Você está na página 1de 14

O USO DO CELULAR COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA: UMA

EXPERIÊNCIA VÁLIDA.

Mariã Aparecida Torres Pacheco1 - UTFPR


Leandro Rafael Pinto2 - IFPR
Fábio Roberto Petroski3 - UNICENTRO

Eixo – Educação, Tecnologia e Comunicação


Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

O artigo contempla um estudo acerca do uso do celular como ferramenta válida e aliada no
processo de ensino e aprendizagem, tendo como objetivo principal de verificar a eficiência de
uma metodologia aplicada, com o uso do celular como ferramenta auxiliar de ensino,
observando o reflexo do desempenho dos alunos, a importância do seu uso na busca e na troca
rápida das informações e refletir sobre os resultados do uso dessa ferramenta na aprendizagem
discente. A metodologia utilizada baseou-se em um estudo experimental de abordagem
qualitativa, com a pretensão de investigar os resultados e as relações de causa e efeito,
testando a hipótese da utilização do aplicativo como ferramenta de apoio no processo e
desenvolvimento da aprendizagem. A pesquisa foi desenvolvida em uma escola pública do
município de Curitiba, numa turma de alunos do Curso Técnico Subsequente em
Administração, na disciplina de Contabilidade Geral, abordando o conhecimento em cálculos
financeiros. O desenvolvimento da proposta da prática pedagógica foi realizado com o uso do
dispositivo móvel e a prática de pesquisa deu-se através dos encontros presenciais na escola,
com o professor regente da turma, estudantes e com a pesquisadora. O conteúdo trabalhado
foi cálculo financeiro, tendo como intuito utilizar o aplicativo pesquisado, sendo este
denominado por Calculadora do Cidadão, disponível no site do Banco Central, o qual foi
instalado nos aparelhos de celular dos alunos. A prática resultou em uma experiência
satisfatória devido aos alunos terem compreendido, primeiramente, a lógica do cálculo e a
resolução de exercícios manuais em sala de aula, os quais, na sequência tiveram seus
resultados conferidos e confirmados através do aplicativo pesquisado.

1
Mestranda em Administração pela UTFPR (2016/2017). Pós graduada em Educação Profissional em Nível
Médio e Técnico - IFPR (2015). Licenciada em Contabilidade – UTFPR (2015). Pós Graduada em Finanças
Empresariais – UP (2009). Bacharel em Ciências Contábeis – UP (2007). Professora do Estado do Paraná em
Cursos Profissionalizantes. E-mail: masantostorres@gmail.com.
2
Doutor em Geografia. Professor EBTT do Instituto Federal do Paraná – Campus Curitiba. E-mail:
leandro.rafael@ifpr.edu.br.
3
Pós graduado em Educação Profissional em Nível Médio Técnico – IFPR (2015), Pós graduado em Gestão
Escolar – Unicentro (2016), Licenciado em Pedagogia – ULBRA (2014). Professor na Prefeitura Municipal de
São José dos Pinhais. E-mail: fabiorobertopetroski@hotmail.com.

ISSN 2176-1396
6364

Palavras-chave: Celular. Inclusão Digital. Aplicativo Calculadora do Cidadão.

Introdução

Nota-se que o uso dos aparelhos móveis, ao longo do tempo, tiveram um aumento
significativo e cada dia elevam-se a quantidade de usuários. São vários os fatores que
justificam esse crescente aumento, tais como: 1) a disponibilidade dos mais variados modelos
que o mercado oferece com inúmeros recursos atrativos aos consumidores, 2) a facilidade de
aquisição devido ao valor que, se comparado a anos anteriores, tornou-se mais acessível, 3) a
velocidade no envio e recebimento das informações, 4) o acesso e utilização da internet.
Conforme Caiçara (2007) o surgimento e a evolução da tecnologia provocaram e ainda
provocam mudanças drásticas em atividades de todos os segmentos empresariais e também na
vida das pessoas. O mundo gira em torno de uma tecnologia, da qual sem ela não se vive,
tornando ele um refém necessário.
Verifica-se, portanto, que receber e dar informações rápidas, eficazes e seguras, faz a
grande diferença, pois a demora ou a inexistência delas impacta em vários fatores, como por
exemplo, nas tomadas de decisões no mundo dos negócios, na economia, bolsa de valores,
comércio e indústrias em geral.
A tecnologia dos celulares, aliada com a internet, faz com que as pessoas mudem seus
hábitos e atitudes. No dia a dia, pode-se observar o constante uso da internet e de outros
recursos através do aparelho celular, sendo esta realidade verificada nos mais diversos
ambientes, dentre eles a sala de aula, na qual a maioria dos alunos possuem pelo menos um
recurso tecnológico: o aparelho celular.
Dessa forma, alinhar essa tecnologia aos conteúdos pedagógicos, tornou-se uma
necessidade e um grande desafio para os professores, exigindo deles planejamento e
treinamento antecipado.
Sabe-se que a ampla disponibilidade da internet bem como a importância do seu uso,
torna este meio de comunicação indispensável no dia a dia de todos. Evidencia-se que esta
nova geração de adolescentes e jovens anseiam por aulas diferentes do tradicional,
diversificadas e condizentes com a realidade tecnológica que estão inseridos.
Trata-se de um assunto polêmico, pois de um lado o avanço da tecnologia proporciona
obter em um único aparelho as mais diversas ferramentas de pesquisa, permitindo interagir,
como a Internet, as redes sociais, jogos, aplicativos, TVs, vídeos, despertando no aluno
interesse, curiosidade e prazer de fazer uso desses recursos, que auxiliam na construção do
6365

