Vinícius Schmitz da Silva, Santa Cruz do Sul, 2018.
Primeira parte (peso 15): 1. Na primeira parte da disciplina estudamos diferentes perspectivas sociológicas que são utilizadas para a compreensão de fenômenos relacionados ao binômio saúde/doença: o funcionalismo, o materialismo histórico, a fenomenologia, o interacionismo simbólico. Escolha uma dessas perspectivas e desenvolva uma pequena análise compreendendo: o que caracteriza a perspectiva sociológica estudada; que possibilidades a perspectiva escolhida abre para a análise de fenômenos relacionados à saúde e à doença (0.5) A fenomenologia se preocupa em entender o significado que cada sujeito aderi à realidade exterior, por meio de suas experiências, à grosso modo, faz uma análise de fenômenos que acontece no interior, não ignorando a presença da realidade. Na saúde, a fenomenologia diz que devemos considerar como as pessoas vivem quais significados orientam o viver, se preocupando como a realidade em que a pessoa está inserida, qual sua visão do mundo e como define a relação consigo mesmo. 2. A análise da história das políticas de saúde nos países capitalistas centrais permite perceber três fases principais. Quais são essas fases e quais são suas principais características? (0.5) Primeiro período (1945/1950): os Estados europeus foram pressionados, por operários, que reivindicavam uma maior intervenção pública e a garantia de direitos sociais. A saúde não era um direito universal. Segundo período (1945/1950 – 1970): os países europeus desenvolveram seus sistemas de saúde com diferentes níveis de atuação do Estado, com princípios da universalidade, integridade e do controle público. Terceiro período (1980 em diante): em meio a globalização economia e afirmação políticas neoliberais (privatização; transferência à sociedade de responsabilidades públicas; focalização das estatais; e descentralização dos compromissos), os sistemas nacionais de saúde sofrem questionamentos sobre redução das políticas estatais de proteção social, maior mercantilização dos serviços sociais e redução dos gastos para com a saúde. 3. A bibliografia que analisa as políticas de saúde nos países capitalistas centrais a partir da segunda metade do século XX identifica três modelos: o “modelo meritocrático”, o “modelo institucional-redistributivo” e o “modelo residual”. O que caracteriza cada um desses modelos? (0.5) Modelo meritocrático: é caracterizado pela vinculação da ação protetora do estado ao desempenho dos grupos protegidos. Quem merece, quem contribuiu para a riqueza nacional e/ou consegue inserção no cenário social legítimo tem direito a benefícios, diferenciados conforme o trabalho, o status ocupacional, a capacidade de pressão, etc. Modelo institucional- redistributivo: o bem-estar social é visto como parte importante constitutiva das sociedades contemporâneas, voltadas para a produção e a distribuição de bens e serviços ‘extramercado’, os quais são garantidos a todos os cidadãos Modelo residual: está baseado na perspectiva de eleição do mercado como o local da distribuição, gerando uma prevalência do setor privado no atendimento das demandas tanto de previdência social como de saúde. Aí o papel desempenhado pelo estado é residual, cabendo a ele o atendimento de segmentos sociais aos quais o mercado impôs uma incapacidade de acesso aos canais por ele disponibilizados. Esses grupos terão suas necessidades satisfeitas pelo estado. 4. Na América do Sul, a análise dos sistemas nacionais de saúde permite perceber que, de modo geral, esses sistemas de saúde estão divididos em três subsistemas: o público, o vinculado ao sistema previdenciário e o privado. Considere um país sul-americano e analise como a importância desses subsistemas de saúde: (0.5) A América do Sul apresenta transformações políticas, sociais e econômicas, as consequências podem ser vistas das mais variadas formas nos países que a compõem. Essas mudanças alteram os desafios do desenvolvimento, da superação das desigualdades e interferem no modo de atuação dos Estados e Governos, logo, os sistemas de saúde são afetados. Um bom exemplo é a Argentina, pois seu sistema de saúde tem uma cobertura abrangente, o número de fundos de financiamento e relações interinstitucionais são fragmentados e caracterizado por um grande estágio de separação das funções de financiamento e fornecimento de serviços. O setor de saúde argentino tem como base 3 subsetores: Subsetor público: possui financiamento e provisão pública, integrado pelas estruturas administrativas provinciais, municipais e nacionais, também, uma rede pública de prestação de serviços; Subsetor de serviço social: que se organiza em torno das denominadas Obras Sociais (nacionais e provinciais). As Obras Sociais Nacionais, são organizadas por tipo de atividade produtiva, gerenciadas por sindicatos de trabalhadores, coordenadas por uma instituição de caráter nacional (Superintendência de Serviços de Saúde). Às Obras Sociais Provinciais encontram-se filiados os empregados públicos em cada província. Existe o Instituto Nacional de Serviços Sociais para Aposentados e Pensionistas (INSSPJ), que é responsável pela execução do Programa de Assistência Médica Integral (Pami), que atende aposentados e pensionistas. A maioria das Obras Sociais atendem por meio de contratos com terceiros; e Subsetor privado: é formado por profissionais e estabelecimentos de saúde (hospitais, clínicas, laboratórios, etc.) que atendem a população em geral e também aqueles que possuem benefícios das obras sociais com acordos individuais e coletivos, e as entidades de seguro voluntário, chamadas Empresas de Medicina Pré-Paga.
