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Instituto Superior de Ciências de Educação à Distância

Direitos Reais

Quelimane, Abril de 2020


Direitos Reais

Paulino Sozinho

Trabalho de Campo de Carácter Avaliativo


da Cadeira de Direito Real, 3o Ano do
Curso de Direito.

Tutor: Dr. Sancho Bila.

Quelimane, Abril de 2020


Índice
1. Introdução ................................................................................................................................ 1
2. A posse e a Detenção Precária ................................................................................................. 2
3. Posse e o Direito de Propriedade ............................................................................................. 2
4. Usucapião ................................................................................................................................ 4
5. A Ocupação ............................................................................................................................. 5
6. A Acessão Natural ................................................................................................................... 6
7. Servidão Predial ....................................................................................................................... 6
8. A Compropriedade .................................................................................................................. 8
9. A Propriedade Horizontal ........................................................................................................ 9
10. Usufruto ............................................................................................................................... 9
11. O Uso e Habitação ............................................................................................................. 10
12. Enfiteuse ............................................................................................................................ 11
13. Direito de Superfície .......................................................................................................... 12
14. Conclusão........................................................................................................................... 13
15. Referências Bibliográficas ................................................................................................. 14
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1. Introdução

Uma das principais funções do Direito consiste na definição do regime dos bens que são
indispensáveis à subsistência da vida humana; porque a escassez desses bens suscita
naturalmente conflitos de interesses, é indispensável uma ordem jurídica que arbitre ou regule a
respectiva apropriação, utilização e disposição. O direito que se dirige a esses bens, entendidos
como tudo aquilo que carece de personalidade, designa-se direito patrimonial.

Em termos amplos, o direito patrimonial compreende não só as normas que definem o acesso aos
bens e a sua utilização indirecta ou mediata, mas também as que regulam a sua apropriação e a
sua imediata utilização; por isso, é constituído pelo direito das obrigações e pelos direitos reais.

Na verdade, regular a atribuição e a utilização directa dos bens de maior importância


socioeconómica não deixa de se traduzir inevitavelmente num domínio sobre as pessoas. É por
este motivo que os direitos reais desempenham um papel privilegiado na definição da
organização das comunidades.

O presente trabalho, tem como objectivo, debruçar-se sobre alguns direitos reais e suas
características. Do ponto de vista metodológico, esse trabalho consiste em uma revisão
bibliográfica de literaturas que tratam dos Direitos Reais, buscando retirar dessa vasta literatura,
inclusive oriunda de tendências teóricas diferentes e até divergentes, as informações que
demonstram estarem relacionadas com o tema.
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2. A posse e a Detenção Precária

Na opinião de Farias e Rosenvald (2006, p. 67) a detenção “é uma posse degradada,


juridicamente desqualificada pelo ordenamento vigente”. Para se observar o verdadeiro
significado e abrangência do termo detenção se faz necessário discorrer, novamente, sobre o que
se deve entender por posse. Segundo o posicionamento de Ihering (teoria objectiva) a posse é a
exteriorização do domínio, ou seja, a relação exterior e intencional, existente, normalmente, entre
o proprietário e sua coisa. Já para Savigny (teoria subjectiva) é o poder imediato que tem a
pessoa de dispor fisicamente de um bem com a intenção de tê-lo para si e de defendê-lo contra a
agressão de quem quer que seja.

Em ambas as teorias a posse tem como elemento o corpus e ânimus diferenciando somente na
intensidade do ânimus, onde na primeira o animus está inserido no corpus e que o elemento
subjectivo é dispensável. Já na segunda tem-se o elemento corpus, que é a relação material
estabelecida com a coisa, e tem-se um elemento subjectivo (animus rem sibi habendi), que é a
vontade de ter a coisa como sua. Segundo Rizzardo (2004, p. 55) na detenção “alguém retém
consigo a coisa, exercendo controlo sobre ela em nome de outrem, a quem esteja subordinado
por relação de dependência”.

A distinção entre a posse e a detenção reside necessariamente no âmbito do ânimus, ou seja, na


detenção incorrem duas posses ou dois pretendentes a uma mesma posse. A posse é única e o
detentor nada mais e que a longa manus do verdadeiro possuidor. De acordo com Farias e
Rosenvald (2006, p. 67 – 73) “existem somente três hipóteses taxativas de detenção: Os fâmulos
ou servidores da posse; os permissionários e; os possuidores clandestinos, violentos ou
precários”.

