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Saúde mental e qualidade de vida no trabalho


Rúbia Zanotelli de Alvarenga
Flávia Moreira Marchiori

INTRODUÇÃO
Sonho, vida, honra, morte, felicidade...
O presente artigo objetiva expor uma Na música de Gonzaguinha, os múltiplos
análise das situações que provocam sofrimento sentidos do trabalho para o ser humano são
e adoecimento, afetando a saúde física e
apresentados. A noção de sofrimento está
mental dos trabalhadores e, por consequência,
presente na origem da palavra “trabalho”, que se
a sua produtividade relacionada ao trabalho.
À luz de estudos jurídicos e psicológicos, associa aos termos latinos tripalium e trabicula,
abordam-se aqui a saúde mental no trabalho cujos significados estão ligados à tortura, a
e as consequências do adoecimento psíquico algo penoso e, até mesmo, indesejado. Por
para os trabalhadores, listando-se algumas das outro lado, como pensar a vida sem o trabalho,
principais manifestações contemporâneas de atividade que constroi o homem e a sociedade
sofrimentos provocados por violência, estresse e que tem um papel fundamental para a saúde
e assédio nas relações de trabalho.
e para a qualidade de vida das pessoas. Esta
atividade que caracteriza a vida humana,
1. Os sentidos do trabalho
identificando o homem e fazendo o elo com a
vida social, é sempre uma mistura entre prazer
Um homem se humilha
Se castram seu sonho e sofrimento.
Seu sonho é sua vida
E vida é trabalho... O sofrimento do trabalho e suas consequências
E sem o seu trabalho para a saúde mental dos trabalhadores foi
O homem não tem honra narrado pelo clássico filme “Tempos Modernos”,
E sem a sua honra de Charlie Chaplin (1936). Na obra, a brilhante
Se morre, se mata...
interpretação e a sensibilidade do artista
Não dá prá ser feliz
traduziram uma crítica à modernidade e ao
Não dá prá ser feliz..
capitalismo, denunciando a violência produzida
(Gonzaguinha).

RÚBIA ZANOTELLI DE ALVARENGA


Mestre e Doutora em Direito do Trabalho pela PUC Minas. Professora de Direito e
Processo do Trabalho da Faculdade Casa do Estudante em Aracruz, ES. Professora
de Direito do Trabalho e Previdenciário de cursos de Pós-Graduação em Vitória,
ES. Membro Pesquisadora do Instituto Brasileiro de Direito Social Cesarino Júnior.
Advogada.

FLÁVIA MOREIRA MARCHIORI


Mestre em Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (CESTEH) pela Escola Nacional
de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz). Professora da Faculdade Casa do
Estudante em Aracruz, ES e da Faculdade Pitágoras - Campus Linhares, ES. Psicóloga.

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pelas transformações impostas pelo taylorismo psíquica e somática. O trabalho funciona


e pelo fordismo sobre a organização do trabalho então como um mediador para a saúde.
na linha de montagem. (DEJOURS, 1994, p. 137).

O estudo das relações entre o trabalho, A dinâmica entre o prazer e o


a saúde e a doença mental foi bastante sofrimento no trabalho tem origem nas
desenvolvido pelo psiquiatra e psicanalista situações vivenciadas entre os indivíduos e as
francês Christophe Dejours, fundador da organizações.
psicodinâmica do trabalho. Estudando os
impactos do trabalho para a saúde mental,
Dejours distinguiu dois tipos de sofrimento: o 2. Saúde mental no trabalho
sofrimento criador e o sofrimento patogênico.
O Direito do Trabalho, desde o seu
Para Dejours (1994, p. 137), o sofrimento nascedouro, tem a função de promover a
patogênico aparece, quando dignidade humana do trabalhador por meio de
instrumentos normativos de tutela à saúde do
[...] todas as margens de liberdade na trabalhador.
transformação, gestão e aperfeiçoamento
da organização do trabalho já foram Para Oliveira, S. G. (2011, p. 73): “o
utilizadas. Isto é, quando não há homem não busca apenas a saúde no sentido
nada além das pressões fixas, rígidas, estrito, anseia por qualidade de vida; como
incontornáveis, inaugurando a repetição profissional não deseja só condições higiênicas
e a frustração, o aborrecimento, o medo para desempenhar sua atividade, pretende
ou o sentimento de impotência. qualidade de vida no trabalho”.

