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COMO CRISTÃOS PODEM PENSAR NA SITUAÇÃO QUE ESTAMOS VIVENDO HOJE?

Jonathan Oliveira, 25/03/2020

Somos cristãos e, como tais, vivemos um tênue equilíbrio entre estar e ser no
mundo. Algumas vezes, como na nossa atual situação, essa questão entre ser e
estar se coloca mais proeminente. Digo isso porquê uma epidemia lembra a
todos, cristãos e não cristãos, que somos humanos e muito frágeis. Especialmente
os cristãos, numa tendência superespiritualizante, esquecem que ainda temos
vivência e necessidade corporal e, que se a temos ainda, é a vontade de Deus que
assim seja. Por isso, como cristãos também somos históricos – estamos sob as
condições históricas como todos os outros. Porém, creio que alguns pontos são
bons ‘reflexores’ neste momento da nossa história:

a) Estamos aguardando a volta de Cristo (Lc 21.28): momentos como


esses sempre levantam entre os cristãos uma histeria escatológica, onde
buscamos dentro das escrituras aquele versículo que prova que Jesus está
voltando. Sempre é importante lembrar que nosso chamado escatológico
começou no dia em que Cristo foi assunto aos céus. O que significa que a
volta de Cristo está próxima desde que ele foi assunto ao céu – era essa a
esperança de Pedro, Paulo, João e de todos os nossos irmãos que já
dormem no Senhor. Por isso, precisamos lembrar que essa não é a primeira
epidemia (e pode ser que nem seja a última) mas que, mesmo assim,
somos lembrados que todo dia é dia de esperar a volta de Cristo. (Rm
8.18,19). E, enquanto esperamos, olhamos para o lugar certo – que é Cristo.

b) Lembremos de onde vem a nossa esperança (Rm 8.38,39): a conclusão


de Paulo aos romanos é um lembrete a nós. Não é o COVID-19 que irá nos
separar de Cristo e de seu amor, pois nada pode nos separar Dele. Esses
momentos nos recordar da companhia e da segurança que podemos ter
em Cristo por, simplesmente, estarmos com Ele e Nele. Nenhum aspecto
da ordem criada e nem qualquer evento ou ser dentro dessa ordem pode
pôr fim à nossa alegria pelo amor ativo de Deus por nós, em Cristo.

c) Sempre é importante lembrar: Deus é soberano (Lc 21.16-19):


Voltando ao evangelista Lucas, especialmente nesse texto que (como
entendo) tem sido muito mal utilizado nesses dias de epidemia. Acredito
que a verdadeira lição que tiramos daqui, pelo contexto, é que mesmo as
maiores catástrofes que o mundo pode passar não fogem do controle e
do plano de Deus, como também afirma o profeta Isaías (Is 46.8-11). É
confortante saber que Cristo no ordena ‘assentar em nossos corações’ a
não preocupação. Se confiamos que Deus é soberano, precisamos lutar
com nossos corações contra a ansiedade e o desespero, lembrado do
nosso valor diante de Deus (Mt 10.28-33).

d) Qual a verdadeira natureza da Igreja? (1ª Co 12.26,27): É comumente


ensinando que a Igreja não é um templo, um salão ou um espaço físico. A
impossibilidade de reuniões presenciais está, de alguma forma,
confirmando essa realidade. Quando não podemos nos encontrar, ainda
podemos nos conectar e, essa conexão, nos lembra que a Igreja é um
corpo gigante, imaterial, que expressa a glória de Deus através das
atitudes de seus membros pelo mundo. Talvez nunca tivemos um
momento tão oportuno para pensar na realidade imaterial, porém
presencial, da Igreja no mundo.

e) Precisamos praticar o amor em nossas obras (Tg 2.15-17; 1Jo 4.7-9):


