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Nao ha “receitas infaliveis pedagosicas fur neurocientificos daa a tornar esse processo mais eficiente. ES | 4 alguns anos, uma professora, “alfabetizadora de sucesso”, conforme ela mesma se avaliou, disse que estava partici- pando de um dos cursos de atualizacdo que organizéva- 10s sobre as bases neurobiolégicas da aprendizagem, pois queria tender por que as priticas pedagégicas que usava davam certo. teaade a professora, “ela dava tiro para todo lado e queria enten- "r por que muitos deles atingiam o alvo e alguns nao”, Em outras alavras, ela queria compreender a “magica do ensinar e aprender” 1e, de magico, ndo tem nada. Sabemos que a aprendizagem re- sulta da reorganizacao da estrutura cerebral, 0 que produz novos omportamentos. Essa mudaiicd que oc6rre no cérebro depende da atividade de diferentes conjuntos de neurdnios. O funcionamento desses neurdnios resulta em sensacdes, percepcdes, atengao, me- mria, emocio, motivacao, autorregulacéo, motricidade, lingua- gem, raciocinio légico-matematico, ideias para resolver problemas, pensamentos e ¢ influenciado pelos estimulos que o ambiente pro- P ce oy aoe y rciona ao individuo. A “alfabetizadora de sucesso” queria saber mo as estratégias pedagdgicas estavam atuando sobre o cérebro e 1as funcdes mentais, que sao cerebrais, ¢ levando & aprendizagem. neurcencagio ma 27 OS SENTIDOS Recursos multissensoriais ativam miiltiplas redes neurais. Aprender sobre o corpo humano num museu interativo tem efeito bem diferente daquele de apenas ler a matéria. As descobertas da_neurocién- ia que esclarecem como 0 cérebro funciona durante a aprendizagem e indicam fatores que influenciam esse funcionamento jé tém sido mais bem divulgadas atualmente Atencéo, meméria, emogéo, fun¢ao executiva, bases neurais da leitura € da escrita, mudancas cerebrais na adolescéncia, desenvolvimento de habilidades sociais e os efeitos da alimentagio, meditagZo, sono, tec- nologia e miisica sobre a cognicao € a aprendizagem em especial so exemplos de temas abordados por publicagdes voltadas ndo sé para 0 professor, mas também para o pti- blico em geral. Assim, o professor jé conta com conhecimentos da psico- logia cognitiva e da neuropsicologia da aprendizagem - estudo das fun- ges mentais produzidas pelo cére- bro e envolvidas na aprendizagem ~ que podem inspirar novas priticas educacionais, confirmar outras jé reconhecidamente eficientes ¢ criti- car aquelas que nio dio resultado. # justamente essa inspiracdo para a pratica educacional que os professo- res almejam. Ou seja, sabendo'como © cérebro funciona, o que eu posso fazer em sala de aula para melhorar a aprendizagem dos alunos? OFICINA DOS SENTIDOS Conhecer uma maga vendo sua cor € forma, sentindo sua textura, temperatura e peso, apreciando seu cheiro, degustando suaacidezedogu- ra € ouvindo seu barulho ao mordé- -laé bem diferente de conhecé-la por meio de uma fotografia. Aprender sobre 0 corpo humano-ou qualquer ‘outro assunto num musen interativo tem efeito bem diferente daquele de apenas er a matéria no livro. Quando utiliza os varios sentidos, 20 ter uma nova experiéncia, o aprendiz constréi ‘uma ideia mais completa, complexa e potencialmente mais duradoura da- quela experiéncia. s érgios do sentido sio as por- tas de entrada para 0 cérebro. Cada uma das vias sensoriais tem neurd- nios com caracteristicas especif cas €, por isso, capazes de traduzir diferentes tipos de energia, eletro- magnética, como luz (visio), me- canica (pressio, tato, vibraggo, don audiggo), térmica (temperatura), quimica (gustagio, olfacao, dor) em atividade neuronal. Esses neurénios sensitivos fazem sinapses, conectan- do-se e transmitindo essa atividade (informagio) para outros varios neurdnios, que constituem redes neurais localizades em diferentes regiées do cérebro, chamadas 4- reas primérias ¢ secundérias, espe- ficas para cada um dos sentidos: visual, auditivo, olfativo, titil etc Neurénios dessas reas estabelecern conexdes com um terceiro grupo de neurénios que integram, assim, todas as informagées relacionadas, por exemplo, & referida maca. Arrede neural que se estabeleceu, a partir da ativacdo de neurénios relacionados as varias modalidades