3. Posse e o Direito de Propriedade

Ter a posse não significa necessariamente ter a propriedade de um bem, a exemplo, é a do


contrato de Comodato, aonde Comodante (Proprietário do bem imóvel) cede a posse do mesmo
para o Comodatário (Quem está de posse do imóvel) para que este fique no imóvel por um
determinado tempo sem pagar aluguel, devendo apenas zelar pela preservação do mesmo. O
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proprietário de um bem pode ter também a sua posse, uma vez que este pode simplesmente
utilizar o seu imóvel para uso pessoal. Em suma, quem tem a posse nem sempre é o proprietário,
mas quem é proprietário poderá estar na posse ou reivindicá-la.

Vale lembrar que a posse e a propriedade pode se dar sobre coisa imóvel, móvel, tangível,
imaterial, material, bem como, coisa simples, composta, de Direitos patrimoniais, pessoais entre
outros. Esse objecto deve ter origem idónea, de natureza corpórea ou incorpórea, assim como,
tangível e perceptível aos nossos sentidos.

Algumas espécies de posse são as mais conhecidas, como é o caso da posse violenta, que é
adquirida por meio de ameaças, força física, intimidação e força moral. Já a posse justa é aquela
que se processa de forma não precária, clandestina ou violenta. Já a posse clandestina, ela se dá
de forma oculta contra quem se pretende praticar o apossamento da coisa. No caso da posse
nova, para que essa se configure é necessário que ela tenha o tempo inferior a 1 ano e 1 dia. Será
considerada posse velha o prazo superior a esse tempo. A posse de boa-fé ocorre quando o
possuidor está convicto de que a coisa é sua e está em conformidade com a lei, mas ignora
totalmente os obstáculos ou possíveis vícios legais que impedem que o mesmo possa proceder à
aquisição da propriedade do bem em questão.

A propriedade, como já dito inicialmente é o Direito legal que o titular tem sobre a coisa. Até
que se prove em contrário, a propriedade é presumida, ou seja, o proprietário tem o direito de
usar, gozar e dispor da mesma, desde que seja para a sua comodidade. A propriedade é
presumida até que se prova em contrário, e o seu direito é tido como pleno, quando todas as suas
faculdades encontram-se em mãos do seu proprietário e como exclusivo, quando seu proprietário
tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, desde que seus actos sejam exercidos
estritamente para a sua comodidade ou utilidade, tendo inclusive o direito de reavê-la do poder
de quem quer que injustamente a possua ou detenha.

A propriedade pode ser perdida pela alienação (compra e venda); Pela renúncia (doação); Pelo
abandono (renuncia do proprietário aos seus deveres fiscais e de posse); Pelo perecimento da
coisa, que ocorre com o desaparecimento da mesma, que pode ser parcial; E finalmente a
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desapropriação para finalidade de interesse público, que segundo o Direito administrativo,


sempre vai prevalecer sobre o interesse privado, resguardados é claro, o Direito a indemnização
do proprietário.

4. Usucapião
Usucapião é um modo de aquisição da propriedade e ou de qualquer direito real que se dá pela
posse prolongada da coisa, de acordo com os requisitos legais, sendo também denominada de
prescrição aquisitiva. A usucapião pode recair tanto sobre bens móveis quanto sobre imóveis,
sendo a usucapião sobre bens imóveis ficará discriminado em três espécies: extraordinário,
ordinário e especial (rural e urbana).

Usucapião extraordinária tem como requisitos a posse ininterrupta de 15 (quinze) anos, exercida
de forma mansa e pacífica com ânimo de dono, que poderá ser reduzida para 10 (dez) anos nos
casos em que o possuidor estabelecer no imóvel a sua moradia habitual ou nele tiver realizado
obras e serviços de carácter produtivo.

A usucapião ordinária, tem como requisitos a posse contínua, exercida de forma mansa e pacífica
pelo prazo de 10 (dez) anos, o justo título e a boa-fé, reduzindo esse prazo pela metade no caso
de o imóvel “ter sido adquirido, onerosamente, com base no registo constante em cartório,
cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou
realizado investimentos de interesse social e económico”.

A usucapião rural, também denominado pro labore, tem como requisitos a posse como sua por 5
(cinco) anos ininterruptos e sem oposição, de área rural não superior a cinquenta hectares, desde
que já não seja possuidor de qualquer outro imóvel, seja este rural ou urbano. Ainda apresenta
como requisito o dever de tornar a terra produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela
sua moradia.