Ressalte-se que a saúde mental dos Neste aspecto, assinala Silva, J. A.
trabalhadores está diretamente relacionada (1997, p. 54) que o objeto de tutela jurídica do
a um trabalho que propicie ações criativas direito ambiental “não é tanto o meio ambiente
transformadoras do sofrimento presente nas considerado nos seus elementos constitutivos.
ações laborativas que contribuam para uma O que o direito visa proteger (sic) é a qualidade
estruturação positiva da identidade do homem do meio ambiente em função da qualidade de
no trabalho. Neste sentido, Dejours aponta a vida [...]”.
outra noção de sofrimento, o criador, ligado
à superação da paralisia e da destruição das A proteção à saúde é um direito
relações de trabalho. É criador, fundamental do trabalhador e foi incorporada
à Constituição Federal de 1988 em diversos
[...] quando o sofrimento pode ser dispositivos constitucionais, a saber: a) art. 1°;
transformado em criatividade, ele b) art. 6°; c) art. 7°, XXII; d) art. 194; e) art. 196;
traz uma contribuição que beneficia a f) art. 200, II e VIII; g) art. 154; h) art. 225. É
identidade. Ele aumenta a resistência cediço ainda que esta mesma Constituição
do sujeito ao risco de desestabilização dedicou um capítulo exclusivo, dentro do Título

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VIII – Da ordem social, sobre o meio ambiente de saúde, adotado oficialmente pela OMS,
do trabalho. Aprofundando-se, a assertiva, “abre vasto campo de progresso, pois visualiza
Capítulo VI – Do Meio Ambiente, expressa, por o ser humano numa dimensão abrangente
meio do caput do art. 225, que todos têm direito (biopsicossocial)”.
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Trata, assim, a CR/88 do meio ambiente como Em razão disso, “a tutela jurídica do
um todo, e, por sua extensão, também abrange hodierno meio ambiente do trabalho vai desde
o meio ambiente laboral hígido e saudável. a qualidade do ambiente físico interno e externo
do local de trabalho até as manutenções da
De acordo com Minardi (2010, p. 2), a boa saúde física e mental do trabalhador”.
saúde mental é o bem-estar da saúde psíquica, (MINARDI, 2010, p. 39).
que corresponde à saúde da mente, assim
considerada a parte do cérebro ligada aos O direito fundamental à saúde
processos psicológicos superiores, chamados mental está, assim, diretamente relacionado
de cognição, como o intelecto, o pensamento, à qualidade de vida dos trabalhadores no
o entendimento, a concepção e a imaginação. ambiente de trabalho e visa a promover
a incolumidade psicológica e física destes
Conforme assegura Navarro González durante o desenvolvimento da sua atividade
(apud MINARDI, 2010, p. 2): “o que é a saúde profissional, de modo que o trabalho possa ser
mental senão a saúde da mente, a saúde desenvolvido de forma saudável e equilibrado,
psíquica, a saúde da alma?”. Para o jurista já que “sem saúde não há vida digna e sem meio
espanhol, a proteção à saúde se refere, assim, ambiente equilibrado não há saúde”. (SILVA, J.
não só à saúde física, que é a saúde do corpo, A. R. O., 2008, p. 8).
mas também à saúde mental, à saúde psíquica,
à saúde anímica, à saúde da alma. Neste aspecto,

Registre-se que a Convenção 155 da Não há falar em dignidade da pessoa


OIT, em seu art. 3º, estabelece: a expressão humana sem que haja trabalho e que
“local de trabalho” abrange todos os lugares este apresente (sic) em condições dignas
onde os trabalhadores devem permanecer ou ao cidadão, sob pena de jamais se
aonde têm que comparecer e que estejam sob alcançarem a paz e a justiça sociais (art.
193 da Constituição Federal de 1988),
o controle, direto ou indireto, do empregador;
além da redução das desigualdades
e o termo “saúde”, com relação ao trabalho,
sociais e da busca do pleno emprego (art.
abrange não só a ausência de afecção ou de
170, VII e VIII, da Constituição Federal de
doenças, mas também os elementos físicos
1988). (MINARDI, 2010, p. 13).
e mentais que afetam a saúde e que estão
diretamente relacionados com a segurança e
Em todo este contexto insofismável
com a higiene no trabalho.
de defesa ao direito fundamental à saúde,
em especial, à saúde mental, o trabalhador
Oliveira, S. G. (2011, p. 531), ao discorrer sobre
encontra guarida para a tutela de sua vida e
a Convenção 155 da OIT, assinala que o conceito
dos direitos da personalidade, nestes incluído o

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direito à integridade psicofísica. Sob tal aspecto, “para a preservação da saúde