sensoriais, dé um significado mais completo, detalhado ¢ rico sobre @ magi e poderd ser mais facilmen. te reativada por qualquer estimulo, seja ele 0 cheiro, a evocagio de sua forma ou de seu gosto. Reativacao mais frequente dessa rede neural levaré a melhor consolidago da meméria da fruta. As estratégias pedagégicas devem utilizar recur- sos multissensoriais, para ativagao de milltiplas redes neurais que es- Tabelecerdo associagao entre si, pro- porcionando um pensamento mais complexo sobre o que se aprende também favorecendo a memoriza ‘0 do que foi aprendido. RETOMAR O CONTEUDO ‘Quando um professor, ao finali- zara aula, pergunta aos alunos se eles tém alguma divida e se dé por satis- feito 20 ouvir “ndo, entendemos sim’, le perde a oportunidade de verificar se de fato 0s alunos estavam atentos & aula e compreendendo o que ele ex- plicava, $6 temos certeza de que nos- so cérebro processou uma informa- fo recebida passivamente se ele tiver de usé-la de alguma forma. O aluno pode ter ficado o tempo todo olhan- do para o professor ¢ pensando no quanto ele o acha legal (ou nao), sem. sequer saber sobre o que o professor falava. Ou pode ocorrer também que a aula tenha sido espetacular: 0 aprendizconseguiu compreender tudo o que 0 professor apresentava de forma muito didética e ficou com a sensagio de que entendeu tudo. Qualquer que seja a situagdo, 0 professor deveria perguntar ao alu- {que explicasse para um colega o que entendeu da aula ow incentivar todos os aprendizes aelaborar um texto re- lembrando as informagbes apresen- tadas, ou ainda motivar, por meio de perguntas, a discussio de tépicos da aula entre os colegas. Essas estraté- ias dariam aos alunos a oportuni- dade de usarem a meméria opera- ional que ainda estiver processando a aula, para fazer associagdes e com- paragdes com outros conhecimentos € experiéncias jé armazenados na meméria e relacionados a0 que foi apresentado. Assim, o aluno poderé perceber lacunas no seu entendi- mento sobre o que foi abordado. O estudante s6 aprenders algo novo se © cérebro dele tiver oportunidade e for motivado a processar o que lhe & apresentado. Aprendizagem resulta que sinapses sejam feitas e desfeitas, levando & modificagio da relagio entre os neurdnios - 0 que chama- ‘mos de neuroplasticidade - e, as- sim, a novos conhecimentos, ideias, atitudes, habilidades motoras. Ver € rever, escutar, falar ¢ voltar a fa- lar, escrever e reescrever, contar € recontar, experimentar ¢ vivenciar, dando significado a0 que se faz, € importante para o aprendizado. A repeticZo ou 0 uso de um comporta- mento, informagao ou experiéncia, em variadas situacdes, por muitas veres ¢ em momentos diferentes, promoverd a atividade mais frequen- te dos neurdnios relacionados a ele € produziré sinapses mais consoli- dadas, mais firmes. Esse conjunto de neurdnios associados numa rede € 0 substrato biolégico da meméria daquele comportamento ou infor- RECONTAR, REVER, REPASSAR A consolidago das memérias e sua preservacéo dependem da reativa- do dos circuitos neurais, Experi- ancias e informagées precisam ser repetidas para manter as conexdes cerebrais relacionadas a elas. 3 DESPERTAR CURICSIDADE O cérebro, por meio da atencio, seleciona as informacoes mais rele- vantes para 0 bem-estar e a sobrevi- véncia do individu. E ignora o que ao tem relacdo com sua vida, seus desejos e necessidades macio ou experiéncia. Os registros transitérios ~ meméria operacional ~ setdo transformados em registros ‘mais definitivos ~ meméria de longa duracéo - & medida que eles forem processados novamente pelo cére- bro. Nao € 0 que acontece quando 0 aluno estuda apenas na véspera da prova, mantendo as informacoes na meméria operacional. Assim que as utiliza na prova, garantindo a nota, as esquece. Se ele no ¢ motivado a manter a atividade nessas redes neu- rais, recordando o que foi estudado, esquece o que “sabia. £ por isso, também, que apresen- tar contetidos/experiéncias consi: derando 0 contexto de vida do alu- no € importante. Se o que aprende em sala de aula puder ser aplicado na sua vida, 0 aprendiz reutilizara mais a informacdo/experiéncia, ¢ isso contribuiré para a consolida- G40 de memérias. O conjunto des- sas memérias propiciaré as habili- dades e