A usucapião urbana, também denominado de pro mísero ou pró-moradia, tem como requisitos a
posse sem oposição de área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados por 5 (cinco)
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anos ininterruptos, utilizando-a como moradia sua ou de sua família, sendo vedada a posse de
qualquer outro imóvel.

A usucapião colectiva, que tem como requisito a ocupação por 5 (cinco) anos ininterruptos e sem
oposição de áreas urbanas com mais de duzentos e cinquenta metros quadrados por população de
baixa renda com o fim de constituir moradia, com a ressalva de que os possuidores não sejam
proprietários de qualquer outro imóvel, como nos outros casos de usucapião.

A usucapião da propriedade dividida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar


àquele que exercer, por 2 anos ininterruptamente e sem oposição, posse directa, com
exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250 metros quadrados, utilizando-o para sua moradia
ou de sua família e desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

Constituem requisitos para a consumação da usucapião: a coisa hábil ou susceptível de


usucapião, a posse, o decurso do tempo, o justo título e a boa-fé, sendo certo que os três
primeiros itens são requisitos necessários para todas as espécies, enquanto o justo título e a boa-
fé são requisitos somente da usucapião ordinária.

Constituem causas impeditivas, a usucapião de bens: entre cônjuges, na constância do


matrimónio; entre ascendente e descendente, durante o pátrio poder; entre tutelados e curatelados
e seus tutores e curadores, durante a tutela e a curatela; em favor de credor pignoratício, do
mandatário, e, em geral, das pessoas que lhe são equiparadas, contra o depositante, o devedor, o
mandante, as pessoas representadas, os seus herdeiros, quanto ao direito e obrigações relativas
aos bens, aos seus herdeiros, quanto ao direito e obrigações relativas aos bens confiados à sua
guarda.

5. A Ocupação
Segundo Gagliano (2017), ocupação é o acto de assenhoreamento de um bem móvel sem dono
ou coisa abandonada. De acordo com o mesmo autor, adquirirá a propriedade mobiliária aquele
que se assenhorear de coisa sem dono, não sendo essa ocupação defesa por lei.
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6. A Acessão Natural
Dá-se acessão quando com a coisa que é propriedade de alguém se une e incorpora outra coisa
que lhe não pertencia. Se a acessão resultar exclusivamente das forças da natureza, diz-se
natural; se a acessão resultar da aplicação do trabalho de alguém a matéria pertencente a outrem,
confundindo o resultado desse trabalho com propriedade alheia, diz-se acessão industrial.

Na acessão natural há um princípio geral segundo o qual pertence ao dono da coisa tudo o que a
esta acrescer por efeito da natureza. Temos exemplos de acessão natural nos casos de aluvião, de
avulsão, de mudança de leito, de formação de ilhas e mouchões e quando factos análogos
acontecem em lagos e lagoas.

Assim, tudo o que, por acção das águas, se unir ou for depositado, sucessiva e
imperceptivelmente, aos prédios confinantes com quaisquer correntes de água, pertence aos
donos desses prédios. Se, por acção natural e violenta, a corrente arrancar quaisquer plantas ou
qualquer objecto ou porção conhecida de terreno, e arrojar essas coisas sobre prédio alheio, o
dono delas tem o direito de exigir que lhe sejam entregues, contanto que o faça dentro de seis
meses, se antes não foi notificado para fazer a remoção no prazo judicialmente assinado, sob
pena de não poder vir a invocar direitos sobre tais plantas, objectos ou porção de terreno.

Se a corrente mudar de direcção, abandonando o leito antigo, os proprietários deste conservam o


direito que tinham sobre ele, e o dono do prédio invadido conserva igualmente a propriedade do
terreno ocupado pela corrente. Se a corrente se dividir em dois ramos ou braços, sem que o leito
antigo seja abandonado, os proprietários conservam o direito de propriedade sobre os respectivos
terrenos.

7. Servidão Predial
Servidão Predial é a utilização de um prédio por outro. Tal utilização não pode ser indispensável,
mas se faz necessária ou vantajosa ao prédio chamado de dominante. A servidão constitui um
ônus real que é imposto voluntariamente a um prédio, chamado de serviente, em favor de outro
(o dominante), em virtude do qual o proprietário do prédio serviente perde o exercício de algum
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de seus direitos dominiais sobre ele, ou tolera que o proprietário do prédio dominante se utilize
dele, tornando seu prédio mais útil.

