nas Empresas 2. Diretrizes organizacionais da Segurança do Trabalho
A Segurança do Trabalho propicia às Organizações a visão da
importância de preocupar-se com a qualidade de vida de seus membros. Um ambiente laboral inseguro, que coloca em risco a saúde física e psicológica do trabalhador prejudicará não só a execução de suas tarefas, mas também a sua vida pessoal, trazendo consequências negativas aos membros que mantém uma relação interpessoal com o mesmo e, em última instância, ao desempenho da Organização (CAMPOS; BARSANO, 2020).
Sabe-se que a vida pessoal e profissional do trabalhador
interceptam-se em vários aspectos. Para além de contribuir com a manutenção da produtividade da Organização, conforme preconiza a Administração Científica de Frederick Taylor, zelar pelo bem estar humano é um dever da empresa em termos de legislação, normatização e responsabilidade social.
A Segurança do Trabalho é uma área ampla e que mantém
relação direta com a Ergonomia, ciência de igual relevância para o contexto empresarial. Mas, antes de abordar suas diretrizes, os órgãos responsáveis por estabelece-las e fiscalizar o seu cumprimento, bem como a Política de Segurança e Saúde do Trabalho nas Organização é preciso adotar uma definição oficial:
A segurança do trabalho é a ciência que estuda as
possíveis causas dos acidentes e incidentes originados durante a atividade laboral do trabalhador, tendo como principal objetivo a prevenção de acidentes, doenças ocupacionais e outras formas de agravos à saúde ocupacional, incluindo até mesmo questões relacionadas à qualidade de vida. [...] Em outras palavras, a segurança do trabalho cumpre sua finalidade quando consegue proporcionar a ambos – empregado e empregador – um ambiente agradável, rico em qualidade de vida para todos (CAMPOS; BARSANO, 2020, p. 94).
Nos tópicos que se seguem serão abordados alguns dos
aspectos mais relevantes da aplicação da Segurança e saúde do Trabalho nas Organizações. Eles agregam à Administração a valorização do fator humano, ganhos financeiros e a obtenção de competitividade e diferenciação no mercado.
2.1 Legislação de segurança do trabalho
A legislação brasileira em matéria de Segurança e Saúde do
Trabalho apresenta uma hierarquia estrutural, de modo que no topo está a Constituição Federal (1988), no centro a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT - Decreto-lei 5.452, de 1 de maio de 1943), e na base as normas regulamentadoras (NRs).
No que tange à Constituição da República Federativa do Brasil,
podemos destacar o “Título II: Dos Direitos e Garantias Fundamentais”, no “Capítulo II: Dos Direitos Sociais”, artigos 6 e 7 que determina os direitos básicos e fundamentais dos trabalhadores urbanos e rurais quanto à Segurança e Saúde do trabalho. Estes são reproduzidos a seguir (MATTOS; MÁSCULO, 2019). Art. 6º – São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
Art. 7º – São direitos dos trabalhadores urbanos e
rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:
(...) XXII – redução dos riscos inerentes ao trabalho,
por meio de normas de saúde, higiene e segurança;
XXIII – adicional de remuneração para as
atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei;
(...) XXVIII – seguro contra acidentes de trabalho, a
cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;
(...) XXXIII – proibição de trabalho noturno, perigoso
ou insalubre aos menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de quatorze anos, salvo na condição de aprendiz. (BRASIL, 1988, texto extraído do art. 6º e 7º).
Portanto, deve ser assegurado pelos empregadores aos
trabalhadores urbanos e rurais o acesso a ambientes de trabalho seguros, que preencham os critérios de segurança, higiene e medicina do trabalho definidos na legislação complementar. Detectada a existência de riscos ambientais, a prioridade do empregador deve ser sempre eliminá-los. Quando isso não for possível, tendo em vista a autossutentação da empresa no mercado, os recursos disponíveis e/ou a natureza das suas atividades; o empregador deve adotar medidas de neutralização da exposição do trabalhador aos riscos.
A CLT é o dispositivo legal que regulamenta as relações
trabalhistas no âmbito urbano e rural, cujas diretrizes de saúde, higiene e segurança do trabalho estão dispostas no “Título II – Das Normas Gerais de Tutela do Trabalho”, capítulo “V – Da Segurança e da Medicina do Trabalho”, conforme art. 157 mostrado abaixo (MATTOS; MÁSCULO, 2019).
Art. 157 - Cabe às empresas:
I - cumprir e fazer cumprir as normas de
segurança e medicina do trabalho;
II - instruir os empregados, através de ordens de
serviço, quanto às precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais;
III - adotar as medidas que lhes sejam
determinadas pelo órgão regional competente;
IV - facilitar o exercício da fiscalização pela
autoridade competente (BRASIL, 1943, texto extraído do art. 157).
As Normas Regulamentadoras visam consolidar os preceitos
da CLT para situações e setores de atividades laborais específicos. Em ordem de numeração, totalizam 37 normas, sendo que a de nº2 foi revogada. Assim, seguem em vigor 36 NRs. No quesito abrangência, são destacadas a seguir algumas normas que se aplicam a empresas de diferentes ramos:
NR-04 – Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e
Medicina do Trabalho – SESMT
NR-05 – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA
NR-06 – Equipamentos de Proteção Individual – EPI
NR-07 – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
– PCMSO
NR-09 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais –
PPRA
2.2 Entidades e Associações dedicadas a Segurança do
Trabalho
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) é uma agência
da Organização das Nações Unidas (ONU) responsável pela formulação e aplicação das Convenções e Recomendações, que consistem em normas internacionais para o trabalho. O intuito dessas normas é “garantir que homens e mulheres possam ter acesso a um trabalho decente e produtivo, em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade” (CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016, p. 6). A criação da OIT foi o marco da consolidação do Direito Internacional do Trabalho. Se deu em 1919, com o advento do Tratado de Versalhes, que encerrou a Primeira Guerra Mundial. O papel da OIT é promover a melhoria das condições de segurança e saúde do trabalho (BARSANO; BARBOSA, 2014; CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016).
