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Ludmila Sacur Chin

Noções do aconselhamento sobre o HIV/SIDA

Licenciatura em Gestão de Recursos Humanos com habilitação em Higiene e segurança no


trabalho

Universidade Púnguè

Extensão de Tete

2020
Ludmila Sacur Chin

Noções do aconselhamento sobre o HIV/SIDA

Trabalho de pesquisa a ser apresentado ao


departamento da Escola Superior de Contabilidade e
Gestão (ESCOG), Licenciatura em Gestão de Recursos
Humanos com habilitação em Higiene e segurança no
trabalho, como requisito de avaliação parcial na cadeira
de Temas Transversais.

Docente: Dr. Nolito Ezaquiel Gordinho

Universidade Púnguè

Extensão de Tete

2020
Índice
2. Introdução................................................................................................................................. 5

3. Objectivos................................................................................................................................. 6

3.1. Geral .................................................................................................................................. 6

3.2. Específicos ........................................................................................................................ 6

4. Noções do aconselhamento sobre HIV/SIDA .......................................................................... 7

4.1. Aconselhamento — Definição .......................................................................................... 7

4.2. Aconselhamento em HIV/AIDS ....................................................................................... 7

4.3. O processo de aconselhamento sobre o HIV .................................................................... 8

4.4. Objectivos do aconselhamento sobre o HIV/SIDA .......................................................... 9

4.5. Componentes do processo do aconselhamento sobre o HIV/SIDA ................................. 9

4.5.1. Apoio Educativo ........................................................................................................ 9

4.5.2. Apoio emocional ..................................................................................................... 10

4.5.3. Avaliação de riscos .................................................................................................. 10

5. Gabinete de atendimento (aconselhamento sobre o HIV/SIDA) ........................................... 11

5.1. Objectivos do Gabinete ................................................................................................... 11

5.2. Metodologias e conteúdos a serem desenvolvidos no Gabinete de atendimento ........... 11

6. Técnicas do aconselhamento sobre o HIV ............................................................................. 12

6.1. Consentimento informado............................................................................................... 12

6.2. Confidencialidade ........................................................................................................... 13

6.3. O processo de aconselhamento ....................................................................................... 13

6.4. Resultado dos testes ........................................................................................................ 13

6.5. Ligações entre os serviços de aconselhamento e testagem e os de cuidados e tratamento ..........13

6.6. Técnica do aconselhamento Instrução ............................................................................ 14

6.7. Técnica do aconselhamento Relação .............................................................................. 14


7. Etapas do aconselhamento do HIV/SIDA .............................................................................. 15

7.1. Aconselhamento pré-teste ............................................................................................... 16

7.2. Aconselhamento durante a testagem ............................................................................... 16

7.3. Aconselhamento pós-teste .............................................................................................. 16

8. Abordagens do aconselhamento e testagem para o HIV reconhecidas em Moçambique ...... 17

8.1. Aconselhamento e testagem iniciada pelo provedor (ATIP) .......................................... 17

8.2. Aconselhamento e testagem iniciada pelo utente (ATIU) .............................................. 17

9. Conclusões ............................................................................................................................. 18

10. Referências bibliográficas .................................................................................................. 19


1. Introdução
Este trabalho, visa abordar conteúdos inerentes ao processo do aconselhamento
atendendo – se os seguintes elementos: noções básicas sobre o processo de
aconselhamento, técnicas do aconselhamento, gabinete do aconselhamento e por fim, as
etapas ou fases do processo de aconselhamento.
O aconselhamento é um processo interactivo, caracterizado por uma relação única entre
conselheiro e cliente. Para compreender o aconselhamento como processo, é importante
distinguir os objectivos resultantes e os objectivos processuais.

Para o conselheiro, o trabalho implica ajudar o cliente a desenvolver novas


compreensões, combinando empatia em alto grau, imediação, confrontação,
interpretação, dramatização e outras intervenções estruturadas. O trabalho do cliente na
terceira fase implica sintetizar novos conceitos, aprendidos na segunda fase, e formular
cursos alternativos de acção.