Portanto a servidão predial nasce da vontade dos proprietários, não se confundindo com as
servidões legais que decorrem exclusivamente da lei, que são direitos de vizinhança impostos
coercitivamente. Por isso a voluntariedade é essência da servidão.

As servidões podem tomar formas variadas, sendo a mais conhecida a servidão de passagem, que
permite que o proprietário de um imóvel transite pelo imóvel de outra pessoa. No entanto,
existem outras modalidades como a servidão de aqueduto, de iluminação ou ventilação e até
mesmo de pastagem. Para que seja possível a servidão os prédios devem ser vizinhos, embora
não haja a necessidade de que sejam contíguos.

A servidão é uma relação entre dois prédios distintos, o serviente e o dominante. Nas servidões
serve a coisa e não o seu dono, isto porque o proprietário não tem uma obrigação de fazer, mas
de não fazer ou de suportar o exercício da servidão. A servidão não se presume, pois só se
constitui mediante declaração expressa dos proprietários, ou por testamento, e por posterior
registo no Cartório de Imóveis. A servidão é direito real e acessório. É direito real porque incide
directamente sobre os imóveis e é acessório porque decorre do direito de propriedade e
acompanha os imóveis mesmo que sejam alienados. A servidão tem duração indefinida, pois
perderia sua característica se fosse estabelecido um limite de tempo. A servidão é indivisível
porque não se desdobra em caso de divisão do prédio dominante ou do serviente. A servidão é
inalienável.

Quanto a classificação, uma servidão é contínua quando é exercida ininterruptamente,


independente de uma acção humana. Servidão descontínua é a que tem seu exercício
condicionado a algum acto humano actual. A servidão aparente é aquela que se manifesta por
obras exteriores, são aquelas que são visíveis e permanentes, como a servidão de passagem, por
exemplo. Não aparente é a servidão que não se revela por obras exteriores. As servidões ainda
podem ser positivas, quando conferem ao dono do prédio dominante o poder de praticar algum
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ato no prédio serviente, e negativas quando é imposto o dever de se abster da prática de


determinado ato de utilização.

As servidões podem ser constituídas de diversos modos. O modo mais frequente de sua
constituição é por acto inter vivos, isto é através de contrato em regra oneroso. A servidão só
pode ser estipulada pelo proprietário do prédio. Também é possível a usucapião de servidão, mas
esta deve ser aparente.

As servidões podem ser protegidas por acções como a confessória, que visa á obtenção do
reconhecimento judicial da existência de servidão negada ou contestada. Acções negatórias se
destinam a possibilitar ao dono do prédio serviente a obtenção de sentença que declare a
inexistência da servidão ou de direito á sua ampliação. As acções possessórias podem ser
invocadas em favor do prédio dominante que é molestado ou esbulhado pelo proprietário do
prédio serviente.

A servidão uma vez registada só se extingue com respeito a terceiros quando cancelada. Sendo
assim, enquanto permanecer registada no Cartório de Registro de Imóveis subsistirão em favor
do dono do prédio dominante. Nos casos de desapropriação, a servidão se extingue mesmo sem o
cancelamento do registo. O titular da servidão pode abrir mão do benefício, renunciando-o
expressamente, desde que seja capaz e tenha poder para dispor.

8. A Compropriedade
A compropriedade traduz-se numa situação de titularidade plural do direito de propriedade sobre
uma coisa. Trata-se de um único direito de propriedade com vários titulares. A compropriedade
atribui poderes sobre a coisa no seu todo e não sobre partes especificadas da coisa. Cada
contitular não tem direito a uma parte da coisa: cada titular tem em conjunto com os outros o
direito a toda a coisa. Os direitos dos comproprietários são qualitativamente iguais, embora
possam ser quantitativamente diferentes. Na falta de indicação em contrário, deve presumir-se
que as quotas dos comproprietários são iguais.
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São seguintes, os aspectos do regime da Compropriedade: Uso da coisa comum: é possível que
os comproprietários regulem por acordo o uso da coisa comum; Obrigação de comparticipar nas
benfeitorias necessárias: é obrigação dos comproprietários contribuírem, na proporção das suas
quotas para as benfeitorias necessárias à conservação e fruição do bem comum; Administração
da coisa comum: Todos têm, salvo acordo em contrário, igual poder para administrar; Direito à
divisão: qualquer um dos comproprietários tem na sua esfera jurídica a fazer cessar essa
compropriedade procedendo à divisão da coisa; Alienação da quota: um comproprietário
individualmente não pode vender nem alienar toda a coisa.

