidente José Sarney, mas não havia produtores rapidamente se estabeleceram
sido destinada à área de assentamento, e produzindo culturas tradicionais da região,
encontrava-se, à época (1991), sob como aipim, quiabo, maxixe, milho e feijão
grilagem, ocupada por gado. Os e culturas que não eram tão difundidas como
o arroz. Apresentaram um volume
2
Antigo distrito de Itaguaí, Seropédica emancipou-se
considerável de produção no anos de 1994
em 1996, contudo, continua a experimentar a 1997, tendo obtido prêmio de safra recorde
indecisões geo-políticas contingenciadas por saberes de quiabo no ano de 94/95, da União das
locais, envolvendo, por exemplo, a disputa de Associações e Cooperativas Usuárias do
fronteiras com o município de Itaguaí. Uma variante
dessa disputa diz respeito a certas áreas do
Pavilhão 30, filiada ao CEASA/RJ. Desde
assentamento Mutirão Eldorado localizados numa 1998 há um forte declínio na produção.
região reivindicada pelo município de Itaguaí, contudo
percebidas por muitos assentados como um espaço
rural, pertencente ora a um ora a outro município, a
localização da fronteira dificulta o acesso de seus
moradores às políticas municipais.

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MATERIAL E MÉTODOS envolvidos outros alunos de graduação4. O


projeto gerou, portando, interesse em
A partir do diálogo freqüente com a alunos das mais diversas áreas da
Associação de Pequenos Produtores universidade, permitindo uma experiência
Mutirão Eldorado (APPME), equipe de interdisciplinar extremamente rica5.
pesquisa desenvolveu, simultaneamente,
duas atividades com suas metodologias
4
específicas: um levantamento sócio- Alcilúcia Oliveira (Economia Doméstica); Cloviomar
econômico censitário, abrangendo todos os Cararine Pereira (Ciências Econômicas – graduado
em 2002) – Bolsa de Apoio Técnico FAPEMG/UFV e
lotes e a descrição etnográfica do cotidiano mestrando PPGDA/CPDA/UFRRJ (início em março de
da comunidade a partir da observação 2003); Daniel Ferreira da Silva (Zootecnia – graduado
participante. Vale dizer que o sócio- em 2003) – (orientando de PIBIC/CNPq da Professora
econômico ganhou em sutileza e Luciana de Amorim Nóbrega), mestrando do PPGER/
complexidade, na medida em que iniciamos UFV (início março de 2003); Diene Ellen Tavares Silva
(Economia Doméstica); Gelma Boniares de Cristo
a observação participante com o objetivo de (Zootecnia); Gilmara Gomes da Silva (Economia
"capturar o local" (BRENNER, 1998)3. Doméstica); Igor Pereira Conde (Agronomia);
Objetivando produzir descrições Marinete Bezerra Rodrigues (Licenciatura em
etnográficas, "o olhar" dos alunos envolvidos Ciências Agrícolas) - “Uma etnografia das fronteiras
foi "treinado", através da leitura de textos de gênero no trabalho familiar num assentamento da
Baixada Fluminense (Seropédica).” – PAPED/
voltados para questões teóricas e UFRuralRJ - Agosto 2002/Julho 2003; Olavo Brandão
metodológicas pertinentes (conforme se Carneiro (Medicina Veterinária) – Assessoria Técnica
