Você está na página 1de 24

UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL E SUDESTE DO PARÁ

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS E ENGENHARIAS

FACULDADE DE GEOLOGIA

RELATÓRIO PRELIMINAR DE ESTÁGIO DE CAMPO II

MARABÁ

2018
RICARDO AUGUSTO ALVES MEDINA (201540603007)

RELATÓRIO PRELIMINAR DO ESTÁGIO DE CAMPO II

Trabalho apresentado à Universidade Federal do


Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) como requisito
para a avaliação parcial da disciplina Estágio de
Campo II (GE07079), ministrada pelos
professores José de Arimatéia, Alice Cunha da
Silva e Cristiane Marques de Lima Teixeira.

MARABÁ

2018
Lista de Figuras

Figura 1 – Mapa de localização e acesso.................................................................................6

Figura 2 - Províncias do Cráton Amazônico segundo Santos (2003) (à esquerda) e


Tassinari e Macambira (2004) (à direita)...............................................................................8

Figura 3 - Mapa de zonas homólogas de drenagem.............................................................16

Figura 4 - Mapa de zonas homólogas de relevo....................................................................17

Figura 5 - Diagrama de rosetas - Alinhamentos rúpteis......................................................18

Figura 6 - Diagrama de roseta - Alinhamentos dúcteis.......................................................19

Figura 7 - Diagrama de roseta - Alinhamentos magnetométricos......................................19

Figura 8 - Mapa de alinhamentos estruturais......................................................................20

Figura 9 - Mapa planialtimétrico..........................................................................................24


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 5

1.1 Localização e Acesso .................................................................................................................... 5

1.2 Objetivos ....................................................................................................................................... 5

1.2.1 Objetivos gerais ...................................................................................................................... 5

1.2.2 Objetivos específicos.............................................................................................................. 5

1.3 Materiais e Métodos ...................................................................................................................... 7

2 GEOLOGIA REGIONAL .................................................................................................................... 7

2.1 Província Carajás .......................................................................................................................... 9

2.2 Domínio Rio Maria ....................................................................................................................... 9

2.3 Província Transamazonas ............................................................................................................ 12

2.4 Domínio Santana do Araguaia .................................................................................................... 13

3 FOTOINTERPRETAÇÃO DE PRODUTOS DE SENSORIAMENTO REMOTO ......................... 14

3.1 Análise da drenagem ................................................................................................................... 14

3.2 Análise do relevo......................................................................................................................... 15

3.3 Análise dos alinhamentos ............................................................................................................ 18

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................. 21

APÊNDICE ........................................................................................................................................... 23
RELATÓRIO PRELIMINAR DE ESTÁGIO DE CAMPO II

1 INTRODUÇÃO

O presente relatório trata do levantamento bibliográfico, criação de base cartográfica e


interpretação de produtos de sensores remotos que auxiliarão na etapa de campo referente à
disciplina Estágio de Campo II, do curso de Geologia da Universidade Federal do Sul e
Sudeste do Pará, que será realizada nas proximidades do distrito de Casa de Tábua, no
município de Santa Maria das Barreiras.

1.1 Localização e Acesso

O distrito de Casa de Tábua localiza-se a aproximadamente 470 km de Marabá, sendo o


acesso feito via BR-155 até Redenção e BR-158 (Figura 1). A região de estudo está inserida
na folha SC.22-X-A (Redenção) e abrange maior parte do município de Santa Maria das
Barreiras, além de uma pequena parte de Santana do Araguaia e Cumaru do Norte.

1.2 Objetivos

1.2.1 Objetivos gerais

Aprofundar o conhecimento acerca das unidades geológicas que ocorrem na área de


estudo e do contexto regional na qual está inserida, a partir da caracterização dos seus
aspectos litológicos, geomorfológicos e estruturais. Aplicar conhecimentos teóricos e práticos
no mapeamento de terrenos de alta complexidade.

1.2.2 Objetivos específicos

Realizar o mapeamento geológico na escala de 1:50.000, visando maior detalhamento em


relação aos trabalhos de mapeamento realizados anteriormente. Delimitar as unidades
geológicas que ocorrem na área, buscando definir com maior precisão suas relações de
contato. Elaborar uma síntese do conhecimento existente sobre a região com base no
levantamento bibliográfico. Caracterizar as litologias que ocorrem na área, além de classificar
macro e microscopicamente com base em sua mineralogia. Descrever e interpretar as
estruturas rúpteis e dúcteis encontradas e, com os outros dados obtidos durante toda a fase de
campo, propor uma evolução geológica para a área de estudo.

