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VERA LÚCIA SAMPAIO MORAES

Sobrepeso, obesidade e compulsão bucal entre mulheres


de baixa renda na cidade de Carapicuíba-SP

Dissertação apresentada ao
Programa de Pós–Graduação em
Ciências da Coordenadoria de
Controle de Doenças da Secretaria
de Estado da Saúde de São Paulo,
para obtenção do título de Mestre
em Ciências
Área de concentração:
Infectologia em Saúde Pública
Orientador: Prof. Dr. Carlos Botazzo

São Paulo
2009
Dedicatória

Aos meus pais por terem me ensinado a importância do estudo, aos meus
irmãos que me fizeram acreditar na minha capacidade. Aos meus sobrinhos
que sempre me proporcionaram momentos de alegria.

Ao meu amado Mestre Carlos Botazzo, admirado pelo seu conhecimento,


humor, paciência, dedicação. Por ter despertado em mim a perseverança e o
desejo de saber mais.
Agradecimento

Agradeço especialmente aos meus amigos João Guilherme e Paulo Góes pela
paciência e o entusiasmo que me passaram durante o período da Pós.

Agradeço a Sandra Maia pela amizade e pela parceria para finalizar a pós.

Agradeço a banca do exame de qualificação: Profa. Dra. Elaine Gomes dos


Reis Alves, Profa. Dra. Sandra Maria Greger Tavares e Profa. Dra. Ana Lúcia
da Silva pela colaboração que me deram para engrandecer o meu trabalho.

Agradeço as secretárias Mônica e Margareth pelo cuidado e orientação nos


créditos e nas matrículas.

Agradeço ao prof. Dr. Nilton Cavalcante, coordenador da comissão da pós-


graduação da área de Infectologia em Saúde Pública, pela paciência com que
conduziu o meu processo no mestrado.

Agradeço a Cida Melo, antes secretária do Instituto de Saúde, sempre


atenciosa e preocupada em atender e orientar as questões no inicio da Pós.

Agradeço a coordenação do Posto de Saúde de Carapicuíba, que gentilmente


me cedeu o espaço e pacientes para que esta pesquisa fosse realizada.
“Ao longo da vida fabricamos por assim dizer a máscara que
nos serve, nos protege, nos apresenta. Inclusive os
adolescentes, que eram de rosto puro à medida que iam
vivendo fabricavam a própria máscara. E com muita dor.
Mas, esta máscara de vez desfeita, causa em nós
imensuráveis dor. E que depois de anos de relativo sucesso
com a máscara, de repente, a máscara de guerra da vida
crestava-se toda como lama seca, e os pedaços irregulares
caiam no chão com um ruído oco. E eis rosto agora nu,
sensível quando não era mais para ser. E o rosto da
máscara crestada chorava em silêncio para não morrer”.
Clarice Lispector (1998)
Índice

1. Introdução.....................................................................................................14

2. Caracterização do problema
2.1 Representação social da obesidade......................................................15
2.2 Implicações para os serviços de saúde ................................................19
2.3 Epidemiologia países desenvolvidos/países em desenvolvimento........20
2.4 Obesidade e a relação com as condições sociais.................................24
2.5 A imagem do Corpo...............................................................................25

3. Construção do problema.............................................................................26

4. Referencial teórico.......................................................................................32

5. Objetivos
5.1 Objetivo geral.........................................................................................39
5.2 Objetivos específicos.............................................................................39

6. Método
6.1 Escolha do método.................................................................................40
6.2 Efetivação do campo na cidade de Carapicuíba....................................43
6.3 Plano de Recrutamento e Seleção.........................................................45
6.4 Critérios de exclusão..............................................................................46
6.5 Desenvolvimento do trabalho.................................................................47

7. Sumário dos Resultados e Discussão


7.1 Marco da obesidade...............................................................................50
7.2 Consciência do corpo obeso..................................................................56
7.3 A alimentação.........................................................................................59
7.3 Lazer.......................................................................................................63
7.5 Frustração..............................................................................................65
7.6 Sentimento de exclusão.........................................................................66
7.7 História de privação................................................................................67
7.8 Vaidade..................................................................................................69
7.9 Vidas sofridas, vidas de dor, vidas marcadas........................................72
7.10 Vida Sexual, erotismo e boca................................................................78
7.11 Retorno..................................................................................................83

8. Considerações finais...................................................................................89

9. Referências bibliográficas .........................................................................92

10. Anexos.......................................................................................................101
Resumo

O crescente aumento de incidência da obesidade nas últimas décadas, tanto


nos países desenvolvidos como nos em desenvolvimento, tornou esse desvio
nutricional como o principal problema de saúde pública para o século XXI. O
aumento de prevalência da obesidade no Brasil tem sido relevante e mais
observado em famílias de baixo poder aquisitivo, especialmente entre as
mulheres. O Brasil, país que ainda apresenta grupos populacionais que vivem
em risco de carência nutricional, enfrenta um momento epidemiológico de
transição nutricional com um maior crescimento dos desvios nutricionais que
acarretam excesso de peso. Dessa forma, o Brasil vive atualmente uma
situação nutricional paradoxal e as razões desse fenômeno precisam ser
melhores explicadas, especialmente o maior crescimento da obesidade em
mulheres de baixa renda. Portanto, o Intuito deste estudo foi pesquisar as
causas que contribuem para obesidade. Como principais causas, observamos
queixas de ansiedade, “nervosismo”, frustrações e depressão. Foi observado no
grupo de mulheres de baixa renda da cidade de Carapicuíba SP que, a
conscientização do corpo obeso foi adquirida através do profissional de saúde.
Evidenciou-se uma complexidade na história de vida destas mulheres
perseguidas pela dor, doenças, privações financeiras, abusos sexuais, fome,
miséria, falta de informações e sobrecarga de trabalho. Diante dessa realidade,
a obesidade tornou-se secundária, advindo como forma de alívio através da
alimentação. Concluímos que o trabalho de conscientização psicoterápico no
tratamento da obesidade, possibilitando a interação das pessoas com seu
próprio corpo, a família e sua vida afetiva e sexual possa levar a compreensão
do problema da obesidade como um sintoma e assim contribuir para uma maior
eficácia do tratamento higiênico-dietético da obesidade. É importante que
tratamentos específicos voltados para o problema da obesidade integrem-se à
rede de saúde pública no Brasil, ressaltando-se a importância de adotar
estratégias para que isso ocorra de uma forma multidisciplinar.

Descritores:

Obesidade; sobrepeso; comportamento compulsivo; fase oral; qualidade de


vida; saúde mental.
Abstract

The great increase of obesity cases in the last decades, in developed countries
as well as in developing countries, has turned this nutritional deviation as the
main public health problem in the XXI century. The increase of the prevalence of
obesity in Brazil has been relevant and more observed in low income families,
especially among women. Brazil, a country that still presents population groups
that live in risk of nutrition deficiency, faces an epidemiological moment of
nutritional transition with a greater increase of the nutrition deviations that
causes weight excess. This way, Brazil lives at this moment a paradoxal
nutrition situation and the reasons of this phenomenon needs to be better
explained, especially the greater increase of obesity among low income women.
So, the aim of this study was to research the causes that contribute to the
obesity. As main causes, we observe complaints of anxiety, nervousism,
frustrations and depression. It was observed that in this group needy female
group from Carapicuiba, the knowledge of the obesity of the body was achieved
by the health professional. Evidences shown a complexity in the history of these
women chased by pain, diseases, financial privations, sexual abuse, hunger,
misery, lack of information and overloaded with work. In face of this reality,
obesity became secondary, becoming a form of relief by alimentation. We
concluded that the work of psychotherapy concientization in the treatment of
obesity, making possible the interaction of these people with their own body, the
family and their affective and sexual life, can take to the comprehension of the
obesity problem as a symptom and this way contribute to a greater efficiency of
the hygienic and dietary treatment of obesity. It’s important that the specific
treatment for the obesity problem integrate the public health in Brazil,
emphasizing the importance of adopting strategies for that to happen in a
multidisciplinary way.
Key Words:

Obesity, Overweight, Compulsive Comportment, Oral Phase, Quality of Life,


Mental Health.
Lista de Abreviaturas e Siglas

DCNT - Doenças Crônicas não Transmissíveis

HIV - Vírus da Imunodeficiência Humana

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

OMS - Organização Mundial de Saúde

OPAS - Organização Pan-Americana de Saúde

PNSN - Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição

PPV - Pesquisa de Padrão de Vida

SUS - Sistema Único de Saúde

TCLE - Termo de Consentimento Livre Esclarecido

UBS - Unidade Básica de Saúde


Lista de Quadros

Quadro 1:Classificação de sobrepeso e obesidade baseada no índice


de massa corporal (IMC), para indivíduos adultos de ambos os
sexos.................................................................................................47

Quadro 2: Peso inicial........................................................................................52


Lista de Figuras

Figura 1: Vênus de Wilendorf .......................................................................... 17

Figura 2: A Queda da Graça , 1508-1512 Michelangelo ................................ 17

Figura 3: Roman Charity – 1612 Peter Paul Rubens ……………………….… 17

Figura 4: Tipos de obesidade Andróide e Ginecóide .................................... 27

Figura 5: Municípios Avaliados x Acesso ao Município de São Paulo ............ 44


1. Introdução

“O indivíduo faz do corpo o palco para expressão de sua angústia”


Dias da Silva M A (1994)

A obesidade é um dos principais problemas de saúde pública do


mundo, atingindo tanto os países desenvolvidos como aqueles em
desenvolvimento (Naves et. al,. 2004). É caracterizada pelo excesso de gordura
corpórea e está associada com o aumento do risco de várias doenças
crônicas não transmissíveis, principais causas de morbimortalidade em todo o
mundo. (Bradley DW., 2006). A população de obesos vem apresentando
importante aumento de incidência nos últimos anos, especialmente entre as
populações mais carentes (Nugent, 2008).
Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade representa
hoje o principal problema de saúde pública a ser enfrentado no século XXI.
Dentre os principais fatores que justificam o aumento da incidência da
obesidade, a inatividade física e a mudança dos padrões alimentares são
atualmente os maiores responsáveis (Batista Filho e Rissin, 2003). Dados do
Ministério da Saúde indicam que o Brasil tem atualmente cerca de 38,6 milhões
de pessoas com peso acima do recomendado, o equivalente a 40,6% de sua
população adulta; deste total, 10,5 milhões são obesos (IBGE, 2002-2003).
A obesidade é um fator de risco importante para as doenças
cardiovasculares, diabetes tipo 2, alguns tipos de câncer, afecções
osteoarticulares, além de vários distúrbios psicossociais (Bray, 2003). A
obesidade representa ainda um forte impacto nos custos do setor saúde
(Trogdon et. al., 2008).
Os agravos à saúde e a epidemiologia da obesidade ilustram a
importância e o impacto da doença, no âmbito individual e coletivo, dentre os
quais, os custos alarmantes de cerca de 1,5 bilhões de reais por ano com

14
internações hospitalares, consultas médicas e medicamentos. Deste valor, 600
milhões são provenientes do governo via Sistema Único de Saúde, e
representam 12% do orçamento gasto com todas as outras doenças. (Anjos,
2006).
Para Monteiro (1995), a obesidade está distribuída em todos os estratos
socioeconômicos da nossa população, tendendo a ser mais prevalente entre a
população adulta com menor poder aquisitivo dos grandes centros urbanos.
Considerando esta conjuntura, o presente estudo tem por finalidade avaliar
algumas situações que podem estar contribuindo para esses elevados índices
de obesidade, em especial nas mulheres pertencentes aos grupos
populacionais desfavorecidos do ponto de vista socioeconômico, assim como
demonstrar que as ações de psicoterapias auxiliares podem ajudar no controle
de peso e da obesidade.

2. Caracterização do Problema

2.1. Representação social da obesidade

Na época atual o corpo magro, esbelto, encontra-se em evidência.


Vivemos um tempo em que a figura do “ser gordo” é rejeitada e até
estigmatizada. O "ser gordo" significa um padrão afastado da beleza.
Representa também uma série de dificuldades no cotidiano das pessoas, desde
uma simples passagem na catraca de um ônibus ou a senta-se em uma
cadeira, até a compra de vestimentas. Isso tudo representa um grande
desconforto às pessoas obesas, além dos apelidos vulgares que recebem:
“baleia, glutão, guloso, porco, fofura, rolha de poço” e muitos outros.

15
Além da função nutritiva, essencial à vida, o ato da alimentação pode
assumir ainda outros significados como o prazer, a diversão e a atividade
social. Isso é observado, inclusive, em algumas músicas populares, como:

"Será que a cabeça tem/o mesmo tempo que a


mão? o tempo do pensamento/o tempo da ação."

"Você tem fome de que?/A gente não quer só


comer/A gente quer comer e quer fazer amor/A
gente não quer só comer/A gente quer prazer pra
aliviar a dor."(Antunes A, Fromer M, Britto S.
Comida. 1987, Jesus não tem dente no país dos
banguelas - Titãs faixa 2)

Na primeira estrofe é sugerido que o alimento é levado à boca e


ingerido num tempo inferior ao que a mente reflete a respeito da fome. Dessa
forma, a sensação de fome, proveniente da mente, perdura mais que a
saciedade obtida com a ingestão dos alimentos, acarretando uma alimentação
acima das necessidades do indivíduo. Na segunda estrofe, a letra da música se
refere à busca pela comida na tentativa de amenizar ou preencher outras
necessidades, como o prazer sexual e o alívio de outros sofrimentos.
Para Freud, (1905/1997) a fase oral do desenvolvimento infantil é a
primeira da evolução libidinal, caracterizada pela junção do prazer sexual com a
ingestão de alimentos. Por essa teoria, o objeto da nutrição é o mesmo da
sexualidade, ou seja, a incorporação, pela qual o indivíduo "faz penetrar e
conserva um objeto no interior do seu corpo". Amar e comer tornam-se
permutáveis. Dessa forma, as atividades sexual e alimentar estão intimamente
misturadas.
Apenas recentemente, no século XX, a obesidade foi identificada como
um problema de saúde. Antes disto, o estereótipo representado pelo excesso
de peso podia ser sinal de beleza, saúde e prestígio. Isto pode ser constatado

16
nas representações artísticas como em quadros, gravuras e fotos, com figuras
de mulheres obesas. Uma das mais antigas representações da forma humana
com o nome de Vênus de Wilendorf é datada do período Paleolítico, cerca de
dois milhões de anos atrás, uma estátua de uma mulher obesa.
A interpretação da obesidade varia de época para época, refletindo os
seus valores culturais e científicos. Objetos datados da idade da pedra indicam,
provavelmente, a presença da obesidade em seres humanos. Algumas
estatuetas desta época apresentam mulheres com formas arredondadas,
grandes mamas e tecido adiposo abdominal avantajado. Também, mulheres
com formas arredondadas foram modelos de beleza na Renascença entre os
séculos XIV e XV (Bray GA., 1990).Demonstrado nos quadros do Michelangelo
e outros, a representação das mulheres mais arredondadas
Em contrapartida, a doença, sofrimentos, fome eram representados por
pessoas magras, como podemos observar nos quadros de Peter Paul Rubens.

Figura 1:Vênus de Wilendorf Figura 2: A Queda da Graça , 1508-1512 Figura 3: Roman Charity - 1612
Michelangelo Peter Paul Rubens

:
Fonte: Google Imagens Fonte: Google Imagens Fonte: Google Imagens

É evidente que as diferenças geográficas expressam diferenciações


sociais na distribuição da obesidade. Em princípio, existiria maior prevalência
de sobrepeso/obesidade nas regiões mais ricas, sendo essa condição o fator
discriminante dos cenários epidemiológicos entre o Nordeste e o Sudeste do
Brasil. Entretanto, já se desenha outra tendência com o aumento da ocorrência
da obesidade nos estratos sociais de renda mais baixa, no período de 1989 a

17
1996, (Monteiro e Mondini 1997). Para os mesmos autores, a obesidade está
relacionada ao fato dos indivíduos morarem em áreas urbanas, e ao poder
aquisitivo familiar. Apesar de, tradicionalmente, se esperar que quanto maior a
renda, maior a prevalência de obesidade, a tendência atual revela que a
prevalência de obesidade é cada vez mais alta em mulheres de baixa renda,
apresentando uma tendência a se estabilizar ou até mesmo diminuir nas
classes de renda mais elevadas. Já a presença do excesso de peso na
população mais pobre pode ser explicada pela falta de orientação alimentar
adequada, atividade física regular reduzida e pelo consumo de alimentos
calóricos, como cereais, óleo e açúcar. Alimentos feitos com estes
componentes, sobretudo os dois últimos, são mais baratos e fazem parte de
hábitos alimentares tradicionalmente incorporados. O problema da obesidade
cresce menos entre a população mais privilegiada porque ela teria maior
acesso a informações sobre os prejuízos que a doença acarreta, ao valor
nutritivo dos alimentos e aos benefícios da prática de atividade física regular
(Batista Filho e Rissin, 2003). Além disto, dispõem de meios materiais para
sustentar os custos de novos “hábitos” ou novos “consumos”, preocupação
estética.
No Brasil, o estudo de Zaluar (1985) revelou que para as mulheres de
baixa renda, a obesidade chegava a ser valorizada como elemento de força.
Silva (1997) verificou em estudo, também com mulheres obesas pobres, que a
obesidade era um atributo sexual importante no grupo. O corpo erótico e
sensual era representado pelas formas arredondadas. Para Muraro (1983), as
mulheres pobres “não se vêem com seus próprios olhos: elas se vêem com os
olhos do homem [...]”.
Segundo Fellipe (2003), a análise do contexto sócio-histórico remete-
nos também à compreensão do cotidiano gerador de ansiedades, estresses e
doenças sociais; também é avaliado o papel da mídia e da indústria de
alimentos no consumo. Indústria e mídia que se confundem ao oferecerem

18
tanto produtos que engordam como produtos e serviços que levam à perda de
peso, ditando um padrão de beleza a ser seguido.

