Você está na página 1de 19

Guilherme Wünsch

Marta Lúcia Tittoni


Rodrigo Wasem Galia

nquietações sobre o
Dano Existencial no
Direito do Trabalho

O Projeto de Vida e a Vida


de Relação como Proteção
à Saúde do Trabalhador

~S&~
Porto Alegre, 2015
©INQUIETAÇÕES SOBRE O DANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO
O Projeto de Vida e a Vida de Relação como Proteção à Saúde do Trabalhador

GUILHERME WÜNSCH
MARTA LÚCIA TITTONI
RODRIGO WASEM GALIA

Todos os direitos reservados. É expressamente proibida sua reprodução, mesmo


que parcial, sem a expressa autorização dos autores.

Arte da Capa: Jax Design

Editoração Eletrônica: ~s ~

Impresso no Brasil - Printed in Brazil

W966i Wünsch, Guilherme


Inquietações sobre o dano existencial no direito do trabalho:
o projeto de vida e a vida de relação como proteção à saúde
do trabalhador. Guilherme Wünsch, Marta Lúcia Tiltoni e
Rodrigo Wasem Galia. - Porto Alegre: HS Editora, 2015.

142p.
ISBN 978-85-60734-16-0
1. Direito. 2. Direito do Trabalho. 3. Dano existencial. 4. Danos
materiais. 5. Danos imateriais. 6. Direitos da personalidade.
I. Tiltoni, Marta Lúcia. 11. Galia, Rodrigo Wasem. 111. Título.

CDU 349.23

Catalogação na publicação: Leandro Augusto dos Santos Lima- CRB 10/1273


Dedicamos este trabalho a Deus, pela força e
inspiração, aos nossos pais, pelos primeiros
ensinamentos e pelo exemplo de honestidade,
caráter e retidão, à nossa família amada, pela
compreensão nas mumeras ausências e pelo
carinho e incentivo que sempre nos deram
Rua Almirante Barroso, 735 conj. 302 incondicionalmente.
90220-021 - Porto Alegre - RS
Fone/Fax: (51) 3346.9222
e-mail; hseditora@hseditora.com.br
www .hseditora.com. br
Em síntese, após a introdução do tema, no segundo capítulo,
tratar-se-á do meio ambiente de trabalho e sua relação com a saúde
do trabalhador; no terceiro, descrever-se-á a fundamentalidade dos 1. O MEIO AMBIENTE DO TRABALHO E SUA NOTA DE
direitos trabalhistas presentes na Constituição Federal de 1988, bem FUNDAMENTALIDADE
como se conceituarão os fundamentos do dano existencial, para
que, no quarto capítulo, seja possível examinar a ocorrência do dano
existencial no ambiente bancário e o papel do Direito do Trabalho, A saúde está intrinsecamente relacionada com o mundo do
frente às excessivas jornadas de trabalho e à inobservância dos trabalho, portanto, trata-se de tema de extrema importância que, após
direitos constitucionais. Delineia-se, em suma, a compreensão de que a Constituição Federal de 1988, ocupa a atenção daqueles que se
empenham na proteção aos trabalhadores. Isso se explica pelo fato
0 bancário, submetido à extensa jornada de trabalho e acometido pelo
dano existencial, precisa ser reparado. de à Carta Magna estar consagrada à importância da preservação do
No entanto, mais importante do que as indenizações está a meio ambiente do trabalho como forma de garantir uma vida digna
implementação de condições adequadas de trabalho, porque não há aos trabalhadores. Por essa razão, neste capítulo, examinar-se-ão os
dinheiro no mundo que pague a vida, a saúde e a integridade física de aspectos atinentes ao meio ambiente do trabalho, a partir da análise
dos princípios fundamentais que tutelam as relações laborais.
um trabalhador.
1.1 Saúde e Trabalho e Saúde do Trabalho: uma interlocução
necessária
Para Liliana Allodi Rossit 1 , o meio ambiente do trabalho está inserido
no meio ambiente como um todo:

[...1 tudo o que estiver ligado à sadia qualidade de vida insere-'se no


conceito de meio ambiente, sendo o meio ambiente de trabalho apenas
uma concepção mais específica, ou seja, a parte do direito ambiental
que cuida das condições de saúde e vida no trabalho, local onde o ser
humano desenvolve suas potencialidades, provendo o necessário ao
seu desenvolvimento e sobrevivência. Não se limita ao empregado; todo
trabalhador que cede a sua mão-de-obra2 exerce sua atividade em um
ambiente de trabalho.

Desse conceito, aduz-se que, ao se falar de meio ambiente de


trabalho, remete-se a um contexto e a um conceito geral de meio
ambiente. Isso é explicável: o meio ambiente de trabalho é parte integrante
e importante do meio ambiente considerado em sua totalidade.
Para Raimundo Simão de Melo 3, a definição de meio ambiente é:

1
ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo:
LTr, 2001. p. 67.
2
As transcrições ou citações diretas, neste trabalho, serão fiéis à ortografia e aos usos encontrados
no texto original, não havendo nenhum ajuste ao Novo Acordo.
3
MELO, Raimundo Simão de. Direito Ambiental do Trabalho e a Saúde do Trabalhador:
responsabilidades legais, dano material, dano moral, dano estético, indenização pela perda de
uma chance, prescrição. São Paulo: LTr, 2008. p. 25.

INQUIETAÇÕES SOBRE O DANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO INQUIETAÇÕES SOBRE O DANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO 27
26
"[ ... ] o conjunto de condições, leis, influências de ordem física, química Para Raimundo Simão de Melo8 , o meio ambiente de trabalho é:
e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas".
De fato, esta é a definição que o próprio legislador atribuiu para o [... ] o local onde as pessoas desempenham suas atividades laborais,
sejam remuneradas ou não, cujo equilíbrio está baseado na salubridade
meio ambiente, conforme se verifica no artigo 3° da Lei n° 6.938 de do meio e na ausência de agentes que comprometam a incolumidade
1981:4 "Art. 3° - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: físico-psíquica dos trabalhadores, independentemente da condição que
I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações ostentem (homens ou mulheres, maiores ou menores de idade, celetistas,
de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida servidores públicos, autônomos etc.).
em todas as suas formas".
A saúde é um direito de todos por definição constitucional 9 , o que
De acordo com Raimundo Simão de Melo 5 :
resulta no caráter de indivisibilidade que a caracteriza como direito difuso,
Essa definição da Lei de Politica Nacional do Meio Ambiente é ampla, fazendo com que o meio ambiente de trabalho tenha, portanto, uma
devendo-se observar que o legislador optou por trazer um conceito conotação mais ampla do que, em um primeiro momento, poder-se-ia
jurídico aberto, a fim de criar um espaço positivo de incidência da norma supor. De fato, tal proteção não se além aos aspectos restritos da relação
legal, o qual está em plena harmonia com a Constituição Federal de 1988 de trabalho e, sim, tem como propósito a sadia qualidade de vida. 10
que, no caput do art. 225, buscou tutelar todos os aspectos do meio
ambiente (natural, artificial, cultural e do trabalho), afirmando que 'todos O meio ambiente de trabalho está relacionado com o maior valor
têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso tutelado pela Constituição Federal, a vida, sendo difuso o interesse em
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida'. (grifo do autor). protegê-la. Considerando que se trata de direito de todos, essencial à
sadia qualidade de vida, pode-se identificar a saúde, sem receio de
Ainda, para Raimundo Simão de Melo 6 : errar, como bem ambiental.
[ ... ],dois são os objetos de tutela ambiental constantes da definição legal, Entretanto, segundo Li lia na Allodi Rossi!: 11
acolhidos pela Carta Maior: um, imediato - a qualidade do meio ambiente
em todos os seus aspectos - e outro, mediato - a saúde, segurança e [... ]de um modo geral, a visão do ambiente de trabalho sempre refletiu a
.
bem-estar do cidadão, expresso nos conceitos vida em todas as suas visão da relação de trabalho tal como prevista na Consolidação das Leis
formas (Lei n' 6.938181, art. 3'. inciso I) e qualidade de vida (CF, art. 225, do Trabalho, ou seja, sob uma visão de emprego, diretamente relacionada
caput). ao capital econômico.

