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A efetividade do Setor Especial do Anel de Conservação Sanitário-Ambiental.

Estudo de caso
na bacia do Rio Barigui – Curitiba/PR

Vinicius Luigi Miozzo


Universidade Federal do Paraná
vinicius-miozzo@uol.com.br

INTRODUÇÃO

A água e a vegetação são riquezas incrivelmente importantes para todo o ser vivo, de
forma mais especifica, para os humanos. Uma parcela da população, incorpora um papel
fundamental para preservar a hidrografia e a vegetação, os quais, são patrimônio natural. Da
mesma forma, é papel do estado também levar em consideração a supressão da vegetação e a
poluição dos rios. Assim, no âmbito estatal, tanto com a reformulação da constituição federal,
quanto com a necessidade de criação de órgãos para o monitoramento e controle ambiental,
com a respectiva finalidade de reduzir, regulamentar e balizar como o meio ambiente deve ser
protegido e utilizado.

Segundo entendimento do STF, o estado, de forma especial (art. 23, VI) fica
incumbido, e também à própria coletividade, a especial obrigação de defender e preservar, em
benefício das presentes e futuras gerações, o direito ao meio ambiente preservado. O
preenchimento desse encargo, que é irrenunciável, representa a garantia de que não se
instaurarão, no seio da coletividade, os graves conflitos intergeneracionais marcados pelo
desrespeito ao dever de solidariedade, que a todos se impõe, na proteção desse bem essencial
de uso comum das pessoas em geral. (STF, 2005)

No caso especifico de Curitiba, em que 100% da superfície do município é tida como


urbana, não é possível deixar de abordar também os órgãos responsáveis pelo urbanismo das
cidades. São também nestes órgãos, que o estado tenta, de alguma forma, delimitar quais
deverão, ou deveriam ser os parâmetros de ocupação na sua área municipal.

Desta maneira, é, ou seria necessário, o empenho por parte do estado para que ocorra
a preservação da vegetação e dos corpos hídricos, além é claro, de programas de incentivo ao
desenvolvimento de uma consciência popular, independentemente de ela contribuir de forma
direta ou indireta para este movimento de preservação/reconstrução da cobertura vegetal e da
hidrografia.

Ao que tange a cobertura vegetal, é necessário ressaltar, que ela desempenha uma
infinidade de papeis. Por exemplo, ela facilita a estabilização do terreno, oferece obstáculos
contra o vento e também contra a poluição dos mananciais e nascentes, tem a capacidade de
redução dos ruídos, filtração do ar e consequente diminuição da poeira em suspensão.
(CAVALHEIRO e NUCCI, 1999)

Já na parte da hidrografia, ela representa ações fundamentais para que seja facultada a
possibilidade de viver na cidade, como o abastecimento e saneamento de agua a população,
irrigação de alimentos e da vegetação, tanto de forma natural (ciclo hidrológico), quanto de
forma induzida, geração de energia elétrica e a navegação por exemplo. (TUCCI e MENDES,
2006)

Na instancia institucional, é necessário salientar que o direito ao meio ambiente (art.


225) tem reconhecimento pacifico de que este é um direito fundamental. Desta forma, por ser
um direito fundamental ele obtém o estado de indivisibilidade, o que o torna conceptível sua
conexão com outros direitos fundamentais, tais como o direito à vida (art. 5º) e o direito à saúde
(arts. 6º e 196), tornando-o assim, garantia de uma vida saudável e digna, proporcionando ao
humano um desenvolvimento, não mera sobrevivência. (KRELL, 2013, p. 2080)

PROBLEMATICA

Visando a proteção da vegetação ao longo da hidrografia, surgem as Áreas de


Preservação Permanente (APPs). Em especial, de forma conjunta com as unidades de
conservação. Estas áreas em especifico fazem parte do sistema de áreas protegidas da legislação
ambiental brasileira.

As APPs demandam atenção especial, pois possuem grande importância na


manutenção natural dos ecossistemas, pois estão intimamente conectadas a hidrografia. De
acordo o Código Florestal Federal Brasileiro (BRASIL, 2012), a redação do que é denominado
de “Áreas de Preservação Permanente” é dada pelo artigo 3°, inciso II. Nele está redigido que
a noção de APP é formulada como uma
“...área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de
preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a
biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o
bem-estar das populações humanas; ”

Entretanto, para o estudo das áreas urbanas, a delimitação de APPs neste caso dava
margem a informações dúbias. Sua antiga redação (a qual foi revogada), no artigo 4°, § 9º,
expressava que

“...em áreas urbanas, assim entendidas as áreas compreendidas nos perímetros


urbanos definidos por lei municipal, e nas regiões metropolitanas e aglomerações
urbanas, as faixas marginais de qualquer curso d’água natural que delimitem as áreas
da faixa de passagem de inundação terão sua largura determinada pelos respectivos
Planos Diretores e Leis de Uso do Solo...”