competéncias, produzidas pela aprendizagem, e necessérias a melhor adaptago e a0 sucesso do aprendiz ao longo de sua vida. Mas a meméria nao se forma de imediato, “da noite para o dia’. A formacao de sinapses demanda reagbes quimicas, producio de pro- teinas ¢ tempo para que ela ocorra. As redes neurais néo se reorgani- zam imediatamente a partir de um tinico contato com algo novo. A fi- xagdo das memérias ocorre pouco a pouco, a cada periodo de sono, quando as condigées quimicas ce- rebrais so propicias & neuroplas- ticidade, Por isso, a aprendizagem requer_reexposicao regular e fre- ‘quente aos contetidos/experiéncias, sob formas diferentes e niveis de complexidade crescentes, e, claro, boas noites de sono e cochilos diur- os, que também colaboram para formacao de memérias. Dor essencial para a aprendizagem. Er quanto dormimos, 0 cérebro reo ganiza as sinapses, elimina aquel em desuso e fortalece as que si importantes para comportamente do cotidiano do individue. DESAFIAR 0 (DES)CONHECIMENT( Por que temos chulé? Por que te ‘mos espinhas? Por que 0s precos sc bem? Toda chuva tem trovéo? Quai so 0s erros de portugués na miisic Shopis centis? Despertar curiosidade tomar o assunto interessante, fazer us de conhecimentos prévios e dar signifi cado ao que se aprende sio estratégia valiosas para promover aprendizagem Uma aula que comeca com uma per gunta que se desdobra noutras que des pertem o interesse do aluno e desafien seu (des)conhecimento tem maio, chance de recrutara atengio do apren diz, Para levar os alunos a responde as perguntas, 0 professor pode faze uso de estratégias variadas, utlizande ‘um video para ilustrar e solicitande aos grupos de alunos que busquemn < resposta em diferentes fontes ~ eles po dem usar a biblioteca ou os computa dores da escola ou até seus celulares. As respostas podem ser comparadas com dados do livro-texto e, ainda, cada gru popode apresentara defesa de sua “res posta” Se assim for, essa aula tera sido bem diferente de uma aula exposi sobre o mesmo tema, O cérebro se estruturou ao longo da evolucio, proporcionando ao in- dividuo aprendizagem e, portanto, aquisigio de comportamentos que possibilitem sua melhor adaptacao € sobrevivéncia aos contextos em que ele vive. Aprendemos o que é signi- ficativo e necessério para vivermos bem e esquecemos aquilo que nio tem relevancia para a nossa vida. A escola deve ser um local onde o apren- diz se transforma, desenvolvendo suas habilidades para analisar situagbes, identificar problemas e pensar em solugdes, Ele precisa sentir que a par- ticipagio naquela aula o tornaré mais apto 20 seu contexto de vida. Dificilmente um aluno prestaré atengdo em informagdes que no compreende, nfo tenham relagio com seu arquivo de experiéncias, com seu cotidiano, ou no sejam significativas para ele. Sabemos que a atengdo € imprescindivel para 0 registro de memérias. A aborda- gem dos conteiidos das disciplinas por meio de assuntos, exemplos ¢ ferramentas que estejam relaciona- dos 20 cotidiano do aluno, ou que sejam novidade e despertem sua vontade de conhecer, motivaré 0 aprendiz. Atualmente, 0 uso bem planejado ¢ dosado da tecnologia em sala de aula, por meio de midias variadas, para contemplar objetivos de aprendizagem interessantes e de- safiadores, favorece o engajamento do aprendiz na aula e previne sua distragio pela propria tecnologia. ‘A abordagem de temas sob a forma de problemas, que geram curiosida- de, até pelo desconhecimento que o aluno € levado a perceber que tem, aumenta o interesse do aprendiz, fa- vorecendo sua atencio. No entanto, a atencio flutua a0 ongo do tempo, principalmente quando a atividade em questio nio € motivadora, Podemos nos distrair pensando em situagbes passadas ou futuras ou mudando o foco de aten- io para outro estimulo do ambien- te, como um ventilador, 0 colega a0 lado ou uma mensagem no celular. O cérebro nao processa dois estimu- Jos simultaneamente, ¢ sim alterna sua atencio entre um estimulo e ou- Enquanto dormimos, 0 cérebro reorganiza suas sinapses, elimina aquelas em desuso e fortalece as que sio importantes para comporta. | mentos do cotidiano do individuo. [= i) MoTivacao Desafios e mesmo pequenas situa- bes de estresse transitérias e trans. poniveis, nas