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FIGURA
by Alexandra Simões Silva | Dez 26, 2009 | F | 0 comments

1. Usado no contexto das guras de estilo, o termo designa as formas expressivas de


usar a linguagem que alteram o sentido literal das palavras (denotação), criando na mente do
leitor/ouvinte que as recebe ideias acessórias com signi cados contíguos. A mudança varia em
função da gura de estilo utilizada e pode oscilar entre a mera sugestão ou a substituição do
sentido inicialmente convencionado para a palavra. Tratam-se, portanto, de procedimentos
estilísticos e linguísticos considerados como um desvio da linguagem comum (se esta for
entendida como norma) e parte integrante da linguagem gurada, cujo objectivo reside na
ênfase e no adorno discursivos. No entanto, alguns destes procedimentos são utilizados na
linguagem comum (como o assíndeto e o polissíndeto) não constituindo o seu emprego, por si
só, uma marca distintiva da literariedade. Podem revelar-se uma característica do texto
literário se a sua recorrência e distribuição tornarem evidentes a intenção do escritor.
A disciplina da retórica divide-se em cinco partes e as guras de estilo incluem-se no
cânone com o mesmo nome (estilo). Serviam de instrumento a oradores e escritores que
procuravam, de forma deliberada, a criação do ornatus no seu discurso, por forma a persuadir
ouvintes e leitores. A vertente directiva dos textos retóricos clássicos tornou necessária, desde
cedo, a de nição e ordenação destes instrumentos estilísticos, tendo sido vários os retóricos e
teóricos que tentaram uma classi cação dos mesmos desde Quintiliano (a. D.35-95) até à
contemporaneidade.
Anteriormente, já Aristóteles de nia metáfora como o transportar para uma coisa o
nome de outra (Poética, 1992: 134), privilegiando, no discurso retórico, de entre os quatro
tipos existentes, aquela que é feita por analogia. Sendo a retórica aristotélica direccionada para
a persuasão dos ouvintes, esta gura revela-se uma forma expressiva central da elocutio,
porquanto obrigaria os ouvintes desprevenidos a estabelecer a semelhança mesmo com
entidades muito diferentes (Retórica, 1998: 201). O símile, a hipérbole e a antítese, são
consideradas metáforas ou guras formadas a partir delas (Quintiliano iria, mais tarde,
classi cá-las como tropos). O Autor grego avança com as descrições de formas de expressão
que, embora funcionando mais como um auxiliar da argumentação do que uma simples técnica
da ornamentação, iriam proporcionar as classi cações de teóricos que o sucederam.
O retórico latino Cícero foi um deles. An obra Ad Herennium, que lhe é atribuída,
tentou uma primeira classi cação das guras através de um dicionário de termos estilísticos
(Livro IV), dividindo-as em dois grupos distintos: as guras de dicção (das quais os tropos
constituíam uma subclasse) e as guras de pensamento. Quintiliano, considerado por muitos o
maior crítico literário da época clássica, procurou então conciliar e sumariar as classi cações
de Aristóteles e Cícero, e, no livro IX do tratado Institutio Oratoria, começa por distinguir
guras de tropos. Estes remetem para a transferência de expressões da sua natural e principal
signi cação para outra, à qual podem não pertencer. As guras, por outro lado, designam
formas atribuídas à linguagem, diferentes do que é óbvio e mais comum. De acordo com o
teórico romano, as guras não envolviam, necessariamente, alguma alteração, quer da ordem
quer do sentido estrito das palavras. No entanto, deixa antever que a maioria das
características dos tropos é comum às guras e que ambos partilham o mesmo propósito:
ornamentar a linguagem. As guras dividir-se-iam em duas subclasses: as guras de
pensamento, associadas à formulação de conceitos e de ideias e as guras de palavra,
directamente ligadas à expressão da linguagem. Considera ainda os tropos e as guras de
pensamento os artifícios mais importantes para o orador, pois estão unidos pelo pensamento e
revelam a estratégia conceptual a que o orador recorreu para o embelezamento estilístico.
Outras tentativas de agrupamento das guras de estilo no âmbito da disciplina de
retórica foram muito frequentes. Destacam-se na renascença a obra Arte of Rhetorique de
Thomas Wilson, datada da segunda metade do séc. XVI, que mantém a diferença entre tropos e
guras. Incluídas nestas estariam as guras de frase e de palavra. Embora o recurso à
linguagem gurada tenha sido uma constante ao longo da história escrita , durante o
Iluminismo a razão imperou e o estilo retórico, visto como uma busca imaginativa, foi relegado
para segundo plano, suplantado pela preocupação em classi car as guras de estilo. Na
contemporaneidade são várias as tentativas para dar resposta aos problemas de reordenação
e classi cação das mesmas. Podem ter por base uma nova premissa (como a inexistência da
dicotomia entre linguagem literal e linguagem gurada (Todorov, 1967:100) ), serem agrupadas
em função das emoções e intenções inerentes ao discurso do orador (Lee A. Sonnino, 1968),
partirem de pressupostos da linguística moderna (J. Dubois e o seu grupo), entre outras.
Merecem destaque as tipologias de Tzevtan Todorov, K. Spang, J. Dubois e o Grupo de Liége
(inspirada em termos de origem grega), G. Genette, Warren Taylor (1972), A .López García
(1981).
Algumas classi cações resultam numa extensa apresentação de classes de guras,
para, quase forçosamente, encontrar uma de nição e xar o artifício. Lembremos Quintiliano,
pois é a evidência do valor estilístico que indica o artifício usado e a gura pode não ser
exclusiva de uma determinada classe. Assim, poderemos dividir as guras de estilo nos
seguintes tipos, de acordo com os seus campo de incidência e com a forma como o leitor/
ouvinte as percepciona :
 