Tratando de um trabalho de temas transversais, onde a intervenção de ideias sobre o


âmbito social tem sido o foco na maioria das vezes, este trabalho não fugiu desta
linhagem ou seja, procurou – se de tal maneiro um campo de estudo ligado ao tema
acima citado (processo de aconselhamento). Para este trabalho, olhou – se no
HIV/SIDA como o foco do trabalho onde, iremos tratar de forma transversal este tema
interligando os elementos do aconselhamento acima mencionados.
Devido à importância do crescimento do número de casos de aids entre mulheres e o
consequente aumento do risco de transmissão vertical do HIV, as estratégias de
prevenção destinadas a esse grupo têm sido cada vez mais reforçadas. Tendo em vista
os recursos terapêuticos disponíveis para a redução das chances de transmissão do HIV
para o feto ou recém-nascido, tem-se recomendado que também os serviços de pré-natal
ofereçam aconselhamento e teste anti-HIV para as gestantes.
Nesse sentido, a tendência é estender a oferta de treinamentos específico para tais
profissionais, ampliando a prática do aconselhamento para todos esses serviços.
2. Objectivos
2.1.Geral:
 Estudar o processo do aconselhamento no âmbito da testagem sobre o
HIV/SIDA.

2.2.Específicos
 Conhecer as técnicas do aconselhamento no âmbito da testagem sobre o
HIV/SIDA;
 Compreender os processos o aconselhamento no Gabinete do
atendimento sobre o HIV/SIDA; e
 Distinguir as etapas do aconselhamento no âmbito da testagem sobre o
HIV/SIDA.
3. Noções do aconselhamento sobre HIV/SIDA
3.1.Aconselhamento — Definição
O aconselhamento é um processo interactivo, caracterizado por uma relação
única entre conselheiro e cliente, que leva este último a mudanças em uma ou mais das
seguintes áreas:

 Comportamento.
 Construtos pessoais (modos de elaborar a realidade, incluindo o
eu) ou preocupações emocionais relacionadas a essas percepções.
 Capacidade para ser bem-sucedido nas situações da vida, de forma a aumentar
ao máximo as oportunidades e reduzir ao mínimo as condições ambientais
adversas.
 Conhecimento e habilidade para tomada de decisão.

Em todos os casos, o aconselhamento deverá resultar em comportamento livre e


responsável por parte do cliente, acompanhado de capacidade para compreender e
controlar sua ansiedade.

3.2.Aconselhamento em HIV/AIDS

O aconselhamento em HIV/AIDS configura-se em um diálogo que visa


estabelecer uma relação de confiança entre os interlocutores e a oferecer ao cliente
condições para que avalie sua condição de vulnerabilidade e riscos pessoais de portar o
Vírus da Imunodeficiência Adquirida (HIV) ou de já ter desenvolvido a Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida (AIDS), tome decisões e encontre maneiras realistas, ou
seja, maneiras viáveis de enfrentar seus problemas relacionados às HIV/AIDS
(Ministério da saúde, 2000).

Segundo Araújo, Farias e Rodrigues (2006), um estudo apontou que, para


pacientes com HIV, o aconselhamento melhora os índices de adesão ao tratamento, o
retorno para receber o resultado dos exames, o tratamento do parceiro sexual e uso do
preservativo, no entanto mostrou que ainda é muito baixo o percentual de testagem no
pré-natal, indicando que existem limitações para a realização do aconselhamento e
testagem na atenção básica.
A inserção do aconselhamento na Atenção Básica constitui-se um grande desafio
para gestores e profissionais de saúde, pois necessita de muitos mecanismos de
superação para que resultados satisfatórios sejam obtidos (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2005).

Um dos aspectos que pode contribuir para uma boa cobertura de testagem do
HIV é a realização de um aconselhamento de qualidade e para isso é necessário que os
profissionais responsáveis por este procedimento sejam capacitados adequadamente
para o mesmo.