5
RELATÓRIO PRELIMINAR DE ESTÁGIO DE CAMPO II
Figura 1 - Mapa de localização e acesso.

Fonte: Autor.
6
RELATÓRIO PRELIMINAR DE ESTÁGIO DE CAMPO II

1.3 Materiais e Métodos

As atividades realizadas ao longo da disciplina estão divididas em três etapas: 1) Fase pré-
campo; 2) Fase de campo; 3) Fase pós-campo.

1.3.1 Fase pré-campo

Nessa fase são realizadas atividades de pesquisa bibliográfica sobre a geologia da área
estudada (artigos, teses, dissertações, periódicos, dentre outras publicações) com o intuito de
elaborar uma síntese dos estudos anteriores. A análise e interpretação de produtos de sensores
remotos e elaboração de uma base cartográfica em ambiente SIG para auxílio em campo
também são desenvolvidas nessa fase, com o auxílio de minicursos ministrados ao longo da
disciplina.

1.3.2 Fase de campo

Consiste no levantamento de dados em campo. São organizadas expedições para a


descrição de afloramentos e coleta de amostras ao longo de perfis contínuos, trabalho
realizado com a orientação técnica dos professores. O reconhecimento da área e planejamento
das expedições são essenciais para a realização dessa etapa com melhor aproveitamento.

1.3.3 Fase pós-campo

Essa fase consiste nas atividades de descrição petrográfica das amostras coletadas,
com base na confecção de lâminas delgadas. Consiste ainda no tratamento e compilação dos
dados obtidos na fase de campo e elaboração de um relatório final com o intuito de apresentar
os resultados do trabalho. Ao final dessa fase há a arguição do relatório.

2 GEOLOGIA REGIONAL

2.1.1 Cráton Amazônico

O Cráton Amazônico é uma das principais unidades tectônicas da Plataforma Sul-


Americana e é constituído pelos escudos das Guianas e Brasil Central. Localiza-se no norte da
América do Sul e cobre uma área de 4.500.000 km2. É limitado em suas bordas oriental e
meridional por faixas orogênicas neoproterozóicas marginais do Escudo Atlântico (cinturões
Paraguai-Araguaia-Tocantins), formadas no Ciclo Brasiliano. Representa uma grande placa
litosférica continental, composta por diversas províncias crustais com idades arqueana a
mesoproterozoica, que se tornou estável em torno de 1,0 Ga (Vasquez et al 2008).

7
RELATÓRIO PRELIMINAR DE ESTÁGIO DE CAMPO II

Dentre os diversos modelos de compartimentação do Cráton Amazônico, destacam-se


os trabalhos de Santos (2003) e Tassinari e Macambira (2004), que possuem similaridades
entre si, com algumas discordâncias a respeito dos limites das províncias tectônicas, mas
admitem que a evolução do cráton é resultante de sucessivos eventos de acresção crustal no
Paleo e Mesoproterozóico, em torno de um núcleo mais antigo, estabilizado no final do
arqueano (Vasquez et al 2008).

Tassinari & Macambira (2004) consideram a Província Amazônia Central como o


segmento mais antigo do Cráton Amazônico, sendo composto por dois blocos: Carajás e
Xingu-Iricoumé. Santos (2003) considera a Província Carajás como um segmento a parte.
Ambos os autores, entretanto, consentem que a Província Carajás é a principal e mais antiga
província do Cráton Amazônico (Figura 2).

Figura 2 - Províncias do Cráton Amazônico segundo Santos (2003) (à esquerda) e Tassinari e Macambira
(2004) (à direita).

Fonte: Santos (2003); Tassinari e Macambira (2004).

8
RELATÓRIO PRELIMINAR DE ESTÁGIO DE CAMPO II

2.1 Província Carajás

É a porção crustal mais antiga do Cráton Amazônico e localiza-se na borda sul-


oriental, no sudeste do estado do Pará (Vasquez et al 2008). Considerada a mais importante
província mineral do Brasil, reúne um conjunto de depósitos único no planeta. Essa região foi
formada e estabilizada tectonicamente no arqueano (Tassinari e Macambira, 2004). É
delimitada a norte pelo Domínio Bacajá, o limite meridional é com o Domínio Santana do
Araguaia, segmento da Província Transamazonas. O limite a leste é marcado pelo
cavalgamento do Cinturão Araguaia e a oeste, pelas rochas ígneas e sedimentares
paleoproterozóicas da Província Amazônia Central (Vasquez et al 2008).