2.2. Implicações para os serviços de saúde

Até pouco tempo a obesidade era amplamente ignorada nas ações


nacionais e internacionais de saúde, especialmente nos países em
desenvolvimento, mesmo porque não era reconhecida como uma doença. Em
1998, reuniu-se pela primeira vez, em Genebra, sob os auspícios da
Organização Mundial da Saúde (OMS), um comitê de especialistas em
obesidade "Expert Committee on Obesity" para discutir as dimensões do
problema e propor estratégias de ação (WHO,1998). A obesidade foi
reconhecida como uma doença e seu crescimento tanto em países
desenvolvidos quanto em desenvolvimento foi considerado alarmante.
O relatório final aponta a obesidade hoje como sendo um dos
problemas contemporâneos de saúde mais negligenciados em todo o mundo.
As projeções para uma epidemia global de obesidade na próxima década são
tão graves, segundo o comitê, que seria preciso adotar, com urgência,
estratégias nacionais e internacionais de saúde pública para combatê-la. Tais
ações deveriam ser dirigidas à sociedade como um todo e não apenas aos
segmentos da população que apresentam sobrepeso. Foi destacado também o
rápido crescimento da obesidade em crianças e adolescentes, em todo o
mundo, o que significa que as verdadeiras consequências do problema, bem
como a sobrecarga que eles devem provocar nos sistemas de saúde, ainda não
apareceram por completo (WHO, 1998).
Na ocorrência de obesidade são fundamentais prevenção e controle,
que implicam economia de elevados recursos financeiros destinados ao
tratamento da própria doença, como também doenças associadas ou
decorrentes (Anjos, 2006).

19
No Brasil, a obesidade como problema de Saúde Pública é recente. A
prevalência de obesidade nunca se apresentou em grau epidêmico como na
atualidade (WHO, 1998).
Enquanto agravo nutricional, a desnutrição era assumida como um
problema relevante para os países em desenvolvimento, e a obesidade seria
para países desenvolvidos. Atualmente, tanto os países desenvolvidos como os
países em desenvolvimento não se apresentam como unidades homogêneas,
quer para a prevalência da desnutrição, quer para a da obesidade (Mondini e
Monteiro, 1998; Francischi et.al., 2000).
É urgente que se concretizem os investimentos para educação em
saúde, visando propiciar a descoberta de novos prazeres através de um estilo
de vida mais saudável. A obesidade é uma doença crônica e, como a maioria
das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), de difícil tratamento; além
disso, a utilização de medicamentos cotidianos pode reverberar e auxiliar para
que o obeso não assuma responsabilidade compartilhada, entre os profissionais
de saúde e o Estado, de monitorar suas práticas de saúde e hábitos
alimentares (Pinheiros, Freitas e Corso, 2004).

2.3. Epidemiologia da obesidade em países desenvolvidos e países em


desenvolvimento

As mudanças no perfil epidemiológico, com o aumento da prevalência


de doenças crônicas e degenerativas, impuseram uma reorientação analítica no
campo da saúde, ressurgindo as correlações causais entre condições de
trabalho, condições de moradia, alimentação, atividade física e outros aspectos
ligados à vida urbana/rural e ao perfil de saúde e doença de grupos
populacionais (Chor, 1999; Garcia, 1997; Mondini e Monteiro,1998; Mendonça,
2004).
As doenças e agravos não transmissíveis vêm aumentando e, no Brasil,
são a principal causa de óbitos em adultos, sendo a obesidade um dos fatores

20
de maior risco para o adoecimento neste grupo. A prevenção e o diagnóstico
precoce da obesidade são importantes aspectos para a promoção da saúde e
redução de morbimortalidade, não só por ser um fator de risco importante para
outras doenças, mas também por interferir na duração e qualidade de vida, e
ainda ter implicações diretas na aceitação social dos indivíduos quando
excluídos da estética difundida pela sociedade contemporânea (Brasil, 2006).
O número de crianças e adultos obesos é cada vez maior, tanto nos
países pobres como nos ricos, e até mesmo em países que se caracterizam por
uma população magra, como é o caso do Japão. A obesidade é um problema
de saúde pública em todas as regiões do Brasil, mas a situação é ainda mais
crítica no Sul. De acordo com dados da Pesquisa Nacional sobre Saúde e
Nutrição (PNSN), de 1989, a prevalência de obesidade em brasileiros com mais
de 18 anos de idade é de 28% entre os homens e 38% nas mulheres (Batista
Filho e Rissin, 2003). Nos Estados Unidos, a prevalência é de 34% nos homens
e 55% nas mulheres com idade entre 20 e 64 anos. Apesar das diferenças
econômicas, os países desenvolvidos, ou não, vivem o mesmo problema da
alta e crescente prevalência de excesso de peso.
Conforme Coutinho (1999), estimativas baseadas em levantamentos do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 35% da população adulta
brasileira tem peso acima do desejável; 13% das mulheres, 7% dos homens e
15% das crianças. Esses índices encontram-se em ascendência contínua.
Comparando dados dos estudos do IBGE de 1974 com os do Programa
Nacional de Saúde e Nutrição (PNSN) de 1989, verifica-se expressivo aumento
da obesidade em adultos entre 25 e 64 anos de idade (Mokdad et.al., 1999).
Segundo a primeira Pesquisa de Padrão de Vida (PPV) do IBGE (1997),
existem 8,7% de nordestinos obesos e, na Região Sudeste, o índice é de
10,5%. No total das duas regiões, os obesos somam 9,8%, um crescimento
expressivo em relação à Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (PNSN) de
1989, quando o índice encontrado foi de 8,2%.

21
O aumento da prevalência da obesidade no Brasil torna-se ainda mais
relevante, ao verificar-se que este aumento, apesar de estar distribuído em
todas as regiões do país e nos diferentes estratos socioeconômicos da
população, é proporcionalmente mais elevado entre as famílias de baixa renda
(Monteiro et. al., 1995 ).
No Brasil, a concentração de pobres nas áreas metropolitanas,
observada pelo fenômeno de metropolização da pobreza, tem imposto desafios
importantes para o setor público. Neste cenário, o fenômeno da obesidade
parece configurar-se como um desses desafios, à medida que se observa o
crescimento da obesidade no contexto da pobreza (Ferreira, 2003).
Nos Estados Unidos, a prevalência da obesidade aumentou de 12% em
1991 para 17,9% em 1998, em todo o país. O aumento de peso foi observado
em ambos os sexos, em todas as faixas etárias, raças e níveis educacionais
(Mokdad, 1999). Em 2001, a prevalência de obesidade atingiu 20,9% quando
eram registrados 19,8% no ano de 2000 (Mokdad, 2003).
Com relação à associação entre obesidade e pobreza, (Sawaya,1997)
discute algumas hipóteses. A primeira seria de que as populações em situações
de carência teriam uma propensão genética para o desenvolvimento da
obesidade, como fator protetor em escassez de alimentos. Desta forma, quando
em situações de abundância alimentar, tais "genes ligados à obesidade"
poderiam se tornar deletérios ou não protetores, levando ao ganho ponderal
excessivo. Uma segunda hipótese seria de que uma desnutrição energético-
protéica precoce poderia promover a obesidade no futuro. A terceira hipótese
levantada discute a possibilidade de que, independentemente de fatores
genéticos, a melhoria das condições de vida seria o fator preponderante para o
excesso de peso na população. Esta melhoria estaria associada a fatores como
alta ingestão calórica com redução do consumo de fibras, aumento do consumo
de gorduras e açúcares, além da redução da atividade física.
Ainda segundo Peña e Bacallao (2000), alimentos como frutas e
vegetais frescos não seriam tão acessíveis à população de baixa renda, visto

22
que tais indivíduos dariam preferência a alimentos com alta densidade
energética, por serem estes mais baratos, mais saborosos e conferirem maior
saciedade.
Para Pinheiros, Freitas e Corso, (2004) a criação de protocolos e
condutas relacionadas à prevenção e controle da obesidade é um grande
desafio aos profissionais e serviços de saúde no Brasil. A ênfase em práticas
clínicas integradas ao processo de educação nutricional é prioritária para
concretizar não só o acesso mas, principalmente, a incorporação de hábitos
saudáveis de vida e alimentação. Uma abordagem psicológica, que avalie e
monitore o comportamento alimentar inserido no processo de perda-ganho de
peso e sua manutenção, deve também ser considerada e incluída no
tratamento da obesidade (Ades et.al., 2002).
Como se pode observar, a obesidade está relacionada às maneiras de
viver e às condições efetivas de vida e saúde de sociedades, classes, grupos e
indivíduos, que são construções históricas e sociais. Entretanto, historicamente,
as abordagens de prevenção e controle deste agravo têm se concentrado
basicamente em estratégias educacionais, comportamentais e farmacológicas.
Ainda que essas estratégias possam ser importantes no âmbito individual, não
seriam suficientemente efetivas para a prevenção e o controle da obesidade em
âmbito populacional, se não estiverem associadas a medidas que contemplem
as diversas dimensões do ambiente (física, econômica, política e sociocultural)
de forma a torná-lo menos obesogênico (Lessa, 1998). Obesogênico diz
respeito à influência que oportunidades e condições ambientais tem nas
escolhas, por parte dos indivíduos, de hábitos de vida que promovam o
desenvolvimento da obesidade (Swinburg et al., 1999).
Assim, o desafio seria a promoção de escolhas mais saudáveis por
meio de mudanças ambientais, já que essas medidas possuiriam efeitos mais
duradouros na transformação comportamental dos indivíduos, uma vez que
essas escolhas se incorporariam nas estruturas, nos sistemas, nas políticas e
em normas sócio-culturais (Swinburg et al., 1999).

23
2.4. Obesidade e relação com as condições sociais

Como o homem é um ser social e, desde sua origem, é marcado


profundamente pela inserção social, torna-se evidente que seu estilo de vida
recebe influência do contexto social, das normas de condutas e das posições
sócio-econômicas que lhe são impostas. Assim, o indivíduo, agente da ação
social em uma cultura que o precede, mantém uma relação de mútua
interferência, sendo a prática social em si um instrumento de integração do
indivíduo no contexto da sociedade em que vive, por meio de sua inserção em
redes de sociabilidade (Stigger, 2002).
Nos dias de hoje, as pessoas estão consumindo mais alimentos de
grande densidade energética, altos teores de açúcar e gordura saturada ou
excessivamente salgados.
Assim, as mudanças sociais e a transição nutricional mundial
impulsionam a epidemia da obesidade. Fatores contextuais também contribuem
para o aumento da epidemia, como crescimento econômico, modernização,
urbanização e globalização do mercado alimentar. Por sua vez, houve grandes
mudanças no mercado de trabalho no mundo inteiro e as atividades que exigem
menos esforços físicos predominam. Houve aumento da automação de veículos
de transporte, nas tecnologias “do lar” e novas formas de lazer mais passivas,
contribuindo para diminuição da atividade física.
Para Fischler (1995), alguns alimentos e hábitos de consumo remetem
a uma hierarquização, indicando o fenômeno de ascensão e de distinção
sociais. De acordo com o autor, os grupos em ascensão imitariam o consumo
das classes dominantes.
Assim, a mudança alimentar aliada ao sedentarismo crescente está
ocorrendo mais rapidamente nos países em desenvolvimento do que nos
países desenvolvidos. Conseqüentemente, as doenças crônicas têm se tornado
mais comuns nos países em desenvolvimento.

24
Entre os principais fatores de risco para as doenças crônicas não
transmissíveis responsáveis por mais da metade das mortes, como doenças
cárdio-vasculares, diabetes tipo 2, síndrome metabólica e obesidade, destaca-
se a inatividade física e maus hábitos alimentares. Na população mundial há
pelo menos 600 milhões de hipertensos. Calcula-se que a hipertensão cause a
morte de 7,1 milhões de pessoas, equivalente a 13% do total de óbitos. O alto
nível de colesterol no sangue causa 4,4 milhões de mortes ou 7,9% do total de
óbitos. O baixo consumo de frutas e verduras é responsável por 2,7 milhões de
óbitos (OPAS, 2008).
Parece existir evidência de que as alterações nos hábitos alimentares e
no ritmo de atividade física podem produzir mudanças nas doenças crônicas
não transmissíveis, no enfarto agudo do miocárdio e nas doenças vasculares
cerebrais, que são responsáveis por mais de um quarto das mortes ( Prentice
RL, Willett WC, Greenwald P, et al., 2004.)

2.5. A imagem do corpo

O corpo como primeira forma de visibilidade humana, pode ser um


objeto de estudos usado como possibilidade para se pensar a vida e as
relações humanas, já que pode determinar funcionamentos sociais. Não é por
acaso que desperta o interesse nas mais diversas áreas do conhecimento.
Fenômenos que o envolvem “[...] constituem metáforas privilegiadas para a
explicação da sociedade: engendram atitudes,comportamentos e revelam
concepção de mundo.” (Minayo, 2004, p.193). Pensar sobre o corpo é uma
maneira de pensar o mundo e os vínculos sociais.
Para Foucault (1987), em qualquer sociedade o corpo é um lócus de
poder, sujeito a coerções e domínios ou a experiências de confronto e
resistência.

25
“é dócil um corpo que pode ser submetido, que pode
ser utilizado, que pode ser transformado ou
aperfeiçoado” (Foucault, 1987, p.118).

Mauss (2003),define o corpo como um instrumento natural do homem e


sustenta que cada grupo social imprime uma expectativa em torno dele,
reafirmando “as maneiras pelas quais os homens de sociedade em sociedade,
de uma forma tradicional, sabem servir-se de seu corpo” (Mauss, 2003, p.401).
Para Boltanski (2004), a atenção dada ao corpo acontece com menos
frequência nas classes populares. Para estas, o uso do corpo pode ter uma
visão mais utilitária, em virtude da importância da força física nas ocupações
desempenhadas.
Dentro deste raciocínio, para muitas mulheres das classes populares o
corpo pode se apresentar como expressão do sofrimento psíquico e condição
para a produção do trabalho. Na luta pela sobrevivência diária com jornadas de
trabalho longas, os afazeres domésticos, os cuidados com os filhos, o corpo
tende a não ser percebido em toda sua plenitude (Boltanski, 2004).

3. Construção do Problema

Atualmente, a obesidade é assunto de interesse universal; considerada


uma doença crônica, multifatorial, caracterizada pelo acúmulo excessivo de
tecido adiposo no organismo. Representa fator de risco para graves doenças,
como diabetes, doenças cardiovasculares, hipertensão, distúrbios reprodutivos
em mulheres, alguns tipos de câncer e problemas respiratórios.
A obesidade pode ser causa de sofrimento, depressão e de
comportamentos de esquiva social e sexual, que prejudicam a qualidade de
vida.

26
Nos últimos anos, a população de obesos começou a crescer em ritmo
preocupante. Hoje a obesidade é apontada como epidemia mundial, tornando-
se atualmente um dos mais graves problemas de saúde pública do mundo. O
problema aflige países ricos e pobres. Mesmo nos países mais pobres, como os
da América Latina e África, e que ainda lutam contra a fome, o número de
obesos parece estar aumentando, inclusive nas comunidades de baixa renda
(Capelli, Koifman, 2001).
Existem dois tipos principais de obesidade, a ginecóide, onde o
acúmulo de gordura se concentra nas coxas e nádegas, também chamada de
piriforme, comuns entre as mulheres, e a do tipo andróide, cuja obesidade é
localizada predominantemente no abdome, comuns nos homens.

Figura 04: Tipos de obesidade Andróide e Ginecóide

Fonte: Google imagens obesidade

Trabalhos recentes tem demonstrado que as complicações


cardiovasculares são mais comuns dentre os obesos do tipo andróide, daí
essas complicações serem mais freqüentes entre os homens. Outro ponto
importante, é que se tem demonstrado que a obesidade abdominal, mesmo
com peso corporal normal, constitui forte fator de risco cardiovascular.
No Brasil, o problema da obesidade não se restringe às mulheres ou à
população adulta. Entre 20 a 30% das crianças e adolescentes apresentam
excesso de peso, e estão sob o risco de desenvolver DCNT. Nos Estados
Unidos, cerca de 40% das crianças apresentam sobrepeso ou são obesas
(WHO, 2008).