conhecimento. Por outro lado, a escola é detentora de regimentos, normas e regras. Uma
dessas regras implica na proibição do uso de celular em sala de aula, salvo em atividades
pedagógicas, devidamente orientadas por um professor. E, acredita-se que a dificuldade esteja
exatamente nesta questão: do professor não deter do conhecimento necessário para planejar e
combinar as aulas e elaborar estratégias que favoreça ao aluno aprender com os recursos
tecnológicos.
Assim sendo, diante dessas observações importantes que envolve ambos indivíduos,
docentes e discentes, constata-se a necessidade de verificar algumas possibilidades que
condicione a utilização do celular nas práticas em sala de aula. Portanto, existe uma forma de
tornar o dispositivo móvel um aliado do professor em sala de aula?
Com base neste questionamento, o trabalho tem como objetivo verificar a eficiência de
uma metodologia aplicada, com o uso do celular como ferramenta auxiliar de ensino e
observar o reflexo do desempenho dos alunos.
Portanto, os educadores, ao ampliar o olhar para tentar explorar potenciais recursos
que possam ser inseridos no processo educacional, enxerguem o celular como seu aliado em
sala de aula, com efeito motivador para o ensino dos conteúdos.

Referencial Teórico

Esta etapa apresenta o referencial teórico, no qual se abordam as dimensões


relacionadas às Tecnologias da Informação e Comunicação, a história e evolução do celular
importante para o entendimento da centralidade das atenções no aparelho e como esta
ferramenta poderia auxiliar nas questões pedagógicas.

TIC - Tecnologia da Informação e Comunicação

As tecnologias foram evoluindo ao longo do tempo e passaram a ser ferramentas


essenciais na educação. Sua presença nos dias atuais é necessária em sala de aula por auxiliar
na medição das informações no processo da aprendizagem.
Conforme Kenski (2010), a evolução social do homem confunde-se com as
tecnologias desenvolvidas e seus avanços em cada época em diferentes períodos da história
humanidade. A autora também comenta que
6366

A evolução tecnológica não se restringe apenas aos novos usos de determinados


equipamentos e produtos. Ela altera comportamentos. A ampliação e a banalização
do uso de determinada tecnologia impõem-se à cultura existente e transformam não
apenas o comportamento individual, mas o de todo o grupo social. (...) As
tecnologias transformam suas maneiras de pensar, sentir e agir. Mudam também
suas formas de se comunicar e de adquirir conhecimentos. (KENSKI, 2010, p.21).

