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ANÁLISE DE GEOMETRIAS

EMPÍRICAS PARA
DIMENSIONAMENTO DE
PEQUENAS BARRAGENS DE
TERRA
1 INTRODUÇÃO

A engenharia sempre se preocupou com formas mais práticas de garantir segurança e


durabilidade nas construções. Por outro lado, a ciência busca a compreensão dos fenômenos.
No entanto, a “boa” engenharia, no sentindo do acúmulo de experiência prática e
conhecimento empírico, evolui em ritmo diferente quando comparado com o avanço dos
conhecimentos científicos. Assim, existe um descasamento entre formulações e conceitos já
estudados e identificados pela ciência e “boas” práticas incorporadas no dia a dia da
engenharia.

Rememorando o contexto histórico do surgimento da engenharia, lembramos que as


primeiras iniciativas para difundir e formalizar as descobertas científicas surgiram na criação
das sociedades dedicadas às ciências, Royal Society, Londres 1663, e Académie des Sciences,
Paris 1666. Logo, deu-se início a ciência, uma ramificação nova do conhecimento, com
métodos estruturados e com validação de suas descobertas por meio de uma comunidade.

Porém, os conhecimentos práticos, que já vinham sendo transferidos por séculos e


séculos na base da sociedade, não incorporaram, tão rapidamente, os conhecimentos
científicos. Deste modo, deram-se início às primeiras tentativas de incorporação dos novos
conhecimentos à sociedade como um todo, com a criação das escolas de engenharia (Escola
Pública de Engenharia e Metarlugia de Praga, 1707; L’Académie royale d’architecture, 1671;
École royale du génie de Mézières, 1675; École des ponts e chaussées, 1747).

A criação das escolas foi uma tentativa de aproximação dos conhecimentos científicos
às práticas de construção. Logo, foi inaugurada a profissionalização da engenharia, com o
entendimento de que a engenharia se formaria com o “corpo de conhecimento que pudesse
ser registrado em livros e pelos meios formais através dos quais uma pessoa poderia se formar
e ingressar na profissão” (Addis, p. 219).

Porém, o rigor acadêmico das publicações científicas, quase sempre, manteve-se


inacessível ao grande público. Assim, buscando uma pujança industrial, a França inaugurou as
Escolas Politécnicas (École polytechnique – 1794). Sendo uma das missões: “diminuir a
distância entre a teoria e a prática, em parte para romper as barreiras entre a elite intelectual
e os trabalhadores da indústria” (Addis, p. 302)

Mesmo assim, no campo literário ainda existia um certo distanciamento, pois os livros-
textos eram considerados eruditos e quase sempre baseados nas notas de aulas dos
professores das escolas. Logo, surgiram também os livros-manuais de orientações práticas

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para engenheiros, com tabelas e fórmulas prontas que continham simplificações dos conceitos
científicos.

Confirmando a existência desse “descasamento” entre a teoria e a prática, após


séculos de disputa, William Rankine, em 1855, na inauguração da seção de Ciência Mecânica
da British Association for the Advancement of Science, escreveu:
Estudar princípios científicos em busca de sua aplicação
prática é uma arte distinta, que requer métodos próprios... Esse tipo
de conhecimento (que fica em uma posição intermediária entre o
puramente científico e o puramente prático)... dá àquele que o
domina condições de planejar uma estrutura ou uma máquina para
propósitos específico, sem a necessidade de copiar modelos já
existentes – de computar o limite teórico da resistência ou a
estabilidade de uma estrutura, ou a eficiência de determinada
máquina – de definir por que uma máquina ou uma estrutura real
não consegue ultrapassar esse limite, de descobrir a causa e a
solução de tais deficiências – de determinar, ao estabelecer os limites
do uso prático, quão vantajoso seria desviar, pelo bem da
simplicidade, da exatidão exigida pela ciência pura; de julgar em que
medida uma regra prática já existente se baseia na razão, no costume
ou no erro. (Addis, Edificação: 3000 Anos de Projetos, Engenharia e
Construção, p. 316-317)

Deste modo, é preciso sempre avaliar “em que medida uma regra prática já existente
se baseia na razão, no costume ou no erro”.

A NBR 8044/2018 (projetos geotécnicos) permite que barragens com menos de 15m
de altura sejam projetadas com base na experiência do engenheiro, sendo necessária apenas
uma caracterização geotécnica do solo.