27
A obesidade pode ser identificada e classificada pelo Índice de Massa
Corporal (IMC), calculado pela divisão do peso pela estatura elevada ao
quadrado (Kg/m2). São considerados como obesos aqueles indivíduos com IMC
igual ou superior a 30, com forme mostrado no quadro 1 p. 46.
Hábitos sedentários e consumo alimentar com elevado teor calórico
também são fortes componentes para o sobrepeso (Halpern, 1994). Segundo o
mesmo autor, menos de 5% dos obesos têm causa glandular clássica, ou seja,
mau funcionamento da tireóide, das supra-renais, dos ovários, da hipófise ou do
pâncreas.
Com freqüência, a obesidade está relacionada à alimentação. Observa-
se nos supermercados o crescimento no número de ofertas de novos produtos
alimentícios não essenciais. Em 1990, no Brasil, com o incentivo às
importações, proliferaram as grandes marcas multinacionais, no campo
alimentício, colaborando para a transformação dos hábitos alimentares. As
facilidades da alimentação do tipo fast-food vêm agradando a população,
principalmente pelo fato da praticidade, cardápio variado e custo mais
accessível. Ao mesmo tempo, aumentou o consumo de massa na alimentação,
não contemplando as necessidades nutricionais de cada individuo, nem uma
alimentação equilibrada (Santos, 2003). Para o mesmo autor, o fator comida
está sempre presente na vida das pessoas; a relação com a alimentação vem
servindo como uma forma de prazer, frente a tantos 'desprazeres' do dia-a-dia.
Para Fischler (1995), a gordura tornou-se símbolo de descontrole e de
“preguiça”, além disso, os obesos eram percebidos como tendo baixa auto-
estima, limitações intelectuais, mau funcionamento mental tais como excesso
de ansiedade e “covardia” (por utilizarem a gordura para se esconder), e
“egoístas” por comerem mais do que os outros indivíduos, acrescenta Segal
(2006). Nos estudos o autor aponta os preconceitos associados à obesidade
comumente encontrado. Segal acredita que de todos os fatores envolvidos na
obesidade, os psicológicos e psiquiátricos possuem maior relevância, não tanto
pelo seu papel etiológico e de prognóstico, mas sim por seu papel histórico. Nas

28
primeiras seis décadas do século XX a obesidade era entendida como
resultante de déficits morais e/ou problemas psíquicos.
Além dos aspectos relacionados à saúde física como as DCNT
podemos elencar os distúrbios psicológicos e sociais como: depressão, baixa
auto estima e impactos dos preconceitos. Portanto o acompanhamento
psicológico do obeso é muito importante. Cada caso deve ser investigado
cuidadosamente, para obter uma evolução saudável no tratamento.
Acredita-se que as pessoas com sobrepeso submetem-se a sofrimentos
para emagrecer e na maioria das vezes o peso volta. Embora exista uma
grande quantidade de artigos em revistas, livros, programas de televisão,
receitas ou dietas novas que alertam sobre o problema da obesidade, cada ano
aumenta o número deles, e cada vez cresce a discriminação dos obesos
(Glenny-1997).
Devido à sua etiologia multifatorial é difícil mensurar a força de cada
uma das variáveis envolvidas no processo do ganho excessivo de peso. Entre
elas, destaca-se a influência dos fatores socioculturais que impõem um padrão
de beleza esbelto em que as mulheres, especialmente, vivem de acordo com a
tirania da moda, contrariando suas necessidades nutricionais. Controlar a
ingestão alimentar por meio de dietas restritivas e tornar crônico esse
comportamento devido à pressão sociocultural, que impõe padrões corporais
cada vez mais magros, são atitudes possivelmente desencadeadoras de
transtornos alimentares (Quandt, 1999). É interessante destacar que também
há o contraponto desse padrão de beleza em alguns países denominados pré-
industrializados, com pouca disponibilidade de alimentos, em que ser gordo é
um símbolo de status até hoje (Wang, 1999).
Há evidências de que grande parte dos indivíduos obesos come para
resolver ou compensar problemas dos quais, às vezes, não têm consciência.
Esses mesmos indivíduos podem apresentar dificuldades em obter prazer nas
relações sociais, por se sentirem rejeitados ou discriminados, o que os leva ao
isolamento. Por outro lado, esses sentimentos contribuem para que os obesos

29
enxerguem a comida como importante fonte de prazer, o que, devido ao
preconceito, conseqüentemente, restringe e empobrece ainda mais suas
relações afetivas e sociais. Esse processo alimenta o ciclo vicioso em que, de
um lado, há o ganho progressivo de peso e, do outro, uma solidão cada vez
maior (Campos, 1998).
A influência dos aspectos socioculturais é marcante. Considerando a
pressão social da busca pela magreza e todos os esforços envolvidos em
submeter-se a um tratamento, trava-se uma guerra entre corpo e mente.
Estudos mostram que estresse, restrição, rejeição e outros estados emocionais
negativos, levam à interrupção de autocontrole, conduzindo, assim, a escolhas
alimentares inapropriadas, as quais, de certa forma, aliviam as tensões vigentes
(Goodrick e Foreyt, 1991).
Paine (1998) alega que o obeso sofre mais preconceito social até
mesmo que os deficientes físicos, isto porque ele é considerado culpado pela
sua condição, ou seja, é visto como indisciplinado, irresponsável e preguiçoso.
Além do mal causado pelo preconceito social existe uma “perda” da
identidade, pois na maioria das vezes sua identidade passa a ser seu tamanho
e não o seu nome - "lá vem a gordinha". Este desconforto pode levar as
pessoas a passarem fome, sofrerem cirurgias, correrem risco de vida e
desenvolverem outros tipos de problemas.
Além disso, o estilo de vida atual favorece o aumento de peso, pois
existem amplas ofertas de alimentos calóricos, empregos tipicamente
sedentários e poucas oportunidades para a prática de exercício físico. Não
surpreende, portanto, o crescimento acentuado do problema nos últimos anos.
O aumento da prevalência da obesidade no Brasil torna-se ainda mais
relevante, ao se verificar que este aumento, apesar de estar distribuído em
todas as regiões do país e nos diferentes extratos socioeconômicos da
população, é proporcionalmente mais elevado entre as famílias de baixa renda
(Monteiro e Conde, 1999).

30
A urbanização induziu uma mudança nos padrões de vida e
comportamentos alimentares das populações. Em países em desenvolvimento,
o tipo de alimento consumido na zona rural apresenta-se diferente daqueles
consumidos na zona urbana, numa relação diretamente proporcional ao poder
aquisitivo ou ao nível socioeconômico. Estudos demonstram que a população
urbana de baixa renda apresenta uma ingestão calórica inferior, se comparada
à população rural, apesar de a primeira consumir proporcionalmente mais
proteína e gordura animal do que a segunda. A população urbana consome
maior quantidade de alimentos processados, em relação à população rural,
onde a ingestão de cereais, raízes e tubérculos é mais elevada (Pinheiro,
Freitas e Corso, 2004).
Para Mendonça (2005), vários são os fatores associados à dieta que
contribuem para o aumento de sobrepeso e obesidade dos brasileiros, por
acarretarem mudanças importantes nos padrões alimentares: 1) migração
interna; 2) alimentação fora de casa; 3) crescimento na oferta de refeições
rápidas; 4) ampliação do uso de alimentos industrializados e processados.
Estes aspectos vinculam-se diretamente à renda das famílias e às
possibilidades de gasto com alimentação, em particular, associado ao valor
sociocultural que os alimentos representam em cada grupo social. Agrava-se o
problema quando a mídia mostra que emagrecer é relativamente fácil. Existe
um bombardeio de fórmulas "milagrosas" e dietas instantâneas, o que faz os
obesos correrem freneticamente atrás deste resultado. O que se tem
comprovado é que lidar com a obesidade é mais difícil do que pode parecer.
Uma grande parte dos pacientes que se submete a um tratamento para perder
peso o recupera após o relaxamento do tratamento (Andrade et al., 2004).

31
4. Referencial Teórico

Nos anos 50, a obesidade era considerada reflexo de um distúrbio de


personalidade. Nos anos 60, especialmente devido aos estudos de Ferster,
Nuremberg, e Levitt (1962) e início do trabalho dos terapeutas
comportamentais, a obesidade passou a ser considerada como fruto de hábitos
alimentares desadaptativos.
Entretanto, estamos em ambiente que provoca cada vez mais a
obesidade, além de existirem aspectos psíquicos que interagem com este
ambiente, devendo ser evidentemente considerados.
Freud começou a fazer da compulsão à repetição um objeto autônomo
de sua reflexão em 1914, num artigo intitulado “Recordar, Repetir, Elaborar”. De
uma análise para outra, identificou a permanência dessa compulsão à
repetição: ela estaria ligada à transferência (Freud 1914/1996).
Compulsão foi usada por Freud numa carta a Wilhelm Fliess datada de
7 de fevereiro de 1894. Nesta, falou sobre sua dificuldade em ligar a neurose
obsessiva à sexualidade e evocou, para ilustrar sua colocação, um caso clínico
a propósito do qual falou em “micção compulsiva” (Roudinesco e Plon,1998).
Segundo Freud (1905/1997), o desenvolvimento da criança passa por
estágios e estes são importantes para a formação de sua personalidade.
A primeira etapa do desenvolvimento da sexualidade humana Freud
chama de fase oral. O objetivo da satisfação está relacionado a dois aspectos:
o prazer e a incorporação.
Isto é, ao mesmo tempo em que sente prazer de sugar o seio materno
para se alimentar ou levar a boca os objetos a seu alcance, o bebê tem a
fantasia de incorporar a si mesmo o objeto do seu desejo e necessidade e, ao
mesmo tempo, entrar em contato com a realidade.
Saindo desta fase de simbiose com a mãe é que o bebê começa a
conhecer um mundo diferente de si mesmo.

32
Freud (1905/1997) acreditava, ainda, que o bebê deveria finalizar cada
fase de maneira bem sucedida. Para ele, o desmame ou o tirar as fraldas
poderia deixar uma influência permanente no desenvolvimento da
personalidade.
Quando a criança é frustrada, ela fica com sentimentos de
necessidades não preenchidas, característica dessa fase. Se for mimada
demais poderá relutar em mudar para próxima fase. Em ambos os casos, o
resultado é a fixação em determinada fase. A pessoa continua a buscar prazer
por meio de comportamento semelhante àquele associado com determinada
fase psicossexual.
A sexualidade oral no adulto tem raízes na infância. As atividades de
sugar e chupar evidenciam a pulsão sexual que, de início, para se satisfazer, é
apoiada numa função vital, a alimentação. Depois, torna-se independente e se
satisfaz de forma auto-erótica.
Freud insistiu no fato de que o passado infantil do sujeito permanece
sempre vivo, dizendo: “As etapas primitivas sempre podem ser restabelecidas.
A mente primitiva é, no sentido, mais pleno desse tempo imperecível” (Freud,
1915/1974, p. 323). O ressurgimento do passado no presente é ainda marcado
pela noção de compulsão à repetição.
Nos três ensaios sobre a sexualidade, este autor ainda chamou de pré-
genitais as organizações da vida sexual em que as zonas genitais ainda não
assumiram seu papel predominante. A primeira delas, que já foi citada
anteriormente, é a oral ou organização pré-genital canibal. Ele ressalta:

“Aqui a atividade sexual ainda não se separou da


ingestão de alimentos, nem são correntes opostas
dentro da atividade diferenciada. O objeto de ambas
as atividades é o mesmo: o objeto sexual consiste na
incorporação do objeto e é o protótipo de um
processo que, sob a forma de identificação, deverá

33
desempenhar mais tarde um importante papel
psicológico” (Freud, 1905/1997, pág.204).

Freud (1905/1997), ainda refere-se à inibição como uma expressão de


restrição do ego. Algumas inibições representariam o abandono de uma função
porque sua prática produziria angústia. Muitos atos obsessivos vêm a ser
medida de precaução e de segurança. A compulsão para comer é atribuída ao
medo de morrer de fome. Cabe, por isso, perguntar a compulsão bucal não
seria um desejo deslocado? O desejo deslocado estabelece antologia constante
entre o objeto perdido e o objeto presente, construindo falsas certezas na base
de similaridade parciais.
Mais recentemente, Dolto (1992) se refere ao desmame que, se ocorre
de forma positiva, desperta a possibilidade e provoca o desejo de inserção da
palavra, portanto, da exploração de novos meios de comunicação. São
prazeres diferentes, com objetos que, apesar de não poderem ser mais
incorporados, serão suportes de transferência do seio para um prazer ainda
maior, partilhando com todos aqueles que compõem seu referencial simbólico.
Para Klein e Riviere (1975) o bebê, no primeiro estágio do
relacionamento, percebe a mãe como um seio bom que o alimenta, alivia sua
fome, sua ansiedade, desfazendo, assim, a angústia e a solidão, dando-lhe de
volta um enorme prazer ao se alimentar (erotismo oral).
De acordo com Aberastury (1982), uma má alimentação, a falta de
amamentação materna, a alimentação artificial dada à criança sem levar em
conta sua necessidade de mamar durante um determinado número de horas
por dia, a manipulação brusca por parte da mãe ou da babá, a perda ou
abandono dos pais, a gestação da mãe, podem operar como traumas.
O desmame é a conseqüência de todo um processo de
desprendimento, cujo motor essencial e último é a intensidade da angústia
depressiva, que se produz pelo aparecimento dos dentes, instrumento que
torna possível concretizar as fantasias destrutivas.

34
O período da dentição causa vários transtornos à criança sejam
somáticos ou psíquicos. O desenvolvimento psicossexual da criança nos ajuda
a compreender o significado da dentição, bem como os transtornos que o
acompanham (“fase do sadismo máximo”, como denomina Klein, 1997).
Nesta etapa, as tendências destrutivas da criança, suas fantasias, são
de devorar, triturar e aniquilar os objetos. Estas fantasias destrutivas têm
instrumentos executores que são os dentes para o sadismo oral, os músculos
para o sadismo anal e a urina para o sadismo uretral.
Para Aberastury (1984), poder-se-ia compreender que as etapas
precoces do desenvolvimento deixam marcas no significado inconsciente que a
boca mantém durante toda a vida. É através da boca que obtemos prazer, com
a comida, com aquilo que mordemos, mais tarde a boca terá, mesmo para o
adulto, funções para obtenção do prazer sexual. A boca possui determinadas
características inconscientes, em cada etapa do desenvolvimento e o mesmo
acontece com os dentes. Todos esses significados mantém-se latentes na vida
adulta, mas ficam recalcados ou deformados (Aberastury, 1984.).
Acrescenta Botazzo (2006) sobre bucalidade:

“É, pois, como cultura, que a satisfação e o gozo


bucais esbarram na razão e no desejo:
freqüentemente comemos o que não devemos, ou o
que certa racionalidade recomenda, ou mais ou
menos ou, ainda, não do modo como devíamos, de
sorte que tudo isto resulta atravessado pelo
psiquismo, o que põe o sujeito em conflito consigo e
com os outros” (p. 7-17).

E ainda, num outro texto, o mesmo autor acrescenta:

35
“A erótica é parte relevante das expressões bucais
nas sociedades humanas, antigas ou
contemporâneas, e não apenas como realização
sexual mas também afetiva, emocional e amorosa.
Não é difícil perceber o quanto essas três dimensões
se acham ligadas à cultura e ao psiquismo. São, ao
mesmo tempo, produtos sociais e, por isso, dotados
de historicidade, quer dizer, a boca humana é
__
socialmente produzida e seus produtos
__
manducação, erótica e linguagem são igualmente
produtos sociais. Por isso, se pode dizer que a boca
não é órgão mas território, e assim o suporte mais
evidente de todo o corpo do homem na realização da
sua vida” (Botazzo, 2008, p. 84).

Winnicott (1975), alerta sobre um fato interessante que são os “objetos


transicionais”. É sabido que os bebês, assim que nascem, tendem a usar o
punho e os dedos em estimulação da zona erógena oral; após alguns meses,
bebês de ambos os sexos acabam por conduzir a uma ligação, a um objeto de
estimação, como ursinho ou boneca.
Objeto transicional é o termo usado por Winnicott (1975), para designar
a área intermediária de experiência, entre o polegar e o ursinho, entre o
erotismo oral e a verdadeira relação de objeto, entre a atividade criativa
primária e a projeção do que já foi introjetado. O “objeto transicional” se torna
virtualmente importante para o bebê, pois constitui uma defesa contra a
ansiedade. Com uso deste objeto o bebê passa do controle onipotente para o
controle pela manipulação, envolvendo o erotismo muscular e o prazer de
coordenação.

Abraham e Torok (1995) afirmam que:

36
“...a passagem da boca cheia de seio à boca cheia
de palavra se efetua por meio de experiência de
boca vazia. Aprender a preencher com palavras o
vazio da boca é um primeiro paradigma da
introjeção” (p. 439)

Tomando a mesma direção, Botazzo (2000), acerca desta passagem


acrescentará:

“Tendo ficado vazia, porque não pode preencher-se


o tempo todo consumindo, agora se encherá de
palavras, ainda quando não sejam as mais
apropriadas” (p. 46).

