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Esquerda e direita (política)

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O espectro político esquerda-direita é um conceito geral de enquadramento


de ideologias e partidos. Esquerda e direita são muitas vezes apresentados
como opostos, embora um indivíduo ou grupo em particular possa
eventualmente assumir uma posição mais à esquerda numa matéria e uma
postura de direita ou até de extrema-direita noutras. Na França, onde os termos
se originaram, a esquerda tem sido chamada de "o partido do movimento" e a
direita de "o partido da ordem."[1][2][3][4]
Há um consenso geral de que a esquerda inclui progressistas, sociais-
liberais, ambientalistas, social-democratas, democrático-socialistas, libertários
socialistas, secularistas, socialistas, comunistas e anarquistas,[5][6][7][8] enquanto
a direita inclui neoliberais, económico-
libertários, conservadores, reacionários, neoconservadores, anarcocapitalistas,[
9]
monarquistas, teocratas (incluindo parte dos governos
islâmicos), nacionalistas, fascistas[10] e nazistas.[11]

Índice

• 1Distinção entre esquerda e direita


• 2História
• 3Críticas
o 3.1Os partidos políticos no espectro político
• 4Ver também
• 5Referências
• 6Bibliografia

Distinção entre esquerda e direita


Segundo Laponce[12] são quatro as dimensões (política, económica, religiosa e
temporalidade) que mais assertivamente definem os elementos da divisão
ideológica entre esquerda e direita. Assim, “como traços periféricos da divisão
entre direita e esquerda temos: para primeiro o setor político, o passado, o
status quo, a livre empresa e os EUA; para a segunda orientação ideológica, o
futuro, a mudança, a intervenção do Estado na economia e a URSS.”.[13] A
direita é mais conservadora e mais contínua nas suas ideias; a esquerda
convive melhor com a descontinuidade.[14]
Bobbio contradiz Laponce com exemplos de movimentos da direita europeia
não religiosos e pagãos. “Para Bobbio, o critério fundamental para distinguir a
esquerda da direita é a diferença de atitude dos homens face ao ideal de
igualdade”.[15] Mas este critério não é absoluto; a esquerda nem sempre é
igualitarista nem a direita inigualitária.[16]
O politólogo e publicista português Nogueira Pinto [17] também procura os traços
essenciais desta divisão: à esquerda temos o otimismo antropológico, o
utopismo, o igualitarismo, o democratismo, o economicismo, o
internacionalismo; e à direita o pessimismo antropológico, o antiutopismo, o
direito à diferença, o Elitismo, antieconomicismo, o nacionalismo.