Essa qualidade almejada pauta-se, sobretudo na perspectiva da escuta às


demandas dos usuários, no apoio emocional para ajudá-las a enfrentar os conflitos que
normalmente aparecem por ocasião da testagem valorizando a troca de informações,
logo os profissionais não devem priorizar o conteúdo informativo e os aspectos
cognitivos do aprendizado, em detrimento ao componente emocional, possibilitando,
assim, aos pacientes maior segurança frente aos resultados dos exames realizados,
eliminando, por exemplo, seus medos e dúvidas ainda existentes, pois caso isso não
ocorra pode ocorrer de muitos pacientes deixarem de fazer o exame com medo do
resultado (Ministério da saúde, 2007).

3.3.O processo de aconselhamento sobre o HIV


O aconselhamento sobre o HIV é um diálogo confidencial entre um utente e um
conselheiro cuja finalidade é contribuir para que o primeiro supere o seu stress e tome
decisões relacionadas com o HIV/SIDA.
O processo de aconselhamento inclui a avaliação do risco pessoal de transmissão
do HIV e a discussão sobre como prevenir a infecção.
Centra-se especificamente em questões psicológicas e sociais relacionadas com a
infecção suposta ou real pelo HIV e com SIDA. Com o consentimento do utente, o
conselheiro pode alargar ao cônjuge, a parceira sexual e aos familiares (aconselhamento
ao nível familiar, baseado no conceito da confidencialidade partilhada).
Os objectivos do aconselhamento sobre o HIV são a prevenção e a assistência.
Um conselheiro é uma pessoa formada em conhecimentos práticos dessa tarefa: escutar
o utente; fazer perguntas com fins de apoio; discutir alternativas; estimular o
beneficiário a tomar suas próprias decisões informadas; proporcionar informação prática
e propor o apoio complementar.
O aconselhamento tem que ser um processo que envolve uma série de sessões e
um acompanhamento. Pode prestar se em qualquer lugar que ofereça tranquilidade de
espírito e confidencialidade ao utente.

3.4.Objectivos do aconselhamento sobre o HIV/SIDA


No contexto do HIV/aids, o aconselhamento tem por objectivos promover:
 A redução do nível de estresse;
 A reflexão que possibilite a percepção dos próprios riscos e a adopção de
práticas mais seguras;
 A adesão ao tratamento;
 A comunicação e o tratamento de parceria (s) sexual (is) e de parceiros de uso de
drogas injectáveis.

3.5.Componentes do processo do aconselhamento sobre o HIV/SIDA


Especialmente no âmbito do HIV/aids, o processo de aconselhamento contém três
componentes:
 Apoio emocional;
 Apoio educativo, que trata das trocas de informações sobre DST e HIV/aids,
suas formas de transmissão, prevenção e tratamento;
 Avaliação de riscos, que propicia a reflexão sobre valores, atitudes e condutas,
incluindo o planejamento de estratégias de redução de risco.

3.5.1. Apoio Educativo:


 Troca de informações sobre DST/HIV/AIDS; formas de transmissão, prevenção
e tratamento.
 Esclarecimento de dúvidas.

Este momento do aconselhamento pode ser realizado nas actividades de sala de espera,
grupos de hipertensos, diabéticos, gestantes, planejamento familiar, terceira idade,
adolescentes, consultas individuais, e nas actividades extra-muros, ou seja, quando o
profissional se desloca para visitas domiciliares, empresas, escolas, zonas de
prostituição, locais de uso de drogas, bares, boates, saunas, entre outros.
3.5.2. Apoio emocional

A busca de um serviço implica em que o usuário se encontra em uma situação de


fragilidade, mais ou menos explícita, exigindo de toda a equipe sensibilidade para o
acolher em suas necessidades.