Outras Entidades e Associações de cunho internacional que se
dedicam a Segurança e Saúde do Trabalho são listadas no Quadro 1.
Quadro 1 – Organizações dedicadas a Segurança do Trabalho
no cenário mundial.
CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016 (Adaptado)
No Brasil a Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (FUNDACENTRO) é uma autarquia ligado ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), de papel semelhante a OSHA. Fundada em 1966, a FUNDACENTRO tem o objetivo de conduzir pesquisas em Segurança e Saúde no Trabalho, organizando publicações técnicas, como a as Normas de Higiene Ocupacional (NHO). Estas últimas definem os limites de tolerância e as metodologias de avaliação de agentes causadores de riscos ocupacionais e visam reduzir ao máximo a ocorrência de acidentes e doenças do trabalho no país (CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016).
2.3. Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho
(PNSST)
A Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho
(PNSST) foi disposta no decreto nº 7.602, publicado em 2011, e tem como alvos: a promoção da saúde e a melhoria da qualidade de vida do trabalhador, bem como a prevenção de acidentes e danos à sua saúde em resultado da atividade laboral, por meio da eliminação ou redução dos riscos nos ambientes de trabalho (BRASIL, 2011).
Nesse contexto, orienta a eliminação ou a redução dos riscos
ambientais, a partir de 5 princípios: universalidade; prevenção; precedência das ações de promoção, proteção e prevenção sobre as de assistência, reabilitação e reparação; diálogo social; e integralidade (BRASIL, 2011).
Os Ministérios do Trabalho e Emprego, da Saúde e da
Previdência Social são os órgãos responsáveis pela implementação da PNSST, sendo prevista também a participação de outros órgãos e instituições dedicadas a Segurança do Trabalho (BRASIL, 2011).
A aplicação da PNSST prevê a articulação de ações de
governo no que tange às relações de trabalho, produção, consumo, ambiente e saúde. Entidades representativas dos trabalhadores e empregadores também podem participar dessas ações, se assim desejarem. Além de estarem alinhadas com o Plano Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho, tais ações devem ser conduzidas seguindo algumas diretrizes, dentre elas as listadas no Esquema 1. Esquema 1 – Diretrizes das ações do PNSST.
BRASIL, 2011 (Adaptado)
A gestão da PNSST tem caráter participativo e é organizada por uma Comissão Tripartite de Saúde e Segurança no Trabalho (CTSST), formada por representantes do governo, trabalhadores e empregadores (BRASIL, 2011).
2.4. Plano Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho
(PLANSAT)
A CTSST, iniciada em 2008, deu um pontapé para que a
Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho promovesse uma atuação coerente e sistemática do Estado em prol do trabalho seguro e saudável, da prevenção dos acidentes e das doenças laborais. Isso impulsionou o lançamento do Plano Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho (PLANSAT), o qual articula ações de vários atores sociais, a fim de proporcionar a concretização da PNSST (BRASIL, 2012).
O PLANSAT visa garantir que, independentemente de
governos, sejam colocadas em prática ações para promoção de saúde e qualidade de vida no trabalho, prevenindo doenças e acidentes de trabalho. Para cada um das diretrizes das ações do PNSST é traçada uma estratégia em particular na cartilha do PLANSAT. São listadas no Quadro 2 algumas das estratégias que atendem às quatro diretrizes previamente apresentadas no Esquema 1 (PEGATIN, 2020). Quadro 2 – Algumas estratégias para 4 das diretrizes de ação do PNSST.
BRASIL, 2012 (Adaptado)
Algumas estratégias de ação da PLANSAT e as próprias diretrizes da PNSST propõem a melhoria das condições de trabalho e o incentivo à gestão da SST. Entretanto, muitas das ações foram implementadas de forma superficial ou ainda não tiveram andamento (PEGATIN, 2020).
Atividade extra
Assista ao vídeo de uma entrevista com o coordenador geral
de Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, no ano de 2012, destacando a importância da PNSST para proteção da saúde e integridade física de trabalhadores de vários nichos empresariais (Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=dcR5JmwZ-Po.>).
Referência Bibliográfica
BARSANO, P. R.; BARBOSA, R. P. Higiene e segurança do
trabalho. 1. ed. São Paulo: Érica, 2014.
BRASIL. Política Nacional de Segurança e Saúde no
Trabalho (PNSST). 2012. Decreto nº 7.602, de 7 de novembro de 2011. Disponível em: <https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed_protect/---protr av/---safework/documents/policy/wcms_212109.pdf>. Acesso em: 15 de fevereiro de 2021.
BRASIL. Plano Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho
– Plansat. Disponível em: <https://www.gov.br/previdencia/pt-br/images/2014/08/Cartilha- Plano-Nacional-de-SST.pdf>. Acesso em: 15 de fevereiro de 2021.
CAMPOS, A. de; BARSANO, P. R. Administração: guia
prático. 3. ed. São Paulo: Érica, 2020.
CHIRMICI, A.; OLIVEIRA, E. A. R. de. Introdução à
segurança e saúde no trabalho. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.
MATTOS, U. A. de O. M.; MÁSCULO, F. S. Higiene e
segurança do trabalho. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019.
PEGATIN, T. O. Segurança no Trabalho e Ergonomia. Curitiba:
Manual de segurança e saúde no trabalho: normas regulamentadoras - NRs: principais legislações trabalhistas aplicáveis à área de segurança e saúde no trabalho