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Henry Mintzberg
O senhor tornou-se em sua opinião, o que não vai dúvida (e há muita evidência para
mundialmente conhecido bem com essas escolas? isso) sobre se esses estudantes têm
por suas críticas ao modo
como atualmente funcionam
as escolas de negócios e a
H: Em primeiro lugar, não
parece haver muita garantia
de que os estudantes com os quais
habilidades de liderança ou mesmo
sobre se eles desejam ser líderes.
Alguns desejam, é claro; e alguns
educação executiva no mundo lidam as escolas de negócios sejam as possuem aquelas habilidades. Contu-
ocidental. Em linhas gerais, pessoas certas. Ou seja, tenho muita do, receio que as técnicas de seleção
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negócios não é a mesma coisa que a técnicas – por exemplo, técnicas de lhando normalmente. Nós as que-
prática da gestão. Misturar essas fun- enriquecimento de recursos humanos remos no trabalho, como líderes, e
ções todas numa mesma pessoa não é ou modelos de portifólio para recursos então podemos focar a aprendizagem
garantia de que ela vai se tornar um financeiros. Veja, não estou dizendo na reflexão de suas próprias ativida-
líder. Entendo que, ao mesmo tempo que as técnicas não são importantes des gerenciais. Trazemos os conceitos
em que as escolas de negócios são para a administração; estou querendo e as idéias, casos e teorias; elas trazem
bem-sucedidas em analisar coisas, chamar a atenção para o fato de que sua experiência. A idéia é focar o
separando-as em funções especializa- elas devem ser cuidadosamente usa- máximo de aprendizagem possível
das, elas não são bem-sucedidas em das, e considerando o contexto. Ou sobre suas próprias experiências.
aglutinar coisas, sintetizando-as em seja, as técnicas não devem ser usadas Desse modo, a idéia que entendo ser
uma visão coerente ou num sistema indiscriminadamente por pessoas promissora é usar a experiência dos
integrado. Em meu livro sobre os que, ansiosas, recorrem a elas para líderes, e não apenas o currículo dos
programas de MBA, comparo dois compensar sua falta de experiência professores, fato que entendo ocorrer
modos de conceber esta síntese. pessoal. Vocês já devem ter ouvido hoje na maior parte das escolas de
O primeiro é dado pelo “modelo a famosa regra da ferramenta: dê a negócio ao redor do mundo. O foco
Ikea”: as escolas oferecem as partes alguém um martelo e tudo para ela vai dessas escolas deve ser na geração de
e os estudantes montam o conjunto. parecer com um prego. Pois bem, os insights, e não no rigor, tampouco na
Infelizmente, não há um manual de programas de MBA estão dando a seus relevância.
instruções e, infelizmente para o estudantes tantos martelos que muitas
estudante, embora as partes pareçam organizações estão se parecendo com Em um artigo recentemente
estar cuidadosamente arrumadas para uma cama de pregos. postado em seu site,
se encaixarem, elas não se ajustam intitulado “Como a
umas às outras. A gestão, no mundo Sabemos que o senhor tem produtividade matou as
real, é muito mais parecida com as estado à frente de uma empresas americanas”,
peças de um jogo Lego. Não há um iniciativa, na McGill, que o senhor faz uma pesada
único modo de juntar as peças, e é procura oferecer o produto crítica à prioridade que as
preciso tempo para que se construam certo para as pessoas empresas dos EUA têm dado
estruturas interessantes. certas, ou seja, fornecer ao mercado financeiro em
às pessoas que exercem, detrimento de funcionários,
Essa ênfase das escolas efetivamente, funções crescimento sustentável
de negócio em análise de de liderança o tipo de e mesmo dos clientes. O
funções administrativas não conhecimento e reflexão senhor poderia nos detalhar
poderia ter a contrapartida sobre suas próprias seu argumento?
de estimular nos alunos uma
falsa crença de que liderança
práticas. Como funciona
essa iniciativa? H: No artigo a que você faz
menção, defendo que a pro-
e gestão se resolvem com
fórmulas prontas? H: A premissa do International
Masters in Practicing Mana-
dutividade tem destruído as empresas
americanas. Isso porque temos de
Pedro F. Bendassolli
Professor do Departamento de
maximização do valor ao acionista compensação pessoal massivo que
Fundamentos Sociais e Jurídicos da
quando a maioria deles nunca sequer o diferenciasse de qualquer outra FGV-EAESP
se depararam com os acionistas, pessoa na organização, incluindo pro- Doutor em Psicologia Social pela USP
muitos dos quais negociantes diários teções que não estão disponíveis para E-mail: pedro.bendassolli@fgv.br
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