O avanço acelerado da tecnologia permitiu que o acesso à informação se tornasse


muito mais fácil e rápido. Dessa forma, colégios de ensino fundamental e médio e o meio
acadêmico foram atingidos. O giz, o quadro negro, o caderno e os livros não são mais as
únicas ferramentas que podem ser utilizadas na sala de aula pelos docentes.
O desenvolvimento tecnológico exige que uma nova forma de ensinar e aprender seja
incluída no dia a dia escolar e, que os professores precisam de uma reflexão profunda no
sentido de perceber que as ferramentas tradicionais deixaram de ser a única maneira de
trabalhar com os alunos, pois o computador, a internet, dispositivos móveis e uma série de
tecnologias são recursos fundamentais para uma educação dinâmica e renovada.
As Tecnologias da Informação e Comunicação proporcionam ao professor e ao aluno,
várias possibilidades de adquirir e compartilhar informações, assim sendo, torna-se necessário
que uma evolução aconteça nas escolas e nos métodos utilizados pelos professores. O mundo
globalizado exige que as instituições educacionais estejam preparadas para receber às
tecnologias e que a inclusão digital comece pelo professor em sala de aula, dessa forma,
sendo necessário o conhecimento dos recursos oferecidos pelas mídias educacionais. Para
ALMEIDA (2003, p.118), as TICs são de grande utilidade nas escolas, pois proporciona
auxilio na gestão escolar e desperta a consciência de sua importância no ensino aprendizagem.
Diante do avanço tecnológico, as formas de compartilhar o conhecimento e as
informações precisam evoluir, de uma maneira que as aulas sejam um processo educacional
renovado e atrativo. Assim sendo, faz-se necessário avaliar a inserção das Tecnologias da
Informação e Comunicação (TIC) como ferramenta de apoio pedagógico.

Celular: História e Evolução

Conforme conteúdo História: a evolução do celular, publicado por Fábio Jordão no


site TecMundo que traz notícias relacionados à tecnologia, incluindo telefonia móvel, a ideia
de tornar a comunicação mais fácil surgiu em uma época em que a tecnologia era
extremamente deficitária.
6367

Em 1947, alguns engenheiros pensaram em um sistema de comunicação sem fio, o que


seria um grande avanço, mas a tecnologia desse período não ajudava a desenvolver a teoria na
prática.
A teoria pensada e sugerida em 1947, que tratava de uma rede de telefonia celular
móvel, foi corretamente projetada e isso foi comprovado somente em 1973, quando a primeira
ligação de um telefone celular para um telefone fixo foi realizada. Apesar de ter sido um
momento não muito conhecido, foi um fato que marcou para sempre a história do mundo
refletindo nos dias atuais.
Conforme relato desse histórico, várias empresas de telefonia fizeram testes entre o
ano de 1947 e 1973, contudo, foi a Motorola a primeira empresa que apresentou o aparelho
funcionando. É nessa época que nasce a primeira geração dos celulares não tão portáteis, pois
possuíam dimensões de quase 30 cm de altura e pesavam em média 1 kg. Esta fase da
telefonia móvel foi considerada a era do 1G.
No início da década de 90, surge a segunda geração dos celulares considerada a era
2G. Os aparelhos tinham um tamanho mais aceitável e com peso reduzido. Esta geração
aderiu novos padrões de comunicação e novas tecnologias. Os novos serviços traziam, as
campainhas, um pouco mais de cores e recurso que permitia distinguir imagens. Porém, a
principal novidade foi o serviço de mensagem de texto (SMS), sendo que primeira mensagem
de texto foi efetivada em 1993 por uma operadora da Finlândia. Neste mesmo período no
Brasil, as operadoras ainda pensavam em instalar telefones fixos para seus clientes e, por esta
razão, esta tecnologia demorou um pouco mais para chegar. A mensagem multimídia (MMS)
e internet foram consideradas um grande avanço, possibilitou visualizar imagens coloridas e
até mesmo o envio de vídeos.
A era 2,5G, considerada a terceira geração do celular trazia todas as características dos
celulares 2G, porém, esta geração intermediária trouxe um aumento significativo na
velocidade de acesso à internet e revolucionou a implementação de uma câmera no celular.
Outra novidade foi a reprodução de arquivos MP3, arquivos de áudio e a capacidade de
transmitir áudio para dois ou mais fones de ouvido. Os aparelhos ficaram mais inteligentes e a
partir da utilização de um sistema operacional utilizado nos celulares, nasce os Smartphones,
trazendo rede sem fio Wifi, câmera de qualidade razoável, bluetooth, maior memória interna e
espaço para cartão de memória extra.
A revolução da terceira geração de celulares 3G chegou oferecendo várias vantagens,
como a vídeochamada, conexão de internet de alta velocidade, economia de energia nos
6368

aparelhos e funcionalidade de internet sem a necessidade de um aparelho celular, ou seja,


possibilitou utilizar a rede de internet 3G em modems.
A quarta geração 4G disponível, dentre outras características, surgiu melhorando a
qualidade na transmissão de dados, voz e outros serviços de multimídia. E, por sua tecnologia
ser baseada no endereçamento de IP, melhora a segurança dos dados de tráfego.
Segundo o site TecMundo, cogita-se que os avanços do 4G abriram caminhos para a
chegada do 5G, com mudanças estruturais significativas no que diz respeito à velocidade e
estabilidade. A plataforma ainda em estudos, além de abrir a porta para novos serviços, deve
aumentar a eficiência de redes e dispositivos.