Esta norma foi publicada em 13 de novembro de 2018, aproximadamente 31 anos


após sua primeira publicação. Todavia, em sua primeira versão, junho de 1983, a norma exigia
a análise de estabilidade, estudos de deformações, estudo de percolação e etc., para qualquer
tamanho de barragem. Sendo assim, constata-se que houve uma flexibilização, por parte da
ABNT, em favor do conhecimento “prático”.

A norma antiga definia ainda que no desenvolvimento do projeto seria obrigatória a


adoção de “fatores de segurança compatíveis”. Esse texto também foi retirado da versão de
2018.

Vale ressaltar que o próprio William Rankine definiu os primeiros parâmetros


filosóficos do fator de segurança, em sua publicação A Manual of Civil Engineering. Hoje, a
comunidade acadêmica já possui considerações bem mais modernas sobre segurança e
propõe análises com base em fatores de segurança parciais e considerando um ajuste desses
fatores com a probabilidade estatística de ruína de parte das estruturas. No entanto, a ABNT
retirou na nova edição da NBR 8044 inclusive a citação do conceito de fator de segurança.

Portanto, após essa breve descrição da evolução histórica da engenharia, e, da recente


atualização da Norma Brasileira de projetos Geotécnicos, avaliar os resultados obtidos no

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dimensionamento de pequenas barragens de terra utilizando metodologias práticas
(indicativos de geometria) comparando com resultados analíticos.

Tendo em mente que a norma atualizada de projetos geotécnicos (NBR 8044/2018)


retirou a obrigatoriedade de análises baseadas em modelos matemáticos com as devidas
ponderações (ex. fatores de segurança), pretendemos elaborar um estudo de caso, em um
projeto executivo, que dimensionou 210 pequenas barragens de terra em solos Sergipano,
objetivando identificar a seguranç, ou não, em cada uma das barragens, comparando o
método adotado pelo projetista com outros métodos práticos e um método analítico.

O estudo que se pretende, deve avaliar estabilidade, percolação (perda de água) e


deformações nas 210 barragens projetadas, pois as barragens estão localizadas em uma
grande variedade de solos o que permitirá a avaliação do comportamento de diversos tipos de
solos sergipanos.

A seguir, analisa-se o que diz a norma.

2 TERMOS E DEFINIÇÕES DA ABNT NBR 8044:2018

A seguir, destaca-se o texto da Norma que estabelece a categoria de pequenas barragens


e define os requisitos geotécnicos necessários para o dimensionamento.
3.2 Categorias de projetos geotécnicos:

A fim de estabelecer os requisitos do projeto geotécnico são


definidas categorias de obras geotécnicas. Projetos e obras
geotécnicas têm seu grau de detalhamento de estudos variável de
acordo com sua categoria levando em consideração sua magnitude,
importância e risco. Categoria 1 é a categoria que engloba
unicamente obras pequenas e simples para as quais se pode
assegurar que são satisfeitos os requisitos de segurança e
desempenho apenas com base na experiência e em estudos de
caracterização geotécnica. Nessa categoria podem ser atendidas
apenas as exigências de estudo preliminar, ficando a critério do
projetista, a necessidade de acompanhamento e monitoramento da
obra”. (Grifo nosso)

Incluem-se, por exemplo, na categoria 1 as seguintes obras:

a) fundações de edificações simples


de até 2 pavimentos com uma carga máxima de 250
kN nos pilares e 100 kN/m nas paredes;
b) estruturas de contenção com
desnível máximo de 3 m;
c) pequenas escavações, de até 2 m,
destinadas a trabalhos de drenagem, instalação de
tubulações;
d) pequenos aterros com até 4 m de
espessura que não estejam assentes sobre solos
moles, etc;
e) taludes com até 5 m de altura;
f) barragens com alturas de até 15
m.

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Portanto, a norma exige “apenas” os estudos preliminares para pequenas barragens,
prescidindo as considerações de estudos básicos e executivo. Em um de seus anexos (Anexo
H), a Norma apresenta os elementos que devem constar nos estudos preliminares de
barragens e estruturas anexas, são eles:
Esta fase compreende a escolha dos locais e eixos
alternativos de acordo com parâmetros geológico-geotécnicos,
hidrológico-hidráulicos e ambientais, cabendo uma análise de decisão
multicritério para a escolha do melhor eixo.

Nesta fase deve ser elaborado estudo de alternativas para a


escolha do tipo de barragem considerando a sua categoria,
finalidade, os materiais disponíveis no local, as premissas, critérios de
projeto e de dimensionamento. Podem ser barragens de terra
homogêneas ou zoneadas, de enrocamento com núcleo argiloso
(mista), núcleo de asfalto, face de concreto etc.