O objeto maior do meio ambiente é, sem dúvida, a tutela da vida Diante do exposto, é salutar a compreensão de que foi a Constituição
em todas as suas formas e, especialmente, a vida humana como valor Brasileira de 1988 que imprimiu uma nova dimensão à visão sanitária
fundamental de uma sociedade. Desse modo, ao classificar o meio que se iniciou no século passado, interligando o meio ambiente de
ambiente, o que se busca é tão somente identificar o aspecto do meio trabalho à saúde e, consequentemente, à vida. 12
ambiente em que valores maiores foram ou estão sendo rebaixados. 7
6
MELO, Raimundo Simão de. Direito Ambiental do Trabalho e a Saúde do Trabalhador:
4
responsabilidades legais, dano material, dano moral, dano estético, indenização pela perda de
BRASIL. Lei n° 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Polftica Nacional do Meio uma chance, prescrição. São Paulo: LTr, 2008. p. 26-27.
9
Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. "Art. 196 CF. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais
Disponível em: <http:/lwww.planalto.gov.br/ccivii_03/leis/L6938>. Acesso em: 11 abr. 2014. e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e
5
MELO, Raimundo Simão de. Direito Ambiental do Trabalho e a Saúde do Trabalhador: igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação". BRASIL Constituição
responsabilidades legais, dano material, dano moral, dano estético, indenização pela perda de (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
uma chance, prescrição. São Paulo: LTr, 2008. p. 25. ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 18 out. 2013.
6 10
MELO, Raimundo Simão de. Direito Ambiental do Trabalho e a Saúde do Trabalhador: ROSSIT, Liliana Atlodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo:
responsabilidades legais, dano material, dano moral, dano estético, indenização pela perda de LTr, 2001. p. 6B.
11
uma chance, prescrição. São Paulo: LTr, 2008. p. 25. ROSSIT, Liliana Atlodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo:
7
MELO, Raimundo Simão de. Direito Ambiental do Trabalho e a Saúde do Trabalhador: LTr, 2001. p. 20.
12
responsabilidades legais, dano material, dano moral, dano estético, indenização pela perda de ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo:
uma chance, prescrição. São Paulo: LTr, 2008. p. 25. LTr, 2001. p. 20.
I i
'I 28 INQUIETAÇÕES SOBRE ODANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO INQUIETAÇÕES SOBRE ODANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO 29
I!
1.1
Em verdade, o meio ambiente foi conceituado na Constituição
Federal, no artigo 225, como "[ ... ] bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida [ ... ]" 13 , de forma que tudo aquilo
r
I algodão e faziam com que os médicos recomendassem leis para regular
as horas e as condições de trabalho nas fábricas. 16
Mais tarde, as reivindicações dos trabalhadores, durante a Primeira
que se relaciona à vida passou a ter uma conotação ambiental. Guerra, resultaram na aprovação do Tratado de Versalhes, que, na
É importante mencionar também, que, ao tratarmos do bem parte XIII, dispõe sobre a criação da Organização Internacional do
ambiental, é notável a sua distinção entre bem particular ou bem público. Trabalho. Essa organização nasce com o cunho de dar tratamento
Aquele possui natureza difusa, porquanto pode ser desfrutado por uniformizado às questões trabalhistas, embasadas na justiça social. 17
todos, entendido como direito transindividual, de natureza indivisível, Após os horrores disseminados pela Segunda Guerra, uma nova
de que são titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias ordem social surgiu, dando origem, no ano de 1945, à criação da
de fato. 14 Organização das Nações Unidas, que universalizaram as intenções de
Nessa esteira de investigação, os valores sociais do trabalho e a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra e de promover o
dignidade da pessoa humana, princípios fundamentais da República, progresso social e melhoria das condições de vida. 18
tornaram-se conceitos que devem andar ao lado da noção de sadia Cronologicamente, no ano de 1946, foi criada a Organização
qualidade de vida. É neste contexto que a saúde é elevada a direito Mundial da Saúde, que disseminou a ideia de melhoria das condições
fundamental, o qual deve ser garantido por meio da proteção do meio de vida; no ano de 1948, foi aprovada a Declaração Universal dos
ambiente, incluindo-se o trabalho e a consequente redução dos riscos. Direitos do Homem.
Historicamente, o período do Renascimento marcou a ascensão Já no início da década de 70, motivados pela persistência de
da ciência como um elemento essencial, que causou profunda condições insalubres de trabalho, os trabalhadores se mobilizaram
influência na questão da saúde. Foi nesse ínterim que a saúde pública para tentar modificar o cenário existente, que, embora muito melhor do
e, de forma interligada, a saúde dos trabalhadores, desenvolveu-se até que no início da era industrial, precisava de avanços. É nesse período
chegar à forma como a conhecemos hoje. que se estabelece a fase de interesse pela saúde do trabalhador. 19 '
De acordo com Liliana Allodi Rossit: 15 A Organização Mundial da Saúde 20 define saúde como "[... ] um
estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente
[ ... ] a primeira publicação sobre os riscos no trabalho referiu-se àqueles
que exerciam seu labor em ourivesarias, alertando-os para o fato de
ausência de afecções e enfermidades". Desse conceito, depreende-se
utilizarem, em seu trabalho, metais como prata, mercúrio, chumbo e outros, por completo bem-estar social a saúde e as boas condições do ambiente
tendo como objetivo evitar o adoecimento. laboral.
Na mesma linha de entendimento, a Convenção n° 155 da
A ideia de ser a saúde dos trabalhadores uma responsabilidade Organização Internacional do Trabalho caracteriza a saúde não só
do Estado tem início em 1784, com o impacto da industrialização sobre como a ausência de afecções ou de doenças, mas também indica os
a fabricação de algodão. Nesse período, epidemias atraíam a atenção
para as fábricas e, consequentemente, para os problemas de saúde
dos trabalhadores. Tais epidemias tinham relação com os engenhos de 16
ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo:
LTr, 2001. p. 105.
13 17
"Art. 225 CF. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo:
do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade LTr, 2001. p. 107.
18
o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações". BRASIL. Constituição OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção Juridica à Saúde do Trabalhador. 2. ed., São Paulo:
(1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ LTr,1998. p. 61.
19
ccivil 03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 18 out. 2013. ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo:
14
RÜSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: LTr, 2001. p. 109.
LTr, 2001. p. 93. "ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (OIT). Saúde e Vida no Trabalho: um direito
15
ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: humano fundamental. Genebra, 2009. Disponível em: <http://www.ilo.org/public/english/protection/
LTr, 2001. p.103. safeworklworldday/products09/booklet_09-pt.pdf>. Acesso em: 18 fev. 2014.

30 INQUIETAÇÕES SOBRE O DANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO INQUIETAÇÕES SOBRE O DANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO 31

I
elementos físicos e mentais que afetam e estão diretamente relacionados Em complemento à ideia de coisificação do sujeito trabalhador,
com a segurança e higiene no trabalho. a autora em análise24 sintetiza:
A a• Conferência da Saúde concluiu, em seu relatório, que 21 :
Em verdade, não se questionava o problema do trabalho e suas condições
Direito à saúde significa a garantia pelo Estado de condições dignas como fatores de agravo à saúde dos trabalhadores. O enfoque existente
e de acesso universal e igualitário às ações e serviços de promoção, à época relacionava-se ao aspecto do local de trabalho favorecendo a
proteção e recuperação de saúde, em todos os seus níveis, a todos os ?oença e desta prej_udicando o trabalho, numa clara preocupação quanto
habitantes do território nacional, levando ao desenvolvimento pleno do a produt1v1dade e nao, propriamente, quanto ao aspecto humanitário.
ser humano em sua individualidade.
A primeira lei de acidentes do trabalho foi aprovada no ano de 1919
Dessa conclusão, constata-se que, ao conceito de saúde, associa-se (Decreto Legislativo n° 3. 724) e as questões de higiene profissional
o resultado das condições de alimentação, habitação, educação, renda, somente passaram a ter alguma relevância na década de vinte, com a
meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso criação da Inspetoria de Higiene Industrial em 1923, a partir de reforma
e posse da terra e acesso aos serviços de saúde. levada a efeito por Carlos Chagas, criador do departamento Nacional
Diante do acima exposto, está evidente que a organização e as de Saúde .Pública. Mais tarde, os assuntos de Higiene e Segurança do
condições de trabalho influenciam diretamente na sadia qualidade de Trabalho t1veram seu controle transferido para o Ministério do Trabalho
Indústria e Comércio, criado em 1930. 25 '
vida do trabalhador e que fatores de poluição ou fatores que trazem
aspectos negativos para o ambiente de trabalho afetam a existência Embora ainda nã? existisse uma política nacional de saúde à época,
digna do homem. o Estado passou a direcionar sua atividade para a assistência médica
No tocante à saúde, inicialmente, o Estado atentou para as doenças e, nesse contexto, iniciaram-se os estudos sobre os infortúnios ou
de quarentena, como a cólera, a peste e a febre amarela, mais porque riscos industriais: Estes se c1assificavam em agudos, físicos e químicos,
reduziam a produtividade no setor agroexportador e limitavam o comércio propnamente acidentes do trabalho e as doenças profissionais. 26
do que por que causavam danos aos trabalhadores. 22 Interessante é mencionar que a ideia original era a de qu~ o
Como consequência do desinteresse do Estado pela saúde no acidente é um infortúnio, no sentido de desventura, de falta de sorte,
ambiente laboral, tem-se o desinteresse da classe médica pela saúde de algo sem controle e longe do alcance interventor das pessoas. Desse
dos trabalhadores e a lentidão das conquistas por esses. ângulo, era visto como algo impossível de mudar, um risco inerente ao
trabalho.
Para Liliana Allodi Rossif 3 : 27
Liliana Allodi Rossit complementa: "Estas duas visões - a
A preocupação sanitária, posta em prática por Oswaldo Cruz, revelava desventura e o risco inerente - servem, em verdade, para encobrir a
a atenção com o controle das doenças transmissíveis, mais do que gênese desses eventos e para que se considere o acidente como um
consciência quanto à saúde dos trabalhadores, e embora dentro da questão risco intrínseco ao exercício da profissão".
sanitária estivessem previstas regras para o trabalho -tomando-o compatível
com a saúde e a vida dos operários -, os problemas relacionados com a Em 1943, com a aprovação da Consolidação das Leis do Trabalho
saúde ocupacional não obtiveram grande atenção. (CLT), entrou em vigor a terceira lei de acidentes do trabalho, o

24
ROSSIT, Uliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo:
CONFER~NCIA NACIONAL DE SAÚDE. Anais da 8 8 Conferência Nacional de Saúde. Brasília,
21
LTr, 2001. p. 112.
25
DF: Centro de Documentação do Ministério da Saúde, 1987. 430 p. Disponível em: <http:l/bvsms. ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo:
saude.gov.br/bvs/publicacoes/8conf_nac_anais.pdf>. Acesso em: 02 maio 2014. LTr, 2001. p.113.
22 26
ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Bras#eiro. São Paulo: ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo:
LTr, 2001. p. 112. LTr, 2001. p.115.
23 27
ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo:
LTr, 2001. p.112. LTr, 2001. p. 115.

