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UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA

Centro Regional do Porto


Escola das Artes
Licenciatura em Som e Imagem

“O símbolo”
“Estado da arte” e Planeamento

POR
Leonor Neves da Costa Luís dos Reis

Trabalho para a unidade curricular:


“Psicologia da Comunicação”
Orientador: Prof. Maria Guilhermina Castro

PORTO
2012
ÍNDICE

Introdução ......................................................................................................................... 2

1. “Estado da Arte”

2.1 Definição ............................................................................................................ 3

2.2 Teorias e autores................................................................................................. 4

2.3 Artistas ............................................................................................................... 6

2. Planeamento do projecto

2.1 Intenção............................................................................................................. 9

Conclusão ....................................................................................................................... 10

Bibliografia ..................................................................................................................... 11

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INTRODUÇÃO

Não se tratando de uma teoria ou mesmo uma disciplina, o símbolo é, na verdade,


objecto de estudo de diferentes ramos, desde a semiótica à psicanálise, passando pela arte.
Não querendo abordar disciplinas tão abrangentes como a semiótica ou a psicanálise, nem
o simbolismo enquanto corrente artística, optei antes por abordar o fenómeno específico
que têm em comum: o símbolo. Após uma breve definição de “símbolo”, pretendo
apresentá-lo não só em contexto com as disciplinas que acima referi (a semiótica e a
psicanálise), como também, enquanto referente de várias teorias, autores e obras (plásticas
e cinematográficas) que tratam ou utilizam este conceito.
Numa segunda fase, apresentarei a minha proposta para um projecto audiovisual
que reflectirá, naturalmente, o tema escolhido (o “símbolo”), numa perspectiva
comunicacional – enquanto ferramenta de comunicação. Uma proposta, contudo, ainda
embrionária, composta somente pela sua intenção.

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“ESTADO DA ARTE”

1.1 Definição

Lévi-Strauss diz, “Há algo muito curioso na semântica: que a palavra “significado”
é, provavelmente, em toda a linguagem, a palavra cujo significado é o mais difícil de
definir”; ora, se considerarmos a proximidade entre a palavra “significado” e aquela que
aqui nos interessa, “símbolo”, deduzimos que esta última é quase, senão tão difícil de
definir como a primeira. Não foi preciso indagar muito sobre o assunto para me aperceber
da dificuldade de, precisamente, definir este conceito que é muitas vezes confundido com
outros (“signo”, “código”), por vezes intencionalmente (há autores que equiparam
“símbolo” a “signo”), mas também inconscientemente, pela maioria de nós. Será o
“símbolo”, no seu sentido mais lado, um “signo”? Será o “símbolo”, um “signo” com
significado? Ou ainda, será o símbolo o significado do signo? Haverá, na verdade, alguma
diferença entre “símbolo” e “signo”? E quanto à própria natureza do simbolismo, o que o
constitui? Qual a sua origem? O que podemos considerar simbólico?
O que quero, com isto, fazer ver é, em primeiro lugar, a abrangência deste termo
que é usado (e estudado) em campos tão diversos como a lógica, a epistemologia, a
matemática, a religião, a psicologia, a semiótica ou a linguística; em segundo lugar, a
própria terminologia varia de autor para autor e de teoria para teoria, o que torna
extremamente difícil chegar a um entendimento sobre o que é realmente o “símbolo”; e
ainda, que o próprio “símbolo” é, em si mesmo, algo paradoxal, como nota, aliás
Radcliffe-Brown, “tudo o que tem significado é um símbolo, e o significado é o que quer
que seja expresso pelo símbolo”.
Não podemos, no entanto, deixar que todo este dissenso, esta pluralidade de
terminologias e significados, nos distraia daquilo que realmente interessa, e que interessa a
mim, particularmente no âmbito deste trabalho – o poder do símbolo; não aquilo que é ou
representa, mas a sua existência e presença no mundo e em especial na comunicação, e a
força que tem enquanto meio comunicacional.

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Passo agora à apresentação de algumas teorias de, essencialmente, duas áreas que
estudam este fenómeno, nomeadamente da semiótica com Pierre Guiraud, Peirce, Saussure
e Tzvetan Todorov (trata o simbólico, a “coisa em si”, e não o termo) e da psicanálise com
Freud, Jung e Jacques Lacan.