Para tanto são necessárias: pesquisa em mapas geotécnicos


regionais, interpretação de fotos aéreas, levantamento
planialtimétrico, mapeamento geológico superficial, e campanha de
investigações preliminares tanto para a área da barragem, como
também para a fundação das estruturas anexas e áreas de
empréstimo.

Portanto, no que se refere a barragens de até 15 m de altura, a NBR


8044/2018 entende que uma investigação preliminar da área da barragem e das áreas de
emprestimo, uma caracterização geologica e geotécnica dos solos e a experiência do
engenheiro são suficientes para satisfazer os requisitos de segurança e desempenho da
estrutura.

É importante frisar que mesmo para as barragens acima de 15 m de altura a NBR


8044/2018 (Projeto geotécnico – procedimento) não especifica parâmetros geotécnicos ou
fatores de segurança.

A norma atual também não faz qualquer menção as análises de laboratórios ou


estudos específicos. Na sua versão antiga (1983), a norma no seu item 13.2.2.3 indicava os
estudos de estabilidade, deformações e estudo de percolação.

Deste modo, percebe-se novamente que a NBR 8044/2018 reduziu o rigor requerido,
pois retirou a necessidade de estudos básicos para pequenas barragens.

Dito isso, nota-se a necessidade de avaliar indicativos empíricos de geometrias para


pequenas barragens de terra no intuito de aprofundar o conhecimento na compreensão dos
parâmetros mais relevantes que definem essas geometrias. A seguir, avalia-se o que dizem
alguns livros-textos de referências práticas.

3 REFERÊNCIAS DE MANUAIS PRÁTICOS

Objetivando identificar as práticas mais corriqueiras e de fácil acesso aos engenheiros,


especificamente com relação ao projeto geotécnico de pequenas barragens, avaliaremos
alguns dos manuais de dimensionamento de pequenas barragens disponíveis para os
engenheiros. Buscando, assim, balizarmos as referências técnicas da “engenharia prática” da
melhor forma possível.

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Deste modo, iremos expor as considerações de três manuais, são eles:

 Manual sobre pequenas barragens de terra (guia para localização, projeto e


construção) – publicado pela Food and Agriculture Organization – FAO, 2011;
 Manual do pequeno açude (construir, conservar e aproveitar pequenos açudes no
Nordeste Brasileiro) – publicado pela Superintendência de Desenvolvimento do
Nordeste – SUDENE, 1992;
 Avaliação de pequenas barragens (Manual de Irrigação) – Ministerio da Integração
Regional/Bureau of Reclamation, 1993.

Apresenta-se, a seguir, os parâmetros geotécnicos apontados nos manuais para


escolha de solos e dimensionamento de pequenas barragens.

3.1 TEXTO TÉCNICO FAO

O Manual sobre pequenas barragens publicado pela FAO, indica que suas
considerações são para barragens com menos de 5m de altura (página 5).

Assim, no capítulo de barragens de terra, são definidos dois métodos de construção:


barragens homogêneas e barragens zoneadas.

Com relação a estabilidade e a geometria dos taludes para barragens homogêneas, é


dito:
Duma maneira geral, barragens homogéneas deverão ter taludes/vertentes
relativamente planos (1:3 a montante e 1:2 a jusante) como segurança contra
possível instabilidade. Um talude menos inclinado a montante, obrigatório
para todas as barragens de terra, permite que a secção saturada abaixo do
nível de água resista ao abatimento. Também, o peso da água armazenada
acima deste exerce uma pressão de cima para baixo que, quando combinado
com o peso da barragem, iguala ou excede a pressão horizontal exercida pela
altura da água contra o aterro. Note-se que esta última depende da altura,
não do volume de água, e que a pressão horizontal aumenta na razão do
quadrado da altura da água. Assim, ao construir barragens mais altas este
assunto torna-se mais crítico, já que, por exemplo, duplicando a altura da
água duma barragem de 2 m para 4 m se quadruplicaria a pressão.... (página
15)

No caso de se optar por barragens zoneadas, as recomendações são as seguintes:


Esta é uma melhor alternativa, particularmente para barragens maiores que
facilmente permitem a utilização de maquinaria de construção. Com este tipo
de barragem, possíveis perigos de infiltração são reduzidos ao mínimo.
Comparadas com barragens de aterro homogéneo, os custos são susceptíveis
de ser mais altos, principalmente porque o material de terraplanagem é
dividido em três categorias: permeável para a face jusante, impermeável para
o núcleo e semi-impermeável para a secção a montante, sendo todas elas
escavadas de áreas de empréstimo diferentes (de preferência dentro da área
do reservatório), logo aumentando os custos de escavação e transporte. Os
taludes, no entanto, podem ser reduzidos para à volta de 1:2 a montante e
1:1,75 a jusante (ou 1:2,25 a montante e 1:2 a jusante para locais onde
apenas estão disponíveis materiais de relativa má qualidade) e o material

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escavado na construção do núcleo pode ser utilizado no aterro,
economizando assim em terraplanagens. (página 15).