32 INQUIETAÇÓES SOBRE O DANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO INOUIETAÇÓES SOBRE ODANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO 33
Decreto-lei n° 7.036, que foi considerado o mais completo diploma É preciso ter em mente que o direito ao meio ambiente de trabalho
28
acidentário quanto à proteção dos trabalhadores. sadio constitui-se em um direito humano, pois diz respeito ao direito à
A CLT forneceu a base para as Normas Regulamentadoras de vida e à integridade física das pessoas. Desse modo, não apenas os
Segurança e Medicina do Trabalho (NR), estabelecidas em 1978 pela meios inadequados de organização do trabalho podem acarretar lesões
Portaria n° 3.214, pois, com redação dada pela Lei n° 6.514/77, tratou à saúde, mas também os sistemas incorretos de trabalho podem trazer
do tema em seu 5° capítulo.
29 acidentes graves tanto para os trabalhadores quanto para a população
em geral. 32
Do relatado acima, se aduz que a evolução acelerada da tecnologia
industrial gerou a necessidade de intervir nos locais de trabalho, dando Dessa forma, embora seja respeitada a soberania de cada
origem ao surgimento da saúde ocupacional, com a atuação médica Estado-membro, a OIT mobiliza-se constantemente para adequar as
direcionada ao trabalhador e à intervenção no ambiente com o objetivo condições de trabalho, estímulo que é dado por meio da elaboração e
de controlar os riscos ambientais. Esse novo viés permitiu a abordagem aprovação de normas que constituem a regulamentação internacional
da saúde do trabalhador em um contexto coletivo e não mais somente do trabalho, da seguridade social e das questões que lhes são conexas,
individual. com a finalidade de fomentar a universalização da justiça social. 33
0
Para Liliana Allodi Rossi\' : A aludida atividade normativa é viabilizada por meio das convenções
e das recomendações. As recomendações destinam-se a sugerir
É fato que a nova conformação da saúde do trabalhador teve como fator normas que possam ser adotadas por qualquer das fontes diretas ou
de impulsão a criação da Organização Internacional do Trabalho - OIT autônomas do Direito do Trabalho e as convenções, uma vez ratificadas,
e, com o avanço do capitalismo, os esforços efetuados para implementar constituem fontes formais de direito, gerando direitos nos países onde
a produção em série com o surgimento de técnicas específicas para a
organização do trabalho. há interdependência entre !'I ordem jurídica internacional e a nacional,
desde que não se trate de normas que necessitem de leis nacionais
A Organização Internacional do Trabalho estimulou a conscientização ou de outras medidas para se tornarem aplicáveis. 34
da necessidade de se ajustar o modo de trabalhar, evitando-se danos Na orientação desta análise, destaca-se o parágrafo 3° do artigo 5°
no ambiente de trabalho e, por consequência, danos à saúde do da Constituição Federal de 199835 : "Os tratados e convenções
trabalhador. internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada
Como ensina Liliana Allodi Rossi!'\ Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos
votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas
o Tratado de Versailles, ao criar a Organização Internacional do trabalho constitucionais".
- OIT incluiu na sua competência a proteção contra os acidentes de
trabalho e as doenças profissionais, objetivando elevar os niveis de vida
Dadas essas premissas, o papel da OIT evidencia-se, primeiro, pela
e proteger a vida e a saúde dos trabalhadores em todas as ocupações, atividade normativa, destinada a fomentar a universalização da justiça
porquanto é a sua principal missão melhorar as condições do meio social, consubstanciada em convenções e recomendações; segundo,
ambiente de trabalho, aumentando, por conseguinte, o bem-estar dos por estudos permanentes, investigações, cursos e seminários, além de
trabalhadores de uma forma geral. (grifo do autor). publicações e pelo Programa Internacional para Melhorias das Condições
de Trabalho e meio ambiente (PIACT), que executa em sintonia com o
28 ROSSIT, Uliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo:
32
LTr, 2001. p.115. TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Direitos Humanos e Meio Ambiente: paralelo dos sistemas
29 ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: ~e p_~oteçãointernacional. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 1993. p. 26.
LTr, 2001. p.116. SUSSENKIND. Arnaldo. "Convenções da OIT". 2. ed., São Paulo: LTr, 1998. p. 28.
30 ROSSIT, Liliana Allodi. 34
O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo:
LTr. 2001. p.116. LTr, 2001. p.118-119.
35
31
ROSSIT, Uliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em:
LTr, 2001. p. 117. <http:/fvvl..vw.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 01 maio 2014_

34 INQUIETAÇÕES SOBRE O DANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO INQUIETAÇÕES SOBRE O DANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO 35
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), aprovado Para Liliana Allodi Rossit40 , a Convenção 155 da OIT dá maior
em 1976, dando especial ênfase à segurança e medicina do trabalho, ênfase à forma como o trabalho é executado:
desenvolvendo, neste campo, intenso programa de cooperação técnica
Importa, outrossim, destacar a preocupação dessa convenção no sentido
com os Estados-membros-'" de alertar para a necessidade de adequar o trabalho ao homem, com o
Estudos realizados pelo PIACT resultaram na Convenção 155, que, fito de diminuir os riscos para os trabalhadores, prevendo a adaptação do
complementada pela recomendação 164, ambas de 1981, ampliaram o maquinário, dos equipamentos, do tempo de trabalho, da organização do
trabalho e das operações e processos às capacidades físicas e mentais
conceito de ambiente de trabalho para fins de segurança e saúde dos dos trabalhadores.
trabalhadores.
É importante ressaltar que as Convenções da OIT não são leis Já a Convenção 161, aprovada na 71" Reunião da Conferência
supranacionais, capazes de ter eficácia jurídica no direito interno sem Internacional do Trabalho, reconhecida pelo Brasil por meio do Decreto
a adesão do Estado-membro, mediante ato formal de ratificação, Legislativo n° 86, ratificada em 18 de maio de 1990, e promulgada pelo
justamente para não ferir o princípio da soberania. É somente por meio Decreto n° 127, de 22 de maio de 1991, refere-se a serviços de saúde
da adesão, mediante ato soberano, que o Estado-membro se vinculará do trabalho. 41
ao respectivo instrumento. De acordo com Liliana Allodi Rossit42 , a referida Convenção 161
Na classificação de Liliana Allodi Rossit37 , existem três convenções estabelece: "[. .. ] que tais serviços deverão agir, essencialmente, nas
que dizem respeito diretamente ao meio ambiente de trabalho: ''[ ... ] a funções preventivas, com o fito de alcançar um ambiente de trabalho
Convenção 148, que aborda a contaminação do Ar, Ruído e vibrações; seguro e salubre, devendo agir para adaptar o trabalho às capacidades
a convenção 155, sobre Segurança e Saúde dos Trabalhadores e a físicas e mentais dos trabalhadores".
Convenção 161, sobre Serviços de Saúde do Trabalho". É indiscutível a importância da saúde, tanto que a Constituição
A Convenção 155, adotada na 67" Reunião da Conferência Federal, em seus artigos 6° e 196, estabeleceu ser a saúde,
Internacional do Trabalho e, no Brasil, aprovada pelo Decreto Legislativo respectivamente, um direito social, portanto, um direito de todos e
n° 2, de 17 de março de 1992, ratificada em 18 de maio de 1992, entrou dever do Estado. Tal direito é garantido mediante políticas sociais e
em vigor um ano depois, em 18 de maio de 1993, estabelecendo as econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
normas e os princípios acerca de segurança e saúde dos trabalhadores agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para
8
e o meio ambiente de trabalho? sua promoção, proteção e recuperação. 43
A convenção mencionada passa a adotar um conceito mais Sobre o tema, Liliana Allodi Rossi! evidencia44 :
realista do que aquele escolhido pela Organização Mundial da Saúde,
considerando, além da ausência de afecções ou de doenças, também 40
ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo:
os elementos físicos e mentais que afetam a saúde e estão diretamente LTr, 2001. p. 123.
41
relacionados com a segurança e a higiene no trabalho. Esse acordo ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo:
reconhece a importância da saúde mental em virtude do aumento dos LTr, 2001. p.126.
42
39 ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo:
trabalhos repetitivos, monótonos e do estresse. LTr, 2001. p.126.
43
"Art. 6°. São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer,
a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
36
ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasíleiro. São Paulo: desamparados, na forma desta Constituição" e "Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do
Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença
LTr, 2001. p.119.
37
ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação". BRASIL Constituição (1988). Constituição da República Federativa do
LTr, 2001. p. 120.
38 ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Brasil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivii_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>.
LTr, 2001. p. 122. Acesso em: 18 out. 2013.
44
39
ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo:
LTr, 2001. p. 122. LTr, 2001. p. 96.

36 INQUIETAÇÕES SOBRE ODANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO INQUIETAÇÕES SOBRE ODANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO 37
[ ... ] há um direito, que é de todos, relacionado a um dever, que é do Ainda resta considerar esses impactos e reflexos no cotidiano dos
Estado. Esse direito, portanto, não pode ser negado a ninguém, de
modo que a estrutura estatal deve perseguir esse objetivo, permitindo
indivíduos e examinar como aqueles podem interferir no bem-estar
que todos tenham igual acesso aos serviços de saúde. Mas, não só o social e na dignidade da pessoa humana.
acesso aos serviços de saúde, como também o acesso a patamares
mínimos de dignidade de vida, para que esta seja saudável e a doença 1.2 Um Cenário para a Jornada de Trabalho
seja a exceção. A jornada de trabalho e seu limite estão, provavelmente, dentre
os temas mais discutidos entre os estudiosos da área, e não poderia
Portanto, a saúde é um direito social, previsto no artigo 6° do ser diferente, pois, o tempo que o trabalhador coloca à disposição do
Diploma Constitucional. Encontram-se desdobramentos desse direito empregador é seu tempo de vida.
entre aqueles assegurados aos trabalhadores, previstos no artigo 7° do
mesmo diploma, como, por exemplo, o inciso XXII, que dispõe acerca De acordo com Liliana Allodi Rossi!, trabalho é48 :
da redução dos riscos inerentes ao trabalho. 45 [...1o dispêndio de energia física e mental para a produção de um valor
Do acima exposto, aduz-se que o direito à saúde encontra respaldo de uso ou de um valor de troca; na física, o termo é utilizado para indicar
na legislação e esta afirmação fundamenta-se no fato de ser a saúde a quantidade de energia recebida por um sistema material que se desloca
sob o efeito de uma força.
um direito social, exigível do Estado, como se verifica no artigo 196 da
Carta Magna. Dessa forma, é possível concluir que, antes de ser do Em uma perspectiva filosófica, Marilena de Souza Chauí49 conceitua
trabalhador, é um direito de todos, constituindo-se o meio ambiente de o termo trabalho da seguinte forma:
trabalho como parte integrante do direito à saúde.
Liliana Allodi Rossi!, corroborando esse raciocínio, defende que46 : Tripa/ium é o termo latino do qual trabalho deriva; um instrumento de três
estacas, destinado .a prender bois e cavalos difíceis de ferrar. [ ... ] A outra
[ ... ] não se pode separar o homem trabalhador do homem social, como palavra latina empregada para designar trabalho é labor, que corresponde
se fossem dois seres estanques, sem interligação. Destarte, é impossível ao grego panos, portanto indica pena, fadiga, cansaço, dor. [...] Os ho111ens
alcançar qualidade de vida sem qualidade de trabalho e, do mesmo livres dispõem de otium - lazer - e os não livres estão no neg-otíum -
modo, não se pode atingir o meio ambiente equilibrado sem atentar para negação de ócio, trabalho. (grifo do autor).
o meio ambiente de trabalho.
Nas palavras de Alice Monteiro de Barros 50 , a palavra tripa/iare
É preciso considerar que o ser humano passa a maior parte de significa "martirizar com o tripallium" instrumento de tortura composto
sua vida no trabalho justamente quando está na plenitude de suas de três paus. (grifo do autor).
forças mentais e físicas. Com base nessa constatação, o trabalho No contexto do tema estudado, vale a pena frisar a definição de
definirá seu estilo de vida, seus conceitos, sua atitude perante a vida, Hannah Arendt51 , a saber:
podendo determinar até sua morte. Isso deixa claro que as condições
de trabalho vão influenciar nas condições de vida de um indivíduo.'7 [... ] o labor- atividade diretamente relacionada à própria vida, que assegura
a sobrevivência do indivíduo e a vida da espécie; o trabalho - atividade
Diante do exposto, a saúde do trabalhador se apresenta como o correspondente ao artificialismo da existência humana, cujo produto
aspecto preponderante para a existência digna. Também é de relevância oferece certa permanência em oposição à efemeridade do tempo de
ímpar a abordagem de aspectos específicos da jornada de trabalho, vida humana; e a ação - única atividade condicionada à pluralidade e à
vistos o impacto direto ou indireto de tais aspectos sobre a saúde. politica, que cria a condição para a história.