Possui como características dominantes sua idade arqueana e estruturação segundo


WNW-ESE. Pode ser dividida em dois domínios distintos: Rio Maria (Mesoarqueano) e
Carajás (Neoarqueano). O Domínio Rio Maria, localizado a sul, é o mais antigo e constitui-se
de terrenos tipo granitoide-greenstone, com idades na faixa de 2,85-3,05 Ga. O Domìnio
Carajás, mesmo contendo rochas mesoarqueanas (Complexos Xingu e Pium – em torno de
2,86-3,00 Ga) é predominantemente de idade neoarqueana e caracterizado por sequências
vulcanossedimentares e granitoides formados em 2,76-2,55 Ga (Santos, 2003). Além desses
domínos, há o chamado Subdomínio de Transição, proposto por Dall’Agnol et al (2006).
Esses domínios são marcados por um magmatismo granítico tipo A orosiriano, extensivo a
outros domínios tectônicos no Pará (Vasquez et al 2008).

2.2 Domínio Rio Maria

O Domínio Rio Maria está localizado no sul da Província Carajás e constitui um


terreno granitoide-greenstone de idade arqueana. Possui as rochas mais antigas do Cráton
Amazônico, sendo composto por greenstone belts, complexos máfico-ultramáficos,
granitoides e ortognaisses TTG e granitos de alto K, que evoluíram um intervalo de cerca de
230 Ma. Também ocorrem associações de bacias sedimentares paleoproterozoicas, granitos,
diques félsico e máficos relacionados a um magmatismo anorogênico do orosiriano (Vasquez
et al., 2008).

As associações tipo granitoide-greenstone representam dois períodos de adição de


crosta juvenil, um entre 3,05-2,96 Ga e outro entre 2,87-2,85 Ga. As faixas de greenstone do
Supergrupo Andorinhas (Grupos Lagoa Seca e Babaçu) e os granitoides TTG como os
tonalitos Caracol e Arco verde correspondem às associações de rochas mais antigas. (Santos
2003).
9
RELATÓRIO PRELIMINAR DE ESTÁGIO DE CAMPO II

Os granitoides arqueanos encontrados nesse domínio são similares aos encontrados em


terrenos arqueanos com idades entre 2,98 e 2,86 Ga. Esses granitoides foram reunidos em
quatro grupos: Série TTG mais antiga (2,98-2,93 Ga), representada pelo Tonalito Arco Verde
e Complexo Tonalítico Caracol; Suite Sanukitoide (~2,87 Ga), composta pelo granodiorito
Rio Maria; Série TTG mais jovem (~2,86 Ga), representada pelos trondhjemitos Mogno e
Água Fria; Leucogranitos de afinidade cálcio-alcalina (~2,86 Ga), representados pelos
granitos Xinguara e Mata Surrão. As unidades arqueanas são intrudidas por granitos
anorogênicos tipo A e diques associados (~1,88 Ga) (Dall’Agnol et al 2005, 2006; Dall’Agnol
e Oliveira 2007; Oliveira et al 2009; Almeida et al 2011).

Greenstone Belts

Ocorrem distribuídos por todo o domínio, como faixas orientadas E-W, NW-SE e NE-
SW. Compreende as rochas supracrustais dos grupos Babaçu, Lagoa Seca , Serra do Inajá,
Gradaús, Sapucaia e Tucumã. Na porção basal predomina a ocorrência de rochas
metavulcânicas ultramáficas a máficas (komatiitos e basaltos toleíticos), com textura spinifex
e pillow lavas reliquiares. Na topo predominam rochas metavulcânicas ácidas- intermediárias
e metassedimentares clásticas e químicas (Vasquez et al 2008).

O Grupo Gradaús é constituído por rochas metaultramáficas, metavulcânicas máficas


e ácidas, com rochas metassedimentares químicas subordinadas. Dentre as rochas
metassedimentares, ocorrem formações ferríferas bandadas. O Grupo Serra do Inajá foi
descrito por Ianhez et al (1980) em quatro associações litológicas, sendo elas rochas
metaultramáficas, metamafitos, metatufos, rochas metassedimentares, etc.