Prestar apoio emocional implica em estabelecer uma relação de confiança com o


usuário. Sentindo-se acolhido e confiando no profissional, ele poderá ficar mais seguro
para explicitar suas práticas de riscos e avaliar os possíveis resultados do teste anti-HIV.
Isto pode ocorrer nas consultas individuais e no aconselhamento pré e pós-teste.

3.5.3. Avaliação de riscos

Conversar sobre estilo de vida, exposições a situações de risco para as infecções


relacionadas às práticas sexuais e uso de drogas auxilia o usuário a perceber melhor seus
comportamentos e possibilidades de exposição ao HIV.

Este momento também deve incluir o planejamento cuidadoso de estratégias


para a redução de riscos, adopção de práticas mais seguras, promoção da saúde e
qualidade de vida.

Estes conteúdos são abordados nas consultas individuais, no aconselhamento


pré-teste, devendo ser novamente trabalhados no pós-teste, onde se acrescenta a
avaliação dos recursos pessoais e sociais que auxiliem na adesão ao tratamento e na
definição de um plano factível de redução de riscos, sempre baseado na realidade e nas
possibilidades de cada usuário.

Observamos que a avaliação do próprio risco, em que são explorados aspectos


íntimos da sexualidade e/ou do uso de drogas, é melhor trabalhada em um atendimento
individual e que o profissional de saúde necessita estar atento aos seus preconceitos e
possibilitar que o usuário se expresse abertamente sem juízos de valor.
4. Gabinete de atendimento (aconselhamento sobre o HIV/SIDA)
4.1.Objectivos do Gabinete
 Levar informações sobre prevenção do HIV/Aids.
 Expandir o acesso ao diagnóstico da infecção pelo HIV.
 Contribuir para a redução dos riscos de transmissão do HIV.
 Estimular a adopção de práticas sexuais seguras.
 Encaminhar as pessoas com HIV, sífilis, hepatites e HTLV positivas para
os serviços de referência.
 Absorver a demanda dos resultados sorológicos dos bancos de sangue.
Estimular a testagem das parcerias sexuais.
 Auxiliar os serviços pré-natal para a testagem sorológica em gestantes.

A prática do aconselhamento pode e deve ocorrer em outras instituições e circunstâncias


com vistas à prevenção de HIV/SIDA. Em qualquer situação em que ocorra, o
fundamental é que a privacidade, o sigilo e a o carácter confidencial sejam preservados.

4.2.Metodologias e conteúdos a serem desenvolvidos no Gabinete de


atendimento
A metodologia do atendimento e de aconselhamento em HIV/SIDA deve ser
essencialmente participativa. Deve também possibilitar aos profissionais o resgate e o
aprimoramento de suas habilidades em lidar com os aspectos afectivo-emocionais
presentes na relação de assistência aos clientes. Portanto, além de sessões expositivo-
dialogadas, esses treinamentos devem contemplar dinâmicas de grupo, oficinas de
sensibilização e vivência, e técnicas de expressão de sentimentos.

Recomenda-se que os conteúdos a serem desenvolvidos incluam:


 Aspectos biopsicológicos do HIV/SIDA (etiologia, formas de transmissão,
diagnóstico e manejo clínico, medidas preventivas e biossegurança);
 Aspectos epidemiológicos (indicadores, tendências da epidemia,
vulnerabilidade);
 Aspectos laboratoriais (tipos de testes, valor preditivo dos testes, janela
imunológica, significado dos resultados);
 Aspectos éticos e psicossociais (sigilo e carácter confidencial; mitos e tabus,
preconceitos, estigma, sexualidade, perda e morte, uso de drogas, género);
 Aspectos políticos e jurídicos (cidadania; legislação específica);
 Aspectos teóricos e práticos do aconselhamento (identificação e manejo de
reacções emocionais);
 Organização do processo de aconselhamento dentro do serviço (equipe
multidisciplinar, rotina, monitoria e avaliação).

Neste âmbito, há dois tipos de aconselhamento, dependendo do lugar onde é realizado.


