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Universidade Federal do Pará

Núcleo de Teoria e Pesquisa do Comportamento


Programa de Pós-Graduação em Neurociências e Comportamento

Atividade final de Controle por Regras II

Marina Teixeira Pereira

Belém - PA
2017
Para o seguinte trabalho escolheu-se o artigo intitulado “Impacto de intervenção

fisioterapêutica na prevenção do pé diabético”, de autoria de Barros, Mendes, Nascimento &

Carvalho (2012), publicado na revista Fisioterapia e Movimento, Curitiba, v. 25, n. 4, p. 747-

757.

Na introdução, os autores destacam o pé diabético como a complicação mais incidente

do diabetes mellitus (DM), considerada a maior causa de amputação não traumática dos

membros inferiores. A pesquisa teve por objetivo avaliar o impacto de uma intervenção

fisioterapêutica na prevenção do pé diabético. O estudo contou com a participação de 24

usuários do Programa de Diabetes do CAIS, escolhidos aleatoriamente, tendo seus dados

coletados por meio de uma ficha de avaliação fisioterapêutica e de questionários estruturados,

aplicados antes e depois da intervenção. A intervenção fisioterapêutica foi realizada com os

participantes sendo divididos em três grupos de 8 indivíduos. Cada grupo foi submetido a oito

sessões de tratamento, cada uma com duração de uma hora e trinta minutos, compostas por

exercícios de alongamento e fortalecimento dos membros inferiores. A cada sessão, 30 minutos

eram destinados para atividades de educação em saúde, que incluíam cuidados com os pés.

Após o período de intervenção, observou-se diminuição do hábito de andar descalço e da prática

do escalda pés. Já, no que compete ao uso de calçado adequado, hidratação, e detecção e solução

de possíveis alterações nos pés, a intervenção teve um impacto relevante. Sendo assim, os

resultados apontam que a intervenção fisioterapêutica nessa população de risco foi um fator

importante na modificação de hábitos e adoção de uma postura preventiva.

Os autores do estudo não descrevem em detalhes os procedimentos utilizados durante a

atividade de educação em saúde, no entanto, ao classificar a atividade como um conjunto de

orientações gerais, entende-se que as mesmas sejam regras. As diferentes formas de se fornecer

orientações e promover o tratamento de indivíduos com DM consistem fundamentalmente da

apresentação de regras a serem seguidas, sendo as mesmas utilizadas como recurso para a
adesão ao tratamento e adoção de comportamentos preventivos (Rocha, Zanetti & Santos,

2009).

Especificamente, as orientações de autocuidado são consideradas como regras por

atuarem na descrição de contingências e representarem um estímulo antecedente verbal capaz

de estabelecer um comportamento novo independentemente de suas consequências imediatas,

podendo alterar a função de estímulos, contribuindo para que o indivíduo adote posturas

benéficas à sua saúde (Paracampo, Souza, & Albuquerque, 2014).

De acordo com Albuquerque (2005) e Albuquerque e Ferreira (2001), o seguimento de

regras observado neste estudo pode ocorrer em decorrência de uma história de reforçamento ao

seguir regras instituídas no passado. Além disso, o seguimento de regras também pode estar

relacionado a uma história de controle por regras que descrevem contingências atrasadas, ou

seja, justificativas para o seu seguimento ou não. Por exemplo, o tratamento da DM associa-se

à regras que descrevem justificativas para seu seguimento, como ocorre quando o profissional

de saúde orienta o paciente acerca dos cuidados que deve ter com sua saúde e explicita as

consequências para o seguimento ou não das orientações. Além desse fator, outros como a

extensão da regra, ou seja, quanto maior a extensão de uma regra, menor a probabilidade de a

mesma ser seguida, e a autoridade do falante, que neste contexto pode ser representado pelo

profissional de saúde, também interferem no seguimento de regras.

De modo geral, regras não só descrevem o comportamento a ser emitido, também

descrevem justificativas para que o comportamento possa ser emitido e mantido. Sendo assim,

justificativas são estímulos que compõem uma regra e podem ser manipulados, modificando

assim a possibilidade do comportamento exposto na regra ocorrer no futuro. Os principais

exemplos de justificativas são cinco: (1) as eventuais consequências do seguimento de regras.

Por exemplo, um falante (profissional de saúde) pode apresentar uma regra para um ouvinte

(paciente diabético) cuidar de seus pés de modo adequado acrescentado justificativas do Tipo
1 que indicam que pessoas que não seguem essa regra podem desenvolver pé diabético. (2) a

eventual aprovação do seguimento de regra, como exemplo, um profissional de saúde pode

dizer: “Faça o autoexame diário dos seus pés”, e acrescentar a seguinte justificativa do Tipo 2:

“Ficarei muito contente com o senhor”. (3) a confiança demonstrada pelo falante em relatos,

tais como, “Eu acho”, “Não estou certo”, “Confie em mim” etc., que podem indicar se as

consequências relatadas serão de fato resultantes, ou não, do seguimento da regra. Por exemplo,

um profissional de saúde pode apresentar a regra: “O senhor pode seguir as recomendações que

lhe dei?” e acrescentar a seguinte justificativa do Tipo 3: “Eu prometo que o senhor perceberá

os benefícios de segui-las, pode confiar” etc. (4) a forma apresentada pela regra que pode indicar

se tem a forma de promessa, ordem, acordo, discurso etc. Por exemplo, o profissional pode

dizer: “Não ande descalço” e acrescentar as seguintes justificativas do Tipo 4: “Eu imploro”.