A figura 1 apresenta um corte esquemático de uma barragem zoneada, neste se


constata as inclinações de 1:1 para o núcleo impermeável.

Figura 1 - corte de uma barragem zoneada (FAO). Fonte: Manual FAO, pag. 16

3.2 TEXTO TÉCNICO SUDENE

O Manual do pequeno açude publicado pela SUDENE, indica alguns princípios básicos
para a construção de barragens de terra. No capítulo 3, parte A, são apresentadas as
considerações a respeito da estabilidade e da escolha do solo. O manual limita suas
considerações para barragens homogêneas e com menos de 10 m de altura.

Como princípio básico, são apresentados dois aspectos fundamentais: assegurar a


solidez da obra e conseguir uma boa estanqueidade.

Assim, é indicado que para assegurar a estabilidade, o declive mínimo dos taludes
devem ser de 2(H):1(V), página 84.

Já com relação aos materiais e sua compactação, a indicação é que o solo apresente
uma granulometria contínua com, por exemplo:

 20% de argila;
 15% de silte;
 45% de areia fina;
 20% de areia grossa.

Por fim, é informado que solos com mais de 40% de argila podem ser perigosos para
certos tipos de argilas, por causa das fendas que aparecem no ressecamento e, também, pela
falta de estabilidade quando o solo fica úmido.

3.3 TEXTO TÉCNICO MI/USBR

Por fim, comenta-se sobre o manual de Avaliação de pequenas barragens produzido


pelo Ministério da Integração Nacional/Bureau of Reclamation, indicado para barragens de
até 10 m de altura.

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Este texto técnico tem como referência principal o manual americano Design of Small
Dams, 1987. Porém, apresenta as diretrizes de forma resumida quando comparada à
referência americana, pois o manual brasileiro possui 75 páginas enquanto o americano 904.

Quanto aos parâmetros geotécnicos indicados para o dimensionamento de barragens,


o manual aponta duas metodologias: barragens homogêneas e barragens zoneadas. É indicado
que se no local existir solos argilosos ou areno-siltosos/argilosos, a barragem homogênea é a
mais recomendada, por ser mais simples sua construção.

Considerando que as barragens são executadas sobre fundações estáveis, o manual


apresenta duas tabelas que indicam para cada tipo de solo as inclinações dos taludes de
montante e jusante.

Deste modo, os solos devem ser classificados com base no Sistema de Classificação
Unificada e então adotadas as inclinações dos taludes conforme a indicação tabelada,
conforme cada tipo solo.

A seguir, as tabelas indicadas:

Tabela 1 - Inclinações dos taludes de barragens homogêneas sobre fundações estáveis

Tipo Sujeito a Classificação do solo Montante Jusante


esvaziamento
rápido
Homogênea não GC,GM,SC,SM ; CL,ML ; 2,5:1 ; 3:1 ; 3,5:1 2:1 ; 2,5:1 ; 2,5:1
CH,MH
Homogênea sim GC,GM,SC,SM ; CL,ML ; 3:1 ; 3,5:1 ; 4:1 2:1 ; 2,5:1 ; 2,5:1
CH,MH

Notas: Solos GW, GP, SW, SP e Pt são inadequados. Não se recomendam solos tipo OL
e OH para porções maiores do maciço. Considera-se esvaziamento rápido os que apresentam
velocidades mínimas, de descida de nível, de 0,15 m por dia.