Michel Foucault observou que a escolha do alimento é, em sua


estrutura, uma escolha existencial, pela qual se chega à constituição de si.
Segundo ele,
“a prática do regime como arte de viver é (...) toda
uma maneira de se construir como um indivíduo que
tem o cuidado justo, necessário e suficiente de seu
corpo” (Foucault, 1984, p.98).

Para Foucault, (1984) a dietética é uma técnica de existência no sentido


de que ela não se contenta em transmitir os conselhos de um médico para um
indivíduo que iria aplicá-los passivamente.
Alferes (1987) em seu texto – “O corpo: regularidades discursivas” -
situa o corpo entre os registros biológico e psicológico pois, segundo ele, é a
biologia do homem que abre o caminho para a ação dos mecanismos
psicossociais que regulam o funcionamento do corpo.

37
Wallon (1963), por outro lado, chama a atenção à importância dos
fatores emocionais implícitos à construção de imagem do corpo, enquanto
Lacan (1996), em sua teoria, torna evidentes as dimensões figurativas e
simbólicas do corpo, mostrando este como um fator estrutural do Eu.
No entanto, Boltanski (2004) também fornece subsídios teóricos e
empíricos esclarecedores para este estudo. Segundo este autor, na medida em
que se passa das classes sociais “inferiores” às “superiores”, na escala social,
diminui a valorização da força física em favor do enaltecimento da beleza da
forma física.
Para ele, as classes populares não prestam atenção no seu corpo, usa
o corpo principalmente como um instrumento. A doença é vista na maioria das
vezes como imprevisível e súbita. Já as classes abastadas prestam outro tipo
de atenção ao corpo e têm percepção aguçada de suas mensagens.
A variedade de conceitos estruturados sobre o corpo vai desde a libido,
circulando pela imagem psicológica e chegando a um corpo biológico, usado
como instrumento.
A mitologia grega nos leva a refletir as dualidades estabelecidas e
referendadas no processo de adoecer, como a separação entre saúde e
doença, corpo e alma. A questão da obesidade, a sua compreensão como
problema de saúde, remete ao indivíduo com alma e corpo. Desta forma, a
obesidade não seria uma simples conseqüência de fartura de alimentos, mas
do uso do alimento, de corpos que precisam ser alimentados e almas que
encontram no alimento o prazer, a satisfação alimentar que pode levar ao
adoecimento ou ao sentimento de completude.
Como complementa Aristófanes, o tema aqui é o da fusão amorosa no
mito, narrado por ele no Banquete de Platão, quando toma a palavra para falar
do amor. Aristófanes retrata a existência de um período onde os seres, por
serem duplos, viviam os êxtases da completude. Esta completude leva-os a
pensar serem mais poderosos que o próprio Zeus, rei de todos os seres e
deuses da antiguidade. Zeus, nada satisfeito, resolve enfraquecê-los cortando-

38
os em dois (Platão 1966). E assim começa a eterna busca pela outra metade,
às vezes acreditando que é outra pessoa e às vezes, talvez aumentando o seu
tamanho (obesos), para se sentir mais completo.
Na exposição “O Preço da Sedução, do Espartilho ao Silicone”
realizada em São Paulo no Instituto Itaú Cultural de março a maio de 2004, a
curadora, Denise Mattar, mostrou a transformação do ideal de beleza feminina,
da segunda metade do século XIX até os dias atuais: corrigir aos poucos a
postura, colocar silicone nos lábios para torná-los mais carnudos e sedutores,
silicone nos seios para dar um ar de exuberância e feminilidade, piercing,
tatuagem, dietas para um modelo magro, tornando-as um exército de mulheres
esteticamente todas iguais.
Não é a primeira vez, entretanto, que o corpo é objeto de investimento.
E, devemos perguntar: se trataria de um cuidado com a saúde? Pois nunca, na
história da humanidade, o homem foi tão cortado em nome de um padrão de
beleza.

5. Objetivos

5.1. Objetivo geral

Investigar estilos e condições de vida que possam levar à obesidade,


levando em conta dispositivos emocionais e sócio-comportamentais, em
mulheres de baixa renda.

5.2. Objetivos específicos

5.2.1. Avaliar os sentimentos e humores que causam o desejo de comer e o


controle dos mecanismos que resultam na não satisfação da fome, incluindo má
alimentação e vida sedentária.

39
5.2.2. Estimar se os encontros do grupo levam a maior compreensão do
esquema corporal e estilo de vida, contribua para redução de peso.

6. Método

6.1. Escolha do método

A opção por um método de pesquisa corresponde à escolha de um


procedimento sistemático adequado para a descrição e explicação do
fenômeno investigado (Richardson, 1999). Além disto, “é o objeto que suscita o
método”, como diz Vieira Pinto (1985). Neste trabalho adotou-se a metodologia
qualitativa como sendo a mais adequada à abordagem pretendida. A pesquisa
qualitativa não visa a mensuração de fenômenos, mas sim o entendimento em
profundidade destes (Víctora GC, Knauth DR & Hassen MNA 2000). Visa
descrever e analisar a cultura e o comportamento, a partir da visão que o
próprio investigado tem do fenômeno (WHO, 2008).
Segundo Taylor e Bogdan (1998), a metodologia qualitativa refere-se à
pesquisa que produz dados descritivos, fornecidos de forma escrita ou falada
pelos sujeitos e pelo comportamento observado dentro de um específico grupo
pelo pesquisador. Permite, essencialmente, a investigação de comportamentos,
sentimentos e opiniões. Os sujeitos investigados são observados como um todo
e não reduzidos a variáveis dentro de um conjunto, em que o foco principal é a
vivência que eles tem do fenômeno estudado e as aquisições de
conhecimentos diários frente ao “foco-problema”.
Em síntese, Bryman e Burgess (1992), definem que:

“a pesquisa qualitativa é caracterizada por uma


abordagem que procura descrever e analisar a
cultura e comportamento de pessoas e seus grupos,

40
a partir do ponto de vista das pessoas que estão
sendo estudadas.” (1992.p.232)

Para Patton (1990), as principais características de pesquisas


qualitativas envolvem: flexibilidade, interatividade, indução, perspectiva
totalizadora do fenômeno, observação do indivíduo frente ao todo e contato
pessoal com neutralidade empática. O mesmo autor acrescenta que a
amostragem qualitativa não privilegia o critério numérico, mas a capacidade
desta refletir o fenômeno investigado em suas múltiplas dimensões (Patton,
1990). Os componentes da amostra são os sujeitos sociais que detêm os
atributos que o investigador pretende conhecer (Minayo, 2004). Ainda a mesma
autora escreveu, entende-se por campo como o recorte espacial que
corresponde à abrangência, em termo empírico, do recorte teórico
correspondente ao objetivo da observação. O campo constitui-se numa etapa
essencial da pesquisa qualitativa, e que a rigor não poderia ser pensada sem
ele. (Minayo, 2004)
A expressão mais comumente usada para representar o tratamento dos
dados de uma pesquisa qualitativa é a análise de conteúdo (Minayo, 2004).
Algumas técnicas cognitivas comportamental foram utilizadas para
ajudar o grupo a regular seus hábitos alimentares e emocionais.
A terapia cognitiva comportamental baseia-se na teoria da
aprendizagem social. O ambiente, as características pessoais de temperamento
e o comportamento situacional determinam uma pessoa. O comportamento é
um fenômeno dinâmico em construção.
A terapia cognitiva comportamental é uma forma de psicoterapia breve
estruturada e orientada ao momento presente. Ela é direcionada a resolver
problemas atuais e a modificar os pensamentos e os comportamentos
disfuncionais do pacientes. ( D’El Rey, Momtiel, 2002).
No primeiro encontro o grupo recebeu informação quanto aos
procedimentos, com a apresentação dos participantes, sendo solicitado como

41
tarefa de casa a atenção nas refeições e que tentassem desenvolver uma
programação alimentar mais saudável (pois todas as participantes já tinham
noção do que seria melhor para sua saúde). No encontro seguinte foi avaliada a
programação desenvolvida durante a semana de cada integrante do grupo,
verificando facilidades e dificuldades. A solicitação da tarefa de casa para a
semana consistia em identificar os momentos de fome, verificando que tipos de
erro poderiam estar cometendo ao escolher o alimento, quantidade e estarem
atentas se de fato estavam com fome por necessidade orgânica ou não.
Nas sessões seguintes o grupo iniciou o processo de confronto das
situações quanto sociais, quanto familiares e começaram a surgir os relatos de
suas vidas, dificuldades, ansiedades e desconfortos.
As exposições evocam pensamentos, quando cada participante está
realizando a exposição, pensamentos vem à tona, o psicólogo ajuda neste
processo, como: questionando o que o individuo esta pensando no momento.
As tarefas de casa são solicitadas para permitir os participantes desenvolverem
hábitos e estarem atentos para si.
Algumas técnicas foram utilizaram para facilitar os discursos das
mulheres entre elas, o desenho da própria silhueta para que pudessem
visualizar o seu esquema corporal, em seguida com o uso de revistas, cola,
lápis e tinta, colocaram na silhueta imagens de como ficaria seu corpo com
alimentação gordurosa e pesada, em um segundo momento como ficaria seu
corpo com saladas e frutas. ... foi comum aparecer pregos e batidas de carro e
coisas não identificadas na primeira etapa do trabalho no segundo momento,
flores, nuvem, penas e mulheres bonitas.
Ao solicitar a automonitoração, planejamento das refeições, controle dos
estímulos e solução de problemas. Tentamos com as mulheres reconstruir o
curso de sua própria história e os possíveis significados que engordar e
emagrecer lhe confere.

42
A coleta de dados foi realizada durante os encontros e subscrita na
finalização dos mesmos. A análise dos resultados foi realizada segundo a
proposta de Análise de Conteúdo, considerando:

um conjunto de técnicas de análise das


comunicações, que utiliza procedimentos
sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo
das mensagens. A intenção da análise de conteúdo
é a interferência de conhecimento relativo às
condições de produção [...] interferência esta que
recorre a indicadores quantitativos ou não.
(Bardin,1977)

Após a coleta dos dados, ou seja, a “fala” das mulheres, foi realizado a
organização do material e selecionadas as falas mais significantes para o
trabalho. A última etapa da análise de conteúdo compreende o tratamento do
resultado que propõe a interpretação do conteúdo do discurso. Entretanto para
tal análise utilizamos referencial teórico que permitisse o esclarecimento.

6.2. Efetivação do campo na cidade de Carapicuíba

Existem várias versões sobre o significado da palavra Carapicuíba: pau


podre, aquele que se reúne em poços, cascudo, escamose, entre outros.
A cidade foi fundada em 12 de outubro de 1580 pelo Padre José de
Anchieta e tem sua história ligada à resistência indígena contra a invasão do
homem branco e, especialmente, dos bandeirantes. Em 26 de março de 1956
teve sua emancipação política e expandiu-se com o passar dos anos.
A cidade está localizada na Região Metropolitana de São Paulo, à
margem esquerda do rio Tietê, entre as Rodovias Castelo Branco, Raposo
Tavares e o Rodoanel Mário Covas, cortada pelos trilhos da antiga Ferrovia

43
Paulista (Fepasa), distante 25 km da Capital e pelo asfalto da Rodovia Marechal
Rondon (a velha estrada de Itu), que atravessa o centro da cidade.

Figura 5: Municípios Avaliados x Acesso ao Município de São Paulo

Fonte: Google Maps.

Carapicuíba é uma cidade-dormitório, com a segunda menor


arrecadação da Região Metropolitana. Somente 2,5% de sua população possui
escolaridade superior a 12 anos de estudo e 5,4% dos chefes de família
auferem rendimentos superiores a 10 salários mínimos. De acordo com o censo
de 2000, a população totalizava 344.595 habitantes, sendo que as estimativas
para 2007 apontavam a existência de 380.000 habitantes, apresentando uma
densidade populacional de 10.381 habitantes por km2, uma das maiores do
país.
Segundo o senso demográfico do IBGE (2000), apresenta baixo nível
de riqueza e nível intermediário de longevidade e escolaridade.

44
Saindo de São Paulo pela Rodovia Castelo Branco, logo podemos
avistar, do lado esquerdo, prédios coloridos e de alturas irregulares. À medida
que se aproxima Rodoanel “Mario Covas” pode perceber que a idéia inicial vai
se distorcendo: o que antes pareciam construções coloridas vão se
transformando em prédios populares desgastados pelo tempo, de tamanhos
irregulares, destacando-se em virtude da topografia da cidade. Os prédios são
todos uniformes seguindo o projeto dos conjuntos habitacionais populares, as
casas são aglomeradas, as edificações realizadas umas por cima das outras,
de alvenaria, madeira e até papelão e sacos plásticos.
Diante daquelas ruas estreitas e enladeiradas, sobem e descem
moradores com semblante sofrido, com sua pobreza aparente, parecendo
demonstrar um certo alheamento em relação ao que é vida, saúde e boa
alimentação.

6.3. Plano de Recrutamento e Seleção

Pretendeu-se inicialmente selecionar adultos, homens e mulheres


acima de 18 anos com excesso de peso (IMC > 25 Kg m2) ou obesidade (IMC >
30 Kg m2), escolhidos aleatoriamente entre os usuários de unidades de saúde
do município. Os pacientes seriam contatados diretamente nas unidades, no
momento da consulta, e posteriormente agendados para entrevista com a
pesquisadora. Nesta entrevista seriam revistas as informações constantes no
prontuário único, afastando-se causas orgânicas, porém registrando-se a
importância da obesidade nos processos práticos da vida do sujeito.
Após este procedimento, apenas os que tivessem em comum a
disponibilidade e a vontade de participar é que formariam o grupo da pesquisa,
numa modalidade de acompanhamento psicológico com grupo em dinâmica
focado na compulsão bucal, com abordagem terapêutico-cognitiva.
O grupo teria uma média de doze a quinze participantes. O tempo
previsto de funcionamento foi de seis meses a um ano, em sessões semanais,

45
com duração de 2 horas, respeitando o “processo grupal” e o ritmo da dinâmica
do trabalho.
Foram utilizados jogos pedagógicos e a escuta terapêutica que
favorecesse a emergência dos fatores ligados à provável compulsão ou práticas
compulsivas.
Para Bezerra Jr. (1994) colocado entre pares, o paciente poderá
exprimir os sentimentos e cotejar sua experiência com um conjunto de pessoas
que compartilham com ele do mesmo universo sócio-cultural. A palavra do
parceiro do grupo, talvez contenha maior plausibilidade, isto é, talvez possa
veicular modelos de identificação mais próximos, mais apreensíveis, do que o
oferecido pelo terapeuta.

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto


de Saúde (anexo III) e, previamente ao trabalho em grupo todos os
participantes leram e assinaram o termo de consentimento livre (anexo II), em
observância ao disposto na Resolução CNS 196/96.

6.4. Critérios de exclusão

Para que pudéssemos avaliar a eficácia do trabalho em relação à


redução do peso, não participariam do grupo pacientes psiquiátricos ou que
tomassem qualquer medicamento que favorecesse o aumento de peso e
também moderadores de apetite, bem como portadores de disfunção orgânica
que pudesse provocar obesidade.
Obviamente, também seriam excluídos aqueles que se negassem à
participação nos encontros ou por qualquer outra motivação do próprio sujeito
que, do mesmo modo, poderia interromper sua participação no grupo quando
desejasse.
Os atendimentos ou atividades clínicas na unidade não seriam
suspensos pelo fato de estarem participando do grupo. As avaliações

46
peso/altura foram realizadas no início da pesquisa e comparada no decorrer
do trabalho. O peso e a estatura, utilizados para o cálculo do Índice de Massa
Corpórea (IMC = peso/estatura), seriam aferidos seguindo normatização da
OMS, utilizando balança disponível na unidade.

Quadro 1. Classificação de sobrepeso e obesidade baseada no índice de massa


corporal (IMC), para indivíduos adultos de ambos os sexos, adotada pela OMS.