quais os alunos perce bam que superaram um problema, ajudam a manté-los estimulados e interessados em aprender mais. TEMPO DAS AULAS Aulas longas, sem intervalos ¢ com contetidos muito densos séo mais, propensas a distragdes. Nesse caso, dev de atividades (como perguntas que motivem discussio ¢ videos), de entonacio de voz e posigéo do professor e pausas para descanso ou para contar um caso curioso, m contar com alternancia EMOCOES Sao valiosas para a aprendizagem, jenciam fungées importantes, como atengao € meméria. O profes- sor deve ser perspicaz.em relagao as suas emogées, &s dos alunos eas da turma como um todo. 2p or snare tro, perdendo parte da informacéo, © que compromete a meméria, Por isso, € recomendavel evitar aulas longas, sem intervalos ¢ com con- tetidos muito densos, pois muito da aula é “perdido” com essas distra- ‘es, Se longas, as aulas devem con- tar_com alternancia de atividades (exposigéo de tema, perguntes que motivem discussio do tema entre colegas, videos, producio de textos, entre outros), de entonacao de vor € posigéo do professor ¢ pausas para descanso ou para contar um ¢aso carioso ou surpreendente. PRAZER EM APRENDER Alidés, contextos, estratégias © conteiidos que desencadeiam emo- ses favorecem a aprendizagem. AS emogdes influenciam fungdes importantes para a aprendizagem, como atencéo, percepedo, meméria, fungées executivas, Aprendemos aquilo que nos emociona. As emo- Ges indicam para o cérebro 0 que € importante a sobrevivéncia do indi- vviduo e 0 que vale 0 esforco e gasto energético necessérios & aprendiza- gem. No cérebro, areas que regulam as emogées, relacionadas 20 medo, ansiedade, raiva, prazer, motivacd influenciam dreas importantes para a formacio de memérias. SituagSes que favorecem a aprendizagem sio aquelas prazerosas, motivadoras, que produzam curiosidade e expec- tativa, signifiquem desafios, segui- das de sensagdo de bem-estar pela solugdo da questio, permeadas por afeto ou até mesmo por pequeno ¢ transitdrio estresse, como em caso de tarefas dificeis, mas transponiveis. A ativagdo de circuitos neurais de pra- zer e recompensa no aprendiz 0 faré perder 0 medo de errar. Para isso, é importante que o aluno perceba que © que ele aprendeu dé bons resulta- dos, transforma seu dia a dia, atende as suas necessidades,facilita sua vida a torna melhor. Isso 0 motivaré « experimentar mais, a repetir 0 que aprendeu, a fazer novas tentativas com mais frequéncia. A empatia, 0 ambiente de seguranga, 0 conforto, o.apoio ea afinidade entre pares, nas jurmas, sio importantes. O professor deve ser perspicaz em relagdo as suas emogées, as dos alunos e &s da turma como um todo. A emogio é valiosa para a aprendizagem e pode ser bem conduzida pelo professor. PLANEJAR E ORGANIZAR [As fungdes executivas, relaciona- das a area pré-frontal, séo fungdes cognitivas envolvidas no estabele- cimento de objetivos, planejamen- to ¢ organizacdo da sequéncia de atividades voltadas para uma meta, gerenciamento do tempo, atencio direcionada a0 objetivo, téncia em uma tarefa, meméria de trabalho, flexibilidade para mudar estratégias, tomada de deciséo ¢, também, na regulacdo emocional € nas habilidades sociais. O desenvol- vimento das fungées executivas essencial para a capacidade de uma pessoa resolver problemas e avaliar 0 proprio comportamento, regulan- do-o para melhor adaptagao a deter- minado contexto. Em sala deaula, atividades basea- dasem discussdes em grupo desen- persis- volvimento de projetos séo étimas para desenvolvimento de fungdes executivas. Elas requerem iniciativa dos alunos, dio a eles oportunidade de escolha e proposicéo de temas @ serem estudados ¢ exigem planeja- mento de atividades - consideran- do estabelecimento de prazos para sua execuséo, alteragéo de planos quando um imprevisto acontece -, criatividade para superacéo de obs- téculos e regulagéo emocional para manutengo de interagio social produtiva. Elas demandam também busca de informacao utilizando- os recursos disponiveis, identifica- fo € selegéo do que é mais relevante como contribuicdo para 0 projeto e analise critica das informagées. £ importante que o professor mo- tive os alunos reconhecendo 0 seu empenho durante o desenvolvimento das atividades, fornecendo