No código atual, após seus ajustes e remendos, justamente o trecho retrocitado foi
retirado do código, e, tirando as informações sobre represamento e ambientes lacustres, nada
mais é citado sobre APPs em face do cenário urbano. Assim, o que resta é a redação do artigo
4º, que descreve a consideração da Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou
urbanas. Desta forma, tecnicamente, a vegetação urbana deveria seguir os mesmos parâmetros
para a vegetação em área rural

Já para a legislação protetora do verde urbano no município de Curitiba, A luz da Lei


nº 9.806/2000, a área verde da cidade é abordada de forma especifica com as finalidades de
proteção, conservação e monitoração de árvores isoladas, como a Araucaria angustifolia
(Pinheiro do Paraná), além das associações vegetais. Na referida Lei, em seu art. 4º, estão
estabelecidos o que são estas associações vegetais:

“§ 1º - Consideram-se Bosques Nativos, os maciços de mata nativa representativos da


flora do Município de Curitiba, que visem a preservação de águas existentes, do
habitat da fauna, da estabilidade dos solos, da proteção paisagística e manutenção da
distribuição equilibrada dos maciços florestais. ”

“§ 2º - Consideram-se Bosques Nativos Relevantes aqueles que possuam as


características descritas no §1º deste artigo e que pela sua tipologia florestal,
localização e porte sejam inscritos no cadastro do Setor Especial de Áreas Verdes,
junto à Secretaria Municipal do Meio Ambiente - SMMA.”

No Plano de Urbanização de Curitiba de 1943 (BOLETIM PMC, 1943) a hidrografia


foi tratada como empecilho ao desenvolvimento da cidade. Grande parte dos rios que cortavam
a cidade, acabaram por serem ou retificados, ou “...canalizado[s] em trechos centrais, bem como
foi construído um grande boêiro, junto ao rio Bigorrilho, eliminando assim os inconvenientes
das inundações de aguas pluviais”.
Sabe-se que canalizar e retificar o rio não são as únicas maneiras de resolver estes
problemas. Talvez estas soluções fossem as únicas disponíveis no período 1943, mas hoje em
dia, existem por exemplo as medidas clássicas, como os diques e estações de bombeamento, os
reservatórios de detenção e canais artificiais; além é claro, do aumento das áreas de infiltração,
mas para grandes áreas impermeáveis como as regiões adensadas e centrais das cidades, este é
um ponto difícil de se adentrar. (TUCCI e MENDES, 2006, p. 172)

Foi neste plano que grande parte dos parques e praças dentro do círculo da planejada
Avenida Perimetral 3 (figura 1) da cidade acabaram surgindo, ou foram mais bem estruturados.
Como citado, alguns destes já existiam, como é o caso das praças Rui Barbosa e Tiradentes
(adensadas e impermeáveis), mas o Parque Barigui (Rio Barigui) e a Praça Afonso Botelho
(Rio Água Verde) (áreas verdes ao longo de córregos), só se tornaram oficiais com este plano.
(BOLETIM PMC, 1943)

Figura - 1 Crescimento radial para a cidade, estabelecendo princípios de circulação, interligando os diversos
pontos da cidade, evitando passar pela região central. Por este motivo, o plano de urbanismo de 1943, também era
chamado de Plano das Avenidas. No anel mais externo, apresenta-se o plano de construção da Avenida Parque,
conhecida também como Av. Perimetral 3 (Av. Pres. Arthur Bernardes; Av. Nossa Sra. da Luz; Av. Pres.
Wenceslau Braz)

Entretanto, na continuação do plano diretor, não existe uma melhora. Em sua


segmentação sobre zoneamento, o plano trata de uma zona inundável na região do baixo Belém.
Especificamente no plano, é aconselhável a demarcação das áreas de maior cheia e que ela seja
privada de edificação, até que a drenagem desta parte do terreno seja concluída. Literalmente,
ocorrem um incentivo (obviamente com parcimônia) da ocupação do leito maior do rio Belém.
(BOLETIM PMC, 1943. p. 85)
Com o passar dos anos, com o desenvolvimento e fortificação da educação ambiental,
as novas legislações urbanísticas, ainda tratam a hidrografia e as áreas verdes como recursos a
serem utilizados para facilitar o transporte viário, em especial na legislação mais recente, a
LZUOS1. Em singular, uma de suas leis complementares, a Lei nº 9.805/2000, a qual é objeto
de estudo. A Lei criou o Anel de Conservação Sanitário Ambiental.

