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Uma síntese incompleta da Gramática – 12º ano

Pronome Pessoal
Contam-se entre os pronomes pessoais os seguintes:
o Reflexos – Lavei-me. Lavou-se.
o Recíprocos – O João e a Ana amam-se (um ao outro). * O sujeito tem de ser plural.
o “se” impessoal – Diz-se que o Pedro chegou. (= Há quem diga que o Pedro chegou) * O verbo
encontra-se na 3ª pessoa.
o “se” passivo – Vendem-se apartamentos. (= Apartamentos são vendidos)
o “se” inerente – Ele arrependeu-se. Abster-se. O pronome pessoal é parte integrante do verbo.
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Colocação dos pronomes átonos
● posição medial – com o verbo no futuro do indicativo ou no condicional – amar-te-ei; amar-te-ia.
● posição anteposta ao verbo:
- nas orações iniciadas com pronomes e advérbios interrogativos – Quem me procurou?
- nas orações subordinadas – Quando o vi, parei. Peço-te que o ouças.
- integrada numa frase negativa – Não o vi. Jamais o encontrei. Ninguém o viu.
- nas orações iniciadas por palavras exclamativas e nas orações que exprimem desejo
- Bons olhos o vejam! Que a vida te sorria sempre.
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Valor dos Adjectivos
o Valor restritivo – Turistas estrangeiros visitaram Braga. O adjectivo encontra-se a seguir ao nome e
pode ser substituído por uma oração relativa restritiva [Turistas que são estrangeiros visitaram
Braga].
o Valor não restritivo – Encontrei um velho amigo.
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Valor das orações subordinadas relativas (com antecedente)
o Os alunos que faltaram estiveram em visita de estudo. A frase sublinhada é relativa restritiva, pois
restringe o âmbito do nome antecedente [alunos]. Equivale a um adjectivo com valor restritivo. A
oração relativa restritiva não se separa por vírgulas.
o Saramago, que é um grande escritor, recebeu o prémio Nobel. A oração sublinhada é relativa
explicativa. Encontra-se entre vírgulas e apenas acrescenta uma informação acessória (se a
omitirmos, o sentido da frase principal não se altera).
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Valores referenciais das expressões nominais ou pronominais
As expressões definidas podem ter:
o Valor específico – O meu director de turma convocou uma reunião. Refere-se a alguém específico que
locutor e interlocutor identificam.
o Valor genérico – O director de turma é fundamental na escola. Não se refere a alguém individual.
As expressões indefinidas podem ter:
o Valor específico – Comprei uns livros. Refere objectos e seres não identificados, mas existentes.
o Valor não específico – Valorizo pessoas honestas. Remete para um conjunto de propriedades e não
para uma entidade singular.
o Valor genérico – Uma escola é espaço de aprendizagem. As expressões indefinidas representam uma
classe de entidades.
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Funções sintácticas:
A) ao nível da frase:
- Sujeito (pessoa ou ser de quem se fala) – O Carlos veio à aula. = Ele veio à aula.
Tipos de sujeito:
• Sujeito simples: O Carlos veio à aula. É evidente que ele veio. = Isso é evidente.
• Sujeito composto: O Carlos e a Carolina vieram à aula.
• Sujeito nulo subentendido: (eu) Vou ao cinema.
• Sujeito nulo indeterminado: Dizem (que o filme é excelente.)
• Sujeito nulo expletivo: Choveu. Nevou. Há alunos responsáveis.
- Predicado (o que se diz do sujeito) – Eu ofereci um livro a um amigo.
- Modificador – Felizmente, está bom tempo.
- Vocativo – João, obedece ao teu pai.