O Grupo Babaçu representa diversos segmentos com orientação NE-SW, distribuídos


a norte, sul e sudeste da Serra das Andorinhas. Composta principalmente por metabasaltos,
rochas metassedimentares químicas, além de metatufos e talco xistos. O Grupo Lagoa Seca
ocorre como dois segmentos, um de direção NE-SW e outro E-W. Ocorrem rochas
metavulcânicas félsicas, rochas metassedimentares e níveis de formação ferrífera bandada. As
rochas Grupo Tucumã ocorrem como diversas faixas NW-SE. É constituído por rochas
metamáficas, metaultramáficas, metavulcânicas ácidas e metassedimentares psamo-pelíticas.
Grupo Sapucaia ocorre principalmente como uma faixa alongada com segmentos menores
WNW-ESE. É composto por rochas metaultramáficas, metamáficas, metassedimentares e
metadacitos (Vasquez et al 2008).

10
RELATÓRIO PRELIMINAR DE ESTÁGIO DE CAMPO II

Granitoides e Ortognaisses TTG

A unidade Tonalito Arco Verde é a mais antiga e é constituída por tonalitos e


trondhjemitos cinza, isotrópicos e com textura ígnea bem preservada ou, por vezes,
fortemente foliados (Althoff et al 2000). Ocorrem enclaves de quartzo dioritos, anfibolitos,
granodioritos e monzogranitos, além de veios de aplitos e pegmatitos. A gênese do
bandamento composicional dessas rochas é alvo de controvérsias, alguns autores admitem
uma origem tectônica para o bandamento, outros interpretam como de origem ígnea,
produzido por processos de mistura magmática (Vasquez et al 2008). Exibe uma foliação com
direção que varia de 100 a 120º, caracterizada pela alternância de bandas tonalíticas e
trondhjemíticas. A foliação é definida pela orientação preferencial de biotitas, feldspatos e
agregados policristalinos de quartzo (Althoff et al 2000).

A unidade Tonalito Caracol é definida por granitoides de composição tonalítica e


trondhjemítica , com coloração cinza clara a escura e contém enclaves tonalíticos e de
greenstone belts (Vasquez et al 2008). Segundo Leite (2001), a estrutura que mais se ressalta
é a foliação marcada por bandamento composicional, ocorrendo em direções N-S e NW-SE.

O Tonalito Mariazinha, segundo Guimarães et al (2010), possui afloramentos


moderadamente deformados , com bandamento caracterizado pela alternância de bandas
composicionais. Possui foliação nas direções NE-SW a N-S.

Suíte Sanukitóide – Granodiorito Rio Maria

O Granodiorito Rio Maria foi designado por Dall’Agnol et al (1986) como rochas
essencialmente granodioríticas, associadas a tonalitos e com enclaves máficos. Medeiros
(1987) definiu quatro fácies petrográficas, biotita-hornblenda granodiorito, biotita
granodiorito e monzogranito, sendo a hornblenda e biotita os máficos principais. A intensa
saussuritização do plagioclásio também é uma característica importante.

Granito Guarantã

Foi individualizado por Althoff et al (2000), que o descreve como um monzogranito


foliado, de coloração rosada, textura grosseira e lineação mineral proeminente. É intrusivo no
Tonalito Arco Verde. Possui uma foliação WNW-ESE, subvertical, ressaltada pela orientação
de cristais de biotita, feldspato e ribbons de quartzo (Vasquez et al 2008).

11
RELATÓRIO PRELIMINAR DE ESTÁGIO DE CAMPO II

TTGs jovens

O Trondhjemito Mogno ocorre na porção norte do Domínio Rio Maria e é composto


por trondhjemitos, tonalitos e granodioritos, com enclaves máficos e xenólitos de
granodioritos e basaltos. São isotrópicos ou com foliação pouco penetrativa ou bem definida,
sendo orientada segundo N40-50E com mergulhos em torno de 70ºNW (Neves e Vale 1999
apud Vasquez et al 2008). Segundo Leite (2001), o Trondhjemito Água Fria é representado
por um corpo alongado orientado NW-SE. Trata-se de trondhjemitos e subordinados
granodioritos com bandamento composicional levemente ondulado, de direção NW-SE a
WNW-ESE. Contém enclaves do Tonalito Caracol, além de diques e veios correlacionáveis
ao Granito Xinguara.

Leucogranitos Potássicos

O Granito Xinguara possui três variedades petrográficas individualizadas por Leite e


Dall’Agnol (1997), são elas: Leucomonzogranitos, granitos pegmatoides e
leucosienogranitos. Segundo Leite (2001), o Granito Xinguara apresenta grande
homogeneidade textural e composicional. Geralmente aparenta ser isotrópico, mas próximo
ao contato com as encaixantes encontram-se foliações de fluxo e bandamento magmático,
além de uma foliação tectônica com direção E-W a WNW-ESE.