9. A Propriedade Horizontal

A noção de propriedade é utilizada em referência ao direito ou à faculdade de possuir algo. No


contexto jurídico, a propriedade é o poder directo que uma pessoa tem sobre um bem e que lhe
permite dispor desse objecto com liberdade, dentro dos limites impostos pela lei. Horizontal, por
outro lado, diz-se daquilo que é paralelo ao horizonte ou relativo a ele. O termo é usado em
oposição ao adjectivo vertical, que é a recta ou o plano perpendicular ao horizonte.

Conhece-se pelo nome de propriedade horizontal o direito que se exerce sobre um ou mais
andares ou apartamentos de um edifício (prédio), que tenham sido adquiridos por vários
proprietários de forma separada, os quais têm direitos e obrigações em comum.

A propriedade horizontal, por conseguinte, é a instituição jurídica vinculada à divisão e


organização dos imóveis resultantes da segregação de uma construção comum. Essa propriedade
regulamenta a maneira em que se divide o imóvel e a sua relação com os restantes bens privados
e comuns do edifício.

10. Usufruto

O direito de usufruto é o direito de usar uma coisa e gozar dos seus frutos, sem ser o proprietário.
É importante frisar esse ponto: ter usufruto implica em ter a posse, mas não a propriedade.
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Existem, necessariamente, dois participantes: o nu-proprietário, aquele que tem a propriedade da


coisa; e o usufrutuário, aquele que usa a coisa e goza dos seus frutos.

A constituição do direito de usufruto pode se dar por determinação da lei, por decisão judicial ou
por actos entre vivos. Uma doação com reserva de usufruto é o exemplo mais comum de acto
entre vivos que constitui direito de usufruto. Por exemplo, uma pessoa tem um imóvel; ela pode
doar o imóvel para um amigo A, com reserva de usufruto para o amigo B. Assim, o amigo A será
o proprietário, mas deve respeitar o direito de usufruto do amigo B.

O usufruto pode ser próprio, se a coisa pode ser devolvida exactamente nas mesmas condições ao
proprietário. Ele será impróprio, se a coisa necessariamente não pode ser devolvida nas mesmas
condições. O usufruto também pode ser simultâneo, se for concedido ao mesmo tempo para mais
de uma pessoa.

O direito do usufruto se extingue de várias formas. As principais são: pela morte do usufrutuário;
pelo fim do prazo de 30 anos, no caso de empresas; ou pelo perecimento da coisa. Se a coisa
perece e não pode ser devolvida ao nu-proprietário, pode haver uma responsabilização do
usufrutuário, que terá de reparar o dano.

11. O Uso e Habitação

Tanto o direito de usufruto como o direito de uso e habitação são direitos reais que permitem
que, quem não é proprietário de um bem, o utilize e se sirva dele. Enquanto o direito de usufruto
é um direito que permite ao seu titular que, desde que respeite o fim económico a que o bem em
causa se destina, se possa comportar exactamente como se fosse proprietário do bem,
nomeadamente (tratando-se de um imóvel), arrendando-o o direito de uso e habitação (quando
incida sobre um imóvel), apenas permite ao seu titular que o utilize para a sua habitação (e da
sua família) na estrita medida das suas necessidades.

Com efeito, decorre que, a extensão do direito de uso se mede pelas necessidades do seu titular,
bem como pelas da sua família. Resulta daqui que o direito de uso e habitação não confere ao seu
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titular um direito de gozo pleno sobre a coisa (como acontece com o direito de usufruto), na
medida em que está estabelecido como limite a este direito o critério da necessidade do titular e
da sua família.

Outra das características distintivas em relação ao direito de usufruto, consiste no facto de ao


usuário-morador estar vedada a possibilidade de alienar ou transmitir o direito que tem. Com
efeito, o usuário e o morador usuário não podem trespassar ou locar o seu direito, nem onerá-lo
por qualquer modo.

Como refere Carvalho Fernandes em Lições de Direitos Reais, o direito de uso e habitação, ao
estar condicionado à satisfação das necessidades pessoais e familiares do seu titular, não
podendo ser alienado nem onerado, é um direito pessoalíssimo. Ao não poder ser onerado, tal
significa que o direito de uso e habitação não pode ser penhorado pelo que, caso exista uma
execução pendente contra o titular de um direito de uso e habitação este direito não poderá ser
penhorado sendo, nesta situação, um direito “inatacável”.

