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SUMÁRIO
Definição e Classificação.............................................................................................. 14
SÍNDROME DE BURNOUT....................................................................................... 17
Características da Síndrome.......................................................................................... 18
Referências ................................................................................................................... 34
Os sentidos do trabalho
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para a saúde. (DEJOURS, 1994, p. 137).
A dinâmica entre o prazer e o sofrimento no trabalho tem origem nas situações
vivenciadas entre os indivíduos e as organizações.
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o pensamento, o entendimento, a concepção e a imaginação.
Conforme assegura Navarro González (apud MINARDI, 2010, p. 2): “o que é a
saúde mental senão a saúde da mente, a saúde psíquica, a saúde da alma?”. Para o
jurista espanhol, a proteção à saúde se refere, assim, não só à saúde física, que é a saúde
do corpo, mas também à saúde mental, à saúde psíquica, à saúde anímica, à saúde da
alma.
Registre-se que a Convenção 155 da OIT, em seu art. 3º, estabelece: a expressão
“local de trabalho” abrange todos os lugares onde os trabalhadores devem permanecer
ou aonde têm que comparecer e que estejam sob o controle, direto ou indireto, do
empregador; e o termo “saúde”, com relação ao trabalho, abrange não só a ausência de
afecção ou de doenças, mas também os elementos físicos e mentais que afetam a saúde
e que estão diretamente relacionados com a segurança e com a higiene no trabalho.
Oliveira, S. G. (2011, p. 531), ao discorrer sobre a Convenção 155 da OIT,
assinala que o conceito de saúde, adotado oficialmente pela OMS, “abre vasto campo de
progresso, pois visualiza o ser humano numa dimensão abrangente (biopsicossocial)”.
Em razão disso, “a tutela jurídica do hodierno meio ambiente do trabalho vai
desde a qualidade do ambiente físico interno e externo do local de trabalho até as
manutenções da boa saúde física e mental do trabalhador”. (MINARDI, 2010, p. 39).
O direito fundamental à saúde mental está, assim, diretamente relacionado à
qualidade de vida dos trabalhadores no ambiente de trabalho e visa a promover a
incolumidade psicológica e física destes durante o desenvolvimento da sua atividade
profissional, de modo que o trabalho possa ser desenvolvido de forma saudável e
equilibrado, já que “sem saúde não há vida digna e sem meio ambiente equilibrado não
há saúde”. (SILVA, J. A. R. O., 2008, p. 8).
Neste aspecto, não há falar em dignidade da pessoa humana sem que haja
trabalho e que este apresente (sic) em condições dignas ao cidadão, sob pena de jamais
se alcançarem a paz e a justiça sociais (art. 193 da Constituição Federal de 1988), além
da redução das desigualdades sociais e da busca do pleno emprego (art. 170, VII e VIII,
da Constituição Federal de 1988). (MINARDI, 2010, p. 13).
Em todo este contexto insofismável de defesa ao direito fundamental à saúde,
em especial, à saúde mental, o trabalhador encontra guarida para a tutela de sua vida e
dos direitos da personalidade, nestes incluído o direito à integridade psicofísica.
Para melhor qualidade de vida, o trabalhador, assim, necessita conviver em um
meio ambiente de trabalho saudável e equilibrado, a fim de que o exercício do trabalho
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não prejudique a sua saúde mental e, por consequência, à sua integridade física. Os
danos de ordem psíquica e física são distintos entre si e podem atuar tanto de forma
isolada como cumulativamente.
A esse respeito, destaca Simm (2008, p. 135) que devem ser protegidos tanto o
físico, quanto o anímico, tendo em vista que, quando se fala em proteção à saúde, quer-
se referir tanto à saúde física quanto à mental, assegurando-se ao indivíduo a sua
integridade física ou mental. Além disso, há agressões que são dirigidas contra a mente
da pessoa e outras que atingem diretamente seu corpo físico, mas atacando-se a parte
estar-se-á igualmente atacando o todo, uma vez que os danos físicos sofridos acarretam
transtornos mentais e que os danos mentais acabam produzindo também lesões físicas.
Neste aspecto, há de ser respeitada e tutelada a integridade psicofísica do indivíduo.