45 48
ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Dire1lo Ambiental Brasileiro. São Paulo: ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo:
LTr, 2001. p. 122. LTr, 2001. p. 71.
: CHAUI, Maril_ena de S~uza. Convite à Fil?s~fia. 13. ed., São Paulo: Ática, 2008. p. 390.
46
ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo:
LTr, 2001. p. 97.
51
BARROS, Al1ce Monteiro ~e:. Curso de Dtre1to do_ Trabalho. São Paulo: LTr, 2008. p. 53.
47
ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: AREND, Hannah. A Cond1çao Humana. Traduçao de Roberto Raposo. 10. ed., Rio de Janeiro:
LTr, 2001. p. 98. Forense, 2000. p. 15.

38 INQUIETAÇÕES SOBRE ODANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO INQUIETAÇÕES SOBRE ODANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO 39
O trabalhador vende a sua força de trabalho e, em troca, recebe o A respeito do tema, o artigo 61 da CLT e seus parágrafos assim
capital. O tempo que o trabalhador dispõe ao empregador é seu tempo estipulas7 :
de vida, ou seja, é a vida que ele vende em troca de meios para a sua
subsistência e de sua família, sendo esta, a única moeda de troca que Art. 61 - Ocorrendo necessidade imperiosa, poderá a duração de o
trabalho exceder do limite legal ou convencionado, seja para fazer em
possui. A partir do instante, portanto, em que o trabalhador coloca
face de motivo de força maior, seja para atender à realização ou
à disposição do empregador tempo de vida em excesso, acaba por conclusão de serviços inadiáveis ou cuja inexecução possa acarretar
inviabilizar a oportunidade de exercer os direitos fundamentais, inerentes prejuízo manifesto.
à sua personalidade. § 1' - O excesso, nos casos deste artigo, poderá ser exigido
De acordo com Alice Monteiro de Barros,s2 "As normas sobre independentemente de acordo ou contrato coletivo e deverá ser
duração do trabalho têm por objetivo primordial tutelar a integridade comunicado, dentro de 10 (dez) dias, à autoridade competente em
matéria de trabalho, ou, antes desse prazo, justificado no momento da
física do obreiro, evitando-lhe a fadiga"; assim, a preocupação com a fiscalização sem prejuízo dessa comunicação.
tutela da integridade do trabalhador tem razão de ser, pois as longas § 2' - Nos casos de excesso de horário por motivo de força maior, a
jornadas de trabalho têm sido apontadas como fator do estresse, já que remuneração da hora excedente não será inferior à da hora normal.
resultam em um grande desgaste para o organismo e, a par do desgaste Nos demais casos de excesso previstos neste artigo, a remuneração
para o organismo, o estresse é responsável ainda pelo absenteísmo, será, pelo menos, 25% (vinte e cinco por cento) superior à da hora
pela rotação de mão de obra e por acidentes do trabalho"s3 normal, e o trabalho não poderá exceder de 12 (doze) horas, desde que
a lei não fixe expressamente outro limite.
Ao conceituar a jornada de trabalho, Alice Monteiro de Barros § 3' - Sempre que ocorrer interrupção do trabalho, resultante de causas
explica a distinção entre jornada e horário de trabalho54 : acidentais, ou de força maior, que determinem a impossibilidade de sua
realização, a duração do trabalho poderá ser prorrogada pelo tempo
Jornada é o período, durante um dia, em que o empregado penmanece à necessário até o máximo de 2 (duas) horas, durante o número de dias
disposição do empregador, trabalhando ou aguardando ordens. Já o horário indispensáveis à recuperação do tempo perdido, desde que não exceda
de trabalho abrange o período que vai do inicio ao término da jornada, de 10 (dez) horas diárias, em período não superior a 45 (quarenta e
como também os intervalos que existem durante o seu cumprimento. cinco) dias por ano, sujeita essa recuperação à prévia autorização da
autoridade competente.
Na mesma linha de análise, o artigo 4° da Consolidação das Leis
Trabalhistas preceitua:ss "Art. 4°- Considera-se como de serviço efetivo A Organização Internacional do Trabalho, que, em sua primeira
o período em que o empregado esteja à disposição do empregador, reunião da Conferência Internacional do Trabalho, ainda em 1919,
aguardando ou executando ordens, salvo disposição especial aprovou a Convenção n° 1, fixou a jornada máxima de oito horas
expressamente consignada". diárias e quarenta e oito horas semanais, fazendo restrição ao trabalho
Ainda, Alice Monteiro de Barros, em uma abordagem ao trabalho extraordinários8 Não por acaso, a primeira convenção internacional
extraordinário, ensinas6 : da OIT foi a convenção sobre horas de trabalho na indústria, que já
estipulava que o tempo de trabalho diário não poderia superar às oito
Em geral, nos países desenvolvidos, aceita-se a licitude do trabalho
extraordinário apenas quando ocorrerem certas situações, ou seja, um horas diárias nem as quarenta e oito semanais.s 9
fenômeno inusitado ocasionado por necessidade imperiosa, via de A preocupação com as extensas jornadas de trabalho e a frustração
regra, imprevisível, as quais estão mencionadas no art. 61 da CLT.

52 57
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2008. p. 654. BRASIL. Decreto-lei n° 5.452, de 1° de maio de 1943 (Consolidação das Leis do Trabalho).
53
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2008. p. 654-655. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em: <http:/lwww.planalto.gov.br/ccivil/
54
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2008. p. 654-655. decreto-lei/del5452.htm>. Acesso em: 08 abr. 2014.
55 58
BRASIL. Decreto-lei n° 5.452, de 1° de maio de 1943 (Consolidação das Leis do Trabalho). SILVA, José Antônio R. de Oliveira. A Flexibilização da Jornada de Trabalho e seus Reflexos
Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em: <http:/lwww.planalto.gov.br/ccivil/ na Saúde do Trabalhador. Revista LTr, São Paulo, v. 77, n° 2, p. 182, fev. 2013.
59
decreto-lei/del5452.htm>. Acesso em: 08 abr. 2014. SILVA, José Antônio R. de Oliveira. A Flexibilização da Jornada de Trabalho e seus Reflexos
56
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Diretlo do Trabalho. São Paulo: LTr, 2008. p. 655. na Saúde do Trabalhador. Revista LTr, São Paulo, v. 77, n° 2, p. 182, fev. 2013.

40 INQUIETAÇÕES SOBRE ODANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO INQUIETAÇÕES SOBRE ODANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO 41
com a falta de tempo para o lazer e convívio social originou a necessidade estudos científicos demonstraram a necessidade de instituição de
descansos e de tempo livre para a preservação dos direitos fundamentais
de impor limites ao tempo de trabalho.
do trabalhador, o que tem uma justificação sob tríplice aspecto:
Como dispõe Karl Marx60 , ''(. .. ] a regulamentação da jornada de 1") fisiológico; 2°} moral e social; e 3°) econômico.
trabalho se apresenta na história da produção capitalista como a luta
pela limitação da jornada de trabalho, um embate que se trava entre a No que se refere ao primeiro desses fundamentos, a contribuição
classe capitalista e a classe trabalhadora". da fisiologia tem demonstrado a necessidade da limitação do tempo de
Com o capitalismo, surge também o discurso de que o homem, a trabalho, com critérios puramente científicos, os quais comprovam que
partir desse advento, estaria livre para trabalhar onde e para quem o organismo humano sofre desgastes quando se põe em atividade,
desejasse. Entretanto, é justamente a partir daí que o trabalhador se queimando as energias acumuladas numa maior proporção. Ainda, os
torna alienado do produto que realiza, de sua condição de homem, fisiologistas têm descrito, com detalhes, o processo pelo qual a fadiga
pois não tem mais controle sobre o que produz. se instala insidiosamente no organismo humano quando se desenvolve
uma atividade prolongada. 65
O trabalho é transformado em mercadoria e seu produto é reificado,
fetichizado, sendo que a concentração da propriedade dos meios de Segundo Sebastião Geraldo de Oliveira: 66 ''[ ... ] o esforço adicional,
produção propicia um modo de cooperação que introduz, em um primeiro como ocorre, por exemplo, no trabalho constante em horas extraordinárias,
momento, a mais-valia absoluta, que consubstancia tanto o aumento aciona o consumo das reservas de energia da pessoa e provoca o
da jornada de trabalho como do ritmo de trabalho (ao máximo); depois aceleramento da fadiga, que pode deixá-la exausta ou esgotada".
de o operário ter produzido o valor equivalente ao de sua força de Ademais, para José Antônio R. de Oliveira 67 :
trabalho, continua produzindo mercadoria para o capital. 61
[ ... ] se não há o descanso necessário para a recuperação da fadiga,
Em seguida, principalmente com a entrada das máquinas nas esta se converte em fadiga crônica, o que pode levar a doenças que
fábricas, tem-se a mais-valia relativa, que "otimiza" o tempo de produção conduzem à incapacidade ou inclusive à abreviação da morte. Daí que
dos trabalhadores, reduzindo o tempo de trabalho necessário sem o excesso de tempo de trabalho deságua no surgimento de do~ças
reduzir a jornada de trabalho. 62 ocupacionais e Inclusive de acidentes de trabalho, o que pode levar à
morte do trabalhador. E não é somente a fadiga muscular que desencadeia
Karl Marx63 acrescenta que: ''(. .. ] o capitalista afirma seu direito, o problema de saúde, pois a continuidade do uso dos músculos
como comprador, quando procura prolongar o mais possível a jornada extenuados conduz à irritação do sistema nervoso central. Finalmente, a
de trabalho e transformar, sempre que possível, um dia de trabalho em continuidade desta 'operação' produz tamanho desgaste que dá origem
il
,,
,,,,, dois". à fadiga cerebral, com as suas consequências perniciosas ao organismo
!, humano. (grifo do autor).
Conforme José Antônio R. de Oliveira 64 :
Arnaldo Süssekind 68 , por sua vez, pontua que os fundamentos para
[ ... ] durante um largo período da história da humanidade não houve
a limitação do tempo de trabalho são os seguintes:
limites específicos às jornadas de trabalho, já que por muitos séculos
sua delimitação era regida pelo mecanismo das 'leis naturais'. Foi ao
a) de natureza biológica, pois que visa combater os problemas
final do século XIX e principalmente no início do século XX que os
psicofisiológicos oriundos da fadiga e da excessiva racionalização do
serviço;
60
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política: livro I. Tradução de Reginaldo Sant'Anna.
21. ed., v. 1, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. p. 273.
61 65
GUARANY, Alzira Mitz Bemardes. Trabalhadores Resistindo ao Sofrimento no Trabalho. 2007. 33 f. SILVA, José Antônio R. de Oliveira. A Flexibilização da Jornada de Trabalho e seus Reflexos
Dissertação (mestrado)- Pós-Graduação em Serviço Social, UFRJ, ESS, Rio de Janeiro, 2007. na Saúde do Trabalhador. Revista LTr, São Paulo, v. 77, n° 2, p. 183, fev. 2013.
62 66
GUARANY, Alzira Mitz Bemardes. Trabalhadores Resistindo ao Sofrimento no Trabalho. 2007. 33 f. OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção Jurídica à Saúde do Trabalhador. 4. ed., São Paulo:
Dissertação (mestrado)- Pós-Graduação em Serviço Social, UFRJ, ESS, Rio de Janeiro, 2007. LTr, 2002. p. 159.
63 67
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política: livro I. Tradução de Reginaldo Sant'Anna. SILVA, José Antônio R. de Oliveira. A Flexibilização da Jornada de Trabalho e seus Reflexos
21. ed., v. 1, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. p. 273. na Saúde do Trabalhador. Revista L Tr, São Paulo, v. 77, n° 2, p. 183, fev. 2013.
64 68
SILVA, José Antônio R. de Oliveira. A Flexibilização da Jornada de Trabalho e seus Reflexos SÜSSEKIND, Arnaldo et ai. Instituições de Díreito do Trabalho. 16. ed., atual. por Arnaldo
na Saúde do Trabalhador. Revista LTr, São Paulo, v. 77, n° 2, p. 182, fev. 2013. Süssekind e João de Lima Teixeira Filho. V. 2, São Paulo: LTr, 1996. p. 774.