Granitos Tipo A

As suítes de granito tipo A foram formadas em ~1,88 Ga, em um regime tectônico


extensional. No Domínio Rio Maria, isso é indicado por enxames de diques que possuem a
mesma idade dos granitos (Dall’Agnol et al 2005). O orosiriano é marcado pelo magmatismo
anorogênico tipo A, representado pelos granitos da Suíte Intrusiva Jamon (Vasquez et al
2008).

2.3 Província Transamazonas

Segundo Santos (2003) a Província Transamazonas representa um orógeno


paleoproterozóico, relacionado ao Ciclo Transamazônico (2,26-2,95 Ga), constituído
dominantemente por terrenos do tipo granitoide-greenstone. É constituída por cinco tipos de
unidades litoestratigráficas: Complexo Guianense; Rochas de alto grau; Rochas supracrustais
do terreno granitoide-greenstone transamazônico; Granitóides transamazônicos, com idades
entre 2206 e 2060 Ma; Granitoides pós-Transamazonas, formados no final do
paleoproterozóico.

12
RELATÓRIO PRELIMINAR DE ESTÁGIO DE CAMPO II

Essa província é constituída por três domínios em território brasileiro: Gurupi, Bacajá
e Amapá. É possível que exista uma zona de transição entre as províncias Transamazonas e
Carajás, na qual fragmentos de crosta arqueana e paleoproterozóica estejam imbricados
tectonicamente segundo WNW-ESE (Santos 2003). O Domínio Santana do Araguaia é
proposto por Vasquez et al (2008), o qual era incorporado às províncias arqueanas Carajás
(segundo Santos, 2003) ou Amazônia Central (segundo Tassinari e Macambira, 2004).
Datações realizadas indicam que mesmo o embasamento sendo arqueano, há indícios de
retrabalhamento durante o Ciclo Transamazônico (Vasquez et al 2008).

2.4 Domínio Santana do Araguaia

Está localizado no extremo sudeste do estado do Pará e posiciona-se no sudeste do


Cráton Amazônico, em contato a leste com o Cinturão Araguaia e a norte com o Domínio Rio
Maria. Nas propostas de compartimentação do Cráton Amazônico tem sido considerado como
uma continuidade do terreno granitoide-greenstone Rio Maria e por isso interpretado como
pertencente à Província Carajás. Porém, datações indicavam um retrabalhamento de crosta
arqueana neste seguimento, o que não foi observado no Domínio Rio Maria.

Gnaisses, migmatitos e granitoides da região de Santana do Araguaia constituem as


unidades litoestratigráficas Ortognaisse Rio Campo Alegre e Complexo Santana do Araguaia.
Essas unidades compõem a associação granitoide-greenstone arqueana do Domínio Santana
do Araguaia. O Ortognaisse Rio Campo Alegre foi data pelo método Pb-Pb em zircão, foram
obtidas idades entre 2408 a 2663 Ma, sendo a idade mais antiga interpretada como idade
mínima de cristalização do protólito magmático. O Complexo Santana do Araguaia ainda não
foi datado, porém no Mato Grossofoi obtida isócrona Rb-Sr de referência, sendo calculada a
idade de 2696 Ma. Na Sequência Mumuré foram obtidas idades entre 2833 e 2975 Ma.
Portanto, os dados geocronológicos disponíveis, entre 2,83 e 2,66 mostram que o Domínio
Santana do Araguaia é mais jovem que seu correlato no Domínio Rio Maria, cuja idade varia
entre 3,0 e 2,86 Ga, o que reforça a compartimentação desses segmentos (Vasquez et al
2008).

A Suite intrusiva Rio Dourado e o Sienito Rio Cristalino representam o último evento
magmático nesse domínio. Trata-se plutons anorogênicos, de afinidade alcalina, sendo a
primeira com características de granitos tipo-A, datada em 1889 Ma. Essa unidade é
cronocorrelata a outras suítes similares que retratam o evento magmático alcalino

13
RELATÓRIO PRELIMINAR DE ESTÁGIO DE CAMPO II

intracontinental, representado no sudeste do Cráton Amazônico (Suite Intrusiva Jamon –


Domínio Rio Maria; Suite Intrusiva Carajás – Domínio Carajás) (Vasquez et al 2008).