Classificação IMC (kg/m2)

Peso saudável 18,5 – 24,9

Sobrepeso 25,0 – 29,9

Obesidade: Grau I 30,0 – 34,9

Grau II 35,0 – 39,9

Grau III 40,0 +

6.5. Desenvolvimento do trabalho

O grupo, finalmente, foi formado com 12 pacientes, usuários do


ambulatório da Endocrinologia. Após consulta com o endocrinologista, e sendo
afastadas todas as hipóteses orgânicas que pudessem levar a obesidade,
foram encaminhadas para participar do grupo. Todas eram mulheres com
idades variando de 25 a 61 anos, com baixa escolaridade.
No primeiro encontro individual foi explicado como seriam os encontros
seguintes. Assinaram o termo de compromisso, se comprometeram em
comparecer aos encontros agendados e informaram alguns dados pessoais
(anexo I).
Formou-se o grupo, com um encontro semanal com duração de 2 horas
no período de seis meses, sendo realizados 24 encontros. A princípio se

47
pensou na possibilidade de estender o grupo até um ano, mas devido à
dificuldade de freqüência teria que mudar a estratégia.
Como o grupo era realizado em horário comercial, alguns dos
participantes faltavam por causa do emprego que arranjavam, outros por causa
da passagem de ônibus, cujo preço era bastante significativo na sua renda.
As atividades com grupos foram realizadas em uma sala cedida pela
direção da Unidade Básica de Saúde (UBS) COHAB V. A UBS está localizada
ao lado da Secretaria de Saúde de Carapicuíba. A localização é de fácil acesso
para a população local. Possui serviços e atendimento de especialidades como:
Clínica médica, Pediatria, Equipe de Enfermagem, Ginecologia, Cardiologia,
Mastologia, Endocrinologia, Urologia, Pequenas Cirurgias, Ultra–sonografia,
Odontologia, Saúde da Mulher, Fisioterapia, farmácia popular e de alto custo,
sala de vacina, sala de curativo e Ouvidoria. Ainda fazendo parte desta
unidade, o Núcleo de Atendimento de Carapicuíba (NAC), referência para o
atendimento de infectologia.
O local para o desenvolvimento do trabalho era um local limpo e
arejado, no qual o grupo podia trabalhar sem ruídos ou interferências de
terceiros. Todos os encontros foram posteriormente transcritos e
complementados com as anotações feitas pela pesquisadora durante os
mesmos. Estas informações constituíram a base empírica da pesquisa para
posterior análise.
As reuniões enfatizaram a qualidade e a "quantidade" de vida, ajudando
a elevar a auto-estima e a percepção do "espaço corpóreo", das emoções e
comportamentos diante da vida, tentando alterar o padrão repetitivo das
práticas alimentares compulsivas.
O vínculo estabelecido com as mulheres foi o que impulsionou o
seguimento dos atendimentos.
Nos encontros realizados tentamos estabelecer um vínculo de
confiança para facilitar aos participantes, fortalecimento da auto-estima, maior

48
conscientização da imagem corporal, recondicionamento físico e alimentar, bem
como, promover contato social.
Os temas e questões que emergiram no grupo foram conduzidos de
forma que a troca de informações favorecesse o processo de aprendizagem, ou
seja, que o grupo refletisse a partir das suas experiências, sempre estimulado a
refletir e a verbalizar através de jogos que possibilitassem o resgate da auto-
estima, a visão crítica sobre alimentação, sobre a mídia, a propaganda de
alimentos e o incentivo à atividade física.
Alguns temas foram dados para o grupo discutir como: alimentação
(comer com pressa, comer vendo televisão, comer sozinho, comer porque está
acompanhando alguém, substituir refeição por lanche), "comida com gosto de
infância": o que comiam, quem fazia a comida, como fazia, em que ocasiões
faziam. Com recortes de revistas, foi solicitado ao grupo montagens sobre sua
própria aparência a partir das perguntas "Como sou?" e "Como gostaria de
ser?" em seguida foram discutidos os padrões de beleza criados pela
sociedade e a saúde.
O grupo sempre foi realizado no mesmo dia da semana e horário. Em
cada encontro sempre era lembrado o contrato do sigilo e, também, que fossem
evitados julgamentos sobre o comportamento dos participantes que pudessem
inibir futuros relatos.
Tornou-se relevante avaliar a vontade, a capacidade de fazer
mudanças, tanto quanto analisar as fantasias à respeito do emagrecimento
pois, normalmente, pacientes se mostram capazes e comprometidos com o
tratamento mas nem sempre cumprem.

49
7. Resultados e discussão

7.1. Marco da obesidade

É importante salientar a expectativa com o qual as mulheres chegaram


ao grupo. Queriam logo saber em quanto tempo teriam o seu corpo magro.
Sugeriram que, se fosse possível, deixariam o seu corpo emagrecendo e,
enquanto isso, estariam cuidando das tarefas do dia-a-dia. Se fosse possível,
certamente o fariam. O que demonstra não fazer esforço, pouco
comprometimento, não visualizar as causas do problema.
Tivemos como resultado do grupo e da pesquisa um trabalho com
aprendizado amplo que incluiu desde o conhecimento teórico do objeto
estudado até o estilo de vida do grupo. Vale ressaltar aqui a complexidade da
obesidade e suas múltiplas origens e seus reflexos na vida das pessoas.
Fizeram-nos repensar as técnicas e seus alcances. Vimos como resultados as
vivências que trouxeram a conscientização da obesidade, avaliação das
condições de vida, das resistências, das lutas diárias e das doações
desmedidas.
Lembramos que o primeiro critério de avaliação para a formação do
grupo foi o IMC (Índice de Massa Corporal) das participantes e, na seqüência, a
investigação do estado emocional como: angústia, ansiedade, depressão,
sentimento de rejeição.
Como apontado anteriormente, a obesidade, além de elevar o risco de
doenças que oferecem fator de risco mais alto, também favorece o
aparecimento de problemas psicológicos. Lembremos que segundo Ades
(2002) a obesidade pode ser causa de sofrimento, depressão e de
comportamentos de esquiva social, que restringem a qualidade de vida.
Para Duran (1997), todas as manifestações humanas são,
simultaneamente, físicas e psíquicas. A especificidade ocorre apenas na área
em que as reações associadas às mesmas tornam-se mais evidentes; sendo

50
assim todas elas pertenceriam à esfera "psicossomática" e não somente
aquelas que se manifestam predominantemente no corpo.
A mesma autora acrescenta a vivência de situações que identifica como
episódios de "exploração corporal", ou seja, experiências que inscrevem no
corpo "marcas" a partir de uma história de exploração e alienação social:
doenças ocupacionais, acidentes de trabalho, fome, espancamento, violência
sexual e outros.
No decorrer dos encontros, todavia, o grupo criou ramificações da
proposta inicial, que seria avaliar as causas da obesidade e compulsão bucal. A
dor emocional e psíquica apresentada pelas mulheres, suas condições de vida
precárias, apareceram como problemas sobrepostos à obesidade,
possivelmente indicando outras causas.
O grupo teve início com 12 participantes e, como tudo que se inicia
voluntariamente sofre uma depuração, finalizamos os encontros com 6 (seis)
mulheres. Das 12 mulheres participantes apenas 9 foram pesadas no terceiro
encontro onde teríamos o peso inicial, o qual seria comparado a cada três
meses. Os resultados desta primeira aferição se encontram no quadro abaixo.

51
Quadro 2: Peso inicial

Nome Peso Altura IMC

SD. 25anos 115 1,66 41.8

F. 43 anos 110 1,52 47.6

FC. 62 anos 106 1,65 38.9

S. 30 anos 102 1,60 39.8

E. 50 anos 100 1,58 40.1

N. 45 anos 94 1,60 36.7

M. 42 88 1,52 38.0

T. 56 anos 80 1,52 34.6

MJ. 54 anos 79 1,54 33.3

Balança utilizada: Filizola

De início, as mulheres apresentaram a ansiedade como justificativa


para a ingestão descontrolada de alimentos, como evidenciado na fala abaixo:

“A ansiedade dá vontade de comer e este é o


problema” (F., 43 anos).

A fase oral, descrita por Freud (1905/1997), revela o fato de que a


primeira forma de prazer do bebê acontece através da boca e especificamente
do ato de sugar o leite materno, relacionado ao prazer e à incorporação. Não
seria esta ansiedade acalmada com lembranças da infância, onde o ato de
comer era acrescentado de amor e carinho? Será que esta compulsão bucal
desmedida apresentada não remeteria aos acalentos da infância?

52
Como sugerido por Busse (2004), a interação da mãe com o bebê e,
posteriormente, a interação da família com a alimentação da criança, podem
constituir fator fundamental no surgimento de alguns casos de obesidade.

“Sou muito ansiosa ... toda hora procuro o que


comer” (F., 43 anos).

“Quando estamos agoniados o coração palpita, aí dá


vontade de comer, para acalmar.” (T., 56 anos).

Nas primeiras horas de nossa vida o prazer entra pela boca, os


sentidos começam a ser aguçados, junto com o leite, o bebê recebe o sabor, o
toque e o cheiro de quem o alimenta. Neste momento aparece a presença ou a
falta de afeto. E aí é iniciado o caminho da vida pela boca, a busca do alimento
para preencher os vazios e lacunas deixadas pela dor. Entretanto, podemos
entender que a relação com a comida pode ser considerada um sintoma capaz
de interação da pessoa com o mundo e consigo mesmo.
Também pode ser entendido o excesso de ingestão de alimento como
uma forma de preencher vazios existenciais, aspecto que não pode ser
desconsiderado em qualquer conduta de tratamento da obesidade. Orbach
(2003) se refere à “fome emocional” como utilização da comida para apaziguar
inquietações emocionais.
Podemos considerar a “fome física”, como nossa necessidade de
reabastecimento de nutrientes o que o nosso corpo precisa para a saúde. A
“fome emocional”, ou psicológica, é a fome que não tem ligação com a
necessidade orgânica. Implica em comer apenas porque a comida está lá;
porque tem pena de jogar fora; porque sente ansiedade; porque está triste,
frustrada, o que nos faz comer mais, apesar de já estarmos satisfeitos.
Nas falas das mulheres aparece com freqüência a obesidade
relacionada ao casamento e gravidez. Kaufman (2000) sugere que o excesso

53
de alimentação e casamento podem ter uma interação importante. É sempre
oportuno lembrar que o excesso de peso não deve ser encarado isoladamente,
mas dentro de um contexto, que tem a ver com o estilo de vida da pessoa, onde
se incluem sua auto-estima, os sentimentos sexuais e a satisfação conjugal.

“Eu engordei depois da cesariana, antes eu era


magra, quando nascem os filhos não temos mais
tempo pra nada” (MJ., 54 anos).

“Engordei depois que conheci meu marido” (E., 50


anos).

Ainda segundo Kaufman (2000), engordar após o casamento é um fato


extremamente comum. Sentindo-se mais segura por considerar-se "garantida",
a mulher pode achar que é tempo de abandonar os sacrifícios do regime e
"premiar-se" com as guloseimas que aprecia, dos quais era antes obrigada a
privar-se.
O mesmo autor se refere à insatisfação conjugal que pode chegar a um
ponto em que as carências emocionais e sexuais são confundidas com a fome
física, podendo ser atendidas concretamente, ainda com a vantagem de não
depender de ninguém (entenda-se o marido) para se satisfazer.
Nos casamentos medianamente infelizes a estabilidade da relação
parece ser mais importante do que o amor-próprio e do que o próprio corpo. É
principalmente nestas mulheres desassistidas afetiva e sexualmente que
podemos observar como o lado feminino erótico e lúdico fica compactado
dentro da gordura e da excessiva massa corporal:

“Comecei a engordar depois que casei, tem que


fazer comida todo dia.” (MJ., 54 anos).

54
O marido também boicota o regime da mulher quando obtém benefícios
secundários da obesidade desta. Os motivos são vários, desde o medo da
infidelidade dela (caso fique magra) levando a ciúmes, suspeitas, temores e
ataques, passando pela falta de interesse sexual ou até impotência (em que a
gordura é "culpada") e chegando até à própria obesidade masculina, pois é
possível que ele se sinta desmoralizado e menos atraente sexualmente se
apenas ela emagrecesse (Kaufman, 2000).

“A vida de casado engorda pois as preocupações


são dobradas” (E., 50 anos).

Talvez se o casamento não lhes fornece a sonhada gratificação sexual


e afetiva, possam recorrer à comida no papel de substituto.
Como diz Woodman, “o comer até que o ego caia no inconsciente
torna-se paródia do orgasmo; por trás disso, está o forte desejo de libertar-se
da tensão na paz, no sono e até na morte" (Woodman, 1991), confirmando as
falas que se seguem:

“cada filho que tinha engordava um pouco... aí, na


menopausa desandou” (T., 56 anos).

Foi comum observar a referência do intensificar da obesidade diante de


determinados marcos pessoais, muito bem sintetizados na fala de uma das
mulheres.

“A vida de casado muda os hábitos, é preciso ter as

três refeições, então cada dia engorda uma coisinha”


(E., 50 anos).

55
As explicações para o processo de ganho de peso também surgem
vinculadas a outras causas, como novos produtos no mercado ou acompanhar
a família nas três refeições.
Aos pouco constatamos que é fundamental investigar qual o sentido da
manifestação do sintoma da obesidade, dentro do marco histórico de cada
participante.

7.2. Consciência do corpo obeso

Para Duran (1997), o corpo está sempre sendo construído e


desconstruído socialmente, o que poderia ser a forma pela qual o ser humano
apresenta “manifestações corporais”, psíquicas e sociais.
A mesma autora se refere às mulheres do seu estudo que trazem de
forma clara, no corpo obeso, a expressão de suas condições de vida e de seu
sofrimento emocional, embora esta relação muitas vezes não seja por elas
percebidas. Tal fato foi igualmente percebido no grupo de mulheres observadas
neste trabalho.
Weiss et. al.(1986), aponta como indicativo da imagem corporal a
excessiva preocupação da pessoa pela sua obesidade. O peso é o que mais
lhe interessa, a dificuldade para se ver no espelho, não se reconhecer no seu
tamanho real quando engorda ou emagrece. Este autor denota que algumas
pessoas, cujo excesso de peso tem início na vida adulta, mantêm uma imagem
na memória enquanto magras. A imagem corporal desta pessoa, fixada na
infância, aparece como imutável, apesar da realidade ser outra, a de estarem
de fato obesas. Esta negação inconsciente da realidade bloqueia o progresso
na direção do emagrecimento ou de se fazer dieta. Além disso, o que parece
motivar as pessoas para emagrecer e se manter magras, está relacionado com
sua habilidade de ter uma imagem real, substituindo a distorção da imagem
corporal.

56
O grupo tinha como principal característica a disponibilidade para o
__ __
outro mulheres cuidadoras , elas não têm tempo nem olhos para se ver ou
cuidar de si. Surge a consciência do corpo com sobrepeso quando ouve o alerta
do profissional da saúde.
Duran (1997) relata que a população que freqüenta as U.B.S.s
frequentemente se calam diante do médico, ou pouco falam, não se sentindo
suficientemente livres para se exporem sobre as manifestações de seu corpo.
Costumam limitar-se àquilo que lhes é perguntado pelo "doutor", até porque "o
tempo é curto". Nas entrelinhas de seu silêncio, entretanto revelam sofrimentos
que são observados, mas na maioria das vezes, não devidamente acolhidos
pelo médico.
No entanto a importância do emagrecimento caberia mais como uma
exigência do médico do que propriamente a um desejo forte das mulheres.

“eu preciso emagrecer, porque o médico mandou”


(T., 56 anos).

A consciência da obesidade aparece quando o profissional de saúde diz


que é necessário o emagrecimento por alguns possíveis comprometimentos
orgânicos.

“Preciso emagrecer por causa da pressão alta” (T.,


56 anos).

Podemos observar que elas só se permitem sentir o corpo adoecido ou


com dor, o que as impossibilita de trabalharem, fazendo com isto prestar
atenção em si e procurarem ajuda. Foi também observado que algumas
mulheres não se percebem obesas ou que a obesidade para elas pouco se
relaciona à estética ou à saúde.

57
“Estou com dor nas costas” (FC., 62, anos);

“Eu fui ao doutor por causa da dor de cabeça e ele


disse que estou gorda e me mandou para cá” (MJ.,
54 anos).

Barros, que estudou a imagem corporal em indivíduos obesos,


considera o transtorno da auto-imagem como um fator psicopatológico do
individuo. Para o autor o distúrbio da imagem corporal é encontrado em torno
de 40 a 50% dos obesos e essa alteração dificulta o prognóstico; é como se
disséssemos que o "corpo emagrece e a cabeça continua de gordo, ou seja,
como a cabeça é poderosa o corpo volta a ser gordo”( Barros,1996,p.102).
Existe uma certa dificuldade com as conciliações médicas e o cotidiano
destas mulheres:

“Já tentei de tudo, não tem jeito, os médicos mandam


a gente fazer exercícios e comer produtos caros,
aqui não tem essas coisas de integral, a gente come
o que tem em casa e o que o dinheiro dá para
comprar” (T., 56 anos).

“O doutor manda a gente fazer ginástica, isto é coisa


pra rico, já corro o dia todo pra cima e pra baixo...”
(F., 43 anos);

“Se eu quero emagrecer tenho que sustentar minha


vontade” (F., 43 anos).

Fisher et al. (1985), sugerem que uma das falhas na manutenção do


peso perdido em pacientes submetidos a programas comportamentais deve-se
ao fato de os tratamentos serem muito estruturados, diretivos ou invasivos. Os

58
procedimentos comuns para a redução do peso geralmente impõem uma série
de regras consideradas invasivas porque causam quebra da rotina. Além disso,
esses procedimentos são aplicados uniformemente e ignoram as diferenças
individuais, bem como a variação dos hábitos de cada indivíduo. Podem
desencorajar a manutenção da mudança comportamental.
A responsabilidade do profissional de saúde com relação às mudanças
nos hábitos de vida não deve se restringir a um processo de normatização e
muito menos de culpabilização do indivíduo, pois o que está em jogo não se
restringe apenas à mudança do consumo de alimentos ou de atividade física,
mas tem influência sobre "toda a constelação de significados ligados ao comer,
ao corpo, ao viver" (Garcia, 1992; Rito, 2004).