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B) internas ao grupo verbal
- Complementos
• directo – Li o artigo. = Li-o; Li isso.
• Indirecto – Ofereci uma prenda à Cláudia. = Ofereci-lhe uma prenda.
• agente da passiva – A casa foi projectada pelo arquitecto.
• oblíquo – Fui ao cinema. (Se o retirarmos, a frase fica agramatical, sem sentido).
- Predicativo
• predicativo do sujeito – O Pedro é muito interessado. [depende de verbos copulativos: ser, estar,
ficar, parecer, permanecer, continuar…]
• predicativo do complemento directo – Considero a Susana uma boa aluna. [predica algo acerca do
complemento directo. Depende de um verbo transitivo-predicativo: achar, julgar, considerar,
chamar, nomear, eleger…]
C) internas ao grupo nominal
- complemento de nome – A mãe do João veio à escola.
- modificador do nome
. modificador restritivo – Os alunos atentos (= que estão atentos) obtêm sucesso.
. modificador apositivo - D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, viveu em Guimarães.
D) internas ao grupo adjectival/adverbial
- complemento do adjectivo – Estou feliz com a tua atitude.
- complemento do advérbio – Independentemente da tua atitude, vou agir.
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Acto ilocutório é o acto conversacional realizado quando, em determinado contexto comunicativo, o locutor profere
um enunciado, sob certas condições e com certas intenções. É o caso de um conselho, uma ordem, um aviso…
• Assertivo (o enunciado produzido está relacionado com o valor de verdade. A enunciação pode ser
submetida ao teste de verdadeiro ou falso)
Camões escreveu “Os Lusíadas”.
• Directivo (o locutor pretende que o interlocutor realize algo. Permite a expressão de uma vontade ou
de um desejo)
João, lê o texto.
• Compromissivo (o locutor compromete-se a realizar algo)
Prometo, pela minha palavra real, que farei construir um convento.
• Expressivo (expressão de sentimentos ou emoções)
Lamento o que aconteceu. Parabéns!
• Declarativo (alguém, com poder institucional, cria um estado de coisas)
Declaro aberta a audiência.
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Aspecto verbal
Podemos encarar o processo expresso por um verbo de duas formas:
a) Observando do “exterior”, isto é, situando esse processo numa linha temporal, cronológica. Assim, falamos de
tempos pretérito, presente e futuro.
b) Observando-o do “interior”, de dentro desse processo, e verificando que duração assume o tempo representado.
Será essa uma duração pontual, momentânea? Está a começar? Está a terminar?
Podemos distinguir os seguintes “aspectos”:
• Perfectivo (realizado) / imperfectivo (não realizado)
Ele já falou. Ele está a falar.
• Pontual (instantâneo)/ Durativo (a acção prolonga-se)
Parti o vidro. As crianças passavam férias na praia no Verão.
• Genérico (acção atemporal)/ Habitual
O homem é mortal. .João joga futebol aos domingos.
• Iterativo (refere uma situação que se repete regularmente)
João vai ao cinema todas as semanas.
• Incoativo (início de uma situação)/ conclusivo (fim de uma situação)
Comecei a estudar. Acabei de estudar.
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Modalidade
É uma categoria linguística que, em graus diferentes, exprime a atitude do sujeito enunciador face àquilo que
enuncia e face ao interlocutor.
Os valores modais podem ser: epistémicos, deônticos ou apreciativos.

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1. modalidade epistémica (exprime a atitude de conhecimento e crença do locutor relativamente à verdade
ou falsidade do conteúdo do seu enunciado.) De acordo com o seu grau de conhecimento, a modalidade pode ter
diferentes graus:
• Valor de certeza (o locutor assume uma posição de certeza)
A Rita já chegou.
• Valor de probabilidade (juízo de probabilidade)
A Sara deve ter lido o livro. É provável que a Sara tenha lido o livro.
• Valor de possibilidade
A Sara pode ter lido o livro. Talvez tenha lido o livro.
2. Modalidade deôntica (o locutor procura agir sobre o interlocutor, impondo, proibindo ou autorizando)
• Valor de obrigação (o locutor procura agir sobre o interlocutor impondo ou proibindo)
Vai depressa. Entra!
• Valor de permissão (Ao contrário do valor de obrigação, em que o locutor define e procura impor um
único caminho, no valor de permissão o locutor constrói a possibilidade de ser o interlocutor a
escolher, entre vários caminhos definidos pelo locutor)
Podes sair ou podes ficar. Se terminaste o teste, podes sair.

3. Modalidade apreciativa (exprime um juízo de valor positivo ou negativo)


Lamento o que sucedeu. Ainda bem que chegaste.

A modalidade em português pode ser expressa por diferentes processos:


- modo do verbo: indicativo, conjuntivo, imperativo
- entoação: Sai!
- advérbios (talvez, não, certamente)
- verbos modais auxiliares (ter de, dever, poder, julgar).
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Deixis
1. Deixis pessoal
É assinalada através dos pronomes pessoais, possessivos, flexão verbal (pessoa gramatical) e vocativo.
Pedro, lê o teu livro.
2. Deixis espacial
Recorre a advérbios com valor de lugar e aos demonstrativos.
Aqui estão aqueles livros que solicitaste.
3. Deixis temporal
Recorre a advérbios com valor de tempo e tempos verbais.
O João foi operado ontem.
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Coesão
A coesão é um princípio de homogeneidade que diz respeito à conectividade sequencial dentro de um texto.
A coesão de um texto é assegurada por mecanismos lexicais e gramaticais.
1. A coesão lexical diz respeito à retoma do segmento nominal, por meio dos seguintes processos:
 repetição do nome: Vi o Pedro em Braga. Mais tarde, vi o Pedro no Porto.
 através da inclusão de palavras que apresentam, entre elas, uma relação semântica:

Semelhança Sinonímia O pardal tem grandes ninhadas – cinco crias é bastante


frequente. Os bebés nascem num ninho confortável.
Oposição Antonímia Antigamente, os alunos estavam separados. Os rapazes numa
sala, as raparigas noutra.
Hiperonímia Ofereceu-me um ramo de rosas, mas prefiro outras flores.
Hierarquia
Hiponínima Tenho muito animais: além de um cão e de um gato, há também
um canário.
Parte/todo Holonímia O automóvel tem pneus novos.
(inclusão) Meronímia O automóvel tem pneus novos.

 Através da substituição por pronomes, advérbios, numerais, etc.