Apresenta um trend estrutural marcadamente NW-SE, contrastando com a


estruturação E-W do Domínio Rio Maria, o que deu suporte para a sua individualização. A
foliação dúctil, observada no Ortognaisse Rio Campo Alegre, possui direção N20º-40ºW. No
nordeste deste domínio destaca-se uma zona de cavalgamento que delineia a borda leste de
uma faixa da Sequência Mumuré, com direção NW-SE, com inflexão para NNE-SSW
(Vasquez et al 2008).

3 FOTOINTERPRETAÇÃO DE PRODUTOS DE SENSORIAMENTO REMOTO

3.1 Análise da drenagem

A rede de drenagem traçada de forma sistemática e uniforme pode fornecer


informações muito relevantes, principalmente sobre a estrutura geológica da área. Variações
no estilo estrutural e nas fácies litológicas podem ser obtidas com base em mapas de
drenagem detalhados (Soares & Fiori, 1976).

A área de Estágio de Campo II foi dividida em quatro zonas homólogas e a partir disso
foi gerado um mapa de zonas homólogas de drenagem, individualizadas com base na proposta
de Soares & Fiori (1976), que considera como propriedades mais importantes a densidade,
sinuosidade, angularidade, tropia, assimetria e lineações de drenagem, descritas a seguir:

Zona I – Esta zona compreende a porção sudeste da área, sendo padrão dendrítico
com densidade baixa, sinuosidade mista, angularidade média, tropia multidirecional ordenada
e assimetria fraca. As anomalias em arco e cotovelo são as mais evidentes.

Zona II – Esta zona, na porção sudoeste da área, possui padrão dendrítico com
densidade baixa, sinuosidade mista, angularidade média, tropia multidirecional ordenada e
assimetria forte, por conta da diferença de declividade causada pela erosão diferencial das
litologias nessa porção. Nesta zona ocorrem anomalias em arco e em cotovelo,
principalmente.

Zona III – Nesta zona, que se estende por toda a porção central da área, o padrão
dendrítico possui densidade baixa, sinuosidade mista, angularidade média, tropia
multidirecional ordenada e assimetria fraca. A anomalia em cotovelo é a mais evidente,
ocorrendo também algumas anomalias em arco.
14
RELATÓRIO PRELIMINAR DE ESTÁGIO DE CAMPO II

Zona IV – Nesta zona, que ocorre na porção norte da área, o padrão dendrítico possui
densidade média a baixa, sinuosidade média, angularidade média, tropia multidirecional
ordenada e assimetria fraca. Além da anomalia em cotovelo, ocorrem também algumas
anomalias em arco.

Zona V – Esta zona pouco difere das zonas adjacentes em suas características. Foi
individualizada com base no seu padrão radial, o que permite inferir a existência de uma
litologia resistente à erosão e que, inclusive, condicionou a rede de drenagem nesse ponto,
mudando sua direção.

A orientação da rede de drenagem segundo NW-SE, E-W e NE-SW é um claro reflexo


da estruturação do substrato. As características da drenagem em cada zona estão associadas
com a litologia e intensidade com que a área foi estruturada, evidenciado também pelas
ocorrências de anomalias em cotovelo e arco. O mapa resultante da análise da drenagem pode
ser conferido na Figura 3.

3.2 Análise do relevo

Para a análise das formas de relevo foi levado em consideração a textura e quebras do
relevo, auxiliado também pelo uso de curvas de nível para a delimitação das zonas
homólogas. A Zona I é caracterizada por possuir as cotas mais altas, podendo chegar a 750
m. O relevo encontra-se alongado na direção E-W e possui vertentes íngremes, constituindo
um relevo de serras. A Zona II possui cotas moderadas, em torno de 500 m, e é caracterizada
pela textura rugosa, causada pela forma como a litologia que ocorre nessa zona reage aos
agentes erosivos. A Zona III possui cotas abaixo de 500 m e é caracterizada pela rugosidade
moderada a alta. Nesta zona o relevo encontra-se fortemente estruturado, com a
predominância de alinhamentos N-S, que serão discutidos a seguir. A Zona IV possui cotas
entre 300-250 m, e é caracterizada por ser a de relevo levemente rugoso, porém com aspecto
arrasado. A Zona V possui as cotas mais baixas (< 250 m) e é caracterizada por um relevo
plano e arrasado. O mapa resultante da análise do relevo pode ser conferido na Figura 4.