7.3. A alimentação

Os hábitos alimentares fazem parte da cultura e da história de um povo


onde são condicionados pela disponibilidade de alimentos e determinados pela
interação de muitas variáveis que perfazem um processo dinâmico de
transformações no tempo (Abreu et al.,2001).
A escolha do alimento está ligada à cultura. Comer é um ato orgânico
que a inteligência tornou social. A alimentação não pode ser tratada apenas do
ponto de vista biológico, pois o aspecto cultural faz a passagem de uma
geração à outra, seja através de técnicas agrícolas seja através de novos
produtos e formas de beneficiamento e processamento para torná-los prontos e
comestíveis. Comer é um ato social, enquanto nutrir-se é uma atividade
biológica. Por isso, o consumo de alimentos não se prende apenas à
necessidade, mas à sociabilidade, à cultura, às crenças e tabus, à tecnologia e
hábitos construídos por um grupo social (Carvalho, 2005).
A alimentação envolve um conjunto de valores e significados que são
de ordem cultural, psicológica, social e simbólica. A relação entre comida e

59
prazer é muito próxima. Assim, ao construir uma rotina alimentar, o profissional
interfere em vários aspectos da vida de indivíduos ou grupos.
De fato, pareceu-nos, inclusive, que o medo da fome não é libertado
com facilidade da vida destas mulheres assim como a importância da
quantidade de comida no prato e a valorização da “barriga cheia” como
sensação prazerosa. A falta de comida é associada à fome, à miséria, à
doença, à morte. Algumas mulheres manifestavam preocupação constante com
a possível falta ou abundância de alimento em casa, pela qual é avaliada sua
condição econômica.

“Se tenho comida em casa aí eu estou bem...


geladeira de rico é cheia de comida gostosa...” (F.,
43 anos).

Foi observado no grupo que existe uma alimentação descontrolada.


Com freqüência não tomam café da manhã.

“... não tomo café da manhã, saio muito cedo, sou


ambulante no calçadão de Carapicuíba, lá pelas dez
como uma coxinha e um refrigerante, e só depois
que armei a barraca” (S., 30 anos).

A base da alimentação é o almoço e o jantar. Fazem com freqüência


sua primeira refeição (quando é feita) em ponto de ônibus enquanto esperam a
condução, ou mesmo no local de trabalho.

“Enquanto espero o ônibus tomo um refrigerante e


como um cachorro quente que vem de tudo e custa 1
real...” (M., 42 anos).

60
Na alimentação destas mulheres raramente aparecem frutas e
verduras, tendo como base arroz, feijão, macarrão e “mistura”, como chamam
as carnes:

“Fruta e verdura não dão sustança, não enche


barriga” (T., 56 anos).

São referidos alimentos que podem proporcionar a sensação de ‘barriga


cheia’, talvez pelo tempo que levam para serem digeridos. Observamos,
também, com muita freqüência, a utilização do refrigerante, o uso em excesso
do açúcar e do óleo, através de comentários como “gosto de café bem doce”
(este ”bem doce” representa três colheres de açúcar para cada xícara...).

“Como todo dia pão frito no óleo na frigideira”


(F., 43 anos).

Essa e algumas outras falas nos remetem a Hamburger (1951),quando


fala da relação inconsciente de associar a comida, com amor, carinho, bem-
querer, com afeto. A literatura médica e não médica tem produzido e divulgado
inúmeros estudos relacionando a ingestão de açúcar (glicose) com a sensação
de bem-estar.O acúmulo de gordura no organismo,por sua vez, parece estar
associado a ‘uma reserva alimentar para os tempos onde a caça rareava’ desde
a época pré-histórica.
É como diz Barros (1996):

“O obeso é voraz, e sua voracidade um buraco


negro, que ele tentará preencher com o alimento,
sobretudo com o açúcar”.

61
A administração da alimentação da casa são elas que fazem. Têm o
hábito de prepararem a refeição logo cedo e deixar no fogão, de forma que vai
sendo requentada à medida que cada pessoa vai se servindo. Elas alegam a
ausência de frutas e verduras por conta do preço e por serem perecíveis,
enquanto os grãos duram mais.

“Não gosto de salada, gosto de carne e arroz. Como


muito esfirra de frango e refrigerante” (F., 43 anos).

“Às vezes eu nem sei o que como” (T., 56 anos).

Desta forma, podemos sugerir que o critério de escolha dos alimentos


muitas vezes se dá pela falta de adequada informação da alimentação saudável
mas também pelo valor monetário: o preço dos itens define em algumas
situações a seleção dos alimentos.
Com tal perspectiva o grupo foi orientado a prestar mais atenção no
açúcar, em frituras, no tempo da mastigação e também nos intervalos de
alimentação e, na medida do possível, inserir frutas e verduras nas refeições.
Pode-se observar no grupo uma certa atração por alimentos gordurosos
e açucarados. É preciso salientar que a preferência por açúcar pode estar
relacionada à cultura do Brasil, onde a sacarose é popularmente usada como
sedativo ou elogio: “tome uma aguinha com açúcar para se acalmar”, ou “fulano
é um doce de pessoa”. A satisfação associada ao prazer que estes alimentos
conferem intensifica a preferência por alimentos doces. Não comemos somente
nutrientes, comemos afetos, prazeres, saúde, ansiedades, doces lembranças
do passado.

62
7.4. Lazer

O lazer é uma atividade importante, uma vez que integra o indivíduo de


forma consciente no contexto social e cultural e se relaciona com outras esferas
da vida social,como a cultura, as relações materiais de produção e a política.
Tem relação com a satisfação, a qualidade de vida, o não trabalho, enfim, com
a fuga das pessoas às obrigações, tanto profissionais quanto familiares e
sociais. A qualidade de vida tem sido definida como uma percepção do sujeito
em relação à sua posição individual na vida, no contexto de sua cultura e
sistema de valores nos quais ele está inserido e em relação aos seus objetivos,
expectativas, padrões e preocupações. É um conceito de alcance abrangente
afetado de forma complexa pela saúde física, estado psicológico, nível de
independência, relações sociais e relações com as características do meio
ambiente do indivíduo. Em vidas onde trabalhar é necessário para a
sobrevivência, as obrigações diárias entram em conflito com o tempo de
relaxamento, de liberdade, com tempo para se divertir.

“Vou toda semana para igreja... é bom, acalma... lá


também tem outras pessoas a gente conversa” (T.,
56 anos).

Boa parte do grupo era formada por protestantes evangélicos,


decorrentemente quando o grupo se referia ao lazer falava da igreja, televisão e
supermercado:

“A televisão distrai... a televisão mostra coisa


bonita... na igreja é bom, a gente ora, esquece da
vida; a televisão ta aí! para motivar a gente a
comer... você é gorda de comer” (MJ., 54 anos).

63
Almeida et al. (2002) em um estudo sobre os anúncios televisivos,
detectaram que a categoria alimentos foi a mais veiculada, representando
27,47% de todas as propagandas, e do total dos anúncios alimentícios quase
60% eram representados por gorduras, óleos, açúcares e doces com a
completa ausência de frutas e vegetais.
O grupo sugere que ir ao supermercado exerce o mesmo fascínio que
os shopping centers têm sobre as classes média e alta. São lugares de compra
e lazer.

“Para nós de baixa renda, ir ao supermercado é um


grande passeio e fico de olho nas promoções” (T.,56
anos).

“Quando falam que inaugurou um supermercado


novo, todos correm para conhecer, pobre adora
passear no supermercado!” (E., 50 anos).

“O meu marido quando briga comigo me leva ao


supermercado para ficar de bem, e insiste que eu
leve alguma coisa: - leve isto, você gosta tanto!
Acabei com isso, ficar de bem através do
supermercado” (E., 50 anos).

Infelizmente, observamos que no Brasil ainda existem grandes limitações


ao lazer às classes menos privilegiadas. Não por acaso, o corpo obeso aparece
como cúmplice da história de vida destas mulheres e, através dele, que
encontram refúgio para os dilemas que a vida impõe.

64
7.5 . Frustração

O excesso de peso, é possível dizer, está associado à baixa auto-


estima, à insatisfação com o próprio corpo, depressão e distúrbios alimentares.
Muitas vezes, o obeso é discriminado dentro do grupo social, que pode ser a
própria família, a escola, os vizinhos e os amigos, o que leva a um isolamento
cada vez maior e à busca por preencher seu sentimento de insatisfação por
meio da comida. Assim, é necessário ter uma atitude positiva de combate aos
preconceitos, pois a obesidade não é um problema de falta de caráter ou
relaxamento. É fundamental fomentar uma atitude includente (Rio de Janeiro,
2005).
Nos casos mostrados pode-se observar, pela fala das mulheres, a
angústia e impotência que as mesmas sentem diante de sua obesidade:

“Já tentei de tudo, a gente emagrece, quando vê já


esta gorda de novo” (T.,56 anos).

“Não tem jeito, a gente vai tirar a única coisa boa que
tem na vida?” (F., 43 anos).

Ao sofrimento que resulta da recaída somam-se sentimentos de


frustração, diminuição da auto-estima, impotência ou incapacidade; enfim,
aspectos que determinam vulnerabilidade, fragilidade, o que desempodera as
mulheres. Aparece com freqüência nas falas o sentimento de frustração:

“Já fiz vários regimes, perco dois e engordo quatro.”


(F., 43 anos)

“Foi difícil, evitei ir à casa de minha irmã, porque era


aniversário de meu sobrinho, mas no domingo comi
um pouco de feijoada.” (SD.,25 anos)

65
Surge o sentimento de desvalia, o sentimento de se sentir incapaz de
se relacionar socialmente, e a evitação de contatos sociais. Aparece nestas
falas a descrença, o sentimento de incapacidade acerca de passados
fracassos.

7.6. Sentimento de exclusão

A exclusão se configura como um processo complexo, que envolve o


homem e suas relações com os outros. As subjetividades contidas na exclusão
manifestam-se, no cotidiano, através da identidade, sociabilidade, afetividade,
consciência e inconsciência (Sawaia, 1999).

“Quando chego à loja as pessoas perguntam: ‘é para


você?’, já com aquela cara de que vai dizer não cabe
ou não tem a sua numeração. Tenho de emagrecer!”
(F., 43 anos)

A obesidade é geradora de exclusão do sujeito na sociedade, pelo seu


corpo fora dos padrões da moda. O obeso, ao violar a norma social vigente,
torna-se um paradigma estético negativo.

“Sempre tive vergonha do meu corpo, me escondia


embaixo das roupas grandes. Não gosto do meu
corpo.” (F., 43 anos)

As mulheres demonstram sofrimento frente às transformações do seu


corpo:
“Preta, pobre, professora e casada com um padre...
casada com branco, padre e estrangeiro”.
(FC. 62 anos).

66
Schick (1947), considera a obesidade como um sintoma significativo da
personalidade total, considerando o corpo como expressão das atitudes
instintivas do indivíduo. Este autor entende a hiperfagia como um hábito nocivo
e equipara a ingestão excessiva de comida à adição ao álcool ou a drogas
ilícitas. Ele fala da subjacente psicopatologia da adição no desejo inconsciente
de experimentar novamente a satisfação que o bebê obtém da ingestão de
comida.

7.7. Histórias de privação

Orbach (2003), alerta que muitas vezes a própria sensação de fome


amedronta determinados indivíduos, principalmente quando tiveram
experiências indesejáveis no passado como, por exemplo, quando não
dispunham de comida suficiente na infância. Por essa razão, muitas pessoas
comem antes que possam sentir fome. Nas falas do grupo esse comportamento
de compensação emocional em situações de privação aparece.
Observamos alguns comentários que elas ouviam quando crianças,
vejamos:

“Coma que amanhã não tem!” (FC., 62 anos)

“Não coma pela aparência.. coma o que tem”. (E., 50


anos)

“Não coma tudo, ainda tem os outros”. (MJ., 54 anos)

Em “Inibições, sintomas e angústia” (1926/1996), Freud correlaciona de


modo mais sistemático a questão da angústia com o comer e as patologias
alimentares. A função da nutrição é, com a maior freqüência, perturbada por
uma falta de inclinação para comer, acarretada por uma retirada da libido. Um
aumento do desejo de comer também não constitui coisa incomum. A

67
compulsão para comer é atribuída ao medo de morrer de fome, mas isto é um
assunto pouco estudado. O sintoma de vômitos é conhecido por nós como uma
defesa histérica contra o comer. A recusa de comer devido à angústia é
concomitante de estados psicóticos (delírios de ser envenenado).
Podemos observar que a ameaça de privação apresentou
características comuns em todos os relatos. O controle alimentar remete à
privação de alimentos na infância:

“Será que comemos tanto pela fome que


passamos”? (F., 43 anos)

“... passei tanta vontade e agora que posso, tenho de


controlar.” (MJ., 54 anos)

A relação de idealização que se estabelece com a comida e com o


corpo magro, enquanto objetos de desejo, é uma relação narcísica, que, como
assinala Freud (1914b/1996), se refere à “atitude de uma pessoa que trata seu
próprio corpo [ou outro objeto] da mesma forma pela qual o corpo de um objeto
sexual é comumente tratado”

“Coma para não ficar doente”; se não comer fica


magra e fraca.” (F., 43 anos)

Podemos considerar uma certa valorização implícita do corpo obeso no


grupo. E o corpo magro associa à privação de alimentos, à fraqueza e à
doença.

68
7.8. Vaidade

Após o encontro em que as mulheres foram pesadas e sentiram que


poderiam diminuir de peso, o grupo ficou muito entusiasmado com o resultado.
Perceberam que apenas algumas mudanças de hábitos poderiam favorecer o
emagrecimento. A partir deste encontro, começou a despertar a vaidade
feminina adormecida em cada uma destas mulheres.
Uma das participantes chegou com os cabelos mudados, alisou-os, e
segundo ela, resolveu se cuidar; acrescentou ainda “vou tratar dos dentes”. No
encontro anterior não havia comparecido, pois uma irmã havia falecido. Apesar
da dor pela perda da irmã falou da felicidade de colocar uma roupa que antes
não cabia mais.

“Quero ficar fina, sem peito, quero colocar as roupas


como minha irmã, ela parece uma executiva, só anda
maquiada, e essa roupa que uso me deixa
parecendo grávida.” (F., 43 anos)

Aos poucos, foram surgindo no grupo sementes de vaidade que


precisavam ser regadas para poder brotar. “Quem não se enfeita, a si se
enjeita.” Uma das pacientes falou:

“Sou vaidosa, gosto de cremes e perfumes. Agora


estou comprando até perfume da [....], me arrumando
mais e meus filhos perguntam: ‘mãe você ta
querendo arranjar um namorado?’... Sou viúva há
treze anos e vou aprender a dirigir.” (T., 56 anos)

Quando pensamos em corpo na atualidade, rapidamente nos


remetemos à discrepância entre o corpo do obeso e o protótipo de corpo

69
considerado ideal. Sobre a questão da beleza, Freud (1930/1996) faz
referencia, que na vida a felicidade é predominantemente buscada na fruição da
beleza, onde quer que esta se apresente a nossos sentidos e a nosso
julgamento, para o mesmo autor a atitude estética em relação ao objetivo da
vida oferece muito pouca proteção contra a ameaça do sofrimento, embora
possa compensá-lo bastante. A fruição da beleza dispõe de uma qualidade
peculiar de sentimento, tenuemente intoxicante. A beleza não conta com um
emprego evidente; tampouco existe claramente qualquer necessidade cultural
sua. Apesar disso, a civilização não pode dispensá-la.
A vivência do ser humano numa cultura de narcisismo implica num
constante fracasso do indivíduo e na estetização de sua existência. As
mulheres do grupo iam aos poucos mudando de atitudes, ficando mais
barulhentas, discutindo receitas de embelezamento, mudando seus objetivos,
fazendo planos para si.

“Meu corpo é feio e se pudesse fazia uma plástica...


mas não me inibe de namorar. Sou mãe solteira.” (F.,
43 anos )

A negação e insatisfação com o próprio corpo traduzem um mal-estar


interiorizado de uma ruptura entre si e o que se exige de si. Os sentimentos de
baixa auto-estima correm paralelos a esta constante insatisfação. Com a
freqüência dos encontros a idéia do emagrecimento parece que se apodera
destas mulheres e as tornam mais confiantes e aos poucos vai suavizando a
insatisfação consigo mesma.

“Talvez eu tenha que lutar mais para conseguir o que


quero. Lutar com a balança, com a comida e arrumar
tempo para me cuidar, cuidar da aparência, olhar
mais para mim.” (FC, 62 anos)

70
Inicia um novo processo em suas vidas, um processo de permissão
para o seu bem estar, do direito de cuidar também de si.
Para Varela (2006), o corpo obeso é um corpo marcado pelo excesso
de comida e pelo vazio afetivo, inchado no prazer e no desprazer, e movido
pela fome. Aqui, a fome é uma necessidade humana de regular o balanço
energético e garantir seu desenvolvimento. Entretanto, mesmo depois de
supridas as carências nutritivas, o ser humano obeso continua comendo, como
se houvesse uma falha entre o sinal corporal de se sentir repleto de comida e o
sinal psíquico correspondente. Para a autora, essa falha está diretamente
ligada à falta de simbolização de um sofrimento que encontrou como válvula de
escape satisfação no comer.