Figura 2 - Barragem homogênea

Tabela 2 - Inclinações dos taludes de barragens zoneadas sobre fundações estáveis

Tipo Sujeito a Classificação do solo Montante Jusante


esvaziamento
rápido
Núcleo mínimo - GC, GM, SC, SM, CL, ML, CH 2:1 2:1

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“A” ou MH
Núcleo máximo não GC,GM ; SC,SM ; CL,ML ; 2:1 ; 2,25:1 ; 2:1 ; 2,25:1 ;
CH,MH 2,5:1 ; 3:1 2,5:1 ; 3:1
Núcleo máximo sim GC,GM ; SC,SM ; CL,ML ; 2,5:1 ; 2,5:1 ; 3:1 ; 2:1 ; 2,25:1 ;
CH,MH 3,5:1 2,5:1 ; 3:1

Figura 3 - Barragem zoneada

4 ESTUDO DE CASO

Pretende-se analisar os parâmetros geotécnicos na elaboração de um projeto


executivo para a construção de açudes, no estado de Sergipe. O projeto contemplou estudos
topográficos e geotécnicos, estudo de viabilidade técnica e financeira e detalhamento
construtivo de 210 pequenas barragens para acúmulo de água visando a dessedentação
animal de núcleos populacionais rurais.

Apresenta-se, a seguir, texto do projeto que indica os parâmetros utilizados para


garantir a integridade das pequenas barragens.
Assim, os barreiros devem ser construídos em tributários
(mais conhecidos, localmente, como “grotas”) com determinadas
dimensões que garantam uma afluência média conhecida, mas que
se afaste, na medida do possível, o risco de arrombamento por
galgamento ou por instabilidade do maciço da barragem.

A garantia de afluência média dos barreiros é obtida neste


projeto mediante sofisticado estudo hidrológico e fazendo uso de um
modelo digital do terreno que permita a determinação precisa de
bacias afluentes de um porte inferior aos 3 km2.

A garantia de não galgamento é feita mediante estudo de


cheias detalhado de modo a dimensionar o vertedouro e verificar sua
eficiência com técnicas similares às utilizadas em barragens de
grande porte.

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A estabilidade do maciço se garante pela definição de uma
geometria extremamente estável e pela execução de um estudo
geotécnico específico para cada unidade.

Estes estudos dos “Barreiros” transformam práticas usuais


de agronomia em obras de engenharia, dotados de Projeto Executivo,
afastando assim os riscos de investir em obras efêmeras e garantindo
o interesse público social.

Diante do exposto, pode-se verificar que o projetista enfatizou duas temáticas:


estudos geotécnicos específicos e geometria extremamente estável.

Com relação aos estudos geotécnicos específicos, foram realizados ensaios de


sondagem a pá e picareta em 3 furos ao longo do eixo do barreiro a fim de se determinar as
profundidades das camadas impenetráveis ao longo da fundação. Também foi realizado
ensaios de compactação Proctor Normal, granulometria e limites de consistência, porém a
amostra de solo foi extraída da área onde se localiza a Bacia Hidráulica das barragens, região
passível de ser usada como área de empréstimo de material na construção dos maciços de
terra.

Utilizando-se dos ensaios de laboratório, o projetista classificou como aptos para compor o
maciço de barramento os solos que apresentavam as seguintes características:

 Umidade ótima maior ou igual a 10%, e;


 Percentagem de grãos, passando na peneira nº 200, maior ou igual a 30%.

Não foi apresentada qualquer justificativa ou referência bibliográfica para esses


parâmetros.

No que diz respeito à geometria, foi adotada uma largura de 3 metros para a crista e
taludes com inclinações de 2(H):1(V) tanto para montante quanto para jusante. Também não
foi apontado pelo projetista uma fonte para esse parâmetro.

5 CONCLUSÕES

Diante do exposto, propõe-se uma análise pormenorizada das barragens do projeto


paradigma no que se refere a estabilidade dos taludes, fluxo de água no corpo das barragens e
deformações no corpo do maciço. Diante dos resultados, comparar com as recomendações das
literaturas científicas e avaliar o nível de segurança das soluções práticas propostas pelos
manais de dimensionamento de pequenas barragens.

Uma compreensão maior dos níveis de segurança dos manuais pode refletir em
medidas mais seguras para evitar perda do investimento e principalmente acidentes.

O projeto paradigma a ser utilizado como fonte de estudo, possui 210 barragens, com
média de altura de 6,00 m, média de comprimento de 80,00 m, capacidade média de
acumulação de 12.000,00 m³ e um valor médio de construção de R$ 100.000,00 (cem mil
reais).

Destarte, tendo em mente que a experiência de um engenheiro, do ponto de vista


legal, nada mais é que o seu diploma, seu registro no conselho de classe e suas fontes
bibliográficas, a proposta de pesquisa tem como objetivo principal dissertar sobre a afirmação
da NBR 8044/2018, que diz, no caso de obras da categoria 1: “obras pequenas e simples para

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as quais se pode assegurar que são satisfeitos os requisitos de segurança e desempenho
apenas com base na experiência e em estudos de caracterização geotécnica”. (grifo nosso)

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