42 INQUIETAÇÕES SOBRE O DANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO INQUIETAÇÕES SOBRE O DANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO 43
b) de caráter social, pois que possibilita ao trabalhador viver, como ser Embora a Consolidação das Leis do Trabalho, em seu art. 58 71 ,
humano, na coletividade à qual pertence, gozando dos prazeres materiais
e espirituais criados pela civilização, entregando-se à prática de atividades
Ja estabelecesse que a duração da jornada de trabalho, para os
recreativas, culturais ou físicas, aprimorando seus conhecimentos e empregados em qualquer atividade privada, não excederia de oito
convivendo, enfim, com sua família; horas diárias, desde que não tenha sido fixado outro limite, foi a
c) de índole econômica, pois que restringe o desemprego e acarreta, Constituição Federal de 198872 , ao indicar o limite de quarenta e
pelo combate à fadiga, um rendimento superior na execução do trabalho. quatro horas semanais, quando revogou parcialmente o art. 58 da
(grifo do autor). Consolidação das Leis do Trabalho, que permitiu, portanto, um limite
semanal de quarenta e oito horas.
Para Alice Monteiro de Barros69 , além dos fundamentos de ordem
Mauricio Godinho Delgado 73 acrescenta ainda que, hoje, a duração
fisiológica, as normas sobre duração do trabalho possuem, ainda,
mensal de trabalho é de duzentas e vinte horas, e que as regras
fundamentos de ordem econômica e social:
previstas na Constituição Federal possuem caráter imperativo a
Além desse fundamento de ordem fisiológica, as normas sobre duração do respeito desse limite, impedindo qualquer módulo mensal que exceda
trabalho possuem, ainda, um outro de ordem econômica, pois o empregado as duzentas e vinte horas. No entanto, é permitida uma compensação
descansado tem o rendimento aumentado e a produção aprimorada. Já de horários, diária ou semanal, no cômputo da jornada de trabalho,
o terceiro fundamento, capaz de justificar as normas sobre duração do mas que também não exceda o limite mensal.
trabalho, é de ordem social: durante o dia o empregado necessita de
tempo para o convívio familiar e para os compromissos sociais. A jornada de trabalho dos empregados bancários é regida pelo
artigo 224, caput e, parágrafo 2° da Consolidação das Leis do Trabalho
O legislador, com essa alusão a fundamentos de limitação do e, na hipótese de empregados que exerçam cargos de gestão e
tempo de trabalho e, embasado pelos dizeres dos direitos humanos equiparados, pela regra ge_ral, com a aplicação prevista no art. 62 da
fundamentais, estabeleceu na Carta Magna, em seu art. 7°, inciso XIII, Consolidação das Leis do Trabalho.
entre outros direitos trabalhistas, o limite de oito horas diárias ou quarenta Em síntese, os bancários têm jornada de trabalho de seis hóras
e quatro horas semanais como duração para o trabalho normal. diárias, de segunda a sexta-feira, totalizando trinta horas semanais,
Em razão do acima exposto, é que se tem verificado um aumento com a garantia de um intervalo de quinze minutos, como previsto no
considerável das doenças mentais dos trabalhadores, subjugados artigo 71, § 1°, da Consolidação das Leis do Trabalho. 74
cada vez mais a uma maior carga de trabalho e num tempo excessivo. Sobre o tema, a Convenção Coletiva de Trabalho 2014/2015, em
Não bastando o que foi citado, no entendimento de José Antônio sua cláusula a•, que trata do adicional de horas extras, assim dispõe 75 :
R. de Oliveira70 :
As horas extraordinárias serão pagas com o adicional de 50% (cinquenta
por cento).
[ ... ] não é apenas o aspecto fisiológico que se deve observar, pois há
outro tão importante como este. Há, portanto, um aspecto moral para
justificar a limitação temporal do trabalho. É que o trabalhador tem 71
BRASIL. Decreto-lei n° 5.452, de 1° de maio de 1943 (Consolidação das Leis do Trabalho).
legitimamente direito a desfrutar de uma vida pessoal, fora da vida Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/
profissional, na qual possa cumprir sua função social, desenvolvendo-se decreto-lei/del5452.htm>. Acesso em: 18 out. 2013.
intelectual, moral e fisicamente. E não se pode dissociar a vida profissional 72
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em:
do trabalhador se não se lhe conceder um tempo livre, razoável, para <http://www.planalto.gov.br/ccivil 03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 18 out. 2013.
73
tanto. (grifo do autor). DELGADO, Mauricio GodinhO. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2013. p. 927.
74
BRASIL. Decreto-lei n° 5.452, de 1° de maio de 1943 (Consolidação das Leis do Trabalho).
Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponfvel em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/
decreto-lei/del5452.htm>. Acesso em: 18 out. 2013.
" FEDERAÇÃO NACIONAL DOS BANCOS (FENABAN); CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS
69
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2008. p. 655. TRABALHADORES DO RAMO FINANCEIRO (CONTRAF). Convenção Coletiva de Trabalho
70
SILVA, José Antônio R. de Oliveira. A Flexibilização da Jornada de Trabalho e seus Reflexos 201412015. São Paulo, 13 out. 2014. Disponível em: <http:l/contrafcut.org.br/download/convencao_
na Saúde do Trabalhador. Revista LTr, São Paulo, v. 77, n° 02, p. 183, fev. 2013. acordol14102112628.pdf>. Acesso em: 02 fev. 2015. p. 29.

44 INQUIETAÇÕES SOBRE ODANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO INQUIETAÇÕES SOBRE O DANO EXISTENCIAL NO DIREITO 00 TRABALHO 45
Parágrafo Primeiro Parágrafo Quarto - O valor das horas extras será pago com base nas
Quando prestadas durante toda a semana anterior, os bancos pagarão, tabelas salariais vigentes na data do seu pagamento, ficando o BANCO,
também, o valor correspondente ao repouso semanal remunerado, inclusive em relação a estas verbas, desobrigado do cumprimento do disposto
sábados e feriados. no Parágrafo Primeiro do artigo 459 da CLT, desde que o crédito seja
efetuado na folha de pagamento do mês subsequente ao da prestação
Parágrafo Segundo do serviço.
O cálculo do valor da hora extra será feito tomando-se por base o
somatório de todas as verbas salariais fixas, entre outras, ordenado,
Parágrafo Quinto - Quando da utilização integral ou do saldo de férias,
adicional por tempo de serviço, gratificação de caixa e gratificação de ao funcionário será devida automaticamente a média atualizada das horas
extras percebidas nos quatro ou doze meses, a que for mais vantajosa,
compensador (grifo do autor).
contados a partir do segundo mês anterior ao do último dia de trabalho.
Ainda, os bancários do Banco do Brasil, por meio do Acordo Parágrafo Sexto - O percentual contido no caput supre, para todos os
efeitos, a exigência do disposto no artigo 59, parágrafo 1•, da CLT.
Coletivo de Trabalho 2013/2014, em sua clausula sexta, no que diz
respeito às horas extraordinárias, firmaram que 76 : Parágrafo Sétimo - As horas extras compensadas com descanso ou
folga não terão reflexos no repouso semanal remunerado, nas férias,
A jornada diária de trabalho poderá ser prorrogada, eventualmente, na licença-prêmio, no aviso prévio, no 13° salário ou em qualquer outra
verba salarial.
observado o limite legal e em face da necessidade do serviço,
assegurando-se o pagamento com adicional de 50% sobre o valor da hora Parágrafo Oitavo - O BANCO manterá em seu sistema eletrônico
normal ou a compensação em descanso e folga das horas extraordinárias, (SISBB), documento contendo orientações aos administradores das
nos termos da presente cláusula, nas seguintes condições: dependências e aos funcionários sobre as anotações das horas extras
I - nas dependências com quadro de até vinte funcionários: 1DO% das para pagamento ou para compensação.
horas extraordinárias realizadas são pagas pelo BANCO; Parágrafo Nono - O previsto na presente cláusula não se aplica aos
11 - nas dependências com quadro de mais de vinte funcionários: 50% funcionários pertencentes ao Cadastro de Prestadores Habituais de Horas
das horas extraordinárias realizadas são pagas em espécie pelo BANCO Extras, inclusive os "egressos de bancos incorporados.
e as 50% restantes são compensadas em descanso e folga. Parágrafo Décimo - O BANCO assegurará ao Auditor Sindical as
" 111 - aos funcionários lotados nas unidades estratégicas é facultada, informações necessárias para acompanhamento da jornada de trabalho
!lll
.. mediante solicitação, a compensação em descanso, das horas e frações do funcionalismo, autorizando o acesso ao aplicativo ARH/Jornada de
trabalho, mediante assinatura de termo de confidencialidade.
lt de horas realizadas em regime de extra.
Parágrafo Primeiro- Para efeito de compensação, considera-se: Parágrafo Décimo Primeiro -Ao Auditor Sindical liberado pelo BANCO
a) descanso- o conjunto de horas inferior a uma jornada de trabalho; à entidade sindical será garantido as vantagens da comissão de código
7112 (grifo do autor).
b) folga- conjunto de horas equivalente a uma jornada de trabalho.
Parágrafo Segundo - As horas extras poderão ser compensadas em
descanso, a critério do funcionário, preferencialmente no mês da sua A jornada de trabalho, destaque neste contexto, já há muito é alvo
prestação, admitindo-se a compensação até o mês seguinte. Findo esse de inúmeras críticas por parte da doutrina que defende um Direito do
prazo as horas não compensadas devem ser pagas. Trabalho justo, em que o homem não seja mera mercadoria utilizada
Parágrafo Terceiro- As horas extras pagas deverão integrar o pagamento pelo capitalista. Estudiosos já se dedicavam a entender o trabalho
do repouso semanal remunerado (RSR)- sábados, domingos e feriados como mercadoria muito antes dos limites trabalhistas e da positivação
- independentemente do número de horas extras prestadas ou do dia da
prestação, observada a regulamentação interna. A hora extra tem como
das leis; portanto, o tema não é novo.
77
base de cálculo o somatório de todas as verbas salariais. Karl Marx , ao discorrer sobre o tema, menciona que é necessário
colocar limites à jornada de trabalho, pois, durante o tempo em que o
76 trabalhador trabalha ele é consumido pelo capital. O capitalista compra
ACORDO coletivo de trabalho de adesão com ressalvas à convenção coletiva de trabalho -
CCT FENABAN/CONTRAF 2013/2014 e de cláusulas específicas celebrando entre Banco do
Brasil S.A, Confederação Nacional de Trabalhadores do ramo financeiro, federações e sindicatos
de trabalhadores em estabelecimentos bancários e signatários. [S.L), 2014. Disponível em:
<http://contrafcut.org.br/download/convencao_acordo/13102211466pdf>. Acesso em: 02 fev. n MARX, Karl. O Capital; crítica da economia poHtica. 19. ed., Rio de Janeiro: Civilizaçao Brasileira
2014. p. 4-5. 2002. p.270. '