15
RELATÓRIO PRELIMINAR DE ESTÁGIO DE CAMPO II
Figura 3 - Mapa de zonas homólogas de drenagem.

Fonte: Autor

16
RELATÓRIO PRELIMINAR DE ESTÁGIO DE CAMPO II
Figura 4 - Mapa de zonas homólogas de relevo.

Fonte: Autor

17
RELATÓRIO PRELIMINAR DE ESTÁGIO DE CAMPO II

3.3 Análise dos alinhamentos

Ao longo do tempo geológico, as rochas passam por sucessivos eventos


deformacionais, sejam eles dúcteis ou rúpteis, que levam ao desenvolvimento de falhas,
fraturas, dobras e zonas de cisalhamento. Isso resulta em arranjos do relevo e drenagem que
podem ser analisados e interpretados, constituindo informações de grande relevância a
respeito das estruturas geológicas de uma região.

A identificação e marcação dos alinhamentos rúpteis e dúcteis foi auxiliada por


imagens SRTM (Shuttle Radar Topography Mission), das quais foi possível extrair as feições
mais representativas e passíveis de interpretação. Além das imagens SRTM, imagens de
Amplitude do Sinal Analítico (ASA) de anomalias magnéticas também possibilitaram a
extração de estruturas relevantes. Essas estruturas são prováveis diques ou zonas de
cisalhamento, orientados segundo NW-SE e que, de certo modo, fornecem informações
importantes sobre a estruturação da área.

Com base nos dados obtidos da fotointerpretação, foi possível executar a análise dos
alinhamentos no software SPRING 5.4, resultando em diagramas de roseta de frequência
absoluta com intervalos de 20º. A análise dos alinhamentos rúpteis indicou um trend
preferencial N-S, além de outros NNW-SSE e NW-SE com menor intensidade (Figura 5). A
análise dos lineamentos dúcteis indicou um trend preferencial N-S, mais expressivo, e outros
dois NNW-SSE e NW-SE com menor intensidade (Figura 6).

Figura 5 - Diagrama de rosetas - Alinhamentos rúpteis.

Fonte: Autor

18
RELATÓRIO PRELIMINAR DE ESTÁGIO DE CAMPO II

Figura 6 - Diagrama de roseta - Alinhamentos dúcteis

Fonte: Autor

Ambos os alinhamentos possuem um trend muito similar, o que pode ser observado
pelos diagramas de roseta, porém os alinhamentos dúcteis possuem um significativo trend
secundário E-W. A partir dos dados magnetométricos foram extraídos alguns alinhamentos,
correlacionados como zonas de cisalhamento, com direção preferencial NW-SE expressiva.
Para a melhor visualização, foi gerado um diagrama de roseta com espaçamento de 15º
(Figura 7). Como resultado da análise e interpretação dos alinhamentos foi gerado um mapa
de alinhamentos estruturais (Figura 8).

Figura 7 - Diagrama de roseta - Alinhamentos magnetométricos.

Fonte: Autor
19
RELATÓRIO PRELIMINAR DE ESTÁGIO DE CAMPO II
Figura 8 - Mapa de alinhamentos estruturais.

Fonte: Autor

20
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, J.A.C., DALL’AGNOL, R., OLIVEIRA, M.A., MACAMBIRA, M.J.B.,


PIMENTEL, M.M., RAMO, O.T., GUIMARÃES, F.V., LEITE, A.A.S., 2011. Zircon
geochronology and geochemistry of the TTG suites of the Rio Maria granite-greenstone
terrane: Implications for the growth of the Archean crust of Carajás Province, Brazil.
Precambrian Research 120, 235-257.

ALTHOFF, F. J., BARBEY, P., BOULLIER, A. M. 2000. 2.8–3.0 Ga plutonism and


deformation in the SE Amazonian craton: the Archean granitoids of Marajoara (Carajás
Mineral province, Brazil). Precambrian Research, 104: 187–206.

DALL´AGNOL, R. et al. Estado atual do conhecimento sobre as rochas granitóides da porção


sul da Amazônia Oriental. Revista Brasileira de Geociências, v. 16, n. 1, p. 11-23, 1986.

DALL’AGNOL, R., N. P. TEIXEIRA, O. T. RÄMÖ, C. A. V. MOURA, M. J. B.


MACAMBIRA & D. C. OLIVEIRA, 2005. Petrogenesis of the Paleoproterozoic rapakivi A-
type granites of the Archean Carajás metallogenic province, Brazil. Lithos 80(1-4): 101-129.