O Uso do Celular como Ferramenta Pedagógica

A autora Bueno (1999. p. 87), conceitua a tecnologia como sendo:

[...] um processo contínuo através do qual a humanidade molda, modifica e gera a


sua qualidade de vida. Há uma constante necessidade do ser humano de criar, a sua
capacidade de interagir com a natureza, produzindo instrumentos desde os mais
primitivos até os mais modernos, utilizando-se de um conhecimento cientifico para
aplicar a técnica e modificar, melhorar, aprimorar os produtos oriundo do processo
de interação deste com a natureza e com os demais seres humanos.

Ao realizar atividades simples do dia a dia, como por exemplo, tomar um banho,
ascender uma luz, dar um telefonema e até mesmo calçar um sapato, não se percebe alguns
confortos tecnológicos que são utilizados nessas atividades. Dessa forma, as tecnologias estão
presentes na vida das pessoas que se acostumam e nem percebem que tarefas cotidianas são
feitas utilizando produtos, equipamentos e processos que não são naturais, mas que foram
anteriormente, planejados e desenvolvidos buscando a melhor forma de viver. Conforme
Kenski:

[...] as tecnologias invadem as nossas vidas, ampliam a nossa memória, garantem


novas possibilidades de bem-estar e fragilizam as capacidades naturais do ser
humano. Somos muito diferentes dos nossos antepassados e nos acostumamos com
alguns confortos tecnológicos – água encanada, luz elétrica, fogão, sapatos, telefone
– que nem podemos imaginar como seria viver sem eles. (KENSKI, 2007, p. 19)

Para Kenski (2007), o conhecimento que é derivado do raciocínio do homem, quando


colocado em prática, resulta em diferentes equipamentos, recursos, produtos, instrumentos,
processos e ferramentas, originando as tecnologias. Dessa forma, a tecnologia pode ser
entendida como sendo o resultado da fusão entre a ciência e a técnica e, a tecnologia na
6369

educação, pode ser compreendida como o conjunto de técnicas que buscam facilitar os
processos de ensino aprendizagem.
Portanto, faz-se necessário que a escola tome posse desses recursos utilizando-os em
processo de aprendizagem dinâmicos.
Assim sendo, compreende-se que em plena sociedade da informação, seria inviável
que as escolas utilizassem somente quadro-negro, giz e livro didático como ferramentas na
prática educativa. Pois não estariam preparando os alunos para a vida e nem para o mercado
de trabalho, por não conseguir se quer acompanhar os avanços tecnológicos, tão pouco
transmiti-los.
É possível perceber o descontentamento dos alunos em relação às aulas consideradas
tradicionais, sem a inclusão de qualquer tecnologia. O perfil do aluno de hoje necessita saber
para que é por que aprender determinados assuntos abordados nas aulas. O aprender por
aprender deixou de existir dando espaço para a aprendizagem utilitária onde o aluno se propõe
somente a aprender o que é útil. É difícil, portanto, prender a atenção do aluno em aulas feitas
somente do conjunto lousa, giz e professor. Kenski (2007, p. 103) afirma que “precisamos
utilizar a educação para ensinar sobre as tecnologias que estão na base da identidade, e que se
faça o uso delas para ensinar as bases dessa educação”.
Conforme Moran (2000) cabe, portanto, ao professor ser um investigador, desafiador e
incentivador no desenvolvimento da autonomia dos alunos. Motivando-os na participação e
na interação e, assumindo o papel primordial: de auxiliar o aluno na interpretação das
informações.

A aquisição da informação, dos dados, dependerá cada vez menos do professor. As


tecnologias podem trazer, hoje, dados, imagens, resumos de forma rápida e atraente.
O papel do professor – o principal papel – é ajudar o aluno a interpretar esses dados,
a relacioná-los, a contextualizá-los. (MORAN, 2000, p. 29).