46 INQUIETAÇÕES SOBRE O DANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO INQUIETAÇÕES SOBRE O DANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO 47
o trabalho, e, durante esse período, ele procura aproveitar ao máximo Mundial da Saúde, de 40 a 50% da população mundial está de alguma
a mercadoria. O doutrinador acrescenta que: forma exposta a risco do trabalho, seja de natureza química, biológica,
psíquica, psicossocial ou ergonômica. 61
Possui a jornada de trabalho um limite máximo. Não pode ser prolongada
Os dados estatísticos oficiais, especialmente no que concerne às
além de certo ponto. Esse limite máximo é determinado duplamente. Há
primeiro, o limite fisico da força do trabalho. Durante um dia de 24 horas, doenças ocupacionais, que, em grande maioria, são registrados pelo
só pode um homem despender determinada quantidade de força de órgão previdenciário como doenças normais, não refletem a realidade. 82
trabalho. [ ... ] Durante uma parte do dia, o trabalhador deve descansar, Acrescenta-se que o já mencionado processo de globalização da
dormir; durante outra tem de satisfazer necessidades físicas, alimentar-se,
lavar-se, vestir-se etc. Além de encontrar esse limite puramente físico, economia e a consequente flexibilização do Direito do Trabalho, bem
o prolongamento da jornada de trabalho esbarra fronteiras morais. como os institutos da terceirização e suas derivações (quarteirizações)
o trabalhador precisa de tempo para satisfazer necessidades espirituais têm contribuído sobremaneira para o aumento dos riscos ambientais,
e sociais. dificultando a fiscalização por parte dos órgãos responsáveis, como
o Ministério Público do Trabalho, o Ministério do Trabalho e Emprego e
Nessa perspectiva de estudo, é de se destacar a norma do as Delegacias Regionais do Trabalho. 83
artigo 427 do Tratado de Versalhes, a qual assinala que o trabalho não
Ademais, a reestruturação produtiva tem estimulado a transferência
deve ser considerado como uma mercadoria ou um artigo de comércio.
78 de significativas parcelas do processo de produção ou de prestação de
Nesse ponto, encontra-se a essência do princípio da proteção.
serviços das grandes para as pequenas empresas. Estatísticas indicam
Do acima exposto, é possível aduzir que, do tratamento do trabalho que os acidentes de trabalho em pequenas empresas chegam a ser o
como mercadoria, originam-se as atitudes e os comportamentos que dobro do número de acidentes de trabalho em empresas de grande
levam à desconsideração dos danos ambientais e os consequentes porte. Tal fato acontece em decorrência do fato de que as pequenas
riscos à saúde do trabalhador. empresas têm capacidade de prevenção reduzida, se comparadas com
1.3 Danos ao Meio Ambiente do Trabalho e os Riscos à Saúde empresas maiores, que detêm condições maiores para investimentos
"''
!li' do Trabalhador: o direito protegendo o hipossuficiente na prevenção dos riscos à saúde e ao meio ambiente do trabalho. 84
lli'"' A relação entre saúde e meio ambiente de trabalho pode se tornar De acordo com Sidnei Machado85 :
fator de sofrimento e risco à saúde dos trabalhadores e merece atenta
Os reflexos da reestruturação produtiva no mundo do trabalho, com a
]i
.111;
intervenção em seu gerenciamento, com o intuito de estabelecer balizas chamada modernização científiCa e tecnológica, ao contrário de reduzirem
em normas e limites que orientem a saúde dos trabalhadores, fonte de os riscos, introduzem nova degradação nas condições de trabalho, num
'I 79 contexto de flexibilização e informatização, agregando-se aos riscos
juridicidade.
clássicos do trabalho e alimentando os já insuportáveis indices de acidentes
Sidnei Machado80 ensina que: "Risco é a probabilidade de ocorrência e doenças profissionais.
de um evento causador de dano às pessoas e ao meio ambiente de
forma leve ou grave, temporária ou permanente, parcial ou total".
Quando se refere ao trabalho, aplica-se a expressão "fator de 81
MACHADO, Sidnei. O Direito à Proteção ao Meio Ambiente de Trabalho no Brasil: os desafios
~ara a construção de uma racionalidade normativa. São Paulo: LTr, 2001. p. 53.
risco", correspondendo à identificação de um agente que provoca dano 2
MELO, Raimundo Simão de. Direito Ambiental do Trabalho e a Saúde do Trabalhador:
ao trabalhador e ao meio ambiente. De acordo com a Organização responsabilidades legais, dano material, dano moral, dano estético, indenização pela perda de
uma chance, prescrição. São Paulo: LTr, 2008. p. 57-58.
83
MELO, Raimundo Simão de. Direito Ambiental do Trabalho e a Saúde do Trabalhador:
78 responsabilidades legais, dano material, dano moral, dano estético, indenização pela perda de
SILVA, José Antônio R. de Oliveira. A Flexibilização da Jornada de Trabalho e seus Reflexos
na Saúde do Trabalhador. Revista L Tr, São Paulo, v. 77, no 2, p. 182, fev. 2013. uma chance, prescrição. São Paulo: LTr, 2008. p. 58.
79 84
MACHADO, Sidnei. O Direito à Proteção ao Meio Ambiente de Trabalho no Brasil: os desafios MACHADO, Sidnei. O Direito à Proteção ao Meio Ambiente de Trabalho no Brasil: os desafios
rcara
0
a construção de uma racionalidade normativa. São Paulo: LTr, 2001. p. 53. eara a construção de uma racionalidade normativa. São Paulo: LTr, 2001. p. 53-54.
5
MACHADO, Sidnei. O Direito à Proteção ao Meio Ambiente de Trabalho no Brasil: os desafios MACHADO, Sidnei. O Direito à Proteção ao Meio Ambiente de Trabalho no Brasil: os desafios
para a construção de uma racionalidade normativa. São Paulo: LTr, 2001. p. 53. para a construção de uma racionalidade normativa. São Paulo: LTr, 2001. p. 54.