Em conclusão, o direito e uso e habitação, enquanto direito real com características que o tronam
um direito pessoalíssimo é, de alguma forma, inatacável em sede de execução movida contra o
seu titular mas, tal inatacabilidade não se mantém quando a execução é movida contra o titular
do direito de propriedade do imóvel sobre o qual o direito incide e o registo da garantia
executada é anterior à constituição do direito de uso e habitação.

12. Enfiteuse
Enfiteuse, também denominada aforamento ou emprazamento, é o negócio jurídico pelo qual o
proprietário (senhorio) transfere ao adquirente (enfiteuta), em carácter perpétuo, o domínio útil, a
posse directa, o uso, o gozo e o direito de disposição sobre bem imóvel, mediante o pagamento
de renda anual (foro).

Em ordenamento jurídico, a enfiteuse se divide em civil e administrativa. A enfiteuse civil é


constituída sobre bens particulares e públicos (excepto os da União). A enfiteuse administrativa
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(ou especial) é constituída sobre imóveis dominiais da União (como os terrenos de marinha e
acrescidos).

13. Direito de Superfície

Segundo Gomez (s/d, p. 70), constitui-se a superfície, um direito real autónomo. Embora não
esteja inscrito no rol dos direitos reais em coisa alheia, esse é o entendimento maioritário da
doutrina.

Rosenvald (2006, p. 403), entretanto, observa, com lucidez, o seguinte:


Em virtude da omissão do Estatuto da Cidade e do Código Civil quanto à natureza jurídica do modelo,
repercute-se na doutrina, uma polémica. Seria o direito real de superfície, uma verdadeira propriedade ou
um direito real em coisa alheia? A resposta é: ambos. O direito de superfície é um direito real sobre coisa
alheia (lote ou gleba), pois sua formação resulta de uma concessão do titular da propriedade para fins de
futura edificação (sobre ou sob o solo) ou plantação, que, quando concretizada pelo superficiário
(concessionário), converterá o direito inicialmente incorpóreo, em um bem materialmente autónomo à
propriedade do solo do concedente.

Quanto ao seu conteúdo, invoque-se Loureiro (2002, p. 273), que assim define o instituto:
A superfície é um direito real, fixado por tempo determinado ou indeterminado, que confere ao
superficiário a propriedade da construção ou plantação, ainda que em carácter resolúvel, gratuito ou
mediante o pagamento de uma pensão periódica e que pode ser transmitido por ato entre vivos ou
causada morte.

Ascensão (2003, p. 525), por sua vez, assevera o seguinte:


A superfície pode ser simplesmente definida como o direito real de ter a coisa própria incorporada em
terreno alheio. Isto basta para distinguir a superfície de qualquer outro direito real e para englobar todas
as modalidades previstas (Grifo do autor).

Esta observação é de extrema importância prática, sendo suficiente para tornar dispensável criar
um longo e desnecessário capítulo que busque diferenciar o direito de superfície de institutos
com alguma proximidade conceitual, como, por exemplo, a enfiteuse e o direito real de uso.
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14. Conclusão
De todo o exposto neste trabalho, vale ressaltar que Direitos Reais são uma expressão utilizada
juridicamente em mais de uma acepção. Num sentido subjectivo identifica uma categoria de
direitos subjectivos. Num sentido objectivo identifica um ramo do direito (objectivo), como
divisão do Direito Civil.

O direito real consiste em um conjunto de normas, predominantemente obrigatórias, que tendem


a regular o direito atribuído a pessoa sobre bens corpóreos, móveis e imóveis de conteúdo
económico. A eficácia do direito exercido é em face de todos, assim, é um direito absoluto, e
independe da intermediação de outrem. Os direitos reais surgem por imposição legislativa. O
direito real mais completo é o direito de propriedade. Todos os outros são em decorrência dele.
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15. Referências Bibliográficas


ASCENSÃO, José Oliveira. (s/d). (Direitos Reais. 5ª Ed. Coimbra: Ed. Coimbra Editora.

FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. (2006). Direitos Reais. Rio de Janeiro:
Ed. Lumen Juris.

GÓMEZ, J. Miguel Lobato. (s/d). A disciplina do direito superficiário no ordenamento jurídico


brasileiro. Revista de Direito Civil, n. 20, out./Dez. Editora Padma.

GONÇALVES, Carlos Roberto. (2007). Sinopses Jurídicas - Direito das Coisas. Volume 3. São
Paulo: Editora Saraiva.

VENOSA, Sílvio de Salvo. (2006). Direito Civil - Direitos Reais. Volume V. 6ª Ed. São Paulo:
Editora Atlas.

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