1.2 Teorias e Autores - diferentes perspectivas

Para os semióticos, e seguindo a tradição semiótica, o “símbolo” e o “signo”, senão


sinónimos um do outro, são entendidos numa relação de subordinado-subordinante, sendo
o primeiro não mais do que uma categoria subordinada da semiótica – do signo. Mas
dentro destes e mesmo dentro da própria perspectiva semiótica, há divergências e
desacordos entre os autores e as teorias que apresentam, como veremos agora.
Para Pierre Guiraud, o “símbolo” é sinónimo de signo de comunicação (uma das
quatro categorias em que o autor divide os “signos” – naturais, de representação ou
imagem, de comunicação e de comunicação icónico-simbólicos). No seu livro “Semiology”
a palavra “símbolo” é usada no sentido, segundo ele, tradicional, em que, um símbolo,
citando Lalande, “representa uma coisa em virtude de uma correspondência analógica”, ao
que Guiraud acrescenta, “sendo por isso de natureza iconográfica”.
Saussure, por seu lado, define o “símbolo” como um signo motivado, e não-
arbitrário em oposição ao “signo”, afastando-o assim, de certa forma, do campo da
semiótica. Posição esta, oposta à de Peirce, para quem o “símbolo”, além de um “signo”
arbitrário e convencional, é ainda uma das partes da sua divisão tripartida do “signo” a par
do índice e do ícone; para Peirce, o “símbolo” é um signo que se refere ao objecto que ele
denota por virtude de uma lei, normalmente, uma associação de ideias generalistas, o que
faz com que o símbolo seja interpretado como referente àquele objecto”, daí a sua
convencionalidade.
Todorov, apesar de assumir uma posição semiótica, no seu livro “Theories of the
Symbol”, não subordina o “símbolo” ao “signo”, diferenciando os dois conceitos ao realçar,
por um lado, a natureza simbólica do “signo” e por outro a natureza semiótica do

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“símbolo”. O “símbolo” para Todorov é baseado no significado indirecto, abundante, por
exemplo, na literatura.

E se os semióticos tendem a aproximar aqueles dois conceitos, Carl Jung sugeriu


um novo significado para “símbolo” que os separasse. O termo “símbolo”, essencial na
psicanálise, passando a definir algo que não é concreto ou que não é facilmente percetível,
ao contrário do “signo”. No seu livro “Seminar, Book I: Freud’s Papers on Technique”
Jacques Lacan escreve que Freud se teria apercebido que, durante as suas sessões de
psicanálise, as neuroses insólitas de alguns dos seus pacientes (dá o exemplo do “Homem
dos Ratos”), seriam formas codificados ou fantasiadas de uma realidade concreta, assente,
neste caso, numa necessidade sexual.
Mas é o próprio Jacques Lacan quem, numa tentativa de justificar a forma
“incompleta” do ser humano, pela sua necessidade de linguagem e de significado,
consegue dar uma definição, a meu ver, não só interessante como elucidativa, de “símbolo”,
ao compará-lo aos conceitos de “senha” e “palavra-passe”. Diz, referindo-se à “palavra”
(qualquer palavra), “…antes de designar algo, desempenha um certo papel (…) a senha
tem a particularidade de ser escolhida independentemente da sua significação…”. Ou seja,
antes de designar algo, o “símbolo” funciona como código; código, esse, que é depois
descodificado pela interpretação; uma interpretação que é subjectiva – daí que se possa
atribuir a uma senha ou a uma palavra-passe uma significação descontextualizada do seu
contexto original. Lacan ilustra esta teoria, ou antes, esta definição de “símbolo”, com o
exemplo da palavra “cão” que, como senha, não significaria cão, mas apenas a resposta
escolhida para o acesso a algo; o símbolo de um cão num sonho pode, igualmente, ser uma
senha para uma outra realidade, baseada nas experiências pessoais.
Uma definição que foi, claramente, adoptada pela arte. Disso é exemplo o
Simbolismo que, enquanto corrente artística, surgiu em oposição ao Realismo que defendia
o uso de imagens baseadas na realidade, no ordinário, em contraste com a representação do
onírico e do espiritualismo do primeiro. E se o “símbolo” foi importante no Séc. XIX com
o Simbolismo, tornou-se verdadeiramente essencial nos movimentos vanguardistas do

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século seguinte, como o Abstraccionismo e o Surrealismo, sendo este último baseado,
precisamente, nas teorias psicanalistas de Freud.