Finalmente, sabemos que Deus cuida e cuidará de nós. Mas, fé é diferente
de imprudência. Se olhamos para a história das mulheres e dos homens
de Deus, aprendemos que no que era impossível eles confiaram piamente
em Deus mas, no que lhes eram possível, fizeram conforme todas as suas
forças. Veja o caso dos amigos de Daniel, ao serem jogados na fornalha
de fogo (Dn 3.16-18): o que dependiam deles – isto é, não prostar-se e
adorar uma imagem – eles fizeram. Quanto a serem salvos ou não do fogo,
isso era algo do divino. Da mesma forma, temos sido alertados sobre
medidas práticas para que o COVID-19 não se alastre e venha a causar
mais dor e sofrimento ao mundo. Se sabemos que somos guardados por
Deus, por que iremos tentar o Senhor sendo imprudentes? E mais: como
podemos dizer que amamos nossos semelhantes se, ao não cuidarmos,
estamos colocando em risco nossa vida e a deles. O cristão deveria ser
conhecido por sua postura amorosa em relação a si e aos outro e este é
um momento FUNDAMENTAL para demonstrarmos isso.

Gostaria de terminar essa breve reflexão com uma história da época do


cristianismo primitivo, relatada por Moses Y. Lee no texto “O que a Igreja Primitiva
Pode nos Ensinar sobre o Coronavírus”. Como quase sempre, esses irmãos tem
muito a nos ensinar por sua teologia prática. Entre 249 e 262 dC, a civilização
ocidental foi devastada por uma das pandemias mais mortais de sua história.
Embora a causa exata da praga seja incerta, a cidade de Roma perdeu cerca de
5.000 pessoas por dia no auge do surto [...]

A história demonstra cristãos e não cristãos agiram de forma distinta diante


daquela pandemia: Os não cristãos “No início da doença, eles empurraram os
doentes para longe e expulsavam seus próprios entes queridos de casa, jogando-
os nas estradas, antes mesmo de morrerem, e tratando cadáveres não enterrados
como terra, esperando assim evitar a propagação e o contágio da doença fatal;
mas, mesmo fazendo tudo o que podiam, achavam que seria difícil escapar”.

E o que faziam os cristãos? Bem, seu testemunho falava por si só: “Muitos de
nossos irmãos cristãos mostraram amor e lealdade ilimitados, nunca poupando a
si mesmos e pensando apenas no seu próximo. Indiferentes ao perigo, eles
cuidaram dos enfermos, atendendo a todas as suas necessidades e ministrando-
os em Cristo, e com eles partiram desta vida serenamente felizes; pois foram
infectados por outros com a doença, provocando em si mesmos a doença de seus
vizinhos e aceitando alegremente suas dores”.

Pelo menos dois impactos nasceram dessa atitude:

1) o testemunho dos cristãos foi relevante na compreensão do que Cristo era


(Jo 13.35), a ponto do imperador romano Juliano – um do tantos que tentaram
destruir o cristianismo, sem nenhum sucesso - exortar os sacerdotes pagãos a
serem parecidos com os cristãos por sua “benevolência para com estranhos, seu
cuidado pelos túmulos dos mortos e a pretensa santidade de suas vidas”. Em
outros lugares, ele escreveu: “Pois é uma vergonha isso. . . os ímpios galileus
[cristãos] apóiam não apenas seus próprios pobres, mas também os nossos”.

2) o sacrifício cristão por não-cristãos resultou na igreja primitiva,


experimentando crescimento exponencial à medida que os sobreviventes não-
cristãos, que se beneficiavam do cuidado de seus vizinhos cristãos, se convertiam
à fé em massa.

Dionísio, bispo de Alexandria na época, afirmou que “Outras pessoas não


acham que esse é o momento de celebração [Mas] longe de ser um momento de
angústia, é um tempo de alegria inimaginável”. Sua visão era que o povo de Deus
tinha a oportunidade de servir, mais ainda, nesse momento difícil. Que nos
inspiremos no exemplo de nossos irmãos e sejamos sal e luz mais uma vez nesse
momento. Que Deus nos abençoe!

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