orienta- es quando necessério, mostrando que erros so importantes para refle- xo sobre outras formas de resolver os problemas e indicando o seu sucesso. participante ativo, sujeito responsivel por sua aprendizagem, também contribui para o desenvolvimento de suas fun- Ges executivas, Para isso, o apren- diz precisa ter um papel ativo e nio se sentir apenas um receptor de in- Tornar_o_aluno formagdes. O professor deve conhe- r 05 interesses do estudante, saber quem ele é torné-lo figura central nas atividades durante as aulas, re- conhecer suas limitagdes e orien- . Dependendo da faixa etdria, é interessante explicar a0 aluno 0 que sio as fungies exe- cutivas e ressaltar a sua importincia no cotidiano, incluindo o dia a dia da escola, O professor deve orienté- -lo 2 tomar consciéncia ¢ a refletir sobre seus pensamentos, objetivos, decisées ¢ estratégias para atin- gir metas, incluindo 0 sucesso na aprendizagem, O aluno precisa re- conhecer que aprende para ter mais habilidades para a vida, para ser um individuo com melhores chances de se realizar como pessoa, e nfo para tender a uma expectativa dos pais ou do professor. Devem-se propiciar ao aluno oportunidades para atuar no seu processo de aprendizagem ¢ sentir autoeficécia, percebendo que seu envolvimento com 0 estudo ea escola esté valendo o seu tempo ees- foro. Nessa condicio, ele precisara plangjar as estratégias que usa para tielo a superé-l AMBIENTE A aprendizagem um processo biolégico que depende dos esti- mulos oferecidos. A empatia, 0 ambiente de seguransa, 0 confor- ntre pa res, nas turmas, séo importantes to, 0 apoio ea afinida: PARTICIPACAG O aprendiz nio deve se sentir ape- nas um receptor de informagées. Precisa ter papel ativo. O professor deve torné-lo figura central durante as aulas, reconhecer suas limitagies ¢ orienté-lo para super fam funcionar como indicadores de que as estra- ino e de estudo esto jentes ou nao e motivar a adocao de estratégias alternativas. © aluno precisa saber por que esté errando ¢ onde esta falhando para poder refletir sobre como melhorar. estudar autorregular seu compor- tamento a fim de atingir suas metas TESTAR PARA AVALIAR Avaliagdes sfo comumente usadas para verifcar o que se aprendeu. No entanto, podem ser utilizadas como es- tratégia para a aprendizagem, fciitan- do a formagéo de memérias. O aluno éapresentado aalgum conteido, sejam imagens, textos, video, lista de paises, entre outros. Em seguida, ele ésubme- tido a um teste de recordacio por meio do qual deve recordar livremente, ou orientado por perguntas, escrevendo, recontando ou desenhando tudo 0 que ele estiver se leribrando do que foi trabalhatio, Essa recordacao pode ser realizada também por meio de pistas, como preenchimento de lacunas. Su- POe-se que o teste aplicado logo apés 0 estudo protege a meméria operacional contra interferéncias de informagées apresentadas posteriormente ¢ ofere- ce mais chances para a formagio de memérias de longa duracio. E é mais eficiente do que 0 aluno apenas reler ou rever 0 contetido apresentado, A recordagio de determinada informa ibui para sua maior retencdo , 0 que & chamado “efeito testagem Uma aprendizagem baseada em evocagio do que foi apresentado 20 aluno melhora o desempenho dele. Isso € constatado quando, dias depois, aluno é submetido a uma avalia¢do tradicional. O uso de testes do tipo “fal: so ou verdadeiro” e de mnitipla escolha também é uma forma de evocar a in- formacio por meio de reconhecimen: to - 0 aluno compara a informagio armazenada na meméria e os es te 0 teste. No los apresentados dur entanto, esses testes nio slo tio efi tes quanto a recordagao livre, aluno pode, ao ser apresentado a ur jorqueo afirmativa falsa e consideré-la verda deira, armazené-la como tal 1 néria, O feedback em relacio as q es ameniza esse efeito negativo ¢ oportunidade ao aluno de constatar © que interpretou de forma equivocada, Solicitar a ele que justifique ou co afirmativas falsas também & uma for- ma de testar por evocacéo. Esse processo de apresentar conte- \idos e dar oportunidade de evocacio, aplicacio, constatacéo de erros, duivi- das e discussdo do que nio foi « eendido € nova opoi verificagio do q base da aprendizagem. A partir des fundamento, 0 professor pode