pode observar na bibliografia) e de – Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca; Priscilla
discussões sistematizadas com as Menezes de Souza (Agronomia); Salomé Lima
coordenadoras da pesquisa. Ao longo da Ferreira (Economia Doméstica – graduada em fev/
2002) – “Imagens e Auto-Imagens dos Assentados:
observação participante, além das atividades A Construção de Identidades Sociais em
etnográficas previstas no projeto, Assentamento da Baixada Fluminense.” - PIBIC –
relacionadas com a organização da pequena 2001-2002. Bolsa de Apoio Técnico/FAPERJ,
produção familiar rural e com o lugar dos mestranda do PPGDA/CPDA (início março de 2003);
jovens nos espaços dessa produção e fora Simone Cabral da Silva (Economia Doméstica) - “A
formação do jovem assentado: entre a escola urbana
dela, outras observações do cotidiano do e o assentamento rural.” Bolsa de PIBIC/CNPq -
assentamento permitiram o desdobramento Agosto 2001/Julho 2002; “Uma etnografia da
da investigação através da formulação de educação religiosa entre assentados: fronteiras
sub-projetos de pesquisa, alguns dos quais entre o rural e o urbano.” Bolsa de PIBIC/CNPq -
obtiveram posterior apoio do PIBIC/CNPq. Agosto 2002/Julho 2003; Thiago do Valle Paiva
(Licenciatura em História) “Em Nome do Espírito: do
Complementarmente, a partir da experiência dom ao voto (Uma etnografia sobre o ‘tempo da
dos estudantes no processo da pesquisa política’ entre evangélicos a partir de uma rede de
de campo, foram observadas as relações assentados em Seropédica)” – Bolsa de PIBIC/CNPq
de produção, lote a lote. Esta atividade se - Agosto 2002/Julho2003; Valéria de Andrade Braga
desdobrou numa sub-linha de pesquisa e (Ciências Econômicas).
de extensão (proposta pelos próprios 5
Apesar das formas distintas de suporte oferecidas
estudantes envolvidos) e passou a contar ao projeto “Dilema dos Jovens nos Assentamentos
com a participação de alguns professores Rurais e sua Inserção no Mundo do Trabalho”, pelos
da Agronomia e da Veterinária, além Decanato de Extensão, Decanato de Assuntos
daqueles vinculados às Ciências Sociais. Estudantis e pela Reitoria vemo-nos obrigados a
lembrar que a inexistência de bolsas de extensão
Ao longo da pesquisa "Dilema dos especificamente voltadas para este tipo de projeto,
Jovens Assentados", foram sendo dificultou a atuação dos alunos, que apesar de sua
dedicação, se viram obrigados a buscar outros meios
3
Como argumenta Brenner, “capturar o local” é de trabalho, visando complementar sua renda.
fundamental para os estudos que pretendem Naturalmente, a falta de suporte financeiro,
aprofundar as complexidades do debate sobre institucionalizado na forma de bolsas de extensão,
representações sociais dos chamados “mundo rural” fragmentou a participação destes estudantes no
e “mundo urbano” (BRENNER, 1998:22). projeto.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO torno ao campo, após um longo período na


