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Departamento de História
Ensaio Científico
Belo Horizonte
2019
SUMÁRIO
1- INTRODUÇÃO.....................................................................................................p. 3
2- REFERENCIAL TEÓRICO.................................................................................p.3
3- ASPECTOS CONCEITUAIS...............................................................................p.4
4- FONTES ANALISADAS.......................................................................................p.5
4.2- MACBETH.........................................................................................................p.6
4.4- A TEMPESTADE...............................................................................................p.7
5- CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................p.8
6- CONCLUSÃO........................................................................................................p.9
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1- Introdução
2- Referencial Teórico
As representações que encontraremos nas peças de Shakespeare nada mais irão fazer
do que expressar exatamente o ideal da sociedade inglesa sobre bruxaria. Para utilizar o
conceito de representação é necessário relembrar a definição de Roger Chartier em seu livro “A
história cultural entre práticas e representações” onde expões que:
Keith Thomas foi um dos principais autores levantados para esse trabalho pois realiza
uma discussão abrangente e de diferentes perspectivas sobre a criação do ideal da figura da
bruxa na Inglaterra em seu livro “Religião e o declínio da magia”. Ele discorre sobre vários
aspectos desse fenômeno, tais como: seus diferentes tipos e graus, como o fato de acreditarem
na bruxaria como fruto de um pacto com o diabo ter sido o principal problema visto por aquela
sociedade, a expressividade dos diferentes status sociais nos momentos de julgamento, como a
reforma protestante afetou a crença e a perseguição das bruxas, a relação de proximidade entre
a acusada e o acusador – e como o melleficium teria sido causado em um ato de retaliação a um
mal que teria sido infligido na primeira – e como a figura da bruxa era construída por meio de
papeis que lhe eram impostos devido a sua condição social que ameaçava a ordem e o
funcionamento daquela sociedade.
Peter Elmer no segundo capítulo de seu livro “Witchcraft, witch-hunting and politics
in early modern England” intitulado “Wichcraft, religion, and the state in elizabethan and
jacobean England” discorre mais especificamente sobre a relação da crença e perseguição às
bruxas em momentos em que a Inglaterra se encontrava em meio a situações conturbadas, como
durante a própria reforma protestante, por exemplo. Ainda que tal explicação não justifique por
completo o fenômeno, o paralelo – ainda que distante – que podemos traçar com as peças de
Shakespeare será importante para essa análise.
Aspectos Conceituais
As companhias eram compostas inteiramente por homens que viram sua condição de
atores se transformar em uma profissão reconhecida desde que houvessem dois juízes de paz
ou um nobre que se encarregassem de fazer isso. Shakespeare comandou a companhia “Lorde
Chamberlain” que teve seu nome mudado para “The Kingsmen” logo após se tornarem
patronatos do rei; o aspecto mais importante de suas obras era a oralidade, fato este que foi
favorecido após a instituição que permitiu com que o Inglês pudesse ser utilizado como idioma
oficial também para peças de teatro.
Fontes Analisadas
Tito Andrônico
Tragédia histórica datada aproximadamente entre 1584 e 1590, narra a história de Tito,
um grande general romano que volta vitorioso de uma batalha contra um povo godo trazendo
como seus prisioneiros a rainha Tamora e seu filho mais velho. Roma estava no contexto de
escolha do novo imperador e esse cargo é oferecido ao general que o recusa, mas resolve apoiar
e convencer todos aqueles que estavam a seu lado a escolherem Saturnino, o filho mais velho
do antigo imperador, e assim este ascende ao cargo. No decorrer violento da peça várias
tragédias ocorrem: Tito manda assassinarem o filho de Tamora que por isso começa a planejar
sua vingança contra ele, Lavínia, filha do general, é estuprada e tem suas mãos e línguas
cortadas pelos outros filhos da rainha dos godos; outros dois filhos de Tito são assassinados a
mando de Tamora enquanto Marco, o filho que sobrevive, é expulso de Roma. A conclusão da
peça se dá após um jantar político agitado na cada do general onde quase todos os participantes
morrem e Marco é proclamado o novo imperador de Roma com apoio de toda a população.
A personagem bruxa de Tito Andrônico é a própria rainha dos godos. Em sua primeira
cena ela já é apresentada como bruxa e suas ações no decorrer da peça só comprovam o que
dela é esperado depois disso. Sua figura é movida pelo seu maior vício: a vingança; ela manipula
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todos aqueles a seu redor para conseguir o que quer ainda que seus atos de maldade sejam feitos
apenas como forma de retaliação pelo primeiro mal que foi inferido a ela por Tito, um
personagem com quem tem uma relação de proximidade. Tamora além de apresentar um risco
para a ordem social também representa tudo aquilo que uma mulher não deveria ser, no fim,
não resta dúvida alguma de que ela na verdade é uma bruxa e não mais uma mulher.