criar estratégias de avaliagao diversificadas que tenham como objetivo auxiliar a aprendizagem ou verificé-la Notas nao deveriam sera forga mo- triz da aprendizagem. Avaliagbes, e as notas consequentes, deveriam funcio nar como indicadores de quea: gias de ensino e de estudio estdo sendo eficientes ou no e motivar o professor € 0 aluno para adocio de estratégias alternativas. Por isso, a devolugio das provas cortigidas & importante, pois ossibilita a0 aluno constatar 0 erro € 0 que o causou, quer seja uma dif- culdade de compreensio, retengio da informacio ow distragdo, O aluno pre- cisa saber por que esté errando e onde estd falhando para poder refletir sobre © que ele pode fazer para melhoras. E, em alguns casos, precisa ter orientagao sobreo que deve fazer, se no conseguir escobrir isso por conta prépria, Nem sempre 0 aluno sabe como estudar ‘uma matéria, como transformar 0 que 18 em algo que faa sentido. As vezes, uma orientagdo sobre “como pensar” aquele conteiido especifico pode aju- daz, Na aprendizagem, é imprescindi- vel o estabelecimento de uma relacéo de confianga entre professor e apren- diz, na qual este tem a conviccio de Que 0 outro esté ao seu lado, néo para escolher o caminho a trlhar, mas para crienté-lo sobre como tilhar um cami- rho que lhe dé mais condigies de ser bemn-sucedida, NEUROCIENCIA E EDUCACAO Pense, entio, no cotidiano escolar, no dia a dia da sala de aula, nas estraté- Bias pedagégicas utilizadas, como peer instruction (colegas explicando para colegas), mapas conceituais, aprendi- zagem baseada em problemas, aulas expositivas, ditado, cépia, exercicios, devolucio de provas, e na forma como ‘os alunos participam da aula, nas expe- rigncias que tiveram sucesso e também naguelas que no funcionaram. O que acontece na escola tem relagio com 0 que a neurociéncia indica? Muito do ‘que ja é realizado encontra fundamen- to na forma como o eérebro funciona, por isso que “muitos tos acertam o alvo’, Mas ha estratégias que no pro- duzem o aprendizado esperado; so 0s “tiros que nio atingem o alvo” E, nesse «aso, podem ser necessérias mudancas que envolvergo 0 professor, 0 aluno, 0 ‘curricula, a rotina da escola, a partici pagio dos pais ea forma como 0 cére- bro funciona. ‘Nunca foi necessétio saber como o cérebro funciona para que as pessoas, aprendessem. Educadores jé utiliza- vvam estratégias pedagdgicas eficientes mesmo que ndo soubessem como o cérebro fazia uso delas. Nao pode- mos achar que neurocientistas sio necessariamente bons professores © conhecem “as receitas infaliveis” para a aprendizagem, pois esta depende de ‘outros fatores além do conhecimento sobre 0 funcionamento cerebral. Mas professores podem torné-la mais efi- ciente quando criam ou selecionam estratégias pedagégicas fundamen- tadas pela psicologia cognitiva e pela neuropsicologia da aprendizagem, Muito do que a neurocigncia sabe sobre 0 comportamento e, mais es- pecificamente, sobre @ aprendizagem ainda néo foi testado no contexto da sala de aula, ambiente rico, variado, dintmico ¢ influenciado por tantos fatores (rotina, acesso & informacio, apoio dos pais, interago com a comu- nidade, redes sociais, conhecimento prévio, valores, entre outros), bem diferente do ambiente controlado de uum laboratdrio. Mas jé hé iniciativas importantes nesse sentido. A Rede Nacional de Ciéncia para Educagio (CpE) (cienciaparaeducacao.org) visa aproximar educadores, gestores pesquisadores de diferentes éreas do conhecimento para discusséo e rea- Leonor Bezerra Guerra é médica com especializacéo em neuropsicologia, profes- sora de neuroanatomia do curso de medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), coordenadora do projeto Neuroeduca, de divulgacaa de conheci- mentos de neurociéncia para profissionais da educecao. lizacio de pesquisas cientificas que ossam promover melhores priticas € politicas educacionais baseadas em cevidéncias, levando os conhecimentos adquiridos no laboratério para a reali- dade da escola. Se voce esta lendo este artigo, de certa forma ja esta participando des- se didlogo sobre as questées da esco Ia a serem investigadas da perspec: tiva da neurociéncia. Outras boas indicagbes surgirio. B a

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