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Dança

Cósmica

Índice
1 – Vazio

Suicídio não é uma decisão fácil que alguém toma de um instante para o outro.
Parece haver um complexo autônomo pró-vida, que assim que você pensa na
morte, surge instantemente, às vezes jogando baixo.
Adara falava animada ao telefone, enquanto atravessávamos aquela longa viela
ladeada de muros cobertos por grafites de todos os tipos. Os rastros, no lixo
deixado em nosso caminho, como camisinhas usadas, papel de droga, utensílios
diversos para drogas, dava para ter ideia do lugar onde passaríamos aquela noite.
Havia buracos tão fundos na sociedade que mesmo aqueles mais envolvidos não
estavam cientes. Não era mais um subsolo, nós éramos todo o submundo. Eles
eram, estava ali porque Adara conseguira fazer parte e por algum tipo de regalia,
permitiram que ela me trouxesse como convidada.
Ao cruzarmos toda viela demos de frente com um monte que disponibilizava uma
escada de concreto coberta por lodo e úmida, que nos deixava diretamente no
topo do monte. Questionava-me como ela conseguia falar ao telefone, subir
aquela escada escorregadia feito sabão e não perder o raciocínio ou equilíbrio.
O carro dela ficou estacionado numa das ruas abaixo do monte. De cima a vista
era linda, toda a cidade como milhares de vaga-lumes piscando no véu de
escuridão da noite. Atrás de nós, a casa enorme se erguia, tão antiga que não
conseguia precisar.
Um homem de cabelos curtos veio de encontro a Adara e curvou levemente a
cabeça para mim num rápido cumprimento.

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