Diante do exposto acerca da utilização do celular como ferramenta pedagógica,


algumas constatações são observadas: O uso da tecnologia é essencial em sala de aula, pois
permite aos alunos acompanhar e participar da evolução da tecnologia que cresce de forma
rápida e contínua, POIS facilita a compreensão dos alunos nos conteúdos mais simples até os
mais complexos, possibilita maior interesse em participar e aprender devido a aula se tornar
prazerosa e, prepara-os para a realidade do mercado de trabalho que cada vez mais exige
conhecimento mínimo na área tecnológica.
6370

É preciso, portanto, um conjunto de fatores alinhados para fazer funcionar aulas ricas,
com conhecimentos gerados através do auxílio do celular e de outras ferramentas tecnológicas
em sala de aula. Ou seja, a direção escolar, a equipe pedagógica, a coordenação, a estrutura da
escola e, principalmente, professores interessados, preparados e desafiadores, são fatores dos
quais sem o envolvimento e comprometimento de todos, a aprendizagem dos alunos, quando
ocorrer, poderá ser deficitária.
Portanto, é necessário que nas práticas educacionais sejam observadas, a importância
dos recursos tecnológicos na atual educação, tendo em vista que a escola não pode ser vista
sob um paradigma tradicional, onde o professor tem um compromisso com o passado e com
as coisas que não podem ser esquecidas, mas, sob um paradigma emergente, onde o professor
tem compromisso com o futuro, no presente da sala de aula. Desconstruindo a relação
professor/aluno vertical e autoritária e, construindo uma nova relação, mais horizontal,
recíproca, verdadeira e dialética. De acordo com o pensamento de Freire, onde o professor
além de ensinar, aprende e, o educando além de aprender, ensina.
Contudo, as tecnologias precisam ser compreendidas e incorporadas pedagogicamente,
para que possam surtir efeito e trazer as alterações necessárias no processo educativo.
Segundo Kenski: “Isso significa que é preciso respeitar as especificidades do ensino e da
própria tecnologia para poder garantir que o seu uso, realmente, faça diferença”. (KENSKI,
2007, p. 46). Não basta, por exemplo, usar a televisão e o computador, é preciso saber
planejar e desenvolver uma prática educativa de forma pedagogicamente correta, para a
tecnologia escolhida.
As tecnologias, portanto, surgem causando mudanças nos métodos educacionais e,
muda também, a função do aluno, pois os tornam participantes do processo educativo e, ao
mesmo tempo, impulsiona o professor a se adequar à nova realidade e buscar novos
conhecimentos a fim de subsidiar um ensino mediatizado pelos recursos tecnológicos.

Metodologia

A pesquisa teve como método a abordagem qualitativa, com base no estudo


experientamenl conforme proposto por Kerlinger (1980) que, traz como finalidade testar
hipóteses derivadas de teorias possibilitando testes de vários aspectos desta teoria e, investigar
relações de causa e efeito.
O método utilizado na realização da experiência, consistiu na utilização de um
aplicativo denominado Calculadora do Cidadão, disponível no site do Banco Central do
6371

Brasil, que pode ser baixado gratuitamente nos aparelhos de celular com sistema operacional
Android e iOS.
O aplicativo é composto por cinco módulos, sendo: 1) Aplicação – permite calcular
quanto terá após algum tempo, se depositar um valor mensalmente. 2) Financiamento –
permite verificar o custo de um financiamento com prestações fixas. 3) Valor Futuro –
permite verificar qual será o rendimento, se investir um período com taxa fixa. 4) Correção de
Valores – permite atualizar uma quantia, usando o índice da poupança, da inflação ou outro.
5) Cartão de Crédito – permite comparar o custo de pagar parte da sua fatura com outros tipos
de créditos. Cada módulo contém um modelo de exercício indicando como e em qual situação
deverá ser usado. Para concluir a prática proposta, sem exceder a quantidade das aulas
planejadas, bem como, colher subsídios para responder à questão problema, foram usados
somente dois módulos: de aplicação e de financiamento. Os demais módulos foram
contemplados de forma genérica.
O conteúdo sobre cálculos financeiros foi previamente trabalhado com os alunos em
sala de aula, visando sanar dúvidas e reforçar o entendimento deles e, posteriormente, efetivar
os cálculos utilizando o aplicativo no celular. Além da quantidade de aulas programadas, foi
preciso aumentar mais quatro aulas devido a necessidade de retomar questões básicas sobre
cálculos envolvendo porcentagem, e intensificar a compreensão dos alunos através de
exercícios propostos.
O planejamento das aulas, os exercícios, o aplicativo Calculadora do Cidadão e o
método pensado a ser trabalhado com os alunos, foram verificados pelo setor pedagógico e
após, liberados para aplicação em sala com o apoio do professor regente da turma, pedagogos
e direção da escola.