cidade. Perguntados sobre onde moravam
A luta pela terra: circulação e trajetórias imediatamente antes de virem para o
na Baixada Fluminense assentamento, verificou-se que a maioria da
Uma das questões marcantes na população vivia nos municípios de
pesquisa diz respeito ao acesso à terra e a Seropédica e Itaguaí e em outros municípios
opção de ficar em um assentamento com da Baixada Fluminense. Assim, a
difíceis condições de vida e produção. Além população que formou o assentamento é da
dos relatos dos entrevistados, registramos região e metade dela provém de áreas rurais.
outros discursos informais, obtidos em Trata-se, portanto, de uma população que
diversas situações, nos quais, para além opta por um retorno ao campo e para a
da posse de um terreno, a opção por "ficar" atividade agropecuária.
no assentamento aparece vinculada à Percebemos que há uma circulação de
valorização de uma realidade "menos titulares nos lotes, isto é, um repasse do
violenta" do que a da cidade e ao desejo de lote a outra família. De acordo com o
"produzir na terra", de resgatar "raízes levantamento das razões de saída das
rurais". famílias, observou-se que as difíceis
O pequeno produtor familiar do estado condições de vida - principalmente a falta
do Rio de Janeiro e especialmente o da de transporte, acesso difícil à atendimento
Baixada Fluminense tem uma trajetória médico e à escola - são os motivos mais
muito característica, que guarda certa mencionados. Mas a difícil condição da
homologia com outros assentamentos. De produção agropecuária, como veremos
origem rural, muitas vezes de outros adiante, e o retorno financeiro irregular, são
estados, migra para os núcleos urbanos apontados como a principal razão para a
médios e grandes, ainda na juventude, saída das famílias.
engajando-se na luta por terra após um longo A principal crítica feita aos assentados
período de trabalho urbano, formando o rurais do estado do Rio de Janeiro é a sua
núcleo básico das ocupações. No Eldorado6 inserção no mercado de trabalho urbano.
esse perfil é bem evidente. De um total de Observamos que a grande maioria dos
338 pessoas que compõem as famílias do entrevistados afirma trabalhar nos lotes. Os
assentamento, a maioria nasceu nas áreas mesmos entrevistados afirmaram ainda que
urbanas da região (em Seropédica/Itaguaí a maioria dos(as) esposos(as) e um número
e adjacências). No entanto, os mesmos importante dos filhos trabalham nos lotes.
dados cruzados segundo a faixa etária O trabalho familiar é base para a produção
também mostram que a maioria dos adultos no assentamento. Uma ampla maioria de
(55,9%, acima de 25 anos), nasceu em lotes que utilizam exclusivamente a mão-
áreas rurais. Este segmento "mais antigo", de-obra familiar.
realizou, portanto, uma trajetória rural- Verificamos no trabalho de campo que
urbano-rural, na qual o assentamento mesmo os que declararam que contratam
representa, de fato, o "velho sonho" de re- trabalhadores de fora do assentamento, por
diária, tendem a contratar filhos de
assentados. É crescente e marcante o
6
Em 2000/2001 Eldorado era formado por 69 famílias emprego da mão-de-obra de parentes como,
totalizando 338 componentes (média de 5 pessoas
sobrinhos, tios, cunhados e etc., seja na
por família) dos quais 210 residentes em Eldorado.
Dos que não residem no assentamento a maioria plantação, na colheita ou na
mora no município ou áreas próximas. Atualmente comercialização, o que faz com que seja
esse número tem oscilado ora para mais ora para expressiva a caracterização da produção
menos. Consideramos famílias e agregados todos
familiar, sendo o trabalho familiar
que residiam com o entrevistado e demais filhos não
residentes. responsável por aproximadamente 78% da