1.2 Artistas – diferentes aplicações

Na esperança de que o subcapítulo anterior tenha sido, pelo menos, minimamente


ilustrativo quanto ao panorama teórico relativamente ao conceito de “símbolo”, passo
agora ao panorama artístico. Tal como aconteceu na investigação dos autores e teorias que
tratam ou trataram este conceito, também no que diz respeito aos artistas, aqueles que
apresento aqui são, muito provavelmente, insuficientes para demonstrar a presença e a
força do “símbolo”, neste caso, na arte, enquanto veículo de transmissão de mensagens,
conceitos, emoções, etc. Procurei, no entanto, não restringir-me a uma só prática artística,
tendo para isso optado por duas artes distintas: por um lado a Arte Conceptual e os seus
principais representantes, Sol Lewitt, Joseph Kosuth e Lawrence Weiner, e por outro o
“Cinema simbólico” do qual, para mim, Kim Ki-Duk é um dos seus expoentes máximos.

Começo por fundamentar a “presença” dos artistas conceptuais neste contexto do


simbólico. Ora, disse Joseph Kosuth, "Toda a arte (depois de Duchamp) é conceptual (em
natureza) porque a arte apenas existe conceptualmente"; uma arte que se liberta,
progressivamente, da sua plástica e técnicas convencionais, favorecendo uma reforma a
nível conceptual – uma libertação do paradigma formalista, estruturalista, no intuito de
produzir algo cuja relevância estética e beleza sensorial se evidencie através das suas
características formais, rejeitando o conteúdo – é acima de tudo, uma acção linguística,
uma forma de comunicação e de formação do pensamento. Esta posição, tal como disse
anteriormente, é uma adopção de uma certa liberdade, por assim dizer, que o “símbolo”
detém (de acordo com o pensamento de Lacan, por exemplo).
Apelidado de “pai da arte conceptual”, Sol Lewitt escreveu, em 1967, "Parágrafos
sobre Arte Conceptual" onde argumentava que a ideia ou conceito que informa a obra é
mais significativa do que a forma física que o artista usa para transmitir as suas ideias.

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Joseph Kosuth, por sua vez, explorou o conceito de que a linguagem detém
significado apenas em relação a si própria, algo que demonstra com a sua série "One and
Eight - a Description", na qual oito letras em néon simbolizam apenas os elementos que
compõe a obra. É também relevante o seu envolvimento com a comunicação social que,
aliás, esteve na base de um seu outro conceito que demonstra a relação da arte e da
linguagem no seu contexto sócio-cultural.
Finalmente, Lawrence Weiner viu a linguagem como o instrumento fundamental do
seu trabalho, procurando a exploração das suas potencialidades e seguindo as máximas: "(1)
O artista pode construir a peça. (2) A peça pode ser fabricada. (3) A peça pode não ser
construída. (Sendo, cada um, igual e consistente com a intenção do artista, a decisão
quanto à condição, cabe ao receptor no momento da recepção", rejeitando desta forma a
visão mais tradicionalista que postula a necessidade da existência física, objectual da obra.

Retomando a expressão que utilizei atrás de “Cinema simbólico”, falo agora de um


cineasta que, antes de mais, considero ser um dos expoentes máximos do Cinema mundial:
Kim Ki-Duk. Um cineasta cuja atitude perante o Cinema, e assim, perante a comunicação
(a sua, com o mundo), se baseia no uso simbólico da imagem. É através do simbolismo
criado nas suas obras que nos transmite ideias, emoções, sensações e mensagens,
demonstrando, assim, o enorme poder e, atrevo-me a dizer, supremacia, que o “símbolo”
detém relativamente, por exemplo, à linguagem falada: o poder da sugestão e a beleza
dessa sugestão; o forçar de uma procura interior por significados, por respostas e uma
(quase) imaterial beleza que nenhuma palavra poderia alguma vez igualar ou sequer definir.
Da sua filmografia, destaco, particularmente, as obras “Ferro-3” e “O Bordel do
Lago”, onde Kim Ki-Duk recusa quase por inteiro a palavra, substituindo-a pelos gestos,
acções, pelo simbolismo dos objectos, das cores, e pela própria dimensão espaço-temporal
como meio de transmissão da sua mensagem: uma de imaterialidade, de questionamento
constante quanto à existência (a nossa, a dos outros), em Ferro3, e uma de violência, dor e
sofrimento, focando-se na mulher e no seu carácter inerentemente maternal, em O Bordel
do Lago. A opção pelo silêncio na obra de Kim Ki Duk sugere uma certa inocência do
espirito humano, algo que o separa, que o diferencia e de certa forma, o protege do mundo