A Escola

A prática foi aplicada uma escola pública do município de Curitiba, em uma turma de
alunos do Curso Técnico Subsequente em Administração, na disciplina de Contabilidade
Geral, abordando o conhecimento em Cálculos Financeiros.
Por se tratar de uma turma que deu origem no período da manhã, houve grande
número de desistentes. Dos que permaneceram, cerca de dezenove alunos, alguns começaram
a trabalhar e outros estavam procurando por emprego para auxiliar na renda familiar. Dessa
forma a direção do Colégio Brasílio migrou o curso para o período da noite, oportunizando
aos alunos trabalhar sem desistir do curso técnico.
6372

A maioria são alunos que já iniciaram o segundo grau após a idade normal, muitos
começaram e não concluíram e outros porque não conseguiram mesmo estudar no tempo
ideal. São alunos que, embora tenham grande dificuldade no aprendizado devido à
conhecimentos básicos anteriormente não adquiridos e/ou não absorvidos da forma devida,
são responsáveis, atenciosos, com muita vontade de estudar e concluir o curso.

A Experiência

O planejamento das atividades foi desenvolvido contemplando três aulas que foram
trabalhadas da seguinte forma:
No primeiro dia de aula, o professor regente da turma explicou aos alunos sobre a
realização dessa prática. Após, a professora apresentou-se para os alunos, dialogou acerca da
importância da tecnologia nos dias atuais e sobre a necessidade do acesso rápido às
informações. Os alunos participaram concordando com a questão levantada e apresentado
vários exemplos sobre quão importante é a tecnologia nos dias atuais. Em seguida, foi
abordado com os alunos a questão do uso do celular em sala de aula e a utilidade em uma
atividade pedagógica. Neste assunto, a participação foi intensa e os alunos criticaram
positivamente a favor da ideia.
Questões com relação à estrutura precária do Colégio no que diz respeito ao acesso à
Internet e, sobre o despreparo dos professores para planejar aulas utilizando mais a tecnologia,
foram pontos polêmicos. Após a discussão, foi aplicada uma breve avaliação diagnóstica
sobre os tipos de aparelhos de telefonia móvel que os alunos possuem e qual a função mais
utilizada por eles. Um Termo de Autorização de Uso da Imagem foi assinado pelos alunos,
tendo em vista que as aulas também seriam registradas com fotos.
Na sequência foi apresentado aos alunos o aplicativo Calculadora do Cidadão, e
explicado a pretensão de usar o aplicativo nas aulas seguintes. Como nesta aula os alunos
estavam no laboratório de informática, foi solicitado que eles pesquisassem sobre o aplicativo
no site do Banco Central do Brasil. Foi entregue material impresso para cada aluno com as
instruções de como pesquisar e baixar o aplicativo no celular. Alguns alunos conseguiram
baixar o aplicativo, porém, a maioria não devido à precariedade da internet. Foi solicitado aos
alunos que não conseguiram que fosse feito durante a semana. A utilização do laboratório de
informática para pesquisar sobre o aplicativo, não foi aula planejada e somente foi possível
(inclusive de grande valia), porque a aula foi cedida por faltar o professor da aula seguinte.
6373