(tanto psíquica quanto física) do empregado,
Para melhor qualidade de vida, o é preciso que as condições e o ambiente de
trabalhador, assim, necessita conviver em trabalho sejam psicologicamente sadios.”
um meio ambiente de trabalho saudável (SIMM, 2008, p. 54).
e equilibrado, a fim de que o exercício do
trabalho não prejudique a sua saúde mental e, O acosso psíquico não só arruína a vida
por consequência, à sua integridade física. Os mental ou psíquica do ser humano como
danos de ordem psíquica e física são distintos destroi a sua própria existência física,
seja em decorrência das enfermidades
entre si e podem atuar tanto de forma isolada
corporais que causa, seja pela indução à
como cumulativamente. atitude desesperada do suicídio. Portanto,
com a repressão ao acosso psíquico visa-
A esse respeito, destaca Simm (2008, p. se, primeiramente, a preservar a vida do
135) que devem ser protegidos tanto o físico, trabalhador. (SIMM, 2008, p. 135).
quanto o anímico, tendo em vista que, quando
se fala em proteção à saúde, quer-se referir tanto Resta claro, assim, que “a eliminação
à saúde física quanto à mental, assegurando-se de qualquer modalidade de acosso psíquico
ao indivíduo a sua integridade física ou mental. significa, da mesma forma, assegurar ao
Além disso, há agressões que são dirigidas trabalhador uma existência digna além de
contra a mente da pessoa e outras que atingem física e mentalmente saudável, cumprindo-
diretamente seu corpo físico, mas atacando-se se a proteção que a ordem jurídica dedica à
a parte estar-se-á igualmente atacando o todo, dignidade da pessoa e à sua saúde.” (SIMM,
uma vez que os danos físicos sofridos acarretam 2008, p. 136).
transtornos mentais e que os danos mentais
acabam produzindo também lesões físicas. O local de trabalho é o lugar onde
Neste aspecto, há de ser respeitada e tutelada o trabalhador passa a maior parte do seu
a integridade psicofísica do indivíduo. tempo. Por este aspecto, dependendo da
política administrativa e gestacional adotada
Por conseguinte, há uma profunda pelo empregador, a sua conduta abusiva e
relação entre o ambiente de trabalho e a saúde ilícita poderá afetar a integridade psíquica
mental, tendo-se em vista que, pelo fenômeno do trabalhador. No local de trabalho, então,
da somatização, muitas perturbações de determinado pelo empregador, o empregado
ordem psíquica acabam se refletindo ou se pode ser vítima de violências psíquicas enquanto
transferindo para a saúde física do indivíduo. desenvolve a sua atividade laboral, sendo que
A medicina psicossomática tem demonstrado a esta pode ocasionar prejuízo à saúde mental
influência dos transtornos emocionais sobre o do empregado de modo a tornar o trabalho
corpo, sendo frequentes os casos de pacientes “adoecedor”, contribuindo para a formação de
que reclamam de algum mal físico para o qual, transtornos mentais relacionados ao trabalho,
todavia, não há uma causa orgânica. (SIMM, tais como o estresse e a Síndrome de Burnout.
2008, p. 54).

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De acordo com Simm (2008, p. 58), a realidade de medicamentos e consultas médicas – com
do Brasil demonstra que há muitas ocasiões sensibilização para outros tipos de transtornos,
em que o ambiente de trabalho, ao contrário etc. (SILVA, E. S., 2011, p. 267).
de promover a dignificação da pessoa pelo
exercício de uma atividade e de ser um local de Percebe-se, ainda, que o surgimento
bem-estar e de crescimento, transforma-se em de transtornos mentais oriundos do ambiente
espaço favorável à aquisição de enfermidades de trabalho pode ser capaz de afetar o
de toda ordem, inclusive, e especialmente, relacionamento interpessoal dos trabalhadores,
as que afetam a saúde mental do indivíduo. conduzindo-os aos mais diversos tipos de
Desse modo, a subordinação do empregado conflitos, tais como: transtornos relacionados
ao empregador não pode levar à situação na ao estresse; transtorno de estresse pós-
qual os poderes que este exerce sobre aquele traumático; transtornos depressivos;
culminem por afetar a higidez física e psíquica transtornos não orgânicos de sono; transtornos
do trabalhador. mentais e de comportamento decorrentes do
uso de álcool; transtorno obsessivo-compulsivo
Nesta linha de raciocínio, assinala Silva, e alterações e transtornos de personalidade.
E. S. (2011, p. 35) que o trabalho “tanto poderá (SILVA, E. S., 2011, p. 269).
fortalecer a saúde mental quanto vulnerabilizá-
la e mesmo gerar distúrbios que se expressarão Sob este aspecto, assinala Silva,
coletivamente e no plano individual”. E. S. (2011, p. 47) que o estudo sobre os
desdobramentos psíquicos da fadiga, da servidão
e da humilhação são precursores notáveis
2.1 Consequências do adoecimento mental no das atuais constatações sobre esgotamento
trabalho profissional – burnout, depressões e suicídios
decorrentes de pressões organizacionais e de
Nesta oportunidade, podem ser assédio moral.
citados alguns exemplos de consequências do
adoecimento mental relacionado ao trabalho, De acordo ainda com a autora em
tais como: redução da produtividade com o comento, têm sido “vastas e variadas, no Brasil,
aumento da taxa de erros em procedimentos as situações de exploração da vida mental dos
e a quebra do ritmo de produção – e, trabalhadores e dos sentimentos e valores que
consequentemente, da rentabilidade; conflitos habitam suas mentalidades”. (SILVA, E. S. 2011,
interpessoais, entre pessoas da organização p. 198).
(empresa) ou com clientes, originando um
número incalculável de ações trabalhistas e Para Simm (2008, p. 185-194), o acosso
também de naturezas outras – como as ligadas psíquico no trabalho atinge, em um primeiro
aos direitos do consumidor; acidentes de momento, a mente do empregado, causando-
trabalho, com envolvimento do profissional, lhe danos de ordem moral e psíquica de variada
da empresa e de terceiros – muitas vezes com intensidade e sob diversas modalidades; já em
reflexos de longo prazo; aumento do custo de um segundo momento, as agressões morais se
vida por diversos motivos, como aquisição refletem no corpo do trabalhador, causando-lhe