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exterior; é ainda uma forma simplificada de comunicação, sem os artifícios da linguagem
falada, da palavra e das suas ambiguidades, fundada no princípio do puramente sensorial,
do intuitivo – é particularmente esta segunda característica que me parece extremamente
pertinente e reveladora quanto às potencialidades da linguagem simbólica e do seu enorme
poder (e beleza) enquanto ferramenta comunicacional.

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2. PLANEAMENTO DO PROJECTO

2.1 Intenção

Fruto da minha enorme paixão por Cinema e em especial, como creio ter ficado
patente no final do capítulo anterior, pelo tal “Cinema simbólico”, a minha proposta para,
“provar” a efectividade da aplicação prática do “símbolo” na comunicação, tal como tenho
vindo a postular ao longo deste trabalho, é a realização de uma breve curta-metragem de
ficção que, precisamente explore as potencialidades da linguagem simbólica.
Ainda sem uma ideia definida, pretendo escrever um pequeno argumento baseado
nessa ideia do “símbolo” como chave-comunicacional, como “subordinante” da palavra e
como elemento ao mesmo tempo subliminar e transcendente – potencialidades que, através
da sua materialização em imagem e das dimensões que tal implica, serão, assim o espero,
ampliadas e definitivamente provadas.
Sem quaisquer dados ou informações concretas quanto ao conteúdo propriamente
dito da curta-metragem, resta-me deixar aqui alguns referentes cinematográficos que
possam porventura ser relevantes e, quicá, sugestivos quanto, senão à temática, pelo menos
à atitude e à postura que tenho perante o Cinema e assim perante a comunicação, e que,
invariavelmente, adoptarei na concepção e consequente materialização deste trabalho: Kim
Ki-Duk, David Lynch, Andrei Tarkovsky, Wong Kar-Wai, Takeshi Kitano, entre outros.

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CONCLUSÃO

Concluo esta breve investigação sobre o “símbolo” sem, na prática, ter chegado a
grandes conclusões; não creio, na verdade, que fosse essa a intenção, mas antes, a de
potenciar uma possível conclusão, através da abertura a várias perspectivas distintas,
muitas delas opostas, e estudadas em campos, como disse anteriormente, tão diversos
como a semiótica e a psicanálise; e talvez até, mais do que chegar a uma conclusão, que,
neste conceito em particular, me parece extremamente improvável, dada a ambiguidade
que o rodeia e sempre rodeou e que, de certa forma, o transformou numa espécie de “mito”,
interessa o assumir de uma posição – daquela que nos parece, não só mais aceitável e
coerente mas mais do que isso, da que nos parece mais “verdadeira” consoante a nossa
atitude comunicacional.

Nesse sentido, creio ter chegado à “minha” conclusão, na medida em que me


considero mais próxima à atitude defendida pelos psicanalistas, e de Lacan em particular,
do “símbolo” como código, sujeito à interpretação subjectiva de cada um de nós.

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BIBLIOGRAFIA

Monografias

LACAN, Jacques, The Seminar, Book I: Freud’s Papers on Technique 1953-1954,


Cambridge University Press, 1988
PETOCZ, Agnes, Freud, Psychoanalysis and Symbolism, Cambridge University
Press, 1999
TODOROV Tzvetan, Theories of the Symbol, Cornell University Press, 1984
GUIRAUD, Pierre, Semiology, Routledge, 1975
OSBORNE, Peter, Conceptual Art, Phaidon Press Incorporated, 2002

Webgrafia
http://www.partes.com.br/ed39/teoriasignosreflexaoed39.htm (da autoria de
Antônio Carlos da Silva sob o título “As teorias linguísticas e as significações do signo”.
Consultado a 4 de Março de 2012)
http://www.signosemio.com/peirce/semiotics.asp (da autoria de Nicole Everaert-
Desmedt sob o título “Peirce’s Semiotics”. Consultado a 6 de Março de 2012)
http://www.minutesemeiotic.org/?p=38&lang=br (da autoria de Vinicius Romanini
sob o título “Semiótica de Peirce. Consultado a 6 de Março de 2012)

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