“...tem que gostar de si própria, comer menos e fazer


mais caminhada... Agora quem gosta de mim sou
eu.... tenho que cuidar de mim.” [diz o filho enquanto
ela se olha no espelho] ‘mãe você tá louca’? [ela
responde]: “tô, agora estou voltada para o meu
corpo”. [ela continua]: “É preciso fazer a alimentação
correta, não adianta querer, tem que lutar para isso”.
(F., 43 anos )

Em suas metamorfoses, ao sabor de seus fantasmas e dos modelos


culturais impostos, o corpo fala de seus medos ou de seu abandono e de sua
entrega a poderes reguladores.

“Tenho que continuar perdendo peso, e achar um


tempinho para ir para natação, fazer um sacrifício
para não gostar tanto de comida.” (MJ., 54 anos)

71
A maneira como o indivíduo lida, sente e percebe o seu corpo reflete
sua realidade, constituída de sentidos, imagens e significados dentro de um
universo simbólico,

“Acordar e lutar para emagrecer, olhar mais para


mim mesma. Nós costumamos olhar muito para os
outros, temos que olhar mais para nós mesmos. Tem
que ter muita força de vontade.” (E. 50 anos)

7.9. Vidas sofridas, vidas de dor, vidas marcadas

Procuramos de início focar na alimentação para aos poucos ir


pesquisando estilos e modos de vida, traumas, vazios, compensações que
possam auxiliar na compreensão das falas e achados:

“Tenho um filho doente, ele é excepcional, quando


dou comida a ele como junto para mostrar como se
come.” (SD., 25 anos)

Podemos observar o empenho desta mãe ao alimentar seu filho, a


culpa que pode estar escondida por ter gerado uma criança doente, a
importância da comida para melhorar a saúde e o esforço para que este filho
tenha um pouco de independência. Ela complementa:

“Meu menino, quando deixa resto no prato, eu como


para não estragar, é pecado jogar comida fora, tanta
gente passando fome, né?” (S. 30 anos)

Mais uma vez aparece nas falas a culpa e começa a surgir o sofrimento
no qual estas mulheres foram criadas.

72
“Tem muita vontade dentro de mim que minha mãe
não tinha. Meu pai bebia muito e tudo da casa era
por conta da minha mãe, ficávamos assustados todo
final do dia sem saber se ele chegaria bêbado ou
não... Tinha que comer o que tinha em casa, às
vezes minha mãe não tinha o que dar para comer
aos filhos. E hoje tenho que fazer dieta! Você se
pega pensando: passei tanta vontade e agora posso
e tenho que controlar. Se eu estou viva muita coisa
eu posso realizar. Estou ainda me sentindo pesada,
mais vou conseguir meu objetivo.” (T.56 anos)

Podemos observar que o desafeto que aparece nas vidas destas


mulheres talvez seja atenuado com comportamento compulsivo, como o desejo
desenfreado de comer.
E., 50 anos, cuida de uma irmã portadora do HIV, transmitido pelo
marido e faz hemodiálise.

“Quando ela fica ruim eu também fico... meu


cunhado às vezes a maltrata. Mesmo debilitada ele a
pega a força para ter relações sexuais, é um
monstro. A gente vê tanta coisa que até se esquece
da gente”. (E., 50 anos).

Conforme afirma Freud (1924/1996), dentro do desamparo há um


masoquismo circulante e, neste caso, o conceito de masoquismo circulante
será fundamental para se compreender a obesidade.

73
“Sempre soube que minha obesidade estava ligada
ao estresse, querer mudar o mundo, querer mudar a
Igreja. O dogma da Igreja Católica é muito pesado.
Meu marido trabalhou para a Igreja anos e anos, e
porque resolveu casar perdeu tudo, não tem direito a
nada... Continuamos como católicos. Ele é
estrangeiro e só tem a mim aqui no Brasil” (FC., 62
anos).

Conrad (1954), afirma que a comida é como um narcótico para a


pessoa obesa e que esta procura no alimento um escape das situações
estressantes da vida. Além disso, essa autora ressalta o papel da hostilidade na
hiperfagia, aumento anormal do apetite ou ingestão excessiva de alimentos,
mostrando que a agressividade e a hostilidade reprimidas são uma das mais
freqüentes e importantes causas do comer em excesso.

“Meu pai que era muito violento, espancava muito


minha mãe. A gente não passava fome porque minha
mãe criava cabra” (T., 56 anos).

Elas demonstravam dificuldade de falar sobre sua história de vida,


principalmente sobre a infância. Sempre desviavam o assunto falando de
comida. Falavam que na infância a comida era preparada com banha de porco
e que a carne era guardada em latas com banha, riam e se descontraíam com
as lembranças. Fiquei receosa de abordar mais profundamente a dor de suas
histórias. Achei que era preciso deixar fluir naturalmente no decorrer dos
encontros. Afinal, a proposta era emagrecer. Os encontros passaram a ser os
momentos de prazer destas mulheres, enfim, um tempo para elas.

74
“A gente, quando não vem, sente falta da doutora e
das meninas...” (F., 43 anos)

São mulheres que lutam pela sobrevivência, são pessoas que têm seus
corpos marcados pela exploração no trabalho e pela violência doméstica,
qualquer atenção é um alento para sua dor.

“Aqui a gente ri e olha para gente.” (MJ., 54 anos)

Mais uma vez aparece nas histórias o pai que maltratava muito a mãe e
batia muito nos filhos:
“Eu tinha medo, tentava fazer tudo certinho, mas
mesmo assim apanhava” (E., 50 anos).

A figura da mãe protetora, provedora e amorosa, e a figura paterna


agressiva, sempre estiveram presentes nas histórias do grupo. As pessoas não
se agrupam por acaso; além da obesidade, motivo comum a todas, começam a
aparecer semelhanças nas histórias de vida, como a da mãe solteira que mora
com a mãe idosa, de 80 anos, e um filho de 23 anos:

“Meu pai era louco, não bebia nem usava droga, mas
às vezes por nada resolvia bater na gente, tirava a
roupa de todos, amarrava em uma árvore e ‘metia o
chicote’... depois dava banho de sal, era uma dor
terrível, fazia sempre quando a mãe não estava em
casa.”

Espantosamente, deu continuidade ao relato:

75
“Um irmão foi espancado até a morte, em outra
ocasião distraiu o pai para que o outro irmão fugisse,
mas mesmo assim ainda rachou a cabeça pelo meio.
Ficou escondido na casa da tia por muito tempo. O
outro irmão morreu no córrego que passava por trás
de casa e em uma noite de muita chuva foi
atravessar por uma ponte que o pai construiu, caiu e
um pedaço de madeira atravessou seu corpo, foi
encontrado morto no dia seguinte” (F., 43 anos).

Este relato nos instigou a muitas hipóteses e interrogações. Será que


tudo era verdade? Como poderia ter suportado tanta dor? Diante de tal
circunstância dolorosa pode existir a possibilidade do ato de comer ter se
tornado um alívio da dor. A compulsão por comida talvez tenha se tornado uma
maneira de introduzir no corpo algo que pertence a uma instância psíquica,
utilizando as ações para dispersar as emoções.

“As pessoas dizem: se você não fizer tem alguém


que faz, mas não é bem assim, fui passar o final de
semana fora, quando cheguei minha irmã estava de
cama, ninguém chegou junto dela e moram todos
perto. Tenho dó!” (E., 50 anos).

T., 56 anos, cuida do pai com 90 anos e do irmão que foi acidentado e
não consegue fazer uma cirurgia que é necessária para poder andar:

“As coisas só sobram para mim, daí eu termino


fazendo logo” (T., 56 anos).

76
Foi relatado por MJ, 54 anos, que os filhos não se dão muito bem com o
pai; ela fica dividida, tem um filho alcoólatra que dá muito trabalho e vive com
uma mulher muito mais velha do que ele que também é alcoólatra.
Também surgiu na fala das mulheres o papel do alimento como um
alívio para os dilemas diários, as tensões, a falta de dinheiro, a violência, a
responsabilidade com a casa e a família.

“esta semana meu marido e eu vimos uma pessoa


sendo espancada em frente a nossa casa, acho que
até a morte, isto abala. O rapaz que espancou mora
perto de casa e nos ameaçou...”

E continua:
“... o cartão de credito do meu marido veio com
compras que ele não fez e a operadora disse que ele
tem que pagar e que as compras foram feitas com
sua autorização. Vamos quebrar o cartão... é muita
coisa, e ainda tem que não comer!” (MJ., 54 anos).

Os relatos de ordem psíquica possivelmente não existem na mente


dessas mulheres, talvez, os conflitos que deveriam ser resolvidos nessa
instância dirigem-se para o funcionamento orgânico produzindo e mantendo a
obesidade.

“As coisas mudam, mudam horários e a gente não


conseguiu se organizar” (T., 56 anos).

As mulheres falaram da dificuldade de comparecer aos encontros.

77
“Agora arranjei um bico, não posso mais vir” (F., 43
anos).

O corpo obeso é, de uma certa forma, cúmplice da história de vida das


participantes do grupo. É por intermédio dele que estas mulheres encontram
refúgio para os inúmeros dilemas impostos pela vida em meio à pobreza e à
escassez.
Com as suas histórias, como podemos tirar a única fonte de prazer
destas mulheres? Quantas mulheres iguais a estas existem por aí, sem que
tenham uma “escuta” que possa lhes dar um prumo?

7.10. Vida sexual, erotismo e boca

A sexualidade humana não é uma dimensão isolada na vida de cada


um; é uma somatória integrada do orgânico, do psíquico, e só se realiza no
plano social. A boca representa uma parte íntima do nosso corpo. Na boca
manifestam-se, de forma direta ou simbólica, sintomas influenciados pelos
instintos básicos do homem. A boca é gratificante, pela alimentação e por
aspectos relacionados ao sexo; associa-se também a várias manifestações de
hostilidade e agressão. Seu erotismo começa no desenvolvimento da
personalidade (fase oral), explicado por Freud (1905/1997).
Para Woititz (1989), obesidade também pode ser vista como forma de
se tornar indesejável. A obesidade pode adquirir a função de evitar ter que lidar
com a própria sexualidade.
Foi muito interessante observar como elas colocaram as respectivas
sexualidades: é como se a mulher tivesse que servir sempre aos caprichos
sexuais do homem, e quando conseguem dizer não e o companheiro aceita, ele
já é muito bom. Essas colocações remetem ao questionamento de algumas
possibilidades: será que estas mulheres sabem o que é o prazer em uma
relação sexual? E quanto aos homens? As mulheres seriam para eles apenas

78
depósitos de espermatozóides e cozinheiras, eternamente ao seu dispor?
Instiga-nos ainda a considerar sobre o que seria o medo da separação. O que
as mantém casadas ou com o quê estão casadas?

“Meu marido é muito bom para mim, ele nem bate


em mim.” (MJ., 54 anos)

O desejo muitas vezes tem componentes inconscientes, o que pode


nos levar a acreditar que manter-se obeso pode satisfazer determinados
aspectos psíquicos do sujeito, como, por exemplo, evitar o sexo.
Com este relato podemos relacionar a obesidade como defesa da
sexualidade. Observando a história do grupo, todas engordaram após uma
gravidez ou o casamento.

“Mulher enjoa de sexo... mulher cansa, homem não”


(T., 56 anos).

Se a auto-estima está baixa, logo evitam o contato com outras pessoas,


reduzindo as possibilidades de uma vida sexual ativa. Para Rubin (1979) é
neste momento que o obeso, sentindo-se inadequado, troca o prazer sexual
pelo prazer da comida, agravando mais ainda o problema.
De acordo com o pensamento de Kaufman (2000), existe relação entre
comer exageradamente e sentir frustração sexual. Nem todas as pessoas
sexualmente frustradas comem exageradamente, mas o inverso é verdadeiro:
as que comem de forma compulsiva não se sentem sexualmente gratificadas
(com sensação de plenitude, calma e satisfação). A pessoa sexualmente
realizada tem um contato satisfatório com seu corpo, percebe as suas
necessidades e procura racionalmente atendê-las.
Segundo o mesmo autor, várias mulheres, ao se tornarem adultas,
engordam com medo de serem transformadas em objetos sexuais. Outras ficam

79
obesas como forma de neutralizar sua identidade sexual perante as outras
pessoas; para estas, o peso constitui-se uma proteção, por trás da qual se
escondem.

“homem quer todo dia, aí a gente tem que fazer se


não ele fica com raiva” (M.J., 54, anos).

“Se a gente não faz em casa ele procura na rua, aí é


pior” (E., 50 anos).

Notamos nas falas destas mulheres certa submissão e medo.

“Às vezes a gente não quer, mas a gente depende


deles, aí tem que fazer” (T., 56 anos).

Freud (1915/1974), comenta sobre o prazer ligado à dor: na posição


masoquista, o sujeito se agarra ao outro, oferecendo a esse outro o próprio
corpo, que servirá de objeto de prazer. Dessa forma, ele evita, a todo custo, a
tragicidade da experiência de desamparo. A solidão contida no desamparo é
insuportável para tal indivíduo, de forma que ele prefere se agarrar ao outro a
suportar a própria angústia. Assim, o que caracteriza o masoquismo não é o
desejo de ser humilhado ou de sentir dor, pois ambos os desejos surgem de
maneira secundária, e são derivações da impossibilidade de suportar o
desamparo.
Para Freud (1917/1996), o objetivo fundamental da atividade mental é
obter prazer e evitar o desprazer, e o sintoma, ao ser examinado do ponto de
vista econômico, surge para controlar as quantidades de excitação e evitar sua
acumulação no aparelho mental (que gera o desprazer). As excitações são
sempre produzidas; entretanto, algumas são impedidas de atingir seu alvo e

80
empurradas para muitos outros caminhos. O resultado pode se aproximar de
uma vida sexual normal (restrita, na maioria das vezes), ou complementada
pela doença psiconeurótica.
A obesidade pode ser um mecanismo de defesa utilizado pela obesa
para negar sua sexualidade, para proteger-se do assédio dos homens. É como
se seu objetivo fosse construir um muro de carne entre ela própria e os outros.
As mulheres engordam como uma forma de neutralizar sua identidade sexual.
Muitas mulheres mostram um claro temor de parecerem sexualmente atraentes
(Kaufman 2000).
F., 43 anos, disse que não possui tanto apetite sexual, acha que é a
gordura. Outra acrescentou que só veio conhecer o que é o prazer de uma
relação sexual depois do nascimento do terceiro filho.
Barros (1996), assinala que na obesidade há a pobreza da vida sexual
do indivíduo. “A necessidade de amor é confundida com a necessidade de
comida”. O que pode nos remeter ao período da amamentação onde amor e
alimentação talvez fossem a mesma coisa.
Para Bychowski (1950) e Schick (1947), o alimento pode representar
uma gratificação simultânea da sexualidade e da auto-estima. Campos (1998),
afirma que o alimento significa um substituto do amor e do prazer sexual e que
certos indivíduos têm convicção de que o prazer sexual é uma coisa má e
proibida, buscando, assim, um substituto para este. Nesta situação, a
obesidade serve como uma barreira, dificultando as relações sexuais e o prazer
oral, da alimentação, substituindo o prazer genital.
Podemos observar nos depoimentos que a busca do alimento aparece
quando se sentem rejeitadas, sem dinheiro e sem perspectivas, então usufruem
daquele momento como um alento, muito embora logo depois venha a culpa.

“Quando eu estou agoniada, aí eu vou e como... não


devia ter comido... mas já tô gorda mesmo...” (T., 56
anos).

81
Logo, essa culpa aparece em busca de coisas para preencher a falta, o
vazio.
O que elas sentem é um desejo muito forte, muitas vezes até
incontrolável. É quase uma ordem, uma necessidade de comer, à qual não
resistem mesmo, comem irracionalmente porque na hora sentem prazer. É um
alívio muito grande. Quando acaba vem uma tristeza, um remorso. É um prazer
efêmero.
Nos encontros tentou-se conduzir as participantes a enxergar o quê as
fazem buscar na comida o preenchimento do vazio e por quê o alimento
aparece como um alívio.
Todos nós temos necessidade de amor. Como, muitas vezes, é
complicado amar as pessoas porque elas decepcionam, alguns passam a amar
coisas ou em alguns casos a comida.
O grupo concluiu que os encontros realizados ajudaram muito,
auxiliaram a disciplinar a alimentação, criar um espaço em suas vidas dedicado
a si mesmo, segundo elas, enxergar coisas que antes não observavam, como
por exemplo, o momento em que estão nervosas ou estão com fome.
Essas mulheres, todavia, não buscavam a beleza física, mas, as
condições mínimas de sobrevivência, um desejo comum a todas elas:

“União para a família, saúde, paz e resolução da sua


aposentadoria na caixa.”