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danos físicos. Além disso, podem provocar-lhe ordem psicoafetiva. Têm-se, como exemplos,
também danos materiais ou patrimoniais, seja as atividades em que os trabalhadores ficam
sob a forma de prejuízos financeiros, seja por expostos ao chumbo, ao mercúrio ou a outros
outras lesões como o lucro cessante e a perda metais pesados; ao estireno, ao tolueno e a
de oportunidades. E, finalmente, essas lesões outros solventes; e ao metanol ou a outros
ainda podem refletir nos relacionamentos produtos, cujas ações neurotóxicas são, há
sociais do trabalhador, afetando diretamente muito tempo, conhecidas.
sua convivência familiar e, não raras vezes,
produzindo danos reflexos nos membros da A autora ainda adverte que os ruídos
família, seja em razão das alterações de seu no ambiente de trabalho e o calor podem ser
comportamento, seja em função dos danos responsáveis pelo desencadeamento de surtos
físicos sofridos – em face da situação de psicóticos, quando é constatado o aumento das
desemprego – ou mesmo pelo efeito extremo jornadas de trabalho do empregado. (SILVA, E.
do suicídio. Assinala o autor que resulta clara, S., 2011, p. 289).
assim, a possibilidade de o acosso psíquico
causar, simultânea ou sucessivamente, as duas
modalidades de dano (o moral e o material), 3. Organização do trabalho e violência
propiciando a cumulação das duas indenizações, psíquica
desde que provenientes do mesmo ato ilícito.
Simm (2008, p. 138), ao citar João Oreste Os impactos da globalização nos modos
Dalazen, assevera que não se pode baralhar de produção e de organização das empresas, a
o dano moral propriamente dito, ou puro, do transformação tecnológica e a busca de maior
reflexo patrimonial do dano moral, hipótese produtividade com menor custo de mão-de-
em que o dano moral simultaneamente pode obra interferem na saúde dos trabalhadores,
acarretar também dano material (diminuição acarretando a estes o desgaste físico e mental,
do patrimônio do ofendido). Dessa maneira, além de interferir na qualidade do meio
a afronta aos direitos da personalidade nem ambiente de trabalho.
sempre terá conteúdo exclusivamente moral,
ou extrapatrimonial, podendo ou não o dano Como bem esclarece Silva, E. S. (2011, p.
moral, propriamente dito, cumular com o dano 76-304), a crise econômica surge sempre ligada
material. a uma crise social. Por isso, ambas determinam,
conjuntamente, profundas repercussões sobre
Silva, E. S. (2011, p. 140) também a saúde geral e mental do trabalhador. Assim,
destaca os distúrbios mentais vinculados aos sofrimento social, sofrimento físico e sofrimento
efeitos de vários produtos químicos. Para a mental são geralmente indissociáveis, embora
autora, agentes biológicos e físicos poderão frequentemente sejam estudados de maneira
afetar o sistema nervoso do empregado. reducionista. Alerta a autora que mediante as
A ação de produtos tóxicos pode exercer pressões da ideologia de excelência, o cansaço
ação destrutiva ou prejudicar os processos se torna um verdadeiro tabu, pois, muitas vezes,
bioquímicos do sistema nervoso, ocasionando, mencionar a fadiga pode ser perigoso para a
assim, déficits intelectuais ou transtornos de carreira e até para a manutenção do emprego.

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O silenciamento de quaisquer queixas de mal- saúde mental deixam de ser vividos, o que gera
estar é assim imposto, contribuindo para a ainda mais a ocorrência de sofrimento.
escalada do presenteísmo que tanto incomoda
os gestores. Presenteísmo significa que pessoas No mesmo sentido é também o
adoecidas estão trabalhando sem manifestar magistério de Leiter e Maslach (2012, p. 56):
queixas e, em geral, sem procurar tratamento,
ao mesmo tempo em que seus quadros Isso decorre da competitividade da
clínicos se agravam e se cronificam, enquanto, atividade econômica que levou o
inevitavelmente, o desgaste atinge também seu empresário a buscar resultados mais
desempenho. À medida que ficam prejudicadas eficientes nos empreendimentos, mesmo
funções como a atenção e o raciocínio, entre que esse quadro reflita negativamente
outros, o presenteísmo pode se constituir um na saúde mental dos trabalhadores,
importante fator de risco no que diz respeito a acarretando consequentemente
acidentes de trabalho. problemas de ansiedade, angústia, crises
de choro, nervosismo, irritabilidade,
A competitividade do atual sistema depressão, medo, frustração,
capitalista globalizado – renovado por uma nova autoestima baixa, entre outras doenças
ideologia que resgata o liberalismo econômico – psicossomáticas. Por isso, são as pressões
tem exigido dos trabalhadores um esforço para no ambiente de trabalho o fator capaz de
o aumento de produtividade aliado à cobrança desorganizar o equilíbrio psicofisiológico
de aperfeiçoamento e de resultados, mediante e/ou mental do empregado.
o poder empregatício do empregador. Tudo isso
acarreta ao trabalhador euforia, ansiedade,
irritação, angústia e, nos casos mais graves, A nova ordem mundial vem impondo
problemas de saúde, como a Síndrome de profundas mudanças na organização dos
Burnout, que é responsável pela incapacidade processos de trabalho, visando ao aumento da
ao trabalho. (MINARDI, 2010, p. 76). produtividade e à redução dos custos em um
contexto responsável por acarretar uma nova
Como bem assinala Minardi (2010, p. dimensão à relação entre trabalho e as condições
196), o empregado de hoje trabalha muito e de vida dos trabalhadores. Tais fatores têm
descansa pouco. Sendo que o descanso a que implicado a degradação do ambiente em que
o autor se refere não é o mero descanso para se desenvolvem as atividades laborativas, ainda
dormir e relaxar, mas, sim, o tempo livre para que paradoxalmente, ressalte-se a mundial
viajar, ler, brincar, assistir a filmes e a peças de preocupação generalizada com a preservação e
teatro, praticar esportes, etc. com a recuperação do meio ambiente. (GROTT,
2012, p. 181).
O tempo livre passa a ser entendido
como tempo não produtivo, não capital; e, neste No mesmo viés, assinala Silva, E. S.
sentido, outros aspectos da vida humana como (2011) que a precarização trabalhista impõe
os encontros sociais, os cuidados com a família intensificação do trabalho, polivalência, grande
e os momentos de lazer tão importantes para a rotatividade interna, insuficiência de pausas

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e intervalos interjornadas. De acordo com a Desse modo, o aumento da


autora, o estímulo à competição excessiva tem produtividade decorrente da exigência excessiva
levado à quebra dos laços de companheirismo de metas no cotidiano das relações de trabalho
e tem prejudicado a cooperação e a tem ocasionado mudanças comportamentais
comunicação entre escalões hierárquicos e nos trabalhadores, provocando a formação
entre companheiros. O que aumenta os riscos, de novos transtornos mentais no ambiente de
muitas vezes em momentos críticos, nos quais trabalho. Tem-se, como consequência dessa
cooperação e comunicação são essenciais para política estratégica organizacional de lucros
impedir acidentes e catástrofes. Sendo assim, no trabalho, uma série de modos de violência
organizacional responsáveis pelo adoecimento
Entre as invectivas de maximizar o mental no trabalho. Dentre eles se destacam
desempenho e o temor ao desemprego o estresse, a Síndrome de Burnout e o assédio
tem sido gerada a submissão a condições
moral.
de trabalho que levam ao acúmulo da
fadiga geral e mental sob injunções de
velocidade no “trabalho que não pode 3.1 Estresse e Síndrome de Burnout
parar”. O medo do desamparo preside
aos esforços e sustenta a escalada da De acordo com Eric Albert e Gilbert
desestabilização psicológica que pode Ururahr (apud FIORELLI & MALHADAS JUNIOR,
facilitar o acidente de trabalho. (SILVA, E. 2003, p. 269), estresse “são perturbações que
S., 2011, p. 305). causem distúrbios agudos ou crônicos no bem-
estar das pessoas e podem surgir em função de
estímulos físicos e/ou emocionais”.
As técnicas de gerenciamento atuais
predominantes, dentro dos paradigmas Fiorelli e Malhadas Junior (2003, p.
voltados à acumulação flexível e à maximização 269) assinalam que “a palavra-chave para
de lucros, ao estimularem a exacerbação da a identificação da presença do estresse é
competição entre os empregados, concorrem, ‘distúrbio’, agudo ou crônico. A perturbação
simultaneamente, para reforçar o individualismo torna-se indesejada quando a maneira de o
e promover o aumento do cansaço. (SILVA, E. S., indivíduo responder a ela não contribui para o
2011, p. 468). seu bem-estar”.

Em razão disso,
Dessa maneira,
Onde reina a ideologia da excelência e uma
cultura norteada por seus paradigmas, [...] em lugar de promover
estes se tornam determinantes de peso desenvolvimento e melhor qualidade
no direcionamento dos processos que de vida, ela desencadeia reações
conduzem ao adoecimento mental e (comportamentais, físicas e emocionais)
ao desequilíbrio psicossomático, entre percebidas como indesejáveis, crônicas
outras formas de patologias relacionadas ou agudas, acompanhas de efeitos
ao trabalho contemporâneo. (SILVA, E. S., negativos no organismo (na esfera física
2011, p. 499). ou psíquica). Tem-se, então, a instalação

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do quadro conhecido como “estresse”. ambiente de trabalho se torna tenso, em


(FIORELLI; MALHADAS JUNIOR, 2003, p. decorrência da competição acelerada e pela
269). busca da excelência e da qualidade total a
qualquer custo.
Oliveira, S. G. (2011, p. 219) lista, de forma
exemplificativa, os agentes responsáveis A médica Margarida Barreto (apud SIMM,
pela caracterização do estresse. De acordo 2008, p. 103), ao discorrer sobre a diferenciação
com o autor, os agentes são identificados entre o estresse e o burn out, assinala que, no
conforme o ambiente de trabalho, como as estresse, a pessoa tem sintomas como suor
condições de segurança e de higiene em que em excesso e taquicardia, mas pode superar
o serviço é prestado, a política administrativa sozinho, com o afastamento temporário e algo
implementada, o ramo de atividade, o maior relaxante, como terapia, ginástica e dança;
ou o menor grau de flexibilização das relações ao passo que,
trabalhistas, a estrutura na fase do burn
organizacional, ana fase do burn out, é frequente out, é frequente
rotatividade de
pessoal e, até mesmo,
a pessoa ter problemas a pessoa ter
problemas
o momento histórico de memória, mal-estar de memória,
da empresa – que
pode estar em fase de
generalizado, problemas de m a l - e s t a r
generalizado,
crescimento, criando pele como psoríase, perda problemas
oportunidade, ou de
retração, reduzindo
do senso de humor, podendo de pele como
psoríase, perda do
custos e promovendo ocorrer ainda distúrbios senso de humor,
dispensas. Ao discorrer
sobre o estresse de
gastrointestinais, úlcera, sono podendo ocorrer
ainda distúrbios
sobrecarga, o autor irregular, sensibilidade emotiva, gastrointestinais,
em tela assinala que
“ocorrerá quando
falta de apetite sexual, sendo úlcera, sono
i r r e g u l a r,
o grau de exigência imprescindível o afastamento sensibilidade
estiver acima das
possibilidades físicas
do trabalho e a busca de ajuda emotiva, falta
de apetite
ou mentais domédica. sexual, sendo
trabalhador”. Afirma imprescindível
também que, atualmente, os trabalhadores, o afastamento do trabalho e a busca de ajuda
sobretudo os que ocupam postos de comando, médica. Ensina a médica que, no caso da
tomam várias decisões em curto espaço de Síndrome de Burnout, é comum o trabalhador
tempo, aumentando o desgaste pela densidade ter pensamentos repetitivos, culpa que o
da carga laborativa. Muitas vezes, ainda, o desestrutura emocionalmente, transformando-

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se em um fóbico, ansioso, depressivo, além empenhado, se desinteressa do


de perder o rendimento, a responsabilidade, trabalho em resposta ao stress (sic) e à
passando a ter atitudes que não tinha e se alta tensão experimentada no trabalho.
É caracterizada pelo exaurimento
despersonalizando, além do que, se não
emotivo, pela despersonalização, pela
toma alguma providência, entra na fase de reduzida realização pessoal. É uma
exaustão, tornando-se insuportável. síndrome em que há uma progressiva
perda de idealismo, de energia, de
Para Abreu, K. L. et al (apud objetivos; uma perda de motivação e
de expectativas para ser eficiente no
FIORELLI; MALHADAS JUNIOR, 2003, p.
fazer o bem; um estado de cansaço
275), a Síndrome de Burnout apresenta ou frustração originário da devoção a
três dimensões. A primeira acarreta ao uma causa. Nesse sentido o Burnout
trabalhador exaustão emocional. Nela, o é considerado como o último passo
profissional se sente incapacitado para de uma progressão de tentativas sem
sucesso para enfrentar uma série de
enfrentar as demandas ocupacionais, sociais
condições negativas e estressantes.
e afetivas; ocorre sensação de esgotamento, Esse processo dinâmico de
de falta de energia e de recursos emocionais acomodação, entretanto, é um sinal de
próprios para lidar com as rotinas da prática alarme que solicita maior atenção da
profissional. A segunda dimensão ocasiona organização, podendo revelar-se uma
ocasião para melhorar a performance
despersonalização. Nesta, a pessoa tende
laborativa.
a se afastar das ocupações profissionais
(manifestando absenteísmo, diminuição do Imperioso observar que o assédio
ritmo, desleixo), dos colegas de trabalho e moral organizacional consiste, exatamente,
das pessoas em geral (mostrando-se fria – na sobrecarga de trabalho imposta pelo
impessoal e adotando comportamentos que empregador, resultante de estratégia
estimulam o afastamento); pode representar organizacional para que o empregado se
um risco de desumanização e constitui submeta às imposições de sobrecarga
a dimensão interpessoal. Por último, na de trabalho voltada à maximização da
terceira dimensão, há a falta de realização produtividade.
pessoal no trabalho; o profissional passa a ter
percepção de ineficácia; o trabalhador perde Percebe-se, assim, que o esgotamento
profissional (burn-out) incide amplamente
o sentido da sua relação com o trabalho;
em empresas nas quais o assédio
as coisas não mais lhe importam; qualquer
organizacional tem sido caracterizado. A
esforço lhe parece inútil.
trajetória de alguém submetido a assédio
organizacional pode, entretanto, derivar
Nassif (2005, p. 108) ao discorrer sobre a
para um assédio pessoal, se o desgaste afetar
Síndrome de Burnout, esclarece:
de forma visível o desempenho individual
ou mesmo os resultados alcançados pelo
Trata-se de um processo no qual
grupo de trabalho. Uma vez percebido como
um profissional, anteriormente
estorvo, pode surgir o interesse do chefe em