No segundo dia da prática, foi verificado se todos os alunos haviam conseguido baixar
o aplicativo Calculadora do Cidadão. Dentre eles, somente dois não conseguiram baixar por
não ter internet em casa e, infelizmente, neste dia a internet não estava funcionando. Porém,
esses alunos ficaram com os demais que haviam baixado o aplicativo em seus celulares, dessa
forma foi possível que todos experimentassem o aplicativo. Foi combinado um tempo de vinte
minutos para que os alunos pudessem verificar e simular algumas situações de cálculos
sozinhos, sem ajuda do professor. Pode-se perceber que várias dúvidas surgiram sendo
discutidas entre eles e a cooperação foi notada, pois um auxiliava o outro naquilo que tinha
entendido. O professor titular da turma também baixou o aplicativo no seu celular, efetuando
vários cálculos e assim, contribuindo com atenção e valorizando o que estava sendo
ministrado. Com esta ação o professor demonstrou aos alunos a importância da prática.
Após esse tempo, havia alunos dominando pelo menos um dos módulos e outros sem
entender direito como utilizá-los. A aula foi retomada com explicação das funções do
aplicativo e como acessar e utilizar a auto ajuda que o aplicativo fornece em cada módulo. Na
sequência, a professora realizou um exercício dos módulos de Aplicação e Financiamento, no
quadro de giz, utilizando as fórmulas manuais para os cálculos. Em seguida, os mesmos
exercícios foram resolvidos no aplicativo instalado no celular e, a comparação do tempo para
resolução dos exercícios, foi observada pelos alunos.
No último dia da prática, foi realizado um exercício, cuja dinâmica visava a
participação dos alunos em equipe, argumentando com informações rápidas e precisas. Foi
explicado o passo a passo da dinâmica do exercício e na explicação ficou implícito que seria
permitido a utilização de qualquer argumento, porém precisavam dar ao cliente a reposta das
duas questões. O exercício tratava de uma concorrência entre duas empresas do mesmo ramo
e, por isso, foi combinado que cada empresa respeitasse a ferramenta que lhe era permitido
utilizar. Foi dado um tempo de vinte minutos para as equipes se organizarem, e o exercício na
prática aconteceu como descrito a seguir:
Foi solicitada a participação voluntária de um aluno que representou o papel do
cliente. Os demais alunos da turma foram divididos em dois grupos. Um grupo representou a
empresa X e o outro representou a empresa Y. As duas empresas eram agências de viagem.
Na primeira etapa, a empresa X tentou convencer o cliente utilizando as ferramentas que lhe
foram disponíveis: calculadora de bolso, pesquisa na internet sobre qual fórmula usar e de
como montar o exercício manualmente, porém, não conseguiram dar ao cliente a informação
que ele solicitava no primeiro questionamento e, no segundo questionamento, o tempo acabou
6374

sem que a empresa X conseguisse chegar ao resultado. Foi interessante porque dois alunos da
equipe X, visando o bom atendimento ao cliente, correram na cantina e trouxeram água e
cafezinho para o aluno “cliente”, este por sua vez, pediu com adoçante porque não tomava
café com açúcar e os alunos da empresa X providenciaram, mas, mesmo assim o cliente
desistiu e foi na empresa Y. Esta, por sua vez, de posse do aplicativo Calculadora do
Cidadão, realizou os cálculos rapidamente com muita segurança e respondeu prontamente as
duas questões feitas pelo cliente, fornecendo inclusive outros detalhes que nem foram
solicitados no exercício como, sobre a compra do pacote de viagem com cartão de crédito ser
inviável porque a empresa estava no momento, passando por crises financeiras devido a atual
economia do Brasil e estava cobrando juros até mesmo para pagamento com cartão de crédito.
O cliente ficou satisfeito e comprou o pacote de viagem da empresa Y. Houve uma grande
comemoração da equipe.
Com base na experiência foi possível verificar que a prática trouxe resultados
positivos, impactando na realidade dos alunos que até então não haviam vivenciado uma aula
com utilização do aparelho celular. A prática foi enxergada como uma novidade, despertando
maior interesse na turma.
A dificuldade em conhecimentos básicos de cálculos foi percebida em alguns alunos,
porém, superada ao longo da realização dos exercícios e nas etapas da prática. Pode-se
observar que os alunos gostam e apreciam o diferente, ou seja, ao quebrar a rotina
apresentando uma aula diferenciada, com utilização de recursos tecnológicos, embora
deficitários, a atenção desses alunos para o conteúdo trabalhado foi maior. Além desta
constatação, uma outra situação relevante, senão a mais importante observada, foi o interesse
e a vontade desses alunos em “aprender”.

Avaliação dos Alunos

Os alunos avaliaram positivamente a prática trabalhada, registrando no formulário


avaliativo a importância de conhecer e aprender a usar o aplicativo Calculadora do Cidadão,
sendo útil não somente em sala de aula, mas também no dia a dia.
Dos dezenove alunos que avaliaram a prática comparando as ferramentas utilizadas,
dois deles responderam diferente dos demais: o primeiro informou ter gostado do método,
mas que não aprecia os recursos tecnológicos. Porém, justificou sua resposta relatando não
gostar porque na maioria das vezes tem dificuldade para aprender e que, somente gosta da
tecnologia quando entende como usar. O segundo aluno fez comentário pertinente ao registrar
6375

a importância das duas ferramentas dizendo uma é tão essencial quanto a outra, sendo que a
tecnológica por estar presente no dia a dia e em todos lugares e, a ferramenta manual que
exige do aluno o conhecimento, o saber fazer. Os dezessete alunos restantes relataram com
empolgação sobre a experiência com o aplicativo e destacaram a rapidez nos resultados dos
cálculos. Comentaram ainda que utilizar o celular em sala de aula é prático e que auxilia
muito na pesquisa. Gostariam que a maioria das aulas fossem preparadas utilizando mais
recursos tecnológicos dessa natureza.