O aconselhamento de tipo ambulatório é o proporcionado numa sessão convencional -
num hospital, um centro de saúde ou uma clínica – por um profissional capacitado,
como um médico, um assistente social, uma enfermeira ou um psicólogo.
O aconselhamento baseado na comunidade é o que se realiza num contexto não
convencional – numa aldeia ou num bairro urbano – por um membro da comunidade
formado por outro membro da comunidade ou da família.

5. Técnicas do aconselhamento sobre o HIV


O mais importante princípio para os provedores de saúde nos serviços deve se
fazer sempre o que é o melhor para o interesse do paciente. Isto requer a provisão de
informação suficiente para uma decisão informada e voluntária para realizar o teste,
incluindo ainda a oportunidade de recusar a testagem.
Segundo a who, july 2015 – consolidated guidelines on HIV testng services, um
serviço de aconselhamento e testagem para ser efectivo e com qualidade tem que
responder a 5 técnicas ou princípios éticos indispensáveis:

5.1.Consentimento informado
O teste do HIV é livre; isto é, os utentes nunca deverão ser forçados a receber
aconselhamento ou a fazer a testagem para o HIV. Por este motivo, é essencial que
recebam orientações que sirvam de base para o seu consentimento informado.
O consentimento informado é o princípio ético mestre no aconselhamento e
testagem, pois é aquele que garante a autonomia da decisão do utente, respeitando-o
como sujeito e cidadão de direito.
O consentimento informado estabelece-se através de um processo de diálogo
entre o utente e o provedor de saúde em que o primeiro é informado acerca das questões
sobre o HIV e testagem, para então tomar a decisão de fazer ou não o teste.
Na república de Moçambique, o teste do HIV não é obrigatório.
5.2.Confidencialidade
Deve-se manter o sigilo acerca das informações reveladas pelo utente durante o
aconselhamento, bem como aquelas fornecidas para o utente referente ao seu estado
serológico. Este é um dos pontos essenciais para que a população confie na qualidade
do aconselhamento e testagem oferecida pelo serviço nacional de saúde. A garanta da
confidencialidade do teste é crucial para a tomada de decisão segura pelo utente.
É princípio do aconselhamento e testagem o compromisso de sigilo sobre
qualquer informação trocada na sessão de aconselhamento, bem como durante o
procedimento da testagem.

5.3.O processo de aconselhamento


É a técnica de escuta activa, individualizada, que envolve a interacção entre o utente e o
provedor de saúde, estabelecendo uma relação de troca. Refere-se ao modo como o
provedor de saúde constrói com o utente uma relação de confiança de modo a apoiá-lo
na adopção de comportamentos saudáveis.
O aconselhamento está baseado no respeito e ética, e consiste em ajudar o utente
a compreender a importância do conhecimento do seu estado serológico para o HIV e
oferecer informações para a tomada de decisões em relação à sua saúde.

5.4.Resultado dos testes


O provedor deve garantir a qualidade durante a execução dos testes que irá executar,
oferecer ao utente a possibilidade de acompanhar activamente o procedimento, assim
como garantir a entrega de resultados correctos.
A execução do teste e a entrega do resultado devem ser acompanhadas pelo
processo de aconselhamento, sendo que se orienta para que seja o mesmo provedor a
iniciar e a finalizar o processo de aconselhamento e testagem.

5.5.Ligações entre os serviços de aconselhamento e testagem e os de


cuidados e tratamento
O provedor de saúde deve garantir a referência dos utentes para os serviços
de cuidados e tratamento com consentimento do utente. Para os utentes com resultado
positivo, é indispensável garantir não só as referências, mas também o
seguimento/acompanhamento nos serviços de aconselhamento e testagem.
Segundo a DR.a Marisa Fernandos (2016, p.122) existem ainda outras duas
técnicas a serem consideradas no processo do aconselhamento sobre o HIV/SIDA:
5.6.Técnica do aconselhamento Instrução
Caracteriza-se pela transmissão de informações por parte dos profissionais, aos
usuários. Estes são convocados, dentre outros aspectos, a tomar consciência da
importância da prevenção, de corrigir o uso inadequado do preservativo e de entender
que realizar o teste não é garantia de protecção.