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mão-de-obra utilizada no lote. assentamentos do estado do Rio de Janeiro7,


Mas o dado que talvez seja o mais percebe-se que a trajetória rural dos
importante no sentido de reforçar a entrevistados (84%) está bem acima da
identidade de produtor rural, conquistada média do estado (51%). Essa comparação
com o processo de luta pela terra, é a reforça o perfil rural-urbano-rural dos
inversão do trabalho principal dos assentamentos da Baixada Fluminense,
entrevistados. Perguntados sobre o trabalho região central para compreendermos o
dos membros da família, antes de entrar no assentado que se firma como produtor rural
assentamento, os entrevistados declararam na fronteira entre o mundo rural e o urbano.
que 107 pessoas trabalhavam. Dentre elas, Tudo isso indica que faz-se
60 em atividades urbanas e 47 em atividades indispensável um olhar mais cuidadoso e
rurais. Perguntados então, sobre o trabalho ações concretas das autoridades
no assentamento, foram apontadas 37 competentes visando favorecer o
pessoas em atividades urbanas e 75 em desenvolvimento sustentável do Eldorado.
atividades rurais, totalizando 112. Tem mais
gente trabalhando com remuneração hoje
que antes da entrada nos assentamentos. CONCLUSÃO
Mas o mais importante foi a transformação
de trabalhadores assalariados sem terra, A experiência de pesquisa, ensino e
para pequenos produtores com terra. extensão proporcionada pelo projeto
Os dados aqui apresentados comprovam "Dilema dos Jovens", sem dúvida projetou-
a idéia que observamos no campo, de que se além do que esperávamos. O foco inicial
o assentamento não se configura como um da análise foi a "inserção dos jovens no
"dormitório rural" - em que seus moradores mundo do trabalho" e sua saída do
não têm qualquer relação com a produção assentamento, enquanto um problema
rural. Antes do assentamento, essa sociológico, isto é, como um processo de
população se voltava, em sua maioria, para desestruturação da produção familiar das
trabalhos exclusivamente urbanos. O perspectivas de continuidade do
acesso a terra possibilitou uma inserção real assentamento como um todo. Se este
nas atividades rurais. Não queremos diminuir ponto de partida foi de extrema importância
a importância do trabalho urbano para renda para analisarmos o assentamento, só
das famílias, e sim que parece haver uma poderíamos compreendê-lo aprofundando o
lógica de combinação de atividades rurais nosso olhar sobre outra "queixa" recorrente
e urbanas para garantir a manutenção do entre os assentados a respeito do estado
lote. A população que trabalha em atividades de "estagnação" e de baixa produtividade
urbanas se concentra em sua maioria, no do assentamento. Não seria possível
setor serviço e na construção civil sob a abordarmos todos os aspectos tratados na
condição de assalariado e/ou autônomo. pesquisa, optamos por questões
Assim, pode-se afirmar que são muitas específicas ligadas ao processo de
as formas de inserção dos trabalhadores de formação do assentamento, da luta pela terra
Eldorado no mundo do trabalho, mas todas e da construção de identidades. O processo
as famílias atuam de alguma forma no lote. de pesquisa reforçou que duas lutas muito
O trabalho familiar é, predominante na importantes caminham juntas: a de valorizar
maioria dos lotes, envolvendo um ou mais o pequeno produtor e garantir crédito,
membros da família no processo de
produção. Comparando a realidade do 7
Fonte, I Censo da Reforma Agrária – INCRA/CRUB/
assentamento Eldorado com a dos outros UnB.

Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Humanas. Seropédica, RJ, EDUR, v. 27, n. 1-2, jan.-dez., 2005. p. 29-34.
6 Dilema dos jovens nos assentamentos...

assistência técnica, luz, água, estradas, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


escola, condições dignas de
comercialização, etc.; e a nossa de ter BERGAMASCO, S.; NORDER, L.C. O que
condições de estudar e pensar formas de são assentamentos rurais? São Paulo:
contribuir para uma mudança da realidade Brasiliense. 1996.
desigual no campo. Mas parte dessa luta
são as trocas e experiências como esta que BRENNER, S. The Domestication of Desire:
aproximam a universidade da realidade Women, Wealth, and Modernity in Java.
desse pequeno produtor, através de Princeton: Princeton University Press, 1998.
pesquisas e trabalhos de extensão, mas
também escancarando as portas da CASTRO, E.G. & DAMASCENO, C. et al.
universidade Rural para o trabalhador. Dilema dos Jovens nos Assentamentos
Esperamos que esse tipo de iniciativa Rurais e sua Inserção no Mundo do Trabalho.
contribua para que o trabalhador sinta, cada Relatório Final. (Mimeo). 2003.
vez mais, que a universidade é de todos e é
preciso lutar pra que ela se volte mais pra CASTRO, E.G. "Entre Rural e Urbano:
essa realidade. Esperamos que a partir de identidades e espaços sociais em
trabalhos como este, os futuros agrônomos, construção". In: Campo Aberto. Rio de
zootecnistas, veterinários, economistas, Janeiro: Contra Capa. 1998.
economistas domésticos, historiadores,
professores de escola técnica agrícola, GRYNSZPAN, M. O Campesinato
saiam da Rural comprometidos com a luta Fluminense: mobilização e controle político
por uma mudança dessa realidade. (1950-64). In: Revista do Rio de Janeiro, v.
1, n. 2, jan./abr. 1986.

Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Humanas. Seropédica, RJ, EDUR, v. 27, n. 1-2, jan.-dez., 2005. p. 29-34.

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