A Lei 9.805/2000 cria e delimita áreas de preservação ao longo dos canais


hidrográficos mais importantes da cidade, sejam eles naturais, retificados ou canalizados. Nesta
lei, são criados os Setores Especiais do Anel de Conservação Sanitário-Ambiental. Nestes
espaços foram/deveriam ser criados espaços que formariam trechos ao longo dos rios, córregos
e arroios, compreendendo as faixas de preservação permanente e áreas contíguas, estas áreas
tem como destino preferencial a implantação de sistema de circulação de veículos e pedestres,
unidades de conservação ou áreas de uso público. Adicionalmente, toda e qualquer área
adicional a estes Setores Especiais, podem ter seu uso categorizando num destes
enquadramentos: implantação de áreas de retenção de águas; de parques; de equipamentos
públicos e de sistema viário.

Seguindo a carta magna, a competência concorrente é definida no artigo 24, e se


direciona a União, aos Estados, e ao Distrito Federal. Em matéria de competências legislativas,
a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais, que se aplicam a todo
território nacional, cabendo a cada unidade da Federação seu respectivo detalhamento,
conforme as características e necessidades locais, limitados pelas regras impostas pela União
(GRANZIERA, 2011, p. 90)

A competência dos municípios está estabelecida no artigo 30, da Carta Magna, aos
quais compete legislar sobre assuntos de interesse local, suplementar a legislação federal e
estadual nos termos que couber e promover um adequado ordenamento territorial, mediante um
planejamento e controle de uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano, além de
promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observando a legislação federal e
estadual. No caso dos incisos I e II, é papel do municio legislar sobre os interesses locais, e
suplementar as legislações federais e as estaduais onde tiver cabimento. Assim, o município
poderia regulamentar normas especificas e adequadas as suas municipalidades. Entretanto, é

1
Lei de Zoneamento, Uso e Ocupação do Solo - LZUOS, Lei nº 9.800/2000 do Município de Curitiba de 03 de
janeiro de 2000 e suas leis complementares/anexas.
vedado ao município legislar de forma aleatória aos preceitos da constituição, apenas colocando
a prerrogativa de legislar sobre os interesses locais. (BULOS, 2008, p. 606)

A Lei 10.257/2001 que criou o Estatuto da Cidade veio revogar as normas anteriores
que mantinham o município afastado das competências ambientais. As diretrizes previstas no
artigo 2º do Estatuto, vieram regulamentar os artigos 182 e 183 da Constituição Federal.

O artigo 2º do Estatuto dispõe das diretrizes para a política urbana municipal, sendo
que todas essas diretrizes devem ser levadas em consideração na elaboração do Plano Diretor,
segundo o que dispõe o artigo 39 do referido Estatuto. Após a elaboração do plano Diretor, o
município deverá aprovar uma legislação proprietária para o meio ambiental, ou, como no caso
de Curitiba, um Código Ambiental Municipal, válido, para todo o território municipal que lhe
detalhe as normas de proteção ambiental, especialmente, nos setores determinados pelas
cidades, como do tipo urbano. (ENGSTER, 2016)

OBJETIVO GERAL E ESPECÍFICOS

Assim, o escopo do estudo reside, na análise da legislação protetiva ao longo do Rio


Barigui, buscando de primeira análise, verificar se a lei é válida. Na sequência, serão buscadas
formas fomentadoras a preservação da vegetação, e, consequentemente, analisar se elas
auxiliaram na proteção da vegetação que existe na bacia especifica e se de alguma forma eles
ajudaram no aumento da área vegetacional ao longo do Rio. Sejam elas de âmbito federal e/ou
municipal.

 Analise da legislação municipal


 Analise da cobertura vegetal, com base em fotografias aéreas e quantificação dos
valores resultantes;
 Analise e quantificação de lotes que deveriam ser desapropriados, caso as áreas
seguidas fossem com base no Código Florestal, não na legislação municipal.
 Busca de referencial para que os valores propostos pela Lei 9.805/2000 pudessem ser
balizadas. Sugestão de análise da densidade urbana ao longo do Anel Sanitário-
Ambiental.
REFERENCIAL TEÓRICO

Conforme Falcón (2007), o verde no urbano pode ser dividido de duas maneiras, em
público (parques e canteiros por exemplo) e privado (quintais e jardins), sendo que ambos
trazem benefícios psicológicos e físicos a toda a população, como exemplo o fornecimento de
áreas recreativas (parques, praças e áreas de passeio) e a melhora de seu entorno (áreas
residências/comerciais com maior concentração vegetacional). Desta forma, não é
exclusividade do poder público cuidar do verde urbano, mas sim, é trabalho à toda a população
que reside na cidade trabalhar e cuidar do “verde e a paisagem urbana”. (FALCON, 2007. p.
53)