Além disso, disponibiliza-se orientação com relação à higiene, porque muitos são
pacientes, assim, muito pobres, pessoas que não têm a mínima estrutura de nada. O
usuário, então, é o responsável por sua condição sorológica. Espera-se dele habilidades
para serem usadas no aconselhamento - apreensão e memorização das instruções
fornecidas pelo profissional.

Sentimentos dos usuários são destacados nesse contexto, como medo da quebra de
sigilo; vergonha em assistir à demonstração no uso do preservativo; medo de pegar HIV
por formas improváveis. As tarefas de educar, orientar, além de manter-se em postura
vigilante são associadas ao profissional.

As características e/ou ferramentas associadas aos aconselhadores como importantes


para realização de suas tarefas no aconselhamento instrução nos informam de um
modelo convencional de relação profissional-usuário, na qual o profissional transmite,
informa e o usuário recebe, apreende.

Algumas características do profissional ganham destaque para a execução do


aconselhamento, embora prevaleçam as pautadas em aspectos relacionadas mais ao
senso comum (intuição, sensibilidade, instinto), do que propriamente à
formação/postura profissional.

5.7.Técnica do aconselhamento Relação


Outro discurso apresenta o aconselhamento como construção entre profissional da saúde
e usuário. Da parte do usuário, é um momento de reflexão. Da parte do profissional,
uma construção pessoal, já que não há modelo pronto para aconselhamento, cada caso
demandando especificidades. Nessa relação, ao usuário deve-se disponibilizar tempo
para que possa elaborar a situação diante de si, seja de soronegatividade ou
soropositividade.
O sujeito do aconselhamento relação, de acordo com o que dizem os entrevistados, é
dinâmico, tem sentimentos, medos, fantasmas, dúvidas, tem uma intimidade consigo e
merece atenção e cuidado para que sejam abordadas situações que envolvam as
vivências em torno da sexualidade.

No aconselhamento relação, os profissionais tendem a considerar que a reprodução


acrítica da noção de risco ou a crença em formas improváveis de infecção - como a
migração - são expressão de arranjos simbólicos por parte dos usuários.

Isto é, são noções, ao mesmo tempo, construídas no social, e constituidoras dos sujeitos.
A postura do profissional de saúde, de acordo com a opinião das entrevistadas nesse
caso, deve ser marcada por atenção e manejo delicados, que dialoguem com o universo
simbólico envolvido.

No aconselhamento relação identificamos duas posturas interventivas diferentes por


parte dos profissionais. Uma, que lembra o aconselhamento instrução, em que a
aconselhadora esclarece, orienta, entendendo e acreditando que, por exemplo, 'na hora
que eu [usuária] tenho uma relação sexual sem camisinha, eu sou parceira, eu tenho
50% de culpa nessa história.

A segunda direcção da intervenção não se apressa em propor um modelo, uma técnica a


ser adoptada no aconselhamento e/ou para compreender a situação trazida pela usuária.
Ao contrário, o aconselhamento é visto como uma construção. O desafio é o de uma
verdadeira 'mudança de paradigma', distanciando-se de um modelo normativo, de ideias
preconcebidas no que se refere às temáticas envolvidas.