48 INQUIETAÇiiES SOBRE O DANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO INQUIETAÇOES SOBRE O DANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO 49
Raimundo Simão de Melo 86 , pronunciando-se sobre a precarização público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade
das relações de trabalho infere: causadora de degradação ambiental".
A poluição do meio ambiente de trabalho, em síntese, deve ser
[... ]tem-se a desregulamentação das relações do capital com o trabalho
e o afastamento do Estado da sua antiga condição de intermediador,
entendida como a degradação da salubridade do ambiente, que
desqualificação maior do trabalho para a maioria dos trabalhadores e um termina por afetar diretamente a saúde. Cabe destacar que, para o
discurso consensual da mídia, também oligopolizada, sobre a excelência empregador, é uma questão relacionada a "problemas de produção";
do 'livre mercado', como principio e doutrina de tudo. para o trabalhador, é "problema de vida".
Conforme Sebastião Geraldo de Oliveira 87 , no local de trabalho A classificação usual das doenças ligadas à atividade laborativa
determinado pelo empregador, o empregado pode sofrer diversas prevê a divisão em dois grupos: as denominadas doenças profissionais
agressões, enquanto desenvolve sua atividade. Vejamos: ou tecnopatias - causadas diretamente pela manipulação de agentes
patogênicos, e as doenças produzidas pelas condições especiais em
São exemplos de agentes agressivos o ruído, o calor, os agentes que o trabalho é realizado, denominadas mesopatias. 91
químicos e biológicos, o risco de acidentes, o trabalho noturno e em
turnos, as horas extras às habituais, a organização rígida do trabalho, o Por doença profissional entende-se a doença definida, cuja causa
ambiente psicológico e social, as posturas incorretas do ponto de vista está diretamente relacionada ao ambiente de trabalho. Já por doença
da ergonomia, as tarefas repetitivas e monótonas, o trabalho penoso, o inespecífica entende-se o conjunto de doenças físicas e psíquicas não
receio de desemprego etc. diretamente associável a uma causa determinada, mas atribuíveis a
um ou mais fatores do ambiente de trabalho. 92
Ainda, de acordo com Sebastião Geraldo de Oliveira 88 :
São fatores nocivos causadores de doenças profissionais ou
A presença isolada ou cumulativa de tais agentes acarreta para o tecnopatias aqueles que estão presentes nos ambientes externos ao
trabalhador efeitos variados, de acordo com a vulnerabilidade individual: trabalho, como a luz, o ruído, a temperatura, a ventilação e a umidade,
desconforto, insatisfação, estresse, fadiga, estafa, doenças ocupacionais,
acidente do trabalho e até a morte prematura. e que podem produzir doenças inespecificas ou acidentes. Já os fat6res
específicos do ambiente de trabalho, como poeiras, gases, vapores e
Nos termos do artigo 3°, inciso 111 da Lei n° 6.938 de 1981 89 , fumos, podem produzir, além das doenças inespecíficas, as doenças
a violação ao meio ambiente está definida como: "[ ... ] degradação profissionais. 93
da qualidade ambiental, resultante de atividades que direta ou Os fatores que compreendem o trabalho físico podem produzir as
indiretamente: prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da doenças inespecíficas, as doenças profissionais e também os acidentes.
população ou afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio Cabe explicitar que, por acidente, compreende-se o acidente em si
ambiente", dispondo que poluidor é, na forma do artigo 3°, inciso IV ou a pré-disposição dos trabalhadores para sofrer danos mediante a
da Lei n° 6.938 de 1981 :90 "[ •.• ] a pessoa física ou jurídica, de direito exposição simultânea a diversos fatores nocivos. 94
Ainda há fatores que afetam, além do trabalho físico, a organização
86
MELO, Raimundo Simão de. Direito Ambiental do Trabalho e a Saúde do Trabalhador. e as condições de trabalho, sendo causadores de estresse, como
responsabilidades legais, dano material, dano moral, dano estético, indenização pela perda de
uma chance, prescrição. São Paulo: LTr, 2008. p. 58. por exemplo, monotonia, ritmos excessivos, ocupação do tempo,
87
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção Jurídica à Saúde do Trabalhador. 2. ed., São Paulo:
LTr, 1998. p. 140. 91
88
OUVE IRA, Sebastião Geraldo de. Proteção Jurídica à Saúde do Trabalhador. 2. ed., São Paulo: ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo:
LTr, 1998. p.140. LTr, 2001. p. 143.
92
89
BRASIL. Lei n° 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Politica Nacional do Meio ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo:
Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível LTr, 2001. p. 144.
93
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivii_03/Ieis/L6938.htm/>. Acesso em: 11 abr. 2014. ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo:
90 LTr, 2001. p. 56.
BRASIL. Lei n° 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio 94
Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo:
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivii_03/Ieis/L6938.htm/>. Acesso em: 11 abr. 2014. LTr, 2001. p. 142.