5. Na análise sobre as políticas de saúde no Brasil é possível, para fins de uma
apresentação didática, dividir o período que se inicia no século XX em cinco períodos principais: 1900 até 1930; 1930 até 1964; 1964 até 1980; década de 1980; a partir da década de 1980. Considerem a projeção relacionada a essa temática (disponibilizada em EAD) e o documentário assistido para analisar as principais características das políticas de saúde em cada um dos períodos indicados: (1.0). 1930 até 1964: Epidemias de febre amarela, cólera, malária, tuberculose e pestes em São Paulo, Rio de Janeiro e nas principais cidades brasileiras. Jornadas de trabalho exaustivas, sem assistência médica. Apenas ricos tinham acesso à saúde. Imigrantes se recusavam a vir para o Brasil devido as más condições de trabalho e também as doenças que dominavam a época. Criação do Instituto de Criação de Vacinas. Vacina contra a varíola torna-se obrigatória. Campanhas contra febre amarela, e iniciando medidas de proteção materno-infantil e reorganização do ministério. Na saúde pública, observou-se o sanitarismo desenvolvimentista, concluindo que uma população depende do grau de desenvolvimento econômico atingido. Em 1962 na saúde, ocorreu o XV Congresso de Higiene.
1964 até 1980:
Ampliação da cobertura previdenciária a acidentes de trabalho, trabalhador rural, domésticas de autônomos; Quem não contribuiu à previdência social, obtinha atenção à saúde, porém deveria ter o perfil dos programas (materno-infantil, tuberculose, hanseníase, etc.); Prática médica individual, assistencialista e especializada; Estímulo à criação de um complexo médico‐industrial com elevadas taxas de acumulação de capital nas grandes empresas produtoras de medicamentos e de equipamentos; Padrão da prática médica orientado para a lucratividade do setor saúde; A partir da criação do INPS, declarando que a rede própria é incapaz fornecer assistência a todos os beneficiários, foi priorizada a terceirização dos serviços; O INPS passou a ser o grande comprador de serviços privados de saúde; Outra modalidade sustentada pela previdência social foi a dos convênios com empresas, a medicina de grupo. Nesses convênios, a empresa assumia a assistência médica aos seus empregados e deixava de contribuir ao INPS; 1974‐1979: Distensão do regime autoritário e articulação do movimento sanitário. 1980: Os sistemas nacionais de saúde enfrentam vários tipos de questionamento, tanto político (defesa de redução das políticas estatais de proteção social; defesa de maior mercantilização dos serviços sociais) quanto econômico (decorrentes da redução dos gastos públicos na área social). Desde a década de 1980, o movimento sanitário que protagonizou a criação do SUS discutia um novo modelo de formação dos profissionais de saúde, assentado na crítica ao modelo biomédico e comprometido com os princípios do SUS. 6. Analise quais são os princípios do Sistema Único de Saúde e sua importância na histórica das políticas públicas de saúde no Brasil (1.0). Com a Constituição Federal de 1988 (CF\88), que criou o SUS, a saúde deu um grande avanço, ocasionando a quebra do antigo modelo de saúde que era dominado pelo sistema previdenciário. A saúde passou a ser direito de todos e dever do Estado. Os princípios e diretrizes estabelecidos foram: Universalidade: garantia de atenção à saúde, por parte do sistema, a todo e qualquer cidadão. Com a universalidade, o indivíduo passa a ter direito de acesso a todos os serviços públicos de saúde, assim como aqueles contratados pelo poder público de saúde, desprovido de qualquer forma de discriminação. Integralidade: promoção, proteção e reabilitação da saúde não podem ser divididas, logo, os serviços de saúde devem reconhecer que cada pessoa é um todo indivisível e integrante de uma comunidade, assim, promoção, proteção e reabilitação da saúde também não podem ser separadas, como também as unidades prestadoras de serviço, configuram um sistema capaz de prestar assistência