6. Etapas do aconselhamento do HIV/SIDA


O aconselhamento deve ser efectuado por provedores previamente e devidamente
capacitados.
É no pacote de formação do aconselhamento e Testagem de Saúde (aprovado pelo
Misau) onde se encontram todos os instrumentos necessários e capazes de oferecer ao
provedor as habilidades básicas para o exercício do aconselhamento.
Seguem a seguir as seguintes etapas do processo de aconselhamento sobre o
HIV/SIDA:
6.1.Aconselhamento pré-teste
É o momento ou a fase em que o provedor de testagem solicita ao utente o
consentimento para a realização do teste para HIV; aborda sobre aspectos relacionados à
prevenção e cuidados e tratamento; avalia comportamentos de risco do utente, incluindo
a violência baseada no género; elucida sobre os possíveis serviços de apoio que o utente
poderá ter, independentemente do resultado e sobre a importância de testagem de
familiares, com prioridade para parceiros e filhos.
Em locais e/ou serviços com grande afluxo de pacientes, pode-se priorizar o
aconselhamento pré-teste em grupo na sala de espera, de forma a maximizar o tempo e
garantir que todos os utentes a testar tenham acesso ao aconselhamento.
Contudo, é de considerar o aconselhamento individual no momento em que o provedor
está apenas com o utente, pois este é o momento de avaliar comportamentos de risco e
garantir que o utente percebeu o que se pretende com o AT.

6.2.Aconselhamento durante a testagem


É fundamental que nesta etapa o provedor de testagem tenha o foco nas seguintes
questões:
 Com base nos procedimentos “operacional padrão” (pop’s em anexo) de testagem,
explicar ao utente como deve ser feito o procedimento de testagem, e como se
interpretam os possíveis resultados;
 Oferecer o apoio psicossocial para enfrentar o resultado do teste;
 Realizar imediatamente a testagem, e com o utente proceder à leitura dos seus
resultados utilizando o algoritmo de testagem;
 Esclarecer sobre todas as implicações de cada resultado: negativo, positivo ou
indeterminado;
 Discutir o resultado do teste com o utente.

6.3.Aconselhamento pós-teste
É o momento em que o provedor de testagem faz a leitura e a interpretação do resultado
do teste do HIV com o utente, de modo a que este seja considerado como um sujeito
activo no processo. O aconselhamento pós-teste deve ser acompanhado de orientações que
ajudem o utente a tomar decisões seguras no que se refere à sua saúde. Seu conteúdo deve
destacar além da revelação do resultado, a importância e a manutenção da continuidade de
cuidados e tratamento, no caso de resultado positivo. Os resultados dos testes devem ser
entregues individualmente e nunca em grupo, no entanto os casais devem ser encorajados a
receber o AT juntos.
O mesmo provedor que conduziu o aconselhamento pré-teste deve fazer o aconselhamento pós-
teste e deve ainda abordar questões sobre:
 Necessidade de testar seus parceiros e filhos, caso o resultado seja positiva;
 No caso de utentes com resultado negativo e que não demonstrem nenhum
comportamento de risco, encorajá-los a doar sangue no banco de sangue mais
próximo;
 Mesmo com o resultado negativo, o utente deve ser encorajado a convidar
seu/sua parceiros (as) para o teste;
 Utentes com resultado negativo podem ser referenciados para outros serviços
clínicos, de acordo com a necessidade do utente (ex. Circuncisão masculina,
consultas externas, planeamento familiar, etc.);
 Nos casos de utentes que tenham sido vítimas de violência sexual, devem ser
encaminhados ao serviço de atendimento integrado às vítimas de violência ou
seguir o fluxo de atendimento a vítimas de violência estabelecido na unidade
sanitária;
 Nos casos de trabalhadores de saúde que tenham sido expostos à infecção pelo
HIV, devem prontamente comunicar ao supervisor, conforme preconiza o misau
através do guião de profilaxia pós-exposição – ppe;
 Nos casos de resultados indeterminados, a testagem deve ser repetida
imediatamente e feito o seguimento segundo o procedimento indicado no
algoritmo de testagem (vide em anexo o algoritmo nacional de testagem
rápida para o HIV), e o utente deve ser aconselhado a adoptar práticas seguras
de prevenção, seguindo as orientações exigidas até à obtenção do resultado
correcto.
7. Abordagens do aconselhamento e testagem para o HIV reconhecidas em
Moçambique
O ministério da saúde reconhece duas abordagens de aconselhamento e testagem para o
HIV em Moçambique, que podem ser implementadas na unidade sanitária e
comunidade:
7.1.Aconselhamento e testagem iniciada pelo provedor (ATIP)
Oferece oportunidade aos utentes de conhecerem seu estado serológico para o HIV para
fins de diagnóstico, prevenção, cuidados e tratamento.
7.2.Aconselhamento e testagem iniciada pelo utente (ATIU)
Abordagem iniciada pelo indivíduo que procura conhecer o seu estado em relação ao
HIV, tanto para fins de prevenção da infecção quanto para planificar melhor a sua vida.
Nesta modalidade, o teste é solicitado pelo utente e os resultados são “utilizados” pelo
indivíduo para a tomada de decisão sobre a sua vida.
8. Conclusões