Percebemos que um dos fatos que pode ter dificultado maior


aprofundamento tenha sido as faltas aos encontros, o que é compreensível
diante das dificuldades que estas mulheres enfrentam. Os trabalhos com o
grupo eram realizados em locais onde as pessoas necessitavam de transporte,
o que incluía mais despesas. Quanto ao horário, por ter sido realizado em
horário comercial houve a agravante de elas estarem sempre atarefadas com
seus afazeres. É comum na vida destas mulheres serem pagas por vizinhos ou

82
familiares para cuidar de crianças (netos, sobrinhos), enquanto os pais
trabalham.

7.11. Retorno

Um ano e 8 meses após o término do grupo, entramos em contato com


as 6 mulheres que finalizaram. O contato foi feito por telefone. O objetivo deste
encontro seria fazer uma retrospectiva das participantes e avaliar o que foi de
fato introjetado na vida delas com a participação do grupo.
O primeiro contato por telefone foi realizado com F., 43 anos.

“hei! você sumiu?!... pegue aí uma caneta, é a minha


psicóloga?” (F., 43 anos).

Foi dado o endereço onde seria o local do encontro - Rua Rio Branco,
36 COHAB II – Carapicuíba, um espaço cedido por uma ONG CK São Paulo
Apóstolo.
Foi confirmado o comparecimento. Entramos em contato com a
segunda mulher.
“Não sei se vai dá, estou cuidando de uma netinha”
(T., 56 anos).

Elas continuam com o mesmo estilo de vida, não têm tempo para elas.
A dor permanece na vida das mulheres com condições de vida bastante
adversas, em que as dificuldades limitam quase que totalmente a busca daquilo
que é necessário e traz felicidade só para elas.
O terceiro contato:

“Ho! doutora... estou tão gorda... minha irmã faleceu,


perdi o ânimo, eu fazia tanta coisa com ela... Meu

83
marido agora está com câncer no esôfago...
Obrigada por ter ligado” (E., 50 anos).

O quarto contato:

“Eu engordei 2 quilos... meu marido ficou doente”


(FC., 62 anos).

No quinto contato atendeu o marido: “ela foi para igreja”. Anotou o


endereço do lugar do encontro, falou que ela iria e que ligaria assim que
pudesse. MJ., 54 anos, não ligou, liguei na véspera, o marido confirmou a
presença. Ela não compareceu, ficamos na dúvida, será que de fato foi dado o
recado?
No telefonema seguinte, M., 42 anos, achou bom ter ligado, disse que
estava mais gorda e que estaria presente no encontro.
Carapicuíba, 14h00, horário marcado para o encontro, não apareceu
ninguém... Meia hora depois apareceu FC., 62 anos, e após 30 minutos
apareceu E., 50 anos.
No decorrer dos encontros já era difícil o comparecimento destas
mulheres e já se havia estabelecido um vínculo, após todo este tempo as
dificuldades aumentaram.

“Meu marido está com Alzheimer, esquece muita


coisa...Vim só para ver vocês, não posso ficar muito
tempo longe dele [chora] ... está muito difícil para
mim, em questão de três meses ganhei 2 quilos. Não
esqueci os exercícios, passei para muita gente que
faz e dá resultado. Não estou andando, sei que está
errado, as reuniões davam suporte e fazia com que a
gente se lembrasse que estamos vivas, que temos
de nos cuidar” (FC., 62 anos),

84
Os possíveis empecilhos que dificultam a participação dos encontros
são: o trabalho, o dinheiro para passagem e outras dificuldades decorrentes do
modo como vivem essas mulheres.

“Eu estou também na luta! As reuniões me


acalmavam, só como quando estou nervosa. A gente
sabe que está fazendo a coisa errada, mas não é
como antes, que tinha os encontros. Fiquei muito
com a minha irmã, ela faleceu e eu fazia tanta coisa
com ela e me perdi, fiquei muito desanimada, não
faço mais as caminhadas... Eu ficava mais contente
quando vinha para os encontros” (E., 50 anos).

Os encontros serviram de espaço social onde tiveram oportunidade de


conviver em grupo de iguais, por compartilharem das mesmas dificuldades.
Trocavam receitas de culinária, dicas de resoluções de problemas e funcionava
como uma espécie de lazer gerava bem-estar. Elas talvez não tenham
percebido que estes encontros tinham fins terapêutico, e que este processo
pode ajudar para eliminar a obesidade.

“Por mais que perca peso, sempre vou ser grandona,


mas vai ser um peso que não atrapalha a minha
saúde... os encontros foi uma forma de ter tempo
para mim” (FC., 62 anos).

Percebemos nas falas que as dores vivenciadas por estas mulheres no


seu dia-a-dia são cíclicas. É como se elas estivessem fadadas a serem
perseguidas por tragédias.

85
“Só começar a ficar nervosa às vezes já identifico,
não deixo mais minha geladeira cheia... hoje como
de 3 em 3 horas, eu distingo o que é fome e me
controlo quando vou a uma festa, já estou
consciente... Sei que engordei por causa do
nervosismo, da doença do meu marido” (FC., 62
anos).

As falas mais uma vez evidenciam dor, sofrimento. Freud (1908/1980),


comenta.

“A pulsão coloca à disposição da atividade civilizada


uma extraordinária quantidade de energia, em virtude
de uma singular e marcante característica: sua
capacidade de deslocar seus objetivos sem restringir
consideravelmente a sua intensidade. A essa
capacidade de trocar seu objetivo sexual original por
outro, não mais sexual, mas psiquicamente
relacionado com o primeiro, chama-se capacidade de
sublimação.”

E a sublimação surge como a manutenção do objeto da pulsão, onde


existe a transformação do alvo da pulsão.

“É, eu também... o meu marido agora não está muito


bem, começou a fazer uns exames está com câncer
no esôfago, ele colocou sangue pela boca, vai tomar
remédio ou fazer uma cirurgia, tem 58 anos e está

86
parado” [expressão usada para quem não está
trabalhando]. (E., 50 anos).

A relação com a alimentação, afirma Jeammet (In Urribarri (Org.), 1999,


p. 37), é “o protótipo do conjunto das relações que são feitas de uma luta ativa
contra um desejo de se apropriar daquilo que lhes falta, um desejo de se
preencher sem restrição”.

“o meu marido é irlandês e os irmãos arrumaram


para ele ir para lá, vamos a princípio passar 6
meses... Comecei a engordar de janeiro para cá, não
me pesei mais, sei que engordei, minhas roupas
estão apertadas.” (FC., 62 anos).

A escolha pela comida como objeto de alívio pode se dar porque


inicialmente aprendemos a lidar com situações estressantes usando o próprio
corpo e a alimentação, e muitas vezes continuamos a usar essa dinâmica
quando nos deparamos com situações nas quais outros recursos falham, como
ocorre nas patologias alimentares. Recorrer ao próprio corpo é, assim, retomar
um objeto narcísico e recorrer a formas primárias de satisfação (Nogueira e
Gromann, 2005).

“como fiquei um pouco parada aí engordei, mas


agora estou comendo até arroz integral” (E., 50
anos).

Para nossa supressa as duas estavam exatamente com o peso que


iniciaram o grupo, E., 50 anos, com 100 kg, e FC., 62 anos, com 106 kg, o que
deixa evidente a necessidade de apoio.

87
O que podemos observar é que estas mulheres, após 1 (um) ano e 8
(oito) meses, voltaram ao peso inicial. O que fica em questão é: se o grupo
tivesse continuidade, o peso que seria mantido não seria o obtido com o
emagrecimento?
FC., 62 anos, e E., 50 anos, foram orientadas para procurar manter as
orientações que receberam no decorrer dos encontros e voltar ao
endocrinologista do posto, pois desconheço algum apoio à pessoa obesa em
algum serviço público de saúde em Carapicuíba.
Apesar dos encontros realizados, acreditando ainda que estariam mais
acessíveis a diversas oportunidades de informações sobre obesidade, estas
mulheres não conseguiram eliminar o foco que provoca a ansiedade e angústia
que são supridas com a comida.
Neste sentido, compreendemos que é necessário mais tempo de
encontros, ser criadas condições econômicas (transporte, inclusive) para que
possam assim freqüentar os encontros e que possam alavancar suas vidas.
Surge aí o desafio da cura da obesidade “sem medicamento”. Além da
crença da população a respeito do remédio que resolve tudo, os laboratórios
farmacêuticos reforçam a magia dos remédios, fragilizando cada vez mais o
poder dos pacientes, seja em obter uma disciplina alimentar ou praticar
atividades físicas. Precisa ser visto que a saúde não se esgota somente na
forma clínica, existe uma enorme extensão no emocional.
Talvez não possamos falar da obesidade desarticulada não só da dor
física causada pelo excesso de peso, nem da dor do ser obeso, disforme,
discriminado, limitado na posse de roupas e espaços em que caiba, mas da dor
moral, da dor causada pela vida.
Para estas pessoas o supermercado é o principal lugar de lazer. Talvez
pela dificuldade financeira, seja para eles a paisagem mais bonita, “a comida”,
coisa que não estão acostumados a ver em abundância em suas casas.
Por sua vez, os supermercados instigam a compra de guloseimas,
sendo isto um fator importante para a obesidade e, como se ainda não

88
bastasse, confundem os consumidores sobre o que é diet, light e o que é
saudável.
O que acontece com esta boca que não sabe parar? Está sempre
querendo mais, desloca a função da nutrição e passa a ser uma área
unicamente de prazer bucal. Como fazer para desmistificar o alimento como a
boa fonte de prazer?

8. Considerações Finais

As reações apresentadas pelas mulheres deste estudo corresponderam


a uma longa trajetória de sofrimento e dor, iniciando na infância e se
estendendo pelo decorrer de sua vida adulta. Apesar do fardo da dor que
carregam, os relatos indicaram que foram tomando consciência da sua
obesidade e da condição de vida que têm, incluindo sua alimentação.
Percebemos que a comida serve de paliativo para amenizar a dor.
Entendemos que a escuta terapêutica, a atenção, o contato com outras
mulheres com dificuldades semelhantes, restabelecem e impulsionam para
enfrentar a realidade. A constância do atendimento pode levar à redução de
peso, sabendo-se que, para o tratamento da obesidade, é necessário uma
equipe multidisciplinar.
Com as observações realizadas, vejo uma população sem perspectiva
de futuro. Seu mundo é o aqui e o agora. A compreensão da doença se
manifesta no momento que sentem dor ou qualquer limitação física, sendo
reforçada por algum papel, seja ele uma receita para medicamento, ou um
atestado médico ou mesmo um exame. Sem algo concreto, é difícil de
entender.
O entendimento da obesidade como problema a ser enfrentado pela
saúde pública requer a compreensão do contexto onde o individuo vive; espaço
compulsório das suas relações produtivas, afetivas e sociais. Portanto, a

89
análise realizada no presente estudo reinvidica, como um dos fatores
importantes para a compreensão da obesidade sofrida por este grupo de
mulheres, um olhar sobre Carapicuíba, a cidade carente, sem perspectiva de
futuro, de produção afetiva e social para sua população; que compromete o
prazer e tira a alegria daqueles que nela residem.
Do ponto de vista psico-social, a obesidade tem sua causa e
conseqüência diretamente e/ou intrinsecamente ligada aos fatores emocionais;
seja pela ansiedade; angustia; nervosismo e frustrações que são fatores
predisponentes ao quadro da obesidade; ou pelo impacto que a mesma possui;
na auto-estima do individuo; diretamente relacionada com sua vaidade;
relações interpessoais incluindo ainda as relações conjugais se transformando
em ameaça (quando impossibilitado da atividade sexual rotineira) ou a
segurança (quando fornece a estabilidade do parceiro) se transformando ao
mesmo tempo em mecanismo de defesa e ameaça, fazendo com que as
mesmas, muitas vezes, sequer se reconheçam como obesas.
Nesta perspectiva, a relação dor-prazer pode ser compensada pela
ingestão de alimento em excesso, estando a boca no centro deste binômio. A
qual se constitui na primeira ligação entre corpo e o meio externo, sendo
associado ao prazer, como relatado por Freud (1905/1997) ou com o uso da
categoria “bucalidade”, termo usado por Botazzo (2006), que estabelece as
relações da cavidade bucal e sua articulação com a vida das pessoas que não
fica só nas funções atribuídas à boca e aos seus órgãos, mais também à
linguagem, ao prazer e à mastigação. São, em ambos os casos, funções
intimamente ligadas à cultura e ao psiquismo. É desta forma que o alivio da dor
também pode propiciar o consumo excessivo de alimento.
Por último, o presente trabalho traz a perspectiva da utilização das
técnicas psicoterápicas no tratamento da obesidade. Relata também limites e
possibilidades da utilização deste método na abordagem do problema. As
possibilidades estão na amplitude do seu arcabouço teórico- metodológico. O
trabalho de conscientização psicoterápico traz a possibilidade de fazer com que

90
as pessoas pesquisem sua relação com o próprio corpo, com a família, com a
vida afetiva e sexual, enfim, com um universo que parecia sem perspectiva. A
partir do uso deste método, pessoas obesas talvez possam compreender seu
estado como um sintoma, buscando o tratamento dietético aliado ao tratamento
psicoterapêutico, e assim encontrar um caminho para a compreensão de si.
Concluímos que, apesar dos resultados positivos e conseqüente bem-
estar adquirido pelos participantes dos grupos realizados, podemos sugerir um
modelo de atendimento em longo prazo, em que seja criado um espaço de
escuta dos relatos de vida dos pacientes, para reflexão destes sobre si próprios,
suas condições, limitações e, sobretudo, suas possibilidades e, paralelamente,
orientação de atividades físicas e novas práticas dietéticas, auxiliando esse
tratamento e ampliando sua eficácia para o nível local. No entanto, pela
complexidade do problema da obesidade; o qual pode ser uma manifestação de
conflitos e vivências sofridas, deve ser através de uma ação multiprofissional. É
importante que os profissionais estejam atentos as recomendações viáveis para
a realidade da população e as instituições mobilizarem melhor atendimento
para que possibilite o resultado.
Por outro lado, é necessário que protocolos específicos voltados para o
problema da obesidade sejam adotados na saúde pública no Brasil,
ressaltando-se a importância de implantar estratégias para que isto ocorra
efetivamente, envolvendo equipes multidisciplinares compostas, dentre outros,
de médicos, psicólogos, nutricionistas e educadores físicos.

“Viver e não ter a vergonha de ser feliz, cantar a beleza de ser


um eterno aprendiz”. O que é O que é. Gonzaguinha

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ANEXOS
Anexo I

100
Questionário Utilizado

Nome: __________________________________________________________
Endereço: _______________________________________________________
Data de nascimento.____________idade:______Sexo:______Cor___________
Peso ______________ Altura _________________ IMC __________________
Casada __________Solteira______________Filhos______________________
Número de pessoas no domicílio: _________ Escolaridade:________________
Renda familiar ____________ Emprego: _______________________________
Religião _________________________________________________________
Horas gastas por dia assistindo TV: __________________________________
Come assistindo TV? ______________________________________________
Qual o seu lugar na família? _________________________________________
Tem algum obeso na família?________________________________________
Quando se percebeu gorda?_________________________________________
Porque quer emagrecer?____________________________________________
Em que a gordura te incomoda?______________________________________
Na infância ou adolescência tinha alguma mania?________________________
Roe unha?______Lápis?_____ Usou chupeta?______Até que idade?________
Outros? _________________________________________________________
Acorda a noite para comer? _________________________________________
Come escondido? _________________________________________________

Faz atividade física? _______________________________________

101
Anexo II

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Estou informado que o objetivo desta pesquisa é investigar as causas


psicológicas que levam à compulsão bucal e podem, conseqüentemente, levar
à obesidade.
Minha participação no grupo de pesquisa é voluntária. Os resultados
desta pesquisa podem ser publicados em revistas científicas ou apresentados
em eventos com o mesmo fim.
Estou também ciente de que os dados e informações pessoais
coletados pelo pesquisador são confidenciais, que não serei identificada(o) e
que não receberei nenhuma ajuda financeira ou remuneração.
Do mesmo modo, posso me retirar da pesquisa no momento que
desejar, estando informado(a) que esta participação não acarretará nenhum
dano à minha saúde.
Fui informado que deverei comunicar a pesquisadora caso venha ou
necessite tomar remédios para controle de gordura, tratamento para
hipertensão ou diabetes ou moderadores de apetite e que as reuniões
ocorrerão semanalmente durante 2 horas, em um período de 6 meses a 1 ano.
Estou ciente que serei acompanhado(a) pela pesquisadora durante o
tempo de funcionamento do grupo e que terei acesso aos serviços da unidade
de saúde de acordo com os princípios do SUS.

____________________________________
Assinatura

Carapicuíba, _____ de ____________ de 2006.

Pesquisador responsável: Vera Lúcia Sampaio Moraes


Orientador: Prof. Dr. Carlos Botazzo

Endereço: Instituto de Saúde. Rua Santo Antônio, 590, Bela Vista, Centro,
São Paulo. Telefones: 3293-2226 (trabalho), e 9947-2234 (Vera Lúcia)

102

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