(5) o que observar. Por exemplo, o profissional pode dizer: “Siga todas as recomendações” e

acrescentar a seguinte justificativa do Tipo 5: “Olhe o que pode acontecer com seus pés caso

não as siga (mostrar imagem de um pé diabético)” (Matsuo, Albuquerque & Paracampo, 2014).

Outro aspecto importante que pode ser inferido a partir deste estudo relaciona-se ao

papel do autocontrole como um possível facilitador para o seguimento das regras instituídas

pelos profissionais de saúde. Tradicionalmente, autocontrole é sinônimo de força de vontade,

capacidade de enfrentar situações difíceis, ter um poder interior, conseguir resistir a tentações,

ser emocionalmente forte, entre outros. As concepções que apontam para esses sinônimos, de

alguma maneira, tentam explicar o comportamento de autocontrole através de um agente

iniciador interno (Castanheira, 2001; 1993; Skinner, 1989/1991).

O autocontrole pode ser definido como o controle exercido pelo indivíduo em seu

próprio comportamento quando uma resposta pode ser consequenciada tanto por reforço

positivo quanto com reforço negativo. O autocontrole ocorre por meio da alteração de variáveis

das quais o comportamento é função. No autocontrole, uma resposta, denominada controladora,


manipula variáveis de maneira a alterar a probabilidade de emissão de outra resposta

denominada controlada (Skinner, 1953/2000).

Comportamentos ligados à saúde, como o controle adequado do diabetes, a

monitorização da glicemia, estilo de vida saudável e cuidados com os pés, orientações

fornecidas durante o estudo, demandam repertórios de autocontrole. Isso ocorre porque em

geral torna-se necessário que sejam ignorados reforçadores imediatos a fim de que reforçadores

atrasados de maior magnitude sejam obtidos (Reis, Teixeira & Paracampo, 2005).

Dessa forma, pode-se concluir que apesar de os autores não deixarem claro a forma

como as regras foram emitidas, as mesmas, tendo as justificativas e até mesmo o autocontrole

como um elemento facilitador, contribuíram para a adesão dos participantes às medidas

preventivas ao pé diabético. Ressaltasse a importância, portanto, de se investigar a fundo quais

justificativas, por exemplo, podem apresentar maior eficácia para o seguimento de regras,

visando com isso o aumento do comportamento de adesão.

Referências

Albuquerque, L. C. de (2005). Regras como instrumento de análise do comportamento. Em L.

C. Albuquerque (Org.), Estudos do comportamento (pp. 143-176). Belém: EDUFPA.

Albuquerque, L. C. de, & Ferreira, K. V. D. (2001). Efeitos de regras com diferentes extensões

sobre o comportamento humano. Psicologia: Reflexão e Crítica, 14, 143- 155. doi:

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Castanheira, S.S. (2001). Autocontrole: a Linguagem do Cotidiano e a da Análise do

Comportamento. Em R. A. Banaco (org.) Sobre comportamento e cognição: aspectos

metodológicos e de formação em Análise do Comportamento e Terapia Cognitivista, 1ª

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Matsuo, G.L., Albuquerque, L.C., & Paracampo, C.C.P. (2014). Efeitos de justificativas

relatadas em regras sobre o seguimento de regras. Acta Comportamentalia, 22(3), 273-

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http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0188-

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Paracampo, C.C.P., Souza, L.M., & Albuquerque, L.C. (2014). Variáveis que podem interferir

no seguir regras de participantes flexíveis e inflexíveis. Psicologia: Reflexão e

Crítica, 27(1), 124-133. doi: 10.1590/S0102-79722014000100014

Reis, A. A. dos, Teixeira, E. da R., & Paracampo, C. C. P. (2005). Auto-regras como variáveis

facilitadoras na emissão de comportamentos autocontrolados: O exemplo do

comportamento alimentar. Interação em Psicologia, 9, 57-64. doi:

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Rocha, R.M., Zanetti, M.I., Santos, M.A. (2009). Comportamento e conhecimento:

fundamentos para prevenção do pé diabético. Acta Paulista de Enfermagem, 22(1), 17-

23. doi: 10.1590/S0103-21002009000100003

Skinner. B.F. (1991). O eu iniciador. Em B.F. Skinner (org.) Questões Recentes na Análise

Comportamental.Tradução de Anita Liberalesso Néri. Campinas: Ed. Papirus.

(Trabalho original publicado em 1989).

Skinner, B.F. (2000). Ciência e comportamento Humano. Tradução de J. C. Todorov e R. Azzi.

São Paulo: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1953).

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