DALL'AGNOL, R.; OLIVEIRA, M. A.; ALMEIDA, J. A. C. ALTHOFF, F.J.; LEITE, A.


A.S.; OLIVEIRA, D. C.; BARROS, C.E.M. 2006. Archean and Paleoproterozoic
Granitoids of the Carajás Metallogenic Province, Eastern Amazonian Craton. In:
SYNPOSIUM ON MAGMATISM, CRUSTAL EVOLUTION, AND METALLOGENESIS
OF THE AMAZONIAN CRATON, 1. Excution Guide..., Belém, p.99-150.

DALL’AGNOL, R., OLIVEIRA, D.C., 2007. Oxidized, magnetite-series, rapakivi-type


granites of Carajás, Brazil: implications for classification and petrogenesis of A-type granites.
Lithos 93, 215–233.

GUIMARÃES, F. V., DALL'AGNOL, R., ALMEIDA, J. A. C., OLIVEIRA, M. A.


Caracterização geológica, petrográfica e geoquímica do Trondhjemito Mogno e Tonalito
Mariazinha, Terreno Granito-greenstone mesoarqueano de Rio Maria, SE do Pará. Revista
Brasileira de Geociências, p. 196-211, 2010.

IANHEZ, A.C.; SOUSA A.M.S.; MONTALVÃO, R.M.G. Geologia da sequência


vulcano-sedimentar da Serra do Inajá – Santana do Araguaia. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 31., 1980, Camboriú. Anais... Camboriú: SBG, 1980. v.
5, p. 2918-2928.
LEITE, A.A.S.; DALL’AGNOL, R. Geologia e petrografia do maciço granítico Arqueano
Xinguara e de suas encaixantes - SE do Pará. Boletim do Museu Paraense Emílio
Goeldi, v. 9, p. 43-81, 1997. (Série Ciências da Terra).

LEITE, A. A. S. 2001. Geoquímica, petrogênese e evolução estrutural dos granitoides


arqueanos da região de Xinguara, SE do Cráton Amazônico. Belém, Centro de
Geociências, Universidade Federal do Pará, 330p. (Tese Doutorado).

MEDEIROS, H. Petrologia da porção leste do batólito granodiorítico Rio Maria, sudeste


do Pará. 1987. 169 f. Tese (Mestrado) - Centro de Geociências, Universidade Federal do Pará,
Belém, 1987.

NEVES, A.P.; VALE, A.G. Redenção: folha SC.22-X-A. Estados do Pará e Tocantins,
escala 1:250.000. Brasília: DNPM/CPRM, 1999. 1 CD-ROM. Programa Levantamentos
Geológicos Básicos do Brasil (PLGB).

OLIVEIRA, M.A., DALL’AGNOL, R., AlLTHOFF, F.J., LEITE, A.A.S., 2009.


Mesoarchean sanukitoid rocks of the Rio Maria Granite-Greenstone Terrane, Amazonian
craton, Brazil. Journal of South American Earth Sciences 27, 146-160.

SANTOS, J. O. S., 2003. Geotectônica dos Escudos das Guianas e Brasil-Central. In:
Schobbenhaus, L. A. B., Vidotti, R. M., Gonçalves, J. H. (eds). Geologia, Tectônica e
Recursos Minerais do Brasil. Brasília, 2003.

SOARES, P. C.; FIORI, A. P., 1976. Lógica e sistemática na análise e interpretação de


fotografias aéreas em geologia.

TASSINARI, C.C.G., MACAMBIRA, M., 2004. A evolução tectônica do Craton


Amazônico. In: Mantesso- Neto, V., Bartorelli, A., Carneiro, C.D.R., Brito Neves, B.B.
(eds.). Geologia do Continente Sul Americano: Evolução da obra de Fernando Flávio
Marques Almeida. São Paulo, p. 471-486 (in Portuguese).

VASQUEZ, L.V., ROSA-COSTA, L.R., SILVA, C.G., RICCI, P.F., BARBOSA, J.O.,
KLEIN, E.L., LOPES, E.S., MACAMBIRA, E.B., CHAVES, C.L., CARVALHO, J.M.,
OLIVEIRA, J.G., ANJOS, G.C., SILVA, H.R., 2008. Geologia e Recursos Minerais do
Estado do Pará: Sistema de Informações Geográficas – SIG: texto explicativo dos mapas
Geológico e Tectônico e de Recursos Minerais do Estado do Pará, 328p (in Portuguese).
APÊNDICE

23
Figura 9 - Mapa planialtimétrico

24

Você também pode gostar