– Figuras de dicção: dizem respeito à forma como as palavras são pronunciadas e
ocorrem no nível fónico da língua (aliteração, repetição, aférese, síncope, apócope, prótese,
epêntese, paragoge, onomatopeia, etc.).
– Figuras de construção ou de sintaxe: afectam a construção frásica e situam-se no
nível sintáctico da língua. Podem remeter para a omissão de palavras (elipse, zeugma,
assíndeto, etc.), para a adição e repetição (anáfora, polissíndeto, enumeração, epístrofe,
epanadiplose, paralelismo, etc.) ou para a alteração da ordem sintáctica (hipérbato, anástrofe,
etc.).
– Figuras de pensamento: podemos encontrá-las no nível semântico da língua,
remetendo para formas de conceber e expressar ideias ou conceitos. Subdividem-se em duas
classes: guras de associação presente e guras de associação ausente ou tropos. As primeiras
revelam-se, como o próprio nome indica, pela presença, no discurso, do signi cado adicional ou
da ideia acessória em simultâneo com o sentido literal. Esta coexistência pode ser explícita
(como no caso da comparação), identi cada a partir do signi cado de elementos próximos
(personi cação, antítese, paradoxo, pleonasmo, etc.), ou reconhecida através da própria
enunciação discursiva (eufemismo, invocação, apóstrofe, etc.). A relação entre a forma
expressa e o novo signi cado adquirido torna-se mais evidente, possibilitando uma célere
identi cação. A segunda subclasse de guras de pensamento- guras de associação ausente ou
tropos- não pressupõe a existência dos diferentes signi cados no discurso. O novo sentido
ocupa o lugar do primeiro e, devido à substituição efectuada, a relação entre ambos tem de ser
feita na “ausência”, pelo ouvinte ou leitor, através de uma contiguidade possível. Pela
di culdade não só de elaboração como de identi cação, são as guras de estilo mais
consideradas e mais ambíguas (as relações de contiguidade podem ser várias e depender da
perspectiva do sujeito que estabelece a associação no seu pensamento). Entre estas guras
contam-se a metáfora, a metonímia, a sinédoque, a ironia, etc.. A fronteira entre esta
subdivisão é muito ténue e algumas guras, como é o caso da ironia, podem surgir em qualquer
um dos grupos, dependendo da forma como são formuladas e expressas.
 
2. Na linguagem teatral e no cinema, uma gura designa o aspecto global de uma
personagem, caracterizada pelos seus traços gerais e pela sua posição estrutural. Para a
construção de uma gura não são indispensáveis os pormenores, porquanto se trata de uma
silhueta imprecisa cujos únicos contornos necessários são em muito semelhantes aos da
personagem tipo. Importa a interacção com as outras personagens para uma classi cação
imediata como “a gura do herói”, “a gura do vilão”, que não abrange a natureza interna e,
eventualmente, mais complexa da personagem representada.
{bibliogra a}
Aristóteles, Poética, Lisboa, 1992; Id. Retórica, Lisboa, 1998; Kenneth Burke, A
Grammar of Motives, s.d.; Theresa Enas (ed.), Encyclopedia of Rethoric and Composition, 1996;
Heinrich Lausberg, Elementos de Retórica Literária, 1993; Michel Meyer (ed.), Figures et con its
rhetoriques, 1990; Patrice Pavis, Diccionario del teatro- -dramaturgia, estética, semiologia, 1998;
Quintiliano, Institutio oratoria, 1921; Tzevtan Todorov, Literatura e Signi cação, 1967.
http://www.nipissingu.ca/faculty/williams/ gofspe.htm
http://humanities.byu.edu/rhetoric/silva.htm
http://www.public.iastate.edu/~honeyl/rhetoric/index.html
http://www.lcc.gatech.edu/gallery/rhetoric/terms/style.html

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