Por conseguinte, há uma profunda relação entre o ambiente de trabalho e a
saúde mental, tendo-se em vista que, pelo fenômeno da somatização, muitas
perturbações de ordem psíquica acabam se refletindo ou se transferindo para a saúde
física do indivíduo. A medicina psicossomática tem demonstrado a influência dos
transtornos emocionais sobre o corpo, sendo frequentes os casos de pacientes que
reclamam de algum mal físico para o qual, todavia, não há uma causa orgânica. (SIMM,
2008, p. 54).
Sob tal aspecto, “para a preservação da saúde (tanto psíquica quanto física) do
empregado, é preciso que as condições e o ambiente de trabalho sejam
psicologicamente sadios. ” (SIMM, 2008, p. 54).
O acosso psíquico não só arruína a vida mental ou psíquica do ser humano como
destrói a sua própria existência física, seja em decorrência das enfermidades corporais
que causa, seja pela indução à atitude desesperada do suicídio. Portanto, com a
repressão ao acosso psíquico visa-se, primeiramente, a preservar a vida do trabalhador.
(SIMM, 2008, p. 135).
Resta claro, assim, que “a eliminação de qualquer modalidade de acosso
psíquico significa, da mesma forma, assegurar ao trabalhador uma existência digna além
de física e mentalmente saudável, cumprindo-se a proteção que a ordem jurídica dedica
à dignidade da pessoa e à sua saúde.” (SIMM, 2008, p. 136).
O local de trabalho é o lugar onde o trabalhador passa a maior parte do seu
tempo. Por este aspecto, dependendo da política administrativa e gestacional adotada
pelo empregador, a sua conduta abusiva e ilícita poderá afetar a integridade psíquica do
trabalhador. No local de trabalho, então, determinado pelo empregador, o empregado
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pode ser vítima de violências psíquicas enquanto desenvolve a sua atividade laboral,
sendo que esta pode ocasionar prejuízo à saúde mental do empregado de modo a tornar
o trabalho “adoecedor”, contribuindo para a formação de transtornos mentais
relacionados ao trabalho, tais como o estresse e a Síndrome de Burnout.
De acordo com Simm (2008, p. 58), a realidade do Brasil demonstra que há
muitas ocasiões em que o ambiente de trabalho, ao contrário de promover a dignificação
da pessoa pelo exercício de uma atividade e de ser um local de bem-estar e de
crescimento, transforma-se em espaço favorável à aquisição de enfermidades de toda
ordem, inclusive, e especialmente, as que afetam a saúde mental do indivíduo. Desse
modo, a subordinação do empregado ao empregador não pode levar à situação na qual
os poderes que este exerce sobre aquele culminem por afetar a higidez física e psíquica
do trabalhador.
Nesta linha de raciocínio, assinala Silva, E. S. (2011, p. 35) que o trabalho
“tanto poderá fortalecer a saúde mental quanto vulnerabilizála e mesmo gerar distúrbios
que se expressarão coletivamente e no plano individual”.
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mercúrio ou a outros metais pesados; ao estireno, ao tolueno e a outros solventes; e ao
metanol ou a outros produtos, cujas ações neurotóxicas são, há muito tempo,
conhecidas.
A autora ainda adverte que os ruídos no ambiente de trabalho e o calor podem
ser responsáveis pelo desencadeamento de surtos psicóticos, quando é constatado o
aumento das jornadas de trabalho do empregado. (SILVA, E. S., 2011, p. 289).
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trabalhador euforia, ansiedade, irritação, angústia e, nos casos mais graves, problemas
de saúde, como a Síndrome de Burnout, que é responsável pela incapacidade ao
trabalho. (MINARDI, 2010, p. 76).
Como bem assinala Minardi (2010, p. 196), o empregado de hoje trabalha muito
e descansa pouco. Sendo que o descanso a que o autor se refere não é o mero descanso
para dormir e relaxar, mas, sim, o tempo livre para viajar, ler, brincar, assistir a filmes e
a peças de teatro, praticar esportes, etc.
O tempo livre passa a ser entendido como tempo não produtivo, não capital; e,
neste sentido, outros aspectos da vida humana como os encontros sociais, os cuidados
com a família e os momentos de lazer tão importantes para a saúde mental deixam de
ser vividos, o que gera ainda mais a ocorrência de sofrimento.
No mesmo sentido é também o magistério de Leiter e Maslach (2012, p. 56):
Isso decorre da competitividade da atividade econômica que levou o empresário a
buscar resultados mais eficientes nos empreendimentos, mesmo que esse quadro reflita
negativamente na saúde mental dos trabalhadores, acarretando consequentemente
problemas de ansiedade, angústia, crises de choro, nervosismo, irritabilidade, depressão,
medo, frustração, autoestima baixa, entre outras doenças psicossomáticas. Por isso, são
as pressões no ambiente de trabalho o fator capaz de desorganizar o equilíbrio
psicofisiológico e/ou mental do empregado.
A nova ordem mundial vem impondo profundas mudanças na organização dos
processos de trabalho, visando ao aumento da produtividade e à redução dos custos em
um contexto responsável por acarretar uma nova
dimensão à relação entre trabalho e as condições de
vida dos trabalhadores. Tais fatores têm implicado a
degradação do ambiente em que se desenvolvem as
atividades laborativas, ainda que paradoxalmente,
ressalte-se a mundial preocupação generalizada com a
preservação e com a recuperação do meio ambiente.
(GROTT, 2012, p. 181).
No mesmo viés, assinala Silva, E. S. (2011) que a precarização trabalhista
impõe intensificação do trabalho, polivalência, grande rotatividade interna, insuficiência
de pausas e intervalos interjornadas. De acordo com a autora, o estímulo à competição
excessiva tem levado à quebra dos laços de companheirismo e tem prejudicado a
cooperação e a comunicação entre escalões hierárquicos e entre companheiros. O que
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aumenta os riscos, muitas vezes em momentos críticos, nos quais cooperação e
comunicação são essenciais para impedir acidentes e catástrofes. Sendo assim,
Entre as invectivas de maximizar o desempenho e o temor ao desemprego tem
sido gerada a submissão a condições de trabalho que levam ao acúmulo da fadiga geral
e mental sob injunções de velocidade no “trabalho que não pode parar”. O medo do
desamparo preside aos esforços e sustenta a escalada da desestabilização psicológica
que pode facilitar o acidente de trabalho. (SILVA, E. S., 2011, p. 305).
As técnicas de gerenciamento atuais predominantes, dentro dos paradigmas
voltados à acumulação flexível e à maximização de lucros, ao estimularem a
exacerbação da competição entre os empregados, concorrem, simultaneamente, para
reforçar o individualismo e promover o aumento do cansaço. (SILVA, E. S., 2011, p.
468).
Em razão disso, onde reina a ideologia da excelência e uma cultura norteada por
seus paradigmas, estes se tornam determinantes de peso no direcionamento dos
processos que conduzem ao adoecimento mental e ao desequilíbrio psicossomático,
entre outras formas de patologias relacionadas ao trabalho contemporâneo. (SILVA, E.
S., 2011, p. 499).
Desse modo, o aumento da produtividade decorrente da exigência excessiva de
metas no cotidiano das relações de trabalho tem ocasionado mudanças comportamentais
nos trabalhadores, provocando a formação de novos transtornos mentais no ambiente de
trabalho. Tem-se, como consequência dessa política estratégica organizacional de lucros
no trabalho, uma série de modos de violência organizacional responsáveis pelo
adoecimento mental no trabalho. Dentre eles se destacam o estresse, a Síndrome de
Burnout e o assédio moral.
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O ESTRESSE NO TRABALHO
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Hoje este cenário está em grande parte modificado. O crescimento do chamado
terceiro setor (setor de serviços) não requer geralmente força física. O que este setor
requer são competências que poderiam ser enquadradas, a grosso modo, na categoria do
conhecimento. Não é à toa que vivemos na Era designada de Era do Conhecimento, em
contraposição ao momento histórico anterior que o que estava em jogo era a força
braçal, mecânica de um corpo dócil e facilmente substituído.
Se na contemporaneidade, nesta Era do Conhecimento, o que se requer é então o
conhecimento o homem não será mais um operário braçal que utiliza seu recurso
mecânico para cumprir suas tarefas. Agora o profissional deve apresentar todo um leque
de competências — conhecidas pela sigla CHA (Conhecimentos, Habilidades e
Atitudes, reparem bem que a primeira palavra a aparecer é “Conhecimento”) e que são
mapeadas por processos de Gestão de Pessoas — que o habilitam a competir a uma
vaga no mercado de trabalho.
Se no contexto da Revolução Industrial o corpo do operário adoecia, agora é o
psiquismo que o faz sofrer. Esta colocação, corpo de um lado e psiquismo de outro
evidentemente, é esquemática, nada tem de uma cisão cartesiana. Ela procura, com
efeito, acentuar esta diferença de exigências nos distintos momentos históricos. Se na
contemporaneidade este psiquismo é exigido em primeiro plano, é ele também que mais
sofrerá as consequências destas novas exigências.
Estas consequências aparecem em múltiplos sintomas, uma delas, aquela que
está na ordem do dia, recebe o nome de stress.
Um quadro nos auxiliará no estudo das patologias no campo da saúde mental
relacionadas direta ou indiretamente ao fator trabalho. Trata-se do texto “A classificação
das doenças relacionadas com o trabalho (Jardim, 2000) baseado na proposta de
Schilling, que as divide em três grupos.
“GRUPO I - enquadram as típicas “doenças profissionais”, onde o trabalho é
causa necessária e, portanto, o nexo é evidente, como nas neurointoxicações
ocupacionais, provocadas pelo mercúrio, chumbo, manganês e outros produtos.
GRUPO II - neste item encontram-se as patologias em que, o trabalho pode
ser um fator de risco, que contribui, mas não é necessário, sendo mais encontradas em
determinadas categorias profissionais. É o caso do alcoolismo crônico (F 10.2) e dos
transtornos do ciclo sono-vigília devido a fatores não orgânicos (F 51.2), onde o nexo
causal é de natureza epidemiológica.
GRUPO III – representadas pelas enfermidades em que o trabalho é um
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desencadeador de um distúrbio latente, melhor explicado pela concausalidade.
Encontramos, aqui, os seguintes transtornos mentais: os episódios depressivos (F 32); as
reações ao estresse grave e os transtornos de adaptação (F43), como é o caso do
transtorno de estresse pós-traumático (F43.1); a neurastenia (F 48.0); a neurose
ocupacional (F 48.8) e também a síndrome de esgotamento profissional ou burn-out. (z
73.0).” (CAMARGO & NEVES, 2004:27-28)
Para o presente capítulo nos interessará o grupo III, especificamente os itens a
respeito do estresse. A síndrome de burnout será examinada no próximo capítulo.
Definição e Classificação
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como Síndrome Geral de Adaptação não se refere exclusivamente ao impacto das
atividades laborativas à saúde mental do sujeito, bem como não é intrinsecamente
“positivo”/ “saudável”, ou “negativo”/“adoecedor”.
O segundo ponto que destacamos refere-se ao caráter biológico que Seyle dá a
esta síndrome. Este é outro ponto problemático, pois retira — ou parece pelo menos
minimizar — do stress o fator psíquico, restando, portanto, unicamente o fator
biológico. Nota-se, deste modo, que a definição que este autor pioneiro neste campo dá
ao stress é reducionista. Esta concepção unicamente biológica trazida por este autor vem
possivelmente atender aos cânones de uma concepção científica positivista, sendo deste
modo respaldada pela comunidade científica afinada com este paradigma.
A CID X — Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde, 10ª revisão (1992) — categoriza no grupo
diagnóstico F43 (Reação ao “stress” grave e transtornos de
adaptação) os seguintes itens:
- F43.0: Reação aguda ao stress
- F43.1: Estado de “stress” pós-traumático
- F43.2: Transtorno de adaptação
- F43.8: Outras reações ao “stress” grave
- F 43.9: Reação não especificada a um “stress”
grave
O DSM-IV(1994), por sua vez, classifica os transtornos relacionados ao estresse
em Transtorno agudo de estresse; Transtorno de estresse pós traumático e transtornos de
ajustamento.
Desencadeamento e curso
Na perspectiva biológica — reducionista, como salientamos acima — o stress é
desencadeado pela necessidade de adaptação ou ajustamento do indivíduo frente às
pressões do meio o qual está inserido. Vemos assim que o stress seria um estado reativo
a algo, portanto, não seria um estado primário. Nesta perspectiva o acento se dá ao meio
estressor, o qual o indivíduo precisaria reagir se defendendo por meio da adaptação a
ele. Nesta perspectiva o que fica em evidência é a necessidade do trabalhador de se
conformar ao meio, sob pena de possivelmente sofrer alguma retaliação. Nota-se aí que
o fator biológico do stress não é tão unicamente biológico como postulam certos
autores. Há aí nesta necessidade de reagir se conformando, se submetendo, toda uma
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constelação psicodinâmica inegavelmente envolvida.
Cabe reforçar aqui a ressalva que stress não é só desencadeado pelo fator
trabalho. O sujeito pode se estressar por múltiplos fatores, como, além deste fator
mencionado, por sua relação conjugal, familiar, social, cultural, entre outras. Um
mesmo sujeito é afetado inevitavelmente por todos estes fatores, que podem estar
atuando em conjunto e dificilmente isoladamente no desencadeamento e até mesmo no
agravamento do stress.
O curso do stress, segundo Seyle, seguiria três fases sucessivas: alarme diante de
um agente estressor, a resistência a ele e, por fim, a exaustão . O agente estressor pode
ser cada um destes fatores acima citados os quais farão exigências constantes ao sujeito
e os quais este sujeito deparar-se-à ao longo de sua vida, frente os quais terá que lidar e
dar um destino. Este destino, que pode ser aqui entendido como uma resposta diante de
outras delas possíveis, é que manifestar-se-à sob a forma de alarme, resistência e
exaustão.
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pode ser impulsionadora e deste modo motivadora, para outros, ao contrário, ela pode
ser estressante. Nota-se, portanto, que a pressão no trabalho não é determinante no
desencadeamento do estresse, se o fosse todos trabalhadores na contemporaneidade
estariam obrigatoriamente estressados, e não é isso o que se observa. É verdade que há
um alto índice de trabalhadores estressados, mas isso não permite — pelos motivos
apresentados acima — estabelecer uma relação determinística verdadeira.
Apresentamos abaixo uma citação que revela o resultado de algumas pesquisas
que comprovam esta relação não determinística pressão-estresse:
“(...) pesquisadores concordam que a natureza e a severidade do estresse
dependem das características da demanda, qualidade da resposta emocional e processo
de enfrentamento (coping) mobilizados pelo indivíduo. Entre as características pessoais
mediadoras entre trabalho e estresse estão a auto-estima e o lócus de controle.” (Codo,
Soratto e Menezes, 2004: 285)
Esta inexistência de relação determinística demonstra a necessidade fundamental
dos gestores de pessoas estarem atentos ao modo como seus funcionários estão lidando
com as pressões no trabalho, isto é, se saudavelmente ou não e os recurso psíquicos que
os mesmos dispõem para tal. Mais adiante, nas considerações finais do presente estudo,
pretendemos propor, numa perspectiva crítica, uma inversão deste raciocínio, isto é, não
seria o caso do gestor e, num plano maior, a própria empresa/organização, proporcionar
um ambiente (mais) saudável de modo a minimizar as pressões exercidas no trabalho?
Continuando o estudo sobre Saúde Mental e Trabalho investigaremos no
próximo capítulo uma modalidade particular de estresse designada de burnout.
SÍNDROME DE BURNOUT
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ocidentais como vimos no capítulo anterior provocam consequências. No campo do
trabalho e do desdobramento deste para a saúde mental notamos que o stress tem
figurado como um destes sinais das referidas mudanças e do ritmo delas.
Neste capítulo examinaremos uma modalidade particular de estresse que atinge,
sobretudo, profissionais do campo da saúde e da educação. Trata-se da síndrome
designada de “Síndrome de Burnout”, também conhecida como Síndrome do
esgotamento/estafa profissional.
Esta síndrome foi primeiramente descrita pelo psicólogo H.J. Freudenberger em
1974, nos Estados Unidos, sendo por ele designada de “burnout”, expressão da língua
inglesa que associa o verbo “ to burn”, queimar, com a preposição “out”, fora, podendo
ser traduzida para o português extinguirse, esvaziamento, exaustão . Este psicólogo
observou que os voluntários com os quais trabalhava apresentavam, por um período de
um ano, um processo gradual de desgaste do humor e/ou desmotivação, sendo
acompanhado de sintomas físicos e psíquicos que denotavam um particular estado de
estar exausto.
Posteriormente a psicóloga Christina Maslach empreende pesquisas empíricas
acerca da estafa profissional, publicando em 1986 o primeiro estudo sobre este tema.
Características da Síndrome
A partir dos estudos destes dois autores mencionados acima pôde-se verificar
que esta Síndrome constitui um quadro caracterizado por exaustão emocional,
despersonalização e redução da realização pessoal.
Sobre cada uma destas características Soares e Cunha (2007:505) escrevem:
“A exaustão emocional representa o esgotamento dos recursos emocionais do
indivíduo. É considerado o traço inicial da síndrome e decorre principalmente da
sobrecarga e do conflito pessoal nas relações interpessoais. A despersonalização é
caracterizada pela insensibilidade emocional do profissional, que passa a tratar clientes
e colegas como objetos. Trata-se de um aspecto fundamental para caracterizar a
síndrome de estafa (burnout), já que suas outras características podem ser encontradas
nos quadros depressivos em geral. Por fim, a redução da realização pessoal (ou
sentimento de incompetência) revela uma auto-avaliação negativa associada à
insatisfação e infelicidade com o trabalho (Tucunduva et al, 2006).” (grifos meus)
Guimarães & Cardoso (2004) apontam outra versão, mencionando Maslach que conclui
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não haver consenso sobre a evolução da síndrome, e que poderiam haver oito possíveis
combinações, de acordo com pesquisas de Golembieswski e Munzenrider, sendo a
primeira fase a da despersonalização, seguida da redução da realização pessoal e
culminando com o esgotamento emocional. Uma outra possibilidade é que as diferentes
dimensões se desenvolvam simultaneamente, mas de forma independente.
Seja seguindo uma sequência, ou
ainda havendo uma simultaneidade de
sintomas, destacamos o aspecto da
despersonalização pois é ele que marca
uma especificidade desta síndrome, ou
seja, as outras duas características —
exaustão emocional e redução da
realização pessoal — podem ser encontradas em outras patologias. Neste sentido sendo
esta uma síndrome que é localizada em profissionais que prestam cuidados, os
indivíduos que estão sob os cuidados destes agentes profissionais não desenvolvem
burnout. Assim, professor pode ter burnout não alunos, o mesmo acontecendo com
profissionais de saúde, estes poderão desenvolver burnout, não os pacientes.
É preciso que os sujeitos que percebam estar desenvolvendo alguns destes sinais
possam pedir ajuda, pois dado o seu ofício de agente de cuidados há, necessariamente,
outras pessoas envolvidas — as que recebem estes cuidados — e que, por sua vez,
também estão necessitadas de cuidados que esperam receber deste agente. Porém, se o
próprio agente de cuidados não está em condição de fazê-lo dado o prejuízo em sua
saúde mental, como ele poderá cuidar adequadamente do seu objeto de cuidado?
Outra questão se coloca, nem sempre o próprio agente de cuidado reconhece
estar passando pelos sinais e sintomas acima descritos. Neste caso é necessário que
alguém, um outro profissional, o faça ou ainda um setor, no caso de uma instituição, se
incuba de fazê-lo. Pois, caso contrário, aquele indivíduo que recebe os cuidados do
agente cuidador pode se transformar em “vítima” deste, não recebendo os cuidados
apropriados.
Alguns sinais podem ser observados com certa facilidade, são aqueles expressos
física e comportamentalmente pelo sujeito. Freudenberguer assim os divide:
“- os sintomas físicos: sensação de exaustão e fadiga, tremor, frequentes dores
de cabeça, distúrbios gastrintestinais, perda de sono e falta de ar;
- os sintomas comportamentais: hiperatividade, explosão emocional violenta,
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aumento do consumo de estimulantes como café, álcool e abuso de substâncias,
comportamento de evitação, dificuldade nas relações interpessoais (Tamayo, 1997).”
(Camargo & Neves, 2004:64-65).
Dado o caráter manifesto destes sinais — aqui há um pleonasmo que convém
explicar: “sinal” é um conceito que traz subjacente a ele justamente esta característica
de ser manifesto — é possível que se o sujeito não for capaz de percebê-los e procurar
ajuda, outro profissional ao ver tais sinais pode tentar ajudar a este indivíduo, mesmo
que este não lhe peça ajuda.
Níveis de gravidade
Uma pesquisa realizada por Casadei et al (2000, apud Campos et al, 2004) com
médicos em Buenos Aires detectou diferentes graus de gravidade de burnout nestes
profissionais. Para efetuar esta investigação foi utilizado o instrumento MBI (Inventário
de Burnout de Maslasch) estabelecendo assim quatro níveis de gravidade:
“ 1 – Leve: Apresentação de sintomas físicos vagos como: cefaleias, dores de
contraturas musculares etc. Pode observar-se influência na personalidade e diminuição
da eficiência na operacionalidade laboral;
2 – Moderado: Apresentação de alterações no sono, dificuldades para
concentrar-se, problemas relacionados a questões interpessoais, alteração no peso,
diminuição do apetite sexual, pessimismo. É comum ocorrência de automedicação.
3 – Grave: Nesse estágio a produtividade laboral diminui, marcadamente,
aumento do absenteísmo e da sensação de angústia acompanhada de baixo auto-estima.
É comum o abuso de álcool e/ou de psicofármacos.
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4 – Extremo: Frequentemente encontram-se quadros de isolamento,
sentimentos de perdas e tristeza. A sensação de fracasso acompanha a falta de sentido
do trabalho e da profissão. Nesse estágio existe certo risco de suicídio. ”
Legislação:
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Cabe aqui, porém, uma fundamental ressalva, estes caminhos não são
mutuamente excludentes, ou seja, ao seguir o rumo de um não estamos,
necessariamente, garantindo que não haja o atravessamento do outro. Saúde e doença
não são condições obrigatoriamente antagônicas. Pelo contrário, há toda uma dinâmica
entre estas condições, assim está bifurcação é apenas uma ilusão.
A psicanálise, desde a sua fundação por Sigmund Freud, traz esta concepção da
ausência de dicotomia entre saúde e patologia. Entre elas haveria uma diferença não de
natureza, mas de intensidade. Isto é, o que as distinguiria estaria no plano quantitativo e
não qualitativo. Nota-se assim que Freud introduz uma novidade no campo da saúde
mental, não há um abismo separando o normal – saudável, do patológico – doentio.
Estas condições não são mais separadas por um muro intransponível, onde haveria uma
permanência irreversível seja de um lado deste muro seja do outro.
Vê- se assim que Freud opera com uma noção de saúde mental que traz
subjacente a ela a ideia de movimento, da dinâmica entre as condições de normalidade e
patologia. Não há, portanto, garantias de que uma vez conquistada a saúde esta
permanecerá até o término da vida daquele sujeito. Pelo contrário, para que haja uma
condição mínima de saúde psíquica que permita ao sujeito possa manter sua vida, e
assim adiar a sua futura e inevitável morte, é preciso um esforço, o dispêndio de uma
energia psíquica, energia esta que Freud designará de libidinal.
Para que o trabalhador possa
se manter vivo, e capaz de utilizar sua
força de trabalho em prol de seu
sustento torna-se necessário
justamente o emprego desta energia
libidinal. É esta energia que precisa
também mobilizar para enfrentar o
sofrimento advindo das pressões do
trabalho, e não sucumbir a ele.
Cristophe Dejours, psicanalista francês, explora este campo participando
inicialmente da corrente de pesquisas composta em grande parte por autores franceses
da Psicopatologia do Trabalho e, posteriormente, funda a chamada Psicodinâmica do
Trabalho. A fundamentação teórica da primeira linha de pesquisa é heterogênea, já na
segunda a fundamentação teórica utilizada pelos autores é oriunda da Psicanálise.
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As primeiras pesquisas da Psicopatologia do Trabalho
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estas ideologias defensivas incidem contra um perigo e risco reais, e não contra uma
angústia intrapsíquica, logo intra-subjetiva; a quarta característica aponta a necessidade
de que todos os envolvidos em determinada atividade estabeleçam tais defesas, ou seja,
elas devem ser coletivas, aqueles que não a aderem são excluídos; a quinta característica
é a de que as ideologias defensivas devem ser coerentes; a sexta aponta o grau elevado
da relevância de sua existência, devendo ser vital, fundamental, necessário, portanto,
obrigatória. O autor ainda acrescenta neste item o fato destas ideologias defensivas
coletivas substituírem as defesas individuais.
A Exploração do Sofrimento
As estratégias defensivas, e diríamos sobretudo a estudada logo acima, é
explorada pelos gestores de modo a tirar delas um proveito. Este proveito diz respeito à
elevação da produção. Explicando melhor: os gestores tem conhecimento da existência
destas estratégias defensivas coletivas que vimos examinando e buscam se beneficiar
delas, pois tem como resultado uma submissão dócil ao trabalho, ou mais exatamente,
às condições e organizações (respectivamente, condições do ar, temperatura, ruídos etc
organogramas, fluxogramas etc).
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das telefonistas, em que a tensão nervosa das mesmas resulta em aumento da
produtividade. O acúmulo de tensões, frustrações e provocações diante do interlocutor
resulta em agressividade, que, porém, precisa ser contida, pois caso contrário corre o
risco de ser demitida. Esta pressão, embora precise ser contida, acaba escapando de
algum modo. Este modo muitas vezes pode assumir a forma de auto-agressão, já que ela
não pode agredir o cliente-interlocutor. Assim, para dar um certo escoamento a esta
agressividade a telefonista acaba por acelerar o tempo de comunicação com o
interlocutor, trabalhando assim mais depressa, de modo a aumentar, involuntariamente,
a produtividade, ao custo do sofrimento psíquico.
Analisando este exemplo das telefonistas Dejours (ibid:103) propõe uma
inversão na concepção tradicional da relação trabalho—sofrimento psíquico, vejamos:
“Mostra-se então, nesse trabalho de informações telefônicas, que o sofrimento
psíquico, longe de ser um epifenômeno, é o próprio instrumento para obtenção do
trabalho.
A frase acima destacada tem um forte impacto pois põe em cheque uma relação
clássica, de um certo determinismo, onde o trabalho provocaria necessariamente, em
alguma medida, o sofrimento psíquico. Acreditamos ser necessário uma certa cautela na
análise desta afirmação de Dejours. Parece nos que a intenção do autor com esta frase,
digamos, “de efeito”, é mais sublinhar o quanto a exploração do sofrimento do
trabalhador pelo gestor pode resultar no aumento da produtividade, do que negar
categoricamente que o trabalho cause sofrimento.
Seguindo o mesmo texto, um pouco mais adiante, o autor dá maior precisão a
esta frase analisada especificando que “O que é explorado pela organização do trabalho
não é o sofrimento, em si mesmo, mas principalmente os mecanismos de defesa
utilizados contra esse sofrimento.” (ibid:104. Grifo do autor). Vemos assim que os
mecanismos de defesa que permitem o funcionário manter sua produção, e que existem
para afastar certos riscos, eles próprios são explorados — sem que o funcionário tenha
esta percepção — resultando num aumento ainda maior da produtividade.
Diante do medo de um determinado risco o trabalhador precisa desenvolver um
mecanismo de defesa que o permita protegê-lo. A gestão da empresa tendo ciência do
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medo de seus funcionários diante deste risco e da necessidade dos mesmos de se
protegerem os mantém num estado de alerta permanente. Assim estes funcionários
ficarão atentos a quaisquer situações ameaçadoras que fujam à normalidade do
funcionamento de sua atividade e, assim, tomarão maiores precauções diante de
anomalias na produção. Disto resulta um benefício para a empresa, pois o funcionário
torna-se mais eficiente, logo sua produção (aqui englobando a atividade de serviços do
chamado “terceiro setor”) também.
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buscar mudanças significativas na organização do trabalho.
Propor mudanças na organização do trabalho resulta, no limite, em colocar o
“poder” em jogo. Pôr o poder em jogo pode resultar num conflito de forças, em que se
de um lado uns podem tê-lo fortalecido, outros podem tê-lo enfraquecido. Neste sentido
é a hierarquia da instituição que é diretamente afetada e com ela toda uma engrenagem
institucional.
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Assédio moral individual
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Assédio sexual
O assédio sexual pode ser definido como a conduta reiterada de caráter lascivo
que tenha como objetivo cercear, direta ou indiretamente, a liberdade sexual da pessoa
que está sendo constrangida. Tal cerceamento pode ocorrer tanto a partir de um superior
hierárquico quanto entre trabalhadores do mesmo nível hierárquico.
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Referências
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ent&view=article&id=57:burnout-gepeb&catid=55:geral&Itemid=37
(consultado em 16 de junho de 2009)
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