Considerações finais

Diante da experiência obtida na aplicação da prática no curso técnico e, através das


avaliações positivas dos alunos quanto à utilização do celular em sala de aula, conclui-se que
o uso do celular foi bom e essencial para a aula planejada nesta prática. Trouxe resultados
positivos importantes, pois houve a compreensão do aprendizado dos alunos no conhecimento
de cálculo financeiro.
A experiência vale à pena e recomenda-se que a prática seja experimentada em outros
cursos técnicos profissionalizantes, envolvendo também outras áreas do conhecimento. Tendo
em vista que para a utilização de um aplicativo no aparelho celular, há necessidade da internet
somente no momento de baixar o aplicativo, isso torna o uso do celular como uma boa opção,
já que várias escolas não possuem disponibilidade da internet e/ou dispõe, mas não funciona.
Existem vários tipos de aplicativos que poderão ser pesquisados, adequados à disciplina a ser
trabalhada e baixados nos aparelhos móveis dos alunos, promovendo o aprendizado alinhado
à tecnologia.
Através das observações feitas em sala de aula e diante dos relatos de alguns alunos, é
importante salientar algumas considerações. O aluno não tem mais interesse e/ou vontade de
estudar quando somente são utilizados métodos tradicionais diante de tanta tecnologia
presente na vida deles.
Como em qualquer outra experiência, as dificuldades e os importunos existem. Nesta
prática houve dificuldades por parte dos alunos com relação à conhecimentos básicos, pré-
requisito para realização dos exercícios propostos e dificuldades devido a precariedade da
internet e estrutura da escola. Porém, essas questões não impediram de realizar a prática e de
alcançar o objetivo. Pelo contrário, fizeram com que a experiência se tornasse ainda mais
desafiadora e gratificante.
6376

Foi possível perceber que quando o vínculo entre professor e aluno é criado e, quando
o professor consegue fazer com que os alunos gostem do conhecimento a ser estudado, o
aluno consegue produzir e aprender alguma coisa mesmo diante das dificuldades.
É importante o bom planejamento de uma aula, pois os alunos possuem expectativas
que, na maioria das vezes, não são atingidas ou superadas pelos professores. Os próprios
alunos apontam as aulas que são ou não mais interessantes e mais produtivas. Os
contratempos podem surgir mesmo diante de uma aula bem elaborada, porém, o professor
precisa estar bem preparado, não somente para essas situações, mas, preparado também para a
utilização dos mais variados recursos tecnológicos, buscando atender e/ou superar a
expectativa do seu aluno.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Maria Elisabeth Bianconcini de. Informática e formação de professores. Vol.


1. Brasília: Ministério da Educação, SEED, 2003.

BANCO CENTRAL DO BRASIL. Aplicativo. Calculadora do cidadão. Brasília, 2008.


Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?calculadora>. Acesso em: 16 jun. 2015.

BUENO, Natalia de Lima. O desafio da formação do educador para o ensino fundamental


no contexto da educação tecnológica. 1999. 239f. Dissertação (Mestrado em Tecnologia) –
Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná, Curitiba. 1999.

CAIÇARA JUNIOR, Cícero. Informática, internet e aplicativos. Curitiba: Ibpex, 2007.

JORDÃO, Fábio. História: a evolução do celular: banco de dados. Disponível em:


<http://www.tecmundo.com.br/celular/2140-historia-a-evolucao-do-celular.htm>. Acesso em:
30 jul. 2015.

KERLINGER, F. N. Metodologia da pesquisa em ciências sociais. São Paulo: E.P.U., 1980.

KENSKI, V.M. Educação e tecnologias. O novo ritmo da informação. 2ª edição, Ed. Papirus,
2007.

KENSKI, V.M. Educação e tecnologias. O novo ritmo da informação. 6ª edição, Ed. Papirus,
2010.

MORAN, José Manuel et al. Novas tecnologias e mediação pedagógica. 6. ed. Campinas:
Papirus, 2000.

Você também pode gostar