integral. O termo integralidade também pressupõe a articulação da saúde com outras políticas públicas, como forma de assegurar uma atuação intersetorial entre as diferentes áreas que tenham repercussão na saúde e qualidade de vida dos indivíduos. Equidade: tem por objetivo diminuir as desigualdades. Mesmo que todos tenham direitos aos serviços, logo, possuem necessidades diferentes. A equidade garante a todos, em igualdade de condições, ao acesso às ações e serviços dos diferentes níveis de complexidade do sistema. O que determinará as ações será a prioridade epidemiológica e não o favorecimento, investindo mais onde a carência é maior. Regionalização e hierarquização: organização em níveis de complexidade, baseados a partir de critérios epidemiológicos e implica na capacidade dos serviços em oferecer a uma determinada população todos tipos de assistência e também o acesso a todo tipo de tecnologia disponível. A rede de serviços, organizada de forma hierarquizada e regionalizada, permite um conhecimento maior da situação de saúde da população da área delimitada, favorecendo ações de atenção ambulatorial e hospitalar em todos os níveis de complexidade. Descentralização: É entendida como uma redistribuição de poder e responsabilidades quanto às ações e serviços de saúde entre os vários níveis de governo, a partir da ideia de que quanto mais perto do fato a decisão for tomada, maior a possibilidade do acerto. Assim, o município deve dotar-se de condições gerenciais, técnicas, administrativas e financeiras para exercer esta função. O que abrange um estado ou uma região estadual deve estar sob responsabilidade estadual e o que for de abrangência nacional será de responsabilidade federal. Participação da comunidade: É a garantia constitucional de que a população, por meio de suas entidades representativas, participará do processo de formulação e avaliação das políticas de saúde e do controle da sua execução, em todos os níveis, desde o federal até o local. Essa participação ocorre por meio dos conselhos de saúde que têm poder deliberativo, de caráter permanente, compostos com a representatividade de toda a sociedade. Sua composição deve ser paritária, com metade de seus membros representando os usuários, e a outra metade, o conjunto composto por governo, profissionais de saúde e prestadores privados de serviços. Ao decorrer dos anos, essas diretrizes se tornaram extremamente importante para cada vez uma melhora do Sistema Único de Saúde tanto no âmbito social, quanto político e econômico.
7. Escolha um dos princípios do SUS e analise sua importância sob o ponto de
vista das políticas de saúde no Brasil (0.5) Equidade: garante um tratamento necessário para qualquer indivíduo. Como somos todos diferente e cada um possuem suas necessidades, a equidade procura diminuir as desigualdades que existem: “equidade significa tratar desigualmente os desiguais” (frase presente no site do Ministério da Saúde). Fonte: http://portalms.saude.gov.br/sistema-unico-de-saude/principios-do- sus 8. Dentre as concepções de formação dos profissionais de saúde estão o “modelo biomédico” e o “modelo da integralidade”. Identifique as características desses dois modelos de formação em saúde, analisando quais são os desafios colocados pelo SUS sob o ponto de vista da formação profissional (0.5). Biomédico: exclui fatores psicológicos e sociais e inclui apenas fatores biológicos na tentativa de entender a doença ou distúrbio médico de uma pessoa. Integralidade: o sistema de saúde deve estar preparado para ouvir o usuário, entendê-lo inserido em seu contexto social e, a partir daí, atender às demandas e necessidades desta pessoa. Os desafios impostos pelo SUS são para que a saúde se torne universal, ficando ao Estado, o compromisso de assegurar esse direito à população, trabalhando também nos 4 campos da saúde: a promoção da saúde, a prevenção de doenças, o tratamento e a reabilitação. Não sendo apenas um local onde somente se trata a doenças.