Tendo terminado o presente trabalho que consistia em falar sobre o processo de


aconselhamento olhando-se como campo de estudo o HIV/SIDA chegamos a conclusão
de que, o processo de aconselhamento inclui a avaliação do risco pessoal de transmissão
do HIV e a discussão sobre como prevenir a infecção. O aconselhamento deve implicar
uma reflexão conjunta, na qual o cliente deve ser estimulado a participar activamente,
pois este não deve simplesmente “ouvir” uma lista do que deve e o que não deve fazer,
pois muitas vezes essas “regras”, impostas pelo profissional de saúde, acabam sendo
inviáveis ao estilo de vida daquele cliente, logo o que deve ser feito é um levantamento
das situações de risco e, assim, o cliente junto com o profissional devem discutir meios
de tentar evitar esses riscos, respeitando a realidade de cada individuo.

Além disso, ainda há uma confusão entre os entrevistados quanto se trata do público-
alvo desse aconselhamento, pois alguns profissionais, como Angelina Jolie, acreditam
que o aconselhamento deve ser realizado somente para pacientes que são portadores de
HIV e/ou AIDS, no entanto um dos principais objectivos do aconselhamento é voltado
justamente para a prevenção. Com o crescimento no número de idosos contaminados
pelo HIV percebeu-se a necessidade de uma maior atenção a essa determinada
população, assim como às outras, independente de sexo, idade, cor, estado civil ou
opção sexual.

A prática do aconselhamento desempenha um papel fundamental no contexto da


epidemia da AIDS e se reafirma como uma tecnologia de cuidado estratégico para
promover a prevenção, para o momento da revelação do diagnóstico do HIV e na
promoção da integralidade na atenção à saúde, e para isso é necessário que os
profissionais responsáveis por este procedimento sejam capacitados adequadamente
para o mesmo.
9. Referências bibliográficas

Ministério da saúde. Aconselhamento em DST/HIV/AIDS para Atenção Básica.


Moçambique, 2015.

Ministério da saúde. Aprendendo sobre AIDS e Doenças sexualmente Transmissíveis.


3. ed. Brasília, 2001.

Ministério da saúde. Aconselhamento em DST, HIV e AIDS: diretrizes e procedimentos


básicos. 4. ed. Brasília, 2000.

Ministério da saúde. Capacitação para Multiplicadores: Aconselhamento em DST, HIV


e Teste rápido. Brasília, 2007.

AGUILAR, J.M & ANDER-EGG, E., 1994. Avaliação de Serviços e Programas


Sociais. Petrópolis: Vozes.

CN - DST/Aids. Coordenação Nacional de DST e Aids, 1997. Aconselhamento em


DST, HIV e Aids: diretrizes e procedimentos básicos. Brasília: Ministério da Saúde.

DESLANDES, S.F., 1997. "Concepções em pesquisa social: articulações com o campo


da avaliação em serviços de saúde". Cadernos de Saúde Pública, 13(1): 103-108.

GIDDENS, 1993 A Transformação da Intimidade. Sexualidade, Amor e Erotismo nas


Sociedades Modernas. São Paulo; UNESP).

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