Em se tratando de termos associados ao verde urbano, CAVALHEIRO et. al. (1999)


propuseram três categorias: os espaços livres de construção; as áreas verdes e o conceito de
cobertura vegetal. Segundo esses autores, a conceituação de cobertura vegetal deve integrar
toda a vegetação urbana ou rural, particular ou pública, englobando vegetação em diversos
espaços, como construídos, de integração, livres e também as unidades de conservação (de uso
restrito, ou não). Esta vegetação pode ser analisada via imageamento aéreo, o que facilita muito
a fotointerpretação.

A hidrografia em meio urbano é tratada muitas vezes com descaso. Tucci e Mendes
(2006) descrevem que os impactos no meio hídrico podem ser divididos em alguns
agrupamentos, tais como: poluição por efluentes domésticos e industriais; contaminação de
aguas pluviais em áreas agrícolas por pesticidas ou pela erosão do solo; efluentes da criação de
animais ou de atividades mineradoras, entre outros.

O que mais é reportado na mídia são os pontos de ocupação irregular nas regiões
periféricas com pouca ou nenhuma observância as legislações ambientais, quanto mais ao plano
diretor, como é o exemplo das ocupações das áreas de manancial da região de Campo Magro
(município da Região Metropolitana de Curitiba), no canal extravasor do Rio Iguaçu e a região
de Guarituba em Piraquara2.

2
Maiores informações estão disponíveis no site do projeto de monitoramento dos conflitos relacionados a questão
hídrica na Região Metropolitana de Curitiba: <http://goo.gl/4cUFMk>; <http://goo.gl/OCU18u>;
<http://goo.gl/ShB0oF>. Acesso em 03 de dez. 2016
Tucci e Mendes (2006) exemplificam, que não são apenas as populações de baixa
renda que ocupam as regiões ao longo dos cursos d’agua. Os autores explicam que no plano
diretor das cidades,

“...geralmente não existe nenhuma restrição quanto à ocupação das áreas de risco de
inundação, e a sequência de anos sem enchentes é razão suficiente para que
empresários desmembrem estas áreas para ocupação urbana; [além disso, podem
ocorrer] invasão de áreas ribeirinhas, que pertencem ao poder público, pela população
de baixa renda (...)”. (TUCCI e MENDES, 2006, p. 121)

Para tentar trabalhar estes problemas, em especial da resposta estatal no processo de


preservação da vegetação ciliar, o estado legisla fundamentalmente frente a necessidade de
preservar áreas que contribuam para a sustentabilidade dos recursos naturais, alguns espaços
territoriais foram considerados por lei como áreas de preservação ambiental. Nesses espaços, à
exceção de casos especiais, deve-se evitar a ocupação ou o uso para atividades que possam
acarretar alterações do seu sistema natural, como as citadas anteriormente por Cavalheiro e
Nucci (1999).

JUSTIFICATIVA

Ao todo na cidade, existem aproximadamente 901,10Km de hidrografia. A legislação


compreende vinte e oito trechos da hidrografia da cidade, o que corresponde a
aproximadamente 365,37Km3 de hidrografia “protegida”, correspondendo a 40% da
hidrografia. Em especial, sobre o Rio que é objeto de análise desta bacia, a Lei nº 9.805/2000
determina, em seu Art. 2º, inciso I, exprime quais são as delimitações das faixas do Anel
Sanitário-Ambiental. As áreas se iniciam na foz do rio, com uma faixa de 200,00m (duzentos
metros), a partir da margem, no trecho compreendido a partir da confluência com o Rio Iguaçu
até a PR-476 (Rodovia do Xisto); a jusante, os 200m são restringidos a uma faixa de 100,00m
(cem metros), para cada lado do rio a partir da margem, no trecho compreendido a partir da PR-
476 até a Rua Desembargador Cid Campelo; na sequência em direção a nascente, o Anel fica
ainda mais restrito, tornando-se uma faixa de 85,00m (oitenta e cinco metros), para cada lado
do rio, a partir da margem, no trecho compreendido a partir da Rua Desembargador Cid
Campelo até a divisa norte do Município e após a faixa de proteção novamente se alarga para

