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1. INTRODUÇÃO
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Alexandre Augusto Galvão da Silva, coordenador executivo do Memorial do Ministério Público do Paraná,
pós-graduado em Gestão Pública pela FESP/PR.
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Rodrigo Bonatto Dall'Asta, estagiário de pós-graduação do Memorial do Ministério Público do Paraná, mestrando
em História pela UFPR.
2011, ano em que as gravações foram finalmente interrompidas.
Com a criação de uma estrutura formal para o Memorial em 2014, quando foram
constituídos um Conselho Curador e uma Coordenação Executiva, a ideia de se manter um
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programa de história oral voltou à pauta. Em 2016, o Memorial passou a ter acesso a um
moderno estúdio de filmagem, devido a um acordo de cooperação técnica entre o MPPR e a
Fundação Escola do Ministério Público do Paraná (Fempar). Assim, o programa de história oral
foi reformulado e ampliado, passando a incluir a história dos servidores da instituição.
Denominado REConto, o programa foi lançado em 15 de junho de 2018, no aniversário de 127
anos do MPPR.
O objetivo deste trabalho, portanto, é apresentar as orientações teóricas e metodológicas
que embasam o projeto atual, assim como alguns resultados das entrevistas de história oral,
possibilitando uma discussão sobre a modalidade de história pública.
Antes dos desenvolvimentos dos parâmetros metodológicos da pesquisa e das
entrevistas, é necessário frisar que as inúmeras transformações que o Ministério Público sofreu
desde seu surgimento modificaram a atuação de seus membros e servidores ao longo do tempo.
Como instituição, o MPPR figura apenas a partir da primeira constituição republicana, porém
ainda muito associado aos poderes judiciário e executivo 1. A partir dos processos históricos
internos e da ação dos seus integrantes, a entidade tem garantidas mais atribuições e autonomia
com a Constituição da República de 1988, assim como uma ampla área de atividades junto à
população, na defesa dos direitos transindividuais, difusos, individuais homogêneos e
indisponíveis, como meio ambiente, patrimônio histórico, consumidor e urbanismo.
O programa REConto pretende, então, resgatar e preservar informações sobre a história
do MPPR e suas transformações, registrando as experiências vividas pelos promotores e
procuradores de Justiça e pelos servidores. Assim, a agência dos entrevistados, as modificações
internas no funcionamento do Ministério Público e as transformações na possibilidade de
atuação de seus membros representam questões importantes no trabalho, principalmente na
construção de identidades institucionais. A relação entre história, memória e identidade será
discutida a partir da fundamentação teórica do projeto de história oral.
A história oral, especialmente sob uma perspectiva organizacional, se insere num recorte
temporal definido socialmente por uma onda de memórias, sendo uma marca contemporânea
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O Ministério Público é citado pela primeira vez no Decreto nº 848/1890, que organiza a Justiça Federal. No âmbito
estadual, o Ministério Público do Paraná foi instaurado por meio do Decreto nº 1/1891, que estabelece o Poder
Judiciário. Após sucessivas modificações ao longo de quase cem anos, a Constituição Federal de 1988 estabeleceu
que "o Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a
defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis." (Brasil,
1988, art. 127)
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3. ASPECTOS METODOLÓGICOS
trata-se da narrativa com aspiração de longo curso – daí o nome de “vida” – e versa
sobre aspectos continuados da experiência de pessoas. Trata de um tipo de narração
com começo, meio e fim, em que os momentos extremos – origem e atualidade –
tendem a ganhar lógica explicativa. Nessa linha, desde logo, a possibilidade
condutiva do narrador merece cuidados a fim de gerar liberdade na autoconstrução
do colaborador (MEIHY & RIBEIRO, 2011, p. 82).
No REConto, considera-se o argumento de Meihy & Ribeiro (Ibid., p. 51) sobre o fato
de a história oral institucional diferir da acadêmica por seus fundamentos, objetivos e critérios
de condução e realização, razão pela qual são dispensados certos aprofundamentos teóricos.
Essa abordagem mais direcionada ao papel social que a instituição possui e menos apegada ao
formato acadêmico facilita a aproximação com um público de não historiadores, que no caso
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4. O RECONTO
4.1. ENTREVISTAS
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Em todas as entrevistas, independente de quem conduza a entrevista, é dita a seguinte frase na apresentação da
trajetória profissional dos entrevistados, “REConto, a memória do Ministério Público do Paraná contada por quem
ajudou a construir sua história”.
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4.1.1. ENTREVISTADORES
4.1.2. ENTREVISTADOS
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Entrevista disponível em: https://youtu.be/TUL6U-ctlR8.
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Entrevista disponível em: https://youtu.be/Yc4ZufcLweg.
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Entrevista disponível em: https://youtu.be/44xU4qWq_xs.
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com os entrevistados, o que costuma facilitar a naturalidade dos diálogos e a fluidez das
entrevistas. Houve, no entanto, um exemplo negativo, no qual a relação de afetividade entre os
personagens resultou numa entrevista um tanto desconexa, curta, com muitos assuntos
subentendidos entre ambos, mas não expressos para os espectadores, e que acabou se
aproximando mais de uma conversa entre amigos que de uma entrevista nos modelos expostos.
Na medida em que mais pessoas são entrevistadas no REConto, aumenta a repercussão
do programa e outras tantas se predispõem a compartilhar suas histórias de vida.
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O programa REConto está inserido no canal de vídeos do Memorial do MPPR, disponível em:
https://www.youtube.com/channel/UCPYFQX3MSGNuv2tqN-yUpkQ.
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“investigar como se conhece a história: como se lê, se vê, se ouve, se vive a história”
(MALERBA, 2017, p. 140), sendo sua função, além da preocupação com a dimensão ética do
trabalho em relação à “verdade”, o de buscar adequar sua produção pensando no público de
consumo desse produto cultural – retorno social.
Tendo em vista que o público-alvo do REConto abrange não somente os integrantes do
MPPR, mas uma gama de elementos exógenos à instituição, as mídias sociais potencializam a
divulgação do programa para levar a seu exterior aspectos de sua história interna. Assim, o
próprio produto final, as entrevistas, é pensado dentro de uma lógica diferente da produção
acadêmica, sendo considerados outros aspectos que envolvem o meio digital, como o alcance
ao público, a duração e acessibilidade dos vídeos:
Entretanto, potencial leitor de história não é mais o especialista, nem sequer o
indivíduo educado, como no século XIX e praticamente todo o século XX. Blogs e
redes sociais, 14 por exemplo, não aceitam o “textão”. A informação e a análise
devem se veicular em gotas. A capacidade e a disponibilidade de leitura hoje contam-
se em dígitos (MALERBA, 2017, p. 143).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS