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Quero tratar neste texto da tarefa de relativizar as provas aristotélicas da teoria da Eternidade do
Universo para apologia da O
. Apresentar essa tarefa de Maimônides segundo o
percurso do texto do Guia dos Perplexos, fazer breves comentários e apontar alguns de seus
críticos.
Deus por um infinito antes da Criação, pois, como Maimônides
argumenta no decorrer do texto, as evidências em favor de o Universo ser resultado de
um projeto demandam que este tenha sido colocado em prática em certo da
eternidade. Mas nesse caso, a palavra é usada por homonímia, em uma analogia
ao tempo como o conhecemos pela percepção através do movimento das coisas
materiais (assim como a palavra que remete à ideia de tempo) e o verbo que se
refere à existência de Deus não pode ser entendido no mesmo sentido em que o
entendemos em relação às coisas materiais.
Essa consideração tem uma função chave no fio argumentativo do texto
, pois, segundo Maimônides, se admitimos que o tempo
existeantes da criação do Universo, somos forçados a admitir a Eternidade do
Universo.Se Deus é absolutamente imaterial, para que o tempo tenha existido antes da
criação do Universo, é necessário que algo tenha coexistido com Deus pela eternidade
para ter servido de substância ao movimento do qual o tempo seria um acidente.
O Universo não é resultado necessário da existência de Deus. Antes que Deus o criasse,
o Universo era apenas possível. Dessa forma, a O
assim formulada por
Maimônides significa, por um lado, a criação de todo o Universo tão somente pelo
poder de Deus sem que este tenha necessitado de qualquer substrato material e, por
outro, significa que a Criação foi resultado de um projeto concebido por Deus e
executado por ele num determinado .
De acordo com Maimônides, dentre as teorias que postulam Deus como causa primeira
do Universo, a melhor é a de Aristóteles, que agiu tão bem quanto é possível na tarefa
de inferir a origem do Universo a partir da consideração das leis que regem o mundo
material em seu atual estado. E, portanto, é frente à filosofia aristotélica e as ideias de
seus seguidores que o debate se desdobra. O aristotelismo é a única filosofia digna de
consideração e as objeções levantadas por um e outro lado, de certa forma, abarcam
toda a correção que possa haver em outras teorias filosóficas.
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!´ (MAIMÔNIDES, 2003, págs. 108-109).
Seguiremos, agora, o percurso do texto até o capítulo 18, ³,
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O´, após o que encerrarei com algumas breves considerações
seguidas do apontamento de alguns críticos de seu projeto. Maimônides resume de
forma extremamente sucinta as opiniões dos filósofos e os métodos por meio dos quais
eles pretenderam provar a Eternidade do Universo. Por conta disso, em alguns casos
precisarei recorrer puramente à transcrição do texto do Guia.
E ainda: ³ !!!"
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Maimônides assumiu que caso tivesse, a Eternidade do Universo, sido provada por meio
de demonstração, não negaria sua correção e afirmou que a própria revelação não é
necessariamente excludente da possibilidade desta teoria (bem como não é em relação à
segunda teoria). Em resumo, aquilo que a escritura contém de passível de refutação por
meio de demonstração deve ser revisto e reinterpretado de forma não literal. É possível
questionar até que ponto faz sentido que algumas passagens percam seu sentido literal
por consequência da Filosofia enquanto outras não. E é essa uma das objeções
levantadas contra seu projeto, como mostrarei em breve. Mas por outro lado,para ele, o
absoluto conhecimento metafísico certo é impossível. Assim como os profetas se
apropriaram das verdades religiosas que a eles foram reveladas, nos apropriamos das
verdades metafísicas por meio de lampejos de iluminação do intelecto que nos permitem
inferir, a partir do mundo sensível, asserções de carácter negativo a respeito do mundo
suprassensível.
Embora, segundo ele, a existência de Deus tenha sido provada, sua postura se assemelha
a certo agnosticismo fideísta. Apoiado na autoridade da Escritura, Maimônides defende
a maior plausibilidade daO
em detrimento da Eternidade do Universo e
embora modesto, busca denunciar a presunção dos que pretenderam ter provado a
impossibilidade das verdades religiosas que ele considera fundamentais.
Maimônides desperta não poucos seguidores e atenção nos círculos judaicos, mas os
maimonistas mais próximos, em geral, pouco acrescentaram de original às ideias de seu
mestre. Por outro lado, Maimônides suscita ferrenha oposição, despertava-se um receio
generalizado em relação à invasão da religião judaica pela Filosofia.
É cabível perguntar-nos até que ponto essa é uma postura lúcida ao considerarmos o
ponto de vista religioso. Pois, do alto de um enorme amontoado de produção filosófica
resultado de mais de dois milênios de especulação, vemos que vários argumentos
apresentados como provas de certas verdades metafísicas (em especial, da existência ou
não de Deus) com muita pretensão e aceitabilidade, mais tarde, foram refutados ou
menosprezados e retornaram a seu status de tão somente argumentos
consideráveis.1Cabe-nos investigar, com mais desconfiança, a natureza daquilo que
pode ser tomado como prova.
Não se pode negar a Maimônides, entretanto, certa lucidez tida pela maioria dos
filósofos de sua época como necessária a todo aquele que se embrenha no trabalho
filosófico, a crença na impossibilidade de negar certas verdades que se nos impõem.
Maimônides firma seu compromisso com a racionalidade e, em posse dele, parte na
tentativa de estabelecer verdades teóricas em concordância com a Revelação e se
mantém fiel até onde lhe é possível. Restringe o escopo da Filosofia em seu exercício de
ditadora de verdades, mas se mantém firme em seu projeto.i
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Provas da Inexistência de Deusm