É na escola que passamos a maior parte da semana. Nela encontramos os nossos amigos. É
aí que nos preparamos para a vida.

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Desta forma, estabelecem-se num texto cadeias de referência (estruturas que enviam para o mesmo referente).
 Anáfora: A Ana chegou.Vi-a na escola.
 Catáfora (tipo particular de anáfora em que o termo anafórico precede o antecedente):
O Rui viu-a e perguntou-lhe:
- Ana, estás bem?
 Elipse (tipo de anáfora não lexicalmente realizada): Joana chegou a casa, mas [-] ainda não telefonou.

2. A coesão gramatical diz respeito à relação interfrásica, por meio de:


Conectores ou articuladores textuais: Ele disse que vinha, mas não veio.
• Compatibilidade dos tempos verbais (coesão temporal-aspectual):
Ontem choveu, mas julgo que amanhã estará bom tempo.
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Coesão interfrásica – Relações de coordenação e subordinação
1. Coordenação
• Frase coordenada copulativa (valor aditivo)
Levantou-se e saiu.
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce. – frases coordenadas copulativas assindéticas.
• Coordenada adversativa (valor de oposição/contraste)
Fui ao cinema, mas não gostei do filme. (N.B. – todavia, contudo, porém … são advérbios conectivos e
não conjunções, pois podem ser intercalados entre sujeito e
predicado.)
• Coordenadas disjuntivas (valor de alternativa)
Sais ou ficas.
• Coordenada conclusiva
Está calor, portanto vou à praia.
• Coordenada explicativa
Tenho dinheiro, pois comprei um carro novo.

2. Subordinação
A) Oração subordinada substantiva
• Completiva
Peço-te que venhas a minha casa.
• Relativa (sem antecedente)
Quem vai ao mar, perde o lugar.
B) Subordinada adjectiva
• Relativa restritiva
A pessoa que fuma prejudica a saúde.
• Relativa explicativa
Saramago, que escreveu o “Memorial do Convento, recebeu o Nobel.
C) Subordinada adverbial
• Causal
Não veio porque estava a chover.
• Final
Convidei-a para que fosse comigo ao cinema.
• Temporal
Quando chegares, avisa-me.
• Concessiva
Embora estivesse atrasado, veio.
• Condicional
Se não vieres, avisa-me.
• Comparativa
Demorei mais tempo do que era minha intenção.
• Consecutiva
Estava tanto calor que fui à praia.

Oração não finita


• Infinita – Ele quer ficar em casa.
• Gerundiva – Perdendo o transporte, chegas atrasado.
• Participial – Aprovada a lei, não vale a pena discutir.

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Estruturas lexicais
Campo lexical - designa um conjunto de palavras que, pelo seu significado ou relação de sentido, se associam num
determinado domínio conceptual. Conjunto de palavras que servem para designar uma determinada área da realidade.
Exemplos:
Campo lexical de:
o Cor: amarelo, vermelho, verde, azul, branco…
o Temperatura: quente, frio, tépido, morno
o Cursos de água: rio, ribeira, afluente, riacho, regato…
o Parentesco: pai, mãe, filho, tio, sobrinho, avô…
Campo semântico – A palavra pode adquirir diferentes significados de acordo com o contexto.
Campo semântico de "peça": "peça de automóvel", "peça de teatro", "peça de bronze", "és uma boa peça".
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Formação de palavras
A)Processos morfológicos
DERIVAÇÃO
- Com adição de afixos:
. infeliz (prefixação)
. felizmente (sufixação)
. apadrinhar (parassíntese – acrescentamento simultâneo de prefixo e sufixo)
- Sem adição de afixos:
. Conversão ou derivação imprópria (mudança de classe de palavra: “olhar”-V; “olhar”-N)
. Derivação não afixal (formação de um nome a partir de uma forma verbal: avisar – aviso)
COMPOSIÇÃO
- Composição morfológica
Processo de composição que associa um radical a outro radical ou a uma ou mais palavras.
Ex. Agri+cultura; luso-brasileiro; luso-descendente
- Composição morfossintáctica
Processo de composição que associa duas ou mais palavras.
Ex. Surdo-mudo;guarda-chuva; navio-escola; peixe-espada.
N.B. Palavras lexicalizadas (eram tradicionalmente classificadas como compostas)
Ex. vinagre; fidalgo; malmequer; girassol; pernalta; embora.

B) Processos irregulares de formação de palavras


. onomatopeias; sigla (RTP); acrónimo (NATO); amálgama (informática = informação + automática);
empréstimo (lingerie); extensão semântica (“janela” adquire um novo significado em informática); truncação
(metropolitano>metro – apagamento de parte da palavra)

Bibliografia:
- Azeredo, M. Olga (2009). Da Comunicação à Expressão - Gramática Prática de Português. Lisboa Editora.
- DT. [online] Disponível na Internet via WWW. URL http://dt.dgidc.min-edu.pt/Acesso em 16 de Março de 2011;
- Gomes, Álvaro (2006). Gramática Pedagógica e Cultural da Língua Portuguesa. Porto Editora.

António Alberto Matos

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