3
Estas informações têm referência a partir dos dados vetoriais fornecidos pelo Instituto Águas Paraná, sendo que,
parte dos dados foram complementados pelo PARANACIDADE e pelo IPPUC. Disponível em:
<http://www.aguasparana.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=89>. Acesso em 06 de dez. 2016
uma faixa de 100,00m (cem metros), a partir da margem, quando o rio torna-se divisa do
Município de Curitiba com os Municípios de Almirante Tamandaré e Campo Magro até a PR-
282; ” (CURITIBA, 2000)

No caso da Bacia do Rio Barigui como um todo, o qual é o objeto de estudo, a


legislação compreende 14 trechos de rios. De forma especifica ao Rio Barigui, e restrito a área
dentro do município de Curitiba, esta informação se traduz em 170,78Km lineares de
hidrografia protegida da bacia do valor total de 480,75Km. Já na quantificação de área, os
valores ficam em 11,54Km² de área protegida via Setor Especial, de um total de 144,46Km4.

A largura da área de proteção é variável, dentro de um único curso d’agua, como é o


caso do Rio Barigui. Entretanto, na Lei não está explicitado de onde saiu estes critérios mais
restritivos ou abrangentes. A largura base da maioria da hidrografia da área de preservação
municipal tem medida entre 40m e 50m, entretanto em casos específicos, como é o Caso da
Bacia do Rio Barigui, o Rio Barigui e os Ribeirões Antônio Rosa e Campo de Santana, tem
suas áreas de conservação mais extensas que as médias, indo de 75m (Ribeirão Campo de
Santana) até os valores mais expressivos (200m), os quais pertencem ao Rio Barigui.

Entretanto, cabem 2 ressalvas nestes pontos. O 1º diz respeito a comparação com a


hidrografia restante da bacia, com base nos dados fornecidos pelo IPPUC, pouco mais de 1/3
da hidrografia (35,5%) está protegida por legislação municipal proprietária. O 2º Ponto roga
em pauta, de que a legislação da área de preservação municipal varia. Na figura em anexo, é
possível observar que na porção em que o Rio Barigui corta a cidade, a área de proteção a sua
hidrografia se inicia nos 200m de área de preservação, e com o decorrer de seu traçado fluvial,
a área de preservação é reduzida para 85m, voltando a se expandir para 100m após sair da área
mais densa da cidade como pode ser visto na figura em anexo, e se tornar a divisa com o
município de Araucária/PR.

4
Dados também referentes aos arquivos vetoriais fornecidos pelo Instituto Águas Paraná. Disponível em:
<http://www.aguasparana.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=89>. Acesso em 06 de dez. 2016
CONTRIBUIÇÕES DA PESQUISA.

O conflito entre legislação ambiental e legislação municipal ao que tange às APPs, é


um problema antigo, sendo que ele foi reacendido com a renovação do Código Florestal.
Entretanto, no caso de Curitiba, o que mais chama a atenção, é verdadeiramente este
emagrecimento do Anel Sanitário-Ambiental, o qual tem por finalidade, como exposto acima,
a proteção de mananciais e da vegetação ciliar ao longo dos córregos que sobraram. Ademais,
é necessário que a população eu vive nestes Setores Especiais tomem conhecimento de que
existe um zoneamento exclusivo no local que elas residem e/ou trabalham

Com a exposição dos artigos da Constituição Federal, ademais da legislação de APPs


e do Estatuto das Cidades, em um primeiro julgamento, aparentemente a lei nº 9.805/2000 é
parte constitucional, mas fundamentalmente inconstitucional, pois ao invés de regular e
delimitar as APPs em face do urbano, buscando uma desapropriação nos casos em que os lotes
não servem aos propósitos sociais expostos no Código Florestal, e/ou ainda busca a implantação
de uma legislação mais protetiva (in dúbio pro natura), o que ocorre é o aumento e a diminuição
das áreas que tem esse objetivo, sem um critério aparente. O que pode ser responsável por este
critério é o adensamento urbano, como exposto no mapa em anexo.

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

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00

1
100

100

40
40

50

Área de Proteção Ambiental

50
do Passaúna

85

Legenda
50
Limites municipais

Bacia do Rio Barigui

APA do Passaúna

Hidrografia da bacia

Densidade habitacional por lote


Habitantes por m² (hab/m²)

0 - 0,63 40

0,64 - 0,77 50
50

0,78 - 1,0
100
1,1 - 2,3

2,4 - 7,5

7,6 - 68

69 - 1.100

Densidade habiacional (censo 2010)


Habitantes por hectar (hab/he)

0 - 24,58

24,59 - 59,95 7
5

59,96 - 113,1

113,2 - 216,0
200

216,1 - 449,1

Largura da faixa de proteção do Anel Sanitário


40 e 50m

75m

85m

100m

200m

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