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RELATÓRIO

Investigação em Artes e Absurdo

Mais do que um relatório, abordo este texto como um exercício de reflexão sobre as minhas impressões
da conferência/livro em questão, com mais dúvidas do que ilações.

Confesso que antes de assistir a esta conferência nunca me tinha ocorrido estabelecer uma distinção entre
“investigação em Artes” e “investigação sobre Artes”. Mesmo depois de ler o título da conferência, não
creio ter sequer debatido sobre o título ou o que este poderia significar. Assim, fui para este conferência
com a (errada) ideia de que iria assistir a uma discussão mais ou menos filosófica sobre
metodologias/correntes de investigação sobre problemáticas da estética ou de outras teorias da arte.
Enganei-me, e como consequência, passei mais de metade da conferência a tentar perceber de que é que
se estava ali a falar. Com o decorrer do evento, naturalmente, fui conseguindo reunir informação
suficiente para, pelo menos, conseguir situar-me em termos do tema da conferência. Admito que numa
primeira fase, senti que não devia estar ali pois toda aquela discussão, não só não me dizia respeito (uma
vez que não sou artista ou aspirante a tal), como também, estando numa fase tão precoce do mestrado,
que é o mesmo que dizer, a dar o primeiro passo para uma (desejada) carreira no campo da investigação
SOBRE arte, parecia-me ser demasiado complexa para alguém que ainda não domina quaisquer conceitos
fundamentais.

As sucessivas intervenções pareceram-me na altura algo dispersas, principalmente as dos artistas em


relação aos outros oradores. Naturalmente que a não-inclusão daqueles faria com que toda esta discussão
não passasse de um exercício puramente abstracto.

Na sua intervenção/texto “The Artist as Social Worker Vs The Artist as Social Wanker”, Schrag baseia-se
na peça “Play” de Beckett para denunciar a repetição fútil e interminável que representa as nossas
próprias vidas, e para propor uma prática artística que se situe entre o social betterment e o “wakerism”
inerente ao artista, como uma solução que nos permite sair daquela absurdidade de Beckett. E é
precisamente essa absurdidade da repetição fútil e interminável que me suscita dúvidas na intervenção
de Schrag; a que refere o autor quando fala nessa repetição? Partindo do princípio que Schrag se refere à
proliferação de PhDs practice-based research que seguem as normas tradicionais, compreendo que o seu
how, demonstrado, aliás, na sua performance artística, se afigure como uma solução para esta
problemática.

Ainda com alguns textos por ler, a minha compreensão desta problemática ainda não chegou a ser
superficial, e talvez por isso mesmo, não entenda o porquê de toda esta discussão, embora perceba e
aplauda a necessidade de a começar. O desejo de standardizar a formulação e transmissão de
conhecimento é um perigo real contra o qual a prática artística se debate e contra o qual se tem de
defender. O artista é artista, o investigador é investigador, mas o artista também é investigador, na
medida em que produz uma forma de conhecimento que é em si mesma, e por essa razão não necessita
de ser justificada ou legitimada por uma tese de doutoramento. Precisa sim de ser coerente dentro da
sua lógica própria e de constituir algo novo, desafiante, thought-provoking mas que signifique por si
próprio, seja essa significação o que for. A arte não existe para servir seja o que for, nem para ser explicada
ou compreendida com a razão, mas sentida e como Sontag, “erótica”. Esta necessidade de explicar e
arranjar significados e simbolismos em tudo aquilo que nos rodeia é profundamente sufocante e está a
matar a arte e a legitimar a não-arte e a criar não-artistas e pseudo-artistas e a tornar o nosso trabalho
fútil e inconsequente.

Não sei se algo do que disse aqui faz sentido, provavelmente não, mas se virmos as coisas pelo lado
positivo, pelo menos a conferência e o livro suscitaram em mim uma atitude própria de uma
“melodramatic teenager” que por mais absurda que seja é sempre louvável em intenção.

Leonor Reis

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