50 INQUIETAÇÕES SOBRE O DANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO INQUIETAÇÕES SOBRE O DANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO 51
repetitividade, ansiedade e posições incômodas, que são motivadoras De acordo com Liliana Allodi Rossie9 :
das doenças inespecíficas e acidentes. 95
O artígo 20, inciso I, da Lei n° 8.213/91 96 , que dispõe sobre os Os limites de tolerância são fixados tomando-se como base diversas
variáveis, como o conhecimento científico, a utilização de equipamentos
Planos de Benefícios da Previdência Social, indica a doença profissional de alta precisão, o investimento em pesquisas e, até, interesses
como aquela "[ ... ] produzida ou desencadeada pelo exercício do econômicos. Desse modo, não se pode afirmar com absoluta certeza
trabalho peculiar à determinada atividade e constante da respectiva que a exposição, ainda que dentro dos limites previstos, 'não causará
dano à saúde do trabalhador'.
relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência
Social", que é considerada acidente do trabalho e que costuma ser
Nessa linha, o artigo 15, item 2, da Convenção 162 da OIT 100
denominada tecnopatia.
assim dispõe: "Os limites de exposição ou outros critérios de exposição
Segundo o inciso 11 do artigo 20 da Lei n° 8.213/91 97 , a doença deverão ser fixados, revistos e atualizados periodicamente, à luz do
do trabalho é: "[ ... ] aquela adquirida ou desencadeada em função desenvolvimento tecnológico e do aumento do conhecimento técnico e
de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se científico".
relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso 1".
Nas palavras de Liliana Allodi Rossit 101 ,
É compreensível o fato de que os fatores nocivos, relatados
acima, provocarão acidentes ou doenças, se estiverem presentes Infelizmente, um ambiente totalmente isento de riscos é um desejo
em uma determinada quantidade e sob determinadas condições de utópico. [... ] Esta afirmação, porém, não invalida a busca, numa atitude
organização do trabalho. No entanto, essa afirmação desencadeia a sensata, da eliminação dos riscos na origem, com o empenho de
descobrir soluções sempre que for introduzida nova tecnologia ou
problemática da fixação dos limites de tolerância, que sabidamente,
aplicando-se os processos científicos na busca da eliminação dos riscos
ocupa uma linha bastante tênue, sendo difícil avaliar em que momento já conhecidos.
( acaba a saúde e começa a doença.
"''' Segundo a Norma Regulamentadora 1598 , entende-se por limite Desta feita, configura-se a relevância da atenção com os ambientes
~~~~ : de tolerância: "[ ... ], a concentração ou intensidade máxima ou mínima, de trabalho e justifica-se a preocupação com a eliminação dos riscos
~I" I

·11''. relacionada com a natureza e o tempo de exposição ao agente, que à saúde do trabalhador, preocupação que também está conflagrada
'" não causará dano à saúde do trabalhador, durante a sua vida laboral". na Carta Magna de 1988, a partir da qual se passa a entender que o
trabalhador é um sujeito de direito e não um mero elemento da relação
95
ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: laboral.
LTr, 2001. p. 142.
96
"Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes 1.4 Leitura Constitucionalizada e Repersonalizada do Direito
entidades mórbidas: I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo
exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada
do Trabalho e a Consideração do Trabalhador como Sujeito de
pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social". BRASIL. Lei n° 8.213, de 24 de julho de Direito
1991. Dispõe sobre os planos de benefícios da Previdência Social e dá outras providências.
Disponível em: <http://www.ipsm.mg.gov.br/arquivosllegislacoesllegislacao/leis/lei_8213.pdf>. Acesso O pós-modernismo trouxe novas tecnologias e novas tendências, e
em: 14 mar. 2014. estas, muito embora tenham proporcionado benefícios para a sociedade,
97
"Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes
entidades mórbidas: li -doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em
99
função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo:
constante da relação mencionada no inciso I. BRASIL. Lei n° 8.213, de 24 de julho de 1991. LTr. 2001. p.145.
100
Dispõe sobre os planos de benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Disponível "2. Os limites de exposição ou outros critérios de exposição deverão ser determinados e
em: <http://www.ipsm.mg.gov .br/arquivos/legislacoes/legislacao/leis/lei_8213.pdf>. Acesso em: atualizados periodicamente à luz dos progressos tecnológicos e da evolução dos conhecimentos
14 mar. 2014. técnicos e científicos". ORGANIZAÇAO INTERNACIONAL DO TRABALHO (OIT). Convenção 162
98
Norma regulamentadora 15 - Atividade e Operações Insalubres. Portaria SIT n° 291, de 08 de da OIT. Genebra, 1986. Disponível em: <HTIP:IIwww.portal.mte.gOv.br/legislacao/convencao-n-
dezembro de 2011. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma regulamentadora 15. 162.htm>. Acesso em: 15 mar. 2014.
101
Disponível em: <http://www.portal.mte.gov .brllegislacao/norma-regulamentadora-n-15-1.htm>. Acesso ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo:
em: 15 mar. 2014. LTr, 2001. p.148.

52 INQUIETAÇiiES SOBRE O DANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO INOUIETAÇOES SOBRE O DANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO 53
também originaram variados conflitos. O desenvolvimento imoderado interpretação das regras constitucionais, previstas no Título VIII da Carta
da economia ocasionou a necessidade de se estabelecer uma nova de 1988, não pode ser feita, dissociada do trabalho, mais genericamente,
ordem social e econômica. Da necessidade extrema de assegurar a da atividade econômica, para que seus objetivos sejam alcançados,
evolução das leis que proporcionem garantias mínimas aos direitos do conferindo existência digna a todos. 104
cidadão, foi promulgada a Constituição Federal de 1988. Na mesma direção de estudo, também o constituinte quis deixar
A Constituição Federal de 1988 alterou o contexto das relações claro a importância do trabalho para a ordem social quando assegurou,
jus laborais de forma significativa, pois foi a partir da Carta Magna que no artigo 193 da Constituição Federal, que a ordem social tem como
se iniciou a busca para recolocar-se o ser humano no centro dos base o primado do trabalho e, como objetivo, o bem-estar e a justiça
valores e da experiência ético-jurídica. social. 105
Apenas para exemplificar, no passado, mais precisamente entre Da mesma forma, o art. 170 da Carta Magna indica que a ordem
1911 e 1919, os serviços médicos oferecidos aos trabalhadores eram econômica brasileira assenta-se na valorização social do trabalho e na
considerados arranjos necessários à manutenção do processo de livre iniciativa e tem por fim a realização da justiça social. 106
trabalho, análogo à lubrificação da maquinaria ou à substituição das Em observância aos preceitos constitucionais citados acima,
peças. 102 Emmanuel Teófilo Furtado e Pedro Miron Dias Neto107 inferem:
Contudo, hodiernamente, o elemento pessoal é fundamental para
[... ] o modo de produção capitalista necessita conjugar os dividendos da
a constituição e a existência do Estado e goza de uma prerrogativa economia de mercado às questões sociais e humanitárias, na busca do
básica, que é o direito à dignidade, entendendo-se por dignidade um meio ambiente de trabalho equilibrado e do respeito irrestrito à dignidade
valor intrínseco ao ser humano, que não deve ser substituído por algo da pessoa do trabalhador.
equivalente.
Ademais, após a Constituição Federal de 1988, também se consagra
De acordo com Sidnei Machado 103, com a Constituição Federal de
1988, trava-se o diálogo entre a norma e os direitos fundamentais, a importância da preservação do meio ambiente do trabalho como forma
de garantir uma vida digna para todo trabalhador e para todo cidadão.
como abaixo se faz anotar:
A interpretação constitucional contemporânea se desprenderia de
Pretende-se dialogar aqui com essa nova metódica constitucional, seus vínculos com os fundamentos e princípios do estado democrático
especialmente a teoria da norma e dos direitos fundamentais, que
provocaram uma guinada na hermenêutica constitucional neste século, 104
ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo:
introduzindo uma perspectiva emancipatória na teoria constitucional. LTr, 2001. p. 58.
A nova construção teórica rompe com a tradicional hermenêutica 105
Art. 193 CF. "A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem~estar
constitucional que confere aos dispositivos da Constituição, que tratam e a justiça sociais". BRASIL. Constituição (1988). Constituiçáo da República Federativa do Brasil.
do trabalho como direito social, mera norma de conteúdo programático Disponível em: <http:!/www.planalto.gov.br/ccivii_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso
sem eficácia plena. Por isso, a concreção do direito dos trabalhadores, em: 18 out. 2013.
1011
visando satisfazer o principio da dignidade da pessoa humana, encontra Art. 170. "A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa,
hoje grande apoio no aporte teórico centrado na mais atualizada teoria tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados
os seguintes princípios: I ~ soberania nacional; 11 - propriedade privada; 111 - função social da
constitucional. propriedade; IV - livre concorrência; V ~ defesa do consumidor; VI - defesa do meio ambiente,
inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços
A dignificação da pessoa humana se dá por meio do trabalho, e de seus processos de elaboração e prestação; (Redação dada pela Emenda Constitucional
n° 42, de 19.12.2003); VIl - redução das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno
que é o elemento essencial de toda ordem social e, dessa forma, a emprego; IX -tratamento favorecido para as empresas brasileiras de capital nacional de pequeno
porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. (Redação
dada pela Emenda Constitucional n° 6, de 1995). BRASIL. Constituição (1988). Constituição da
102 República Federativa do Brasil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivii_03/constituicao/
ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambienta! Brasileiro. São Paulo:
constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 18 out. 2013.
LTr. 2001. p.114. 107
103 FURTADO, Teófilo Emmanuel; DIAS NETO, Pedro Miron de V. A Constitucionalização do Direito
MACHADO, Sidnei. O Direito à Proteção ao Meio Ambiente de Trabalho no Brasil: os desafios
Ambiental do Trabalho. Revista LTr- Legislação do Trabalho, São Paulo, ano 77, n° 1, p. 25, jan. 2013.
para a construção de uma racionalidade normativa. São Paulo: LTr, 2001. p. 76.

54 INQUIETAÇÕES SOBRE O DANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO INQUIETAÇÕES SOBRE O DANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO 55
de direito, se os abandonasse ao campo das chamadas normas A Declaração Universal dos Direitos do Homem 112 é tida como o
programáticas, negando-lhes concretude integrativa sem a qual, utópica, marco histórico mundial para o direito dos trabalhadores. Em suas
a dignidade da pessoa humana não passaria de mera abstração. 108 páginas, estão expressos os valores que passam a ser essenciais
Nas palavras de Emmanuel Teófilo Furtado e Pedro Miron Dias para o desenvolvimento das sociedades e da condição humana,
Neto 109 , ''[ ... ) o direito fundamental ao meio ambiente do trabalho, destacando-se, entre outros, o direito à existência digna (princípio da
explicitado no art. 225 c/c o art. 200, inciso VIII, da CF/88, concretiza-se dignidade da pessoa humana) e ao livre desenvolvimento da sua
sob o apanágio da dignidade da pessoa humana, tendo como espécie personalidade, o direito ao repouso, ao lazer e à saúde.
do gênero humano a pessoa do trabalhador''. Na Constituição Federal de 1988113 , a dignidade da pessoa humana
A Carta Magna nasceu repleta de novos direitos, passando a está insculpida já em seu primeiro capítulo, por certo, no esforço de
tratar os direitos trabalhistas como fundamentais. Em seus artigos, fazer com que as demais disposições sejam interpretadas à luz deste
está elencada a evidente necessidade de proteção do trabalhador, que princípio:
utiliza e dedica seu tempo de vida para garantir sua subsistência e de
Art. 1'- A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel
sua família. dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
A Constituição de 1988 inovou, ao estabelecer um catálogo de Democrático de Direito e tem como fundamentos:
direitos sociais, considerado um rol mínimo de direitos que garante a I - a soberania;
dignidade humana. Instituiu como direitos sociais a educação, a saúde, 11 - a cidadania;
o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a 111 -a dignidade da pessoa humana;
proteção à maternidade e a infância e a assistência aos desamparados. IV- os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa.
Como anota o jurista Pinto Ferreira 110 , "Os direitos sociais são
normas constitucionais que se efetivam como dimensões específicas lngo Wolfgang Sarlet114 , na tentativa de estabelecer um conceito
dos direitos fundamentais do homem, refletindo prestações positivas para o princípio da dignidade da pessoa humana, explica que ela é:
do Estado e permitindo condições de vida mais humana".
Uma qualidade tida como inerente, ou, como preferem outros, atribuída
Na mesma linha, Liliana Allodi Rossit 111 acrescenta: ''[...) o direito a todo e qualquer ser humano, de tal sorte que a dignidade como
ao lazer foi concebido como um direito social, necessário à saúde e ao constituindo o valor próprio que identifica o ser humano como tal,
bem-estar das pessoas, tanto físico quanto mental, além de propiciar definição esta que, todavia, acaba por não contribuir muito para uma
melhores condições para o trabalho". compreensão satisfatória do que efetivamente é o âmbito de proteção da
dignidade, na sua condição jurídico-normativa.
Está elencado ainda, no art. 7° da Constituição Federal, um rol
não exaustivo de direitos aos trabalhadores, entre os quais a redução O princípio da dignidade humana relaciona-se com vários outros
dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, direitos assegurados ao homem, tais como o direito à propriedade,
higiene e segurança, com o objetivo de garantir sua saúde e melhorar à vida, além de ser a base para os direitos trabalhistas, com o
a condição social. reconhecimento jurídico-constitucional da liberdade de greve e de
associação e organização sindical, jornada de trabalho razoável, direito

108
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 24. ed., São Paulo: Malheiros, 2009.
112
p. 657. NAÇOES UNIDAS. Assembleia Geral. Declaração Universal dos Direitos do Homem. Nova
109
FURTADO, Teófilo Emmanuel; DIAS NETO, Pedro Miron de V. A Constitucionalização do Iorque, 1948. Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/sedhlctllegis_intem/ddh_bib_inter_universal. htm>.
Direito Ambiental do Trabalho. Revista LTr- Legislação do Trabalho, São Paulo, ano 77, n° 1, Acesso em: 18 out. 2013.
r·°
1
25, jan. 2013.
FERREIRA, Pinto. Comentários à Constituição Brasileira. V. 1, São Paulo: Saraiva, 1989. p. 223.
113
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 18 out. 2013.
111 114
ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: SARLET, lngo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição
LTr, 2001. p. 52. Federal de 1988. 7. ed., Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009. p. 50.

56 INQUIETAÇÕES SOBRE O DANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO INQUIETAÇÕES SOBRE O DANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO 57
ao repouso, bem como as proibições de discriminação nas relações constituições, na legislação, em acordos coletivos e na vida do direito
trabalhistas. 115 em todo o mundo: o direito ao trabalho". 120
É do princípio da dignidade da pessoa humana, núcleo dos Por seu turno, Liliana Allodi Rossit 121 assevera: "[ ... ] como direito
direitos fundamentais em geral, que decorre o direito ao livre da pessoa humana, a melhoria da condição social dos trabalhadores
desenvolvimento da personalidade do trabalhador, do que constitui está ligada à existência de condições dignas de trabalho".
projeção o desenvolvimento profissional mencionado no art. 5°, XIII, da
Para Celso Antonio Pacheco Fiorillo 122 , os bens essenciais à sadia
Constituição 116 , situação que exige condições dignas de trabalho e
qualidade de vida são: "Os bens fundamentais à garantia da dignidade
observância dos direitos fundamentais assegurados aos trabalhadores
da pessoa humana".
em particular. Ainda, se deve destacar que o Direito do Trabalho, bem
como o direito ao trabalho em condições dignas, constitui um dos É importante ressaltar que os direitos sociais, na Constituição
principais direitos fundamentais da pessoa humana. 117 Federal, estão inseridos no Título 11, que se refere aos Direitos e
Garantias Fundamentais, não devendo deixar dúvidas de que tais
Os fundamentos que estruturam o Estado Democrático de Direito direitos e garantias constituem a base da sociedade e, portanto, são
estão expostos nos incisos I a V do art. 1° da Carta Política de 1988118 ,
essenciais.
e dentre tais fundamentos, a dignidade da pessoa humana deve ser
examinada em conjunto com um dos fins do Estado brasileiro, isto é, a Nessa esteira de entendimentos, a valorização do trabalho do
promoção do bem de todos. homem e o reconhecimento do seu valor social implica em atribuir
tratamento especial ao trabalho e, sobretudo, aos trabalhadores.
A partir disso, enfatiza-se o que Liliana Allodi Rossi! defende: "Não
Isso se fundamenta na necessidade da consideração de que o dano
há dúvida de que a dignidade é um conceito imaterial, inerente ao ser
originado, embora na esfera das relações de trabalho, repercutirá na
humano, que pode ser traduzido como toda condição que permita o
existência do trabalhador.
mínimo para que o homem possa se desenvolver". 119
Por seu turno, na Constituição Federal, a dignidade da pessoa
humana vem prevista como um dos fundamentos da República e
é preservada quando são garantidos patamares mínimos para o
desenvolvimento do homem, trazidos pelos direitos sociais previstos
no artigo 6° da Constituição Federal.
De acordo com André Franco Montoro: "Estão aí as raízes de um
novo direito da pessoa humana que começa a ser definido nas

115
SARLET, lngo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição
Federal de 1988.7. ed., Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009. p. 50.
118
BRASIL Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em:
<httpllwww.planalto.gov.br/ccivii_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 18 out. 2013.
117
SARLET, lngo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição
Federal de 1988. 7. ed., Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009. p. 50.
118
"Art. 1° CF. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados
e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos: I- a soberania; ll- a cidadania; li I- a dignidade da pessoa humana; IV- os valores 120
MONTORO, André Franco. Introdução à Ciência do Direito. 25. ed., São Paulo: Revista dos
sociais do trabalho e da livre iniciativa; V- o pluralismo político". BRASIL. Constituição (1988). Tribunais, 1999. p. 13.
Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivii_03/ 121
ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo:
constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 18 out. 2013. LTr, 2001. p. 75.
19
' ROSSIT, Liliana Allodi. O Meio Ambiente de Trabalho no Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: 122
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. O Direito de Antena em Face do Direito Ambiental no Brasil.
LTr, 2001. p. 54. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 118.

58 INQUIETAÇÕES SOBRE O DANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO INQUIETAÇÕES SOBRE O DANO EXISTENCIAL NO DIREITO DO TRABALHO 59

Você também pode gostar