Macbeth
Lady Macbeth também representa um ideal: ela é a imagem do sexo frágil que movido
pelos seus instintos mais primitivos, no seu caso a ganância, se deixa levar pelo mal que promete
sanar sua curiosidade sobre o que prometeria o futuro. Ela também representa o exato oposto
do esperado de uma mulher: a figura contrária a seu marido, manipuladora e distante de Deus.
Lady Macbeth abandona sua feminilidade quando abraça seu papel como bruxa ao se abrir para
o mal que irá reger suas ações controversas que resultarão no cumprimento de suas vontades,
mas que também irão trazer caos e tragédia não apenas para si, mas para todos aqueles que
estavam a seu redor.
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Antônio e Cleópatra
O primeiro personagem bruxo dessa peça é o adivinho: todos os reconhecem como tal
por conta de suas habilidades com leitura de mãos e adivinhação de futuro, contudo, seus
poderes são utilizados apenas para o divertimento dessa elite. Seu personagem quase não tem
relevância no decorrer da história mesmo que tenha advertido Antônio durante uma consulta
sobre o tamanho de seu poder comparado ao poder de César, o que causou preocupação e
descrença em Antônio que culminaram na batalha final.
A Tempestade
Escrita por volta de 1610; narra a história de Próspero, o legítimo duque de Milão, que
traído por seu irmão teve que fugir com sua filha para que não fossem mortos; durante a fuga,
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por conta de uma tempestade, o navio em que estavam naufragou fazendo com que as
personagens se vissem nessa ilha onde viriam a passar vários anos. A ilha era domínio de uma
bruxa de origem africana chamada Sycoráx e quando Próspero ali chega ele a mata se tornando
dono da ilha e senhor dos espíritos que a bruxa escravizava. Anos depois um outro navio saído
de Nápoles, com o rei, seu filho e alguns nobres, cruza uma região próxima e Próspero pede a
um dos espíritos que crie a ilusão de um naufrágio para que consiga organizar sua volta à Milão
com aquele navio; após alguns feitiços e reviravoltas o retorno honrado dos personagens ocorre.
Próspero, entretanto, é o “bom bruxo”, feiticeiro que adquiri seus poderes através dos
livros e só se torna tal pois não havia outra opção: ao se ver em uma ilha remota com sua filha
criança teve que fazer uso da magia para garantir sua sobrevivência. O fato de que fez dos
espíritos seus escravos e dos feitiços e manipulações feitas durante a história se justificam, pois,
tudo isso era feito apenas contra aqueles que queriam lhe causar algum mal.
Considerações Finais
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Sobre o gênero das personagens também é possível identificar questões significantes
apesar de a figura da bruxa existir a parte de seu sexo. Próspero e o adivinho não sofrem punição
nenhuma em momento algum de suas narrativas apesar de suas ações serem manipulativas com
as pessoas ao seu redor e empregarem o uso de poderes sobrenaturais. Já Cleópatra e Sycoráx,
uma culpada por toda a tragédia de um império e a outra que copulou com o diabo em troca de
uma ilha e alguns poderes para controlar espíritos, paralelamente sofrem a punição prevista no
Martelo das Feiticeiras para aqueles acusados de bruxaria: morte e transferência da posse de
seus bens para o Estado que empregou tal punição.
Conclusão
Tal como a tese de Peter Elmer, apesar de este tratar a crença e a perseguição às bruxas
no cenário inglês moderno, em todos os cenários dessas obras de William Shakespeare a
bruxaria, nele algo extremamente real às narrativas, existiu em momentos conturbados onde a
ordem na verdade era o caos e a tragédia. No fim, as representações criadas pelo dramaturgo
eram mais fiéis aos ideais de seu tempo – como já expresso por Roger Chartier – do que um
olhar mais superficial poderia dizer.
Bibliografia
ATHERNON, Carol. Character analysis: The witches in Macbeth. Disponível em: <
https://www.bl.uk/shakespeare/articles/character-analysis-the-witches-in-macbeth > Acesso
em: 10 de nov. de 2019
BORMAN, Tracy. Shakespeare’s Macbeth and King James’s witch hunts. Disponível em: <
https://www.historyextra.com/period/stuart/shakespeares-macbeth-and-king-jamess-witch-
hunts/ > Acesso em 10 de nov. de 2019
CLARK, Stuart. Mulheres e Bruxaria. In: Pensando com demônios: a ideia de bruxarua no
princípio da Europa Moderna. Edusp, 2006. p. 155 – 188
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ELMER, Peter. Withcraft, Religion, and th State in Elizabethean and Jacobean England. In:
Witchcraft, witch-hunting, and politics in early modern Englan. Oxford University Press,
2016. p. 16 – 68
SHAKESPEARE, William. Antony and Cleopatra. In: The complete Works of William
Shakespeare. Barnes & Noble, 2015. p. 924 – 964
SHAKESPEARE, William. The Tempest. In: The complete Works of William Shakespeare.
Barnes & Noble, 2015. p. 1135 – 1159
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