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forçar um pedido de demissão do trabalhador dores musculares constantes, problemas


improdutivo por meio de constrangimentos gastrointestinais, ansiedade e falta de
especificamente a ele direcionados. A autora concentração.
destaca ser possível também que os colegas
se sintam ainda mais sobrecarregados por Assinala ainda Minardi (2010, p.
terem de compensar o baixo desempenho do 146) que a lista de profissionais propensos
empregado desgastado. Este talvez se torne a desenvolver o Burnout é extensa e inclui
alvo, então, de um assédio horizontal. (NASSIF, médicos, fisioterapeutas, assistentes sociais,
2011, p. 510) professores, controladores de tráfego aéreo
e agentes penitenciários. Essa síndrome, não
Segundo Minardi (2010, p. 144), o obstante, pode atingir qualquer pessoa, de
Burnout é um estado de estresse crônico, qualquer profissão – principalmente aqueles
no qual o organismo humano reage aos trabalhadores muito dedicados, exigentes e
primeiros sintomas prejudiciais e busca meios com mania de perfeição – e é considerada uma
de combate ou de compensação. Entretanto, reação ao estresse ocupacional crônico.
quando, em certos casos, não se oferece a
resistência necessária, o estresse se torna A iniciativa privada não pode se
crônico, transformando-se, assim, em uma desenvolver de modos que lesem a saúde
síndrome que poderá desembocar em doenças mental do trabalhador. Assim sendo, é
físicas, psicossomáticas, psíquicas (depressão) necessário prevenir doenças de maneira
ou sociais (psicopatias). que a proteção dos trabalhadores no meio
ambiente do trabalho não seja substituída pelo
O vocábulo “burnout” é de origem pagamento de indenização aos trabalhadores,
inglesa e significa “perder o fogo” ou “queimar “[...] haja vista que o direito à saúde é condição
para fora” (burn-out), representando um estado de uma vida digna e para tanto (sic) carece de
físico de esgotamento no qual o sujeito perde o uma proteção eficaz ao meio ambiente”. Então,
sentido da sua relação com o trabalho de forma “a proteção à saúde abrange sua promoção e
que as coisas já não importam mais. (MINARDI, prevenção e, caso haja doença, seu diagnóstico,
2010, p. 145). tratamento e recuperação”. (SILVA, J. A. R. O.,
2008, p. 47).
Destaca Minardi (2010, p. 147) que o Como bem ensina Minardi (2010, p.
Burnout se apresenta como uma síndrome 156), o limite de atuação do poder empregatício
complexa que acarreta consequências muito do empregador deve atender aos preceitos
variáveis, atingindo a integridade físico- constitucionais da dignidade da pessoa humana,
psicológica e comportamental. Sendo assim, do solidarismo, da função social da propriedade,
entre os sintomas mais comuns relatados pela com o intuito de se evitarem atitudes patronais
literatura médica, em nível individual, estão: que possam causar prejuízos ao trabalhador, tal
problemas psicossomáticos, diminuição do qual a Síndrome de Burnout.
rendimento, atitudes negativas frente à vida
em geral, exaustão física e emocional, baixa Imperioso observar que a Síndrome de
autoestima, alterações no sono e no apetite, Burnout é hipótese de acidente do trabalho,

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conforme assegura o Anexo II do Decreto acidentário, mantém-se a decisão


