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Não durou muito, mas Varis chegou a experimentar a sensação de ser amado e

querido por sua família, foi tratado até como uma centelha de esperança para o grupo de elfos
negros exilados no qual nascera. Entretanto, a fome, doenças e guerras seguiam castigando os
drows e estes chegaram a fazer de tudo por um pouco de comida e segurança. Além disso,
eram mal interpretados tanto pelas bondosas, quanto pelas maldosas, sendo alvo de
armadilhas e ameaças gratuitas.

Mesmo com estas dificuldades, o menino Varis nunca amaldiçoou seu destino ou
desprezou seu grupo ou seus pais, não até o dia em que foi obrigado a se separar deles. Sua
sorte, que já não era muito, sofrera um revés quando acordou acorrentado dentro de uma
carroça guiada por um grupo de humanos. Ele ainda não entendia o significado daquilo, mas o
fato é que fora vendido como escravo pelo seu grupo de drows. Alguns homens explicaram a
ele que seu futuro seria divino e casto, que ele se tornaria um fiel puro e honrado na igreja da
qual eles faziam parte.

Varis ingressou como aprendiz na ordem religiosa chamada de Os Nomam, cultuada


secretamente na cidade de Zurid, ali recebendo muitos ensinamentos e estabelecendo novos
laços de confiança. Sua vida seguiu tranquila, ainda que pacata e confinada nos templos
subterrâneos d’Os Nomam, foi assim até que ele alcançasse sua puberdade. Apesar da
diferença temporal entre o seu envelhecimento e o dos humanos, Varis não chegou a ser
destratado por isso.

Conforme ficava mais velho, sua curiosidade e questionamentos sobre seu


confinamento aumentava, sua rebeldia começara então a ser percebida por seus supervisores.
Numa certa noite, ao se esgueirar até um cômodo desconhecido e escuro, ele escutou uma
conversa entre os cardiais de sua ordem. Eles conversavam sobre “dia do sacrifício”, “novas
encomendas”, “purificação” e “preparar a oferenda drow”. Ele entrou em choque, mas
conseguiu manter as aparências no dia seguinte, algo expendido para alguém tão jovem.

Na semana seguinte Varis conseguiu roubar uma adaga e em seguida tornou um de


seus supervisores em refém, forçando passagem pelos portões que guardavam a escada para a
superfície da cidade. Perseguido, ele decidiu ferir seu refém e abandoná-lo, na esperança de
atrasar seus algozes com a tarefa dos primeiros-socorros. A decisão se mostrou efetiva e Varis
dedicou cerca de 5 anos de sua vida para se tornar um ágil lutador, treinando em diferentes
grupos de aventureiros.

Seu objetivo principal, no entanto, sempre permaneceu o mesmo: aniquilar a ordem


religiosa que o traiu e o enganou durante décadas. Sua raiva era imensa, pois chegara à
conclusão de que foi roubado de seus pais pelos malditos Nomam. Após se sentir preparado,
Varis se disfarçou e se infiltrou na ordem, recolhendo informações e aguardando o melhor
momento para mostrar sua verdadeira intenção. Descobriu que os “últimos sacrifícios” não
haviam dado certo e que “faltava o ingrediente correto”.

Chegado o dia da cerimônia, Varis se enraiveceu ainda mais ao se deparar com um


grupo grande de jovens e crianças de diferentes raças que estavam acorrentadas e preparadas
para algum tipo de ritual. Ele aguardou o momento correto para impedir aquela barbaridade,
preparou focos de incêndio, assassinou guardas silenciosamente, bloqueou possíveis caminhos
de fuga e armou armadilhas simples e fatais em outras passagens. Até que finalmente
esfaqueou o líder d’Os Nomam pelas costas, dando início à sua carnificina, nada impediria sua
sanguinária vingança.

Após degolar seu último oponente, resolveu libertar aqueles que seriam sacrificados.
Ao desferiu o primeiro golpe na corrente de um dos reféns, ele escutou uma voz rouca e grave:
“finalmente o encontrei”. Antes que pudesse tentar novamente, o círculo de sangue que os
cercava começou a emanar uma luz negra e um fedor forte de enxofre. As crianças começaram
a gritar e uma por uma se tornaram cinzas, seu corpo ficou paralisado, Varis não conseguia
nem abrir sua boca para gritar “fujam”.

Depois de todas as crianças sumirem, Varis sentiu seu corpo ferver, como se um vulcão
pulsasse de seu peito. Em seguida sentiu como se estivesse caindo em um abismo viscoso
fétido, até finalmente repousar sobre um lago escuro. Ali se deparou com uma criatura
diabólica, que dizia: “que ótimo trabalho, sinto o perfume da morte em você, meu jovem
general”. O diabo se apresentou como Mamon, Arquiduque de Minauros e disse que passaria
a manipular seu corpo, pois Varis ainda era muito fraco.

Ele então se ajoelhou e começou a cantar uma música, era uma oração de proteção
cantada por sua mãe, esta memória foi instintiva e seu choro o levou de volta ao se corpo no
templo Nomam. Ele viu suas lágrimas evaporando e sentiu a consciência se esvaindo
novamente, Varis então reuniu toda sua força e gritou ao mesmo tempo em que mirava sua
adaga em seu próprio peito. A lâmina entrou devagar, foi então que toda a ardência e calor se
condensaram em seu peito e repeliu a adaga de dentro do seu coração.

Varis caiu no chão em seguida e sentia que se corpo havia voltado ao normal. Depois
de dois dias desacordado, ele acorda na acorda na casa de um curandeiro da cidade. Sua adaga
lhe foi devolvida, mas sua aparência estava completamente diferente. Ao tocar a lâmina ele se
deu conta, tratava-se de uma arma amaldiçoada pela vontade de Mamon. Ele sorriu em
desespero e aceitou que iria feliz para o inferno se conseguisse usar aquela arma para acabar
com todos os cultos e seitas religiosas que encontrasse.

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