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Angelo – N9 – IAA
A lógica “fuzzy” pode ser útil em tarefas de tomadas de decisão, onde as variáveis
individuais não são definidas em termos exatos. Operadores humanos, treinados, podem
trabalhar com plantas industriais não completamente compreendidas, processos mal-
definidos e sistemas com dinâmica não conhecida. Tais operadores sabem qual ação
tomar, quando observam certas condições, tais como uma combinação de leitura de
instrumentos, padrões indicados por sinais luminosos ou sonoros, ou outros eventos. Por
exemplo, em vez de se utilizar um modelo matemático da planta, os controladores
industriais baseados em lógica “fuzzy” podem ser construídos com o conhecimento
experimental de operadores humanos já treinados, fazendo com que a ação de controle seja
semelhante à deles.
Desta forma, a vantagem de controladores construído com lógica “fuzzy” é permitir que
regras heurísticas possam capturar tais estratégias de controle de operadores humanos,
permitindo a automatização de funções de controle geralmente delegadas para controle
manual. Além disso, o uso de lógica “fuzzy” no projeto de controladores, pode significar
vantagens adicionais em minimização de custos, devido à facilidade de implementação
dessas estratégias.
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Bivalência
Multivalência
Há um considerável descompasso entre o mundo real e nossa visão bivalente desse mundo,
da mesma forma que no mundo real há um número infinito de sombreamentos e graus de
cinza entre as cores preta e branca. Um exemplo típico ocorre em diagnósticos médicos: o
profissional da medicina precisa contabilizar em sua mente um número enorme de fatores
diferentes, e até contraditórios, cada fator com um peso diferente, para diagnosticar a
doença do paciente e prescrever a receita, ao invés de uma relação simplista de causa e
efeito. Nas áreas da justiça e do direito, uma situação comum é a de o júri e o juiz terem de
decidir quão culpado é o acusado. O mais comum é que, no mundo real, tudo seja uma
questão de ponto de vista ou de graduação. O mundo real não é bivalente e, sim,
multivalente, com um infinito espectro de opções ao invés de apenas duas. Em termos
usados na eletrônica, o mundo real é essencialmente analógico e não digital, com muitos
tons de cinza entre o branco e o preto. Verdade absoluta e precisão existem apenas como
“casos extremos”. Assim, o objetivo da lógica “fuzzy” é capturar esses tons de cinza e
graus de verdade e permitir modelar matematicamente os fenômenos observados, como as
incertezas e as verdades parciais, de uma maneira sistemática e rigorosa.
Retornando ao exemplo dos conjuntos “casa”, “escola” e “carro” vistos na página anterior,
a “maneira clássica” de trabalho em engenharia pode apenas “raciocinar” de forma
bivalente: 0 ou 1, ou seja, modelos matemáticos clássicos não conseguem representar os
termos nebulosos inerentes à comunicação humana. A lógica “fuzzy” permite preencher
esse vazio e traduzir os graus de verdade das afirmações de uma maneira que se possa
processar tal informação.
Números “fuzzy”
Considere que no gráfico da figura abaixo, em que o número 0 no eixo horizontal, a altura
pode ser considerada o grau de pertinência ao conjunto que indica o número zero. Um
número real pode considerado como um conjunto onde seus membros pertençam por
completo (100%) ou não sejam membros de maneira alguma (0%). Ao risco desenhado no
valor zero, pode ser chamado de conjunto ZERO, portanto, todos os números do eixo
horizontal da figura ou pertencem ao conjunto ZERO ou não.
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Supondo-se que essa linha riscada seja alargada, conforme indica a figura da próxima
página, que pode ser chamado de conjunto QUASE ZERO. Há, agora, uma área maior
coberta no eixo horizontal. Observa-se que o conjunto ZERO (da figura anterior) tem uma
abstração matemática de área nula, enquanto que o conjunto QUASE ZERO tem uma área
finita.
Outro exemplo prático pode ser observado através da figura abaixo, no qual a velocidade
de um carro é plotada em termos de uma função bivalente e o limite de velocidade é
80 km/h. Os que dirigirem mais rápido que 80 km/h pertencem ao grupo dos infratores
(função de pertinência tem o valor μA = 1), por outro lado, aqueles que dirigem mais
lentamente não pertencem a este conjunto. A transição entre pertinência e não-pertinência
ao grupo é brusca, ou seja, em 79,99 km/h, μA = 0 e o motorista não é considerado infrator
e em 80,01 km/h, μA = 1 e o motorista é considerado infrator.
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com A, B e C sendo conjuntos “fuzzy”. Portanto, pode-se dizer que em lógica “fuzzy” há a
execução de um raciocínio utilizando-se números “fuzzy” e conjuntos “fuzzy”, e as
afirmações podem ser consideradas como regras práticas, como na seguinte situação:
Entrada Saída
Fuzzificação Inferência Defuzzificação
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Uma vez que não há modelo matemático rígido para ser seguido, o processo de decisões
“fuzzy” requer um processamento computacional menor. Provavelmente, tal habilidade
humana desenvolveu-se através da evolução, já que o fato de se trocar precisão por
velocidade é decisivo para a sobrevivência biológica em situações críticas, ou de perigos
naturais. Além disso, sabe-se que há uma característica que, em sistemas complexos, a
precisão matemática perde seu significado. Em 1973, Zadeh apresentou o Princípio da
Incompatibilidade, no qual afirma que “conforme a complexidade de um sistema
aumenta, nossa habilidade de fazer afirmações precisas e significativas sobre seu
comportamento diminui, até um limiar em que a precisão e relevância tomam-se
praticamente características mutuamente exclusivas”.
Na lógica bivalente, como se tem apenas dois valores, um elemento pode, apenas,
pertencer totalmente ou não pertencer de forma alguma ao conjunto. A lógica multivalente
oferece outras possibilidades, conforme ilustrado no exemplo a seguir que descreve o
conjunto A como subconjunto do universo de discurso U.
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A figura da página anterior mostra que o conjunto A e o seu complemento, A', são, em
geral, não disjuntos, ou seja, que sua intersecção não é o conjunto vazio. Então, se A e A'
possuem uma parte em comum, eles têm uma intersecção finita:
A ∩ A’ ≠ ∅
A ∪ A’ ≠ U
Referência Bibliográfica:
[1] L. A. Zadeh. Fuzzy sets. Fuzzy Sets, Information and Control, 8:338 – 353, 1965.
[2] L. A. Zadeh. Fuzzy sets as a basis for a theory of possibility. Fuzzy Sets and Systems,
1:3–28, 1978.
Texto extraído e modificado do artigo: Lógica Nebulosa Sandra Sandri, Cláudio Correa
INPE V Escola de Redes Neurais, Promoção: Conselho Nacional de Redes Neurais, pp.
c073-c090, 19 de julho, 1999 - ITA, São José dos Campos – SP.