3.048/9 no quadro transtornos mentais e do regional , em face do contido em referido
comportamento relacionados com o trabalho verbete e da moldura fática descrita pelo
(Grupo V da CID-10): TRT, quanto à existência de prova pericial
e testemunhal demonstrando o liame
entre a enfermidade (quadro depressivo
XII – Sensação de Estar Acabado
severo - -Síndrome de Burnout-) e o
(“Síndrome de Burn-Out”, “Síndrome do
assédio moral ocorrido no curso da
Esgotamento Profissional”) (Z73.0)
contratualidade. Recurso de revista do
1.Ritmo de trabalho penoso (Z56.3)
reclamado de que não se conhece. (TST
2.Outras dificuldades físicas e mentais
– RR – ED-RR 7731004720065090652
relacionadas com o trabalho (Z56.6).
773100-47.2006.5.09.0652 – 7ª Turma –
Rel. Ministro Pedro Paulo Teixeira Manus
– DEJT – 17/08/2012).
O Ministério da Saúde também tem
aprovada a lista de doenças relacionadas com Insta destacar, contudo, a existência de
o trabalho, editada pela Portaria 1.339/GM, determinadas categorias que já apresentam
de 18.11.1999, na qual consta a Síndrome de grau de estresse elevado em virtude da função
Burnout como umas das hipóteses equiparáveis exercida. São exemplos: telefonistas, bancários,
a acidentes de trabalho. médicos, professores, enfermeiros que atuam
em Pronto Socorro e UTI, entre outros.
Neste aspecto, a Síndrome de Burnout
ocasiona a incapacidade para o trabalho, 3.2 Assédio moral individual
fazendo jus o trabalhador ao benefício
previdenciário auxílio-doença acidentário, bem Consoante ensina Hirigoyen (2002, p. 65), o
como à estabilidade provisória prevista no art. assédio moral pode ser compreendido
118 da Lei 8.213/91. Assim já decidiu o Tribunal
Superior do Trabalho. Veja-se: [...] como toda e qualquer conduta
abusiva manifestando-se sobretudo
(sic) por comportamento, palavras,
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM
atos, gestos, escritos que possam trazer
RECURSO DE REVISTA DO RECLAMANTE.
dano à personalidade, à dignidade ou
DOENÇA PROFISSIONAL. REINTEGRAÇÃO.
à integridade física ou psíquica de uma
ESTABILIDADE. Embargos acolhidos,
pessoa, por em perigo seu emprego ou
com efeito modificativo, para sanar
omissão constatada no julgamento do degradar o ambiente de trabalho.
recurso de revista. RECURSO DE REVISTA.
DOENÇA PROFISSIONAL. REINTEGRAÇÃO. O assédio moral afronta diversos
ESTABILIDADE. A Súmula nº 378, II, do princípios constitucionais, a saber: a) dignidade
Tribunal Superior do Trabalho permite da pessoa humana (art. 1º, III, CF/88); b)
o deferimento do direito à estabilidade valorização social do trabalho (art. 1º, IV,
provisória, também na hipótese de haver
CF/88); c) objetivo fundamental da promoção
relação de causalidade da enfermidade,
com as condições laborais; exatamente do bem de todos, sem preconceitos de origem,
essa é a situação do reclamante. Mesmo raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
sem a percepção do auxílio-doença formas de discriminação (art. 3º, IV, CF/88);

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d) direito de ninguém ser submetido a tortura uma violência psíquica praticada na relação
nem a tratamento desumano ou degradante de trabalho que denigre a personalidade e a
(art. 5º, III, CF/88); e) direito à inviolabilidade dignidade da pessoa humana, atingindo “em
da intimidade, da vida privada, da honra e da cheio” os direitos fundamentais do trabalhador
imagem das pessoas (art. 5º, X, CF/88). (GARCIA, e vários direitos da personalidade da vítima,
2011, p. 95). como à liberdade sexual, à intimidade e à
privacidade, à honra e à integridade psíquica da
Assinala Minardi (2010, p. 165) que, vítima. (ALKIMIN, 2009, p. 86).
nas relações trabalhistas, em especial no meio
ambiente de trabalho, é evidente a necessidade Destarte, o assédio sexual viola a
da estrita observância dos deveres anexos, preservação da dignidade da pessoa humana
como a obrigação de o empregador adotar nas relações de trabalho e, por conseguinte, os
medidas de segurança e medicina do trabalho, direitos da personalidade do empregado, por
de modo que o meio ambiente de trabalho se gerar danos à integridade física e psíquica do
torne sadio e agradável. Entretanto, o assédio empregado.
moral já se tornou um fenômeno comum nos
dias atuais e decorre da violação do dever de CONCLUSÃO
cuidado, proteção e lealdade com o empregado,
tendo-se em vista que, de tal descumprimento, Na presente oportunidade, destacaram-
podem-se ocasionar doenças ocupacionais se, em linhas gerais, ou por assim dizer “linhas
como a Síndrome de Burnout. mestras”, alguns aspectos fundamentais não
do adoecimento, mas, antes, para a garantia da
Logo, “a pressão psicológica, o assédio saúde do trabalhador em seu ambiente laboral.
moral, o mobbing são formas de violência Objetiva-se, ora, prestar-se um serviço de
psíquica cada vez mais presentes nas relações esclarecimento básico e suscitar-se a urgência,
de emprego, tornando o meio ambiente de ou a emergência, pela busca do conhecimento
trabalho nocivo à saúde mental do trabalhador”. de alguns problemas acarretados a serem
(SIMM, 2008, p. 10). evitados na esteira da necessidade de se
reconhecerem e de se reafirmarem os direitos
3.3 Assédio sexual do trabalhador em respeito à plenitude da sua
dignidade humana no exercício diário do seu
O assédio sexual pode ser definido como labor. Por assim ser, pretende-se a saúde mental
a conduta reiterada de caráter lascivo que tenha deste com vistas a assegurar-lhe, efetivamente,
como objetivo cercear, direta ou indiretamente, a tão almejada (e propalada) qualidade de vida.
a liberdade sexual da pessoa que está sendo
constrangida. Tal cerceamento pode ocorrer
tanto a partir de um superior hierárquico Referências bibliográficas
quanto entre trabalhadores do mesmo nível
hierárquico. ALKIMIN, Maria Aparecida. Violência na relação
de trabalho e a proteção à personalidade do
O assédio sexual compreende, assim, trabalhador. Curitiba: Juruá, 2009.

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