História
Os termos "esquerda" e "direita" apareceram durante a Revolução Francesa,
de 1789, e o subsequente Império de Napoleão Bonaparte, quando os
membros da Assembleia Nacional se dividiam em partidários do rei à direita do
presidente e simpatizantes da revolução à sua esquerda. Um deputado, o
Barão de Gauville explicou: "Nós começamos a reconhecer uns aos outros:
aqueles que eram leais à religião e ao rei (imperador) ficaram sentados à
direita, de modo a evitar os gritos, os juramentos e indecências que tinham
rédea livre no lado oposto." No entanto, a direita pôs-se contra a disposição
dos assentos porque acreditavam que os deputados deviam apoiar interesses
particulares ou gerais, mas não formar facções ou partidos políticos. A
imprensa contemporânea, ocasionalmente, usa os termos "esquerda" e
"direita" para se referir a lados opostos ou que se opõem. Ao longo do século
XIX na França, a principal linha divisória de Esquerda e Direita foi entre
partidários da República e partidários da Monarquia.[18]
Quando a Assembleia Nacional foi substituída em 1791 por uma Assembleia
Legislativa, composta inteiramente por novos membros, as divisões
continuaram. Os "Inovadores" sentavam-se do lado esquerdo, os "moderados"
reuniram-se no centro, enquanto que os "defensores da consciência da
Constituição" encontraram-se sentado à direita (onde os defensores do Ancien
Régime se sentavam anteriormente). Quando a Convenção Nacional seguinte
se reuniu em 1792, a disposição dos assentos continuou, mas após o golpe de
Estado de 2 de Junho de 1793 e a prisão dos Girondinos, o lado direito do
conjunto ficou deserto e os membros restantes que se haviam lá sentado
mudaram-se para o centro. Todavia, após o 9 Termidor de 1794 os membros
da extrema esquerda foram excluídos e o método de cadeiras foi abolido. A
nova Constituição incluiu regras para a assembleia que iria "acabar com os
grupos do partido. No entanto, após a Restauração em 1814-1815 clubes
políticos foram novamente formados. A maioria de ultra-monarquistas
escolheram sentar-se à direita. Os "constitucionais" sentaram-se no centro,
enquanto os independentes sentaram-se do lado esquerdo. Os termos extrema
direita e extrema esquerda, bem como de centro-direita e centro-esquerda,
chegaram a ser usados para descrever as nuances da ideologia de diferentes
seções da montagem. Os termos "esquerda" e "direita" não foram usados para
se referir a uma ideologia política, mas apenas à localização das cadeiras no
Legislativo. Depois de 1848, os principais campos opostos eram os
democrático-socialistas La Montagne e os "reacionários" que usaram bandeiras
vermelhas e brancas para identificar sua filiação partidária.
Com o estabelecimento da Terceira República em 1871 os termos foram
adoptados pelos partidos políticos: a esquerda republicana, o centro direita,
centro esquerda (1871), a extrema esquerda (1876) e a esquerda radical
(1881). A partir do início do século XX, os termos Esquerda e Direita passaram
a ser associados a ideologias políticas específicas e foram usados para
descrever crenças políticas dos cidadãos, substituindo gradualmente os termos
"vermelhos" e "reação" ou "republicanos" e "conservadores". Em 1914, a
metade esquerda da legislatura foi composta por socialistas unificados,
republicanos socialistas e radicais socialistas, enquanto os partidos que foram
chamados de "esquerda" agora se sentam do lado direito.
Havia assimetria na utilização dos termos direita e esquerda pelos lados
opostos. A Direita principalmente negou que o espectro Esquerda-Direita fosse
significativo porque o viam como artificial e prejudicial à unidade. A Esquerda,
no entanto, buscando mudar a sociedade, promoveu a distinção. [19] Como Émile
Chartier observou em 1931, "Quando as pessoas me perguntam se há divisão
entre partidos de direita e partido de esquerda, homens da direita e homens de
esquerda, se ainda faz sentido, a primeira coisa que me vem à mente é que a
pessoa que faz a pergunta não é, certamente, um homem de esquerda".
Na França, a Esquerda tem sido chamada de "o partido do movimento" e a
Direita de "o partido da ordem."[20][21][22][23]
Os termos esquerda e direita vieram a ser aplicados na política britânica
durante as Eleições gerais de 1906, que viu o Partido Trabalhista emergir como
uma terceira força e no final de 1930 em debates sobre a Guerra Civil
Espanhola.[24]
Marx no Manifesto do Partido Comunista, afirma que a classe média pertencia
à direita.
"classe média - pequenos comerciantes, pequenos fabricantes, artesãos,
camponeses - combatem a burguesia porque esta compromete sua existência
como classes médias. Não são, pois, revolucionárias, mas conservadoras;
mais ainda, reacionárias, pois pretendem fazer girar para trás a roda da
história..".[25]

Críticas
Existem, entretanto, críticas consideráveis e consistentes sobre a "simples -
redução" da política num simples "Eixo - esquerda-direita". Alguns cientistas
políticos têm sugerido que a classificação de "esquerda" e "direita" perdeu
seu significado no mundo moderno. Embora esses termos continuem a ser
utilizados, eles defendem um espectro mais complexo que tenta combinar
as dimensões políticas, econômicas e sociais.[26] O jornalista Eric
Dupin observou que os termos "direita" ou "esquerda" são cada vez menos
relevantes na arena pública. Mesmo no seio da população, os reflexos
ideológicos são certamente menos acentuados do que antes, e as
diferentes visões do mundo e da sociedade já não podem expressar-se
claramente no contexto habitual da polarização esquerda-direita.[27] Friedrich
Hayek sugere que é errado ver o espectro político como uma linha (Eixo),
com os chamados "revolucionários" à esquerda do Rei e/ou Imperador, os
conservadores à direita e os liberais no meio. Ele posiciona cada grupo, no
canto de um triângulo.[28]
Para o pensador italiano Norberto Bobbio o pós-União Soviética foi seguido
com o aparecimento de algumas linhas que apontavam o fim da dicotomia
direita-esquerda, mas Bobbio no livro Direita e Esquerda - razões e
significados de uma distinção política, publicado em 1996, discordou de
argumentos que preconizavam a perda de influência da polaridade direita -
esquerda. No estudo de Bobbio as forças de direita e esquerda existiam e
moviam a política e todas as relações de poder e cultura de boa parte do
planeta na década de 1990.[29]
Há acadêmicos que apontam, inclusive, que em alguns casos a simples
dicotomia entre direita/esquerda pode ser antidemocrática, como é o caso
de Mateus Henrique de Faria Pereira:
A guerra de memória, quando se divide entre um combate entre “esquerdistas” e
“direitistas”, aceita diversos pressupostos da lógica autoritária. No entanto, a
democracia não pode ser “conquistada” por nenhuma ideologia: a democracia
pressupõe a intensificação da pluralidade, do justo, da simetria e do dissenso.
— de Faria Pereira.[30]

Os partidos políticos no espectro político


Após a queda do muro de Berlim, os partidos de "direita" e "esquerda"
sofreram mutações conceituais. O que era bastante claro num mundo
polarizado - de uma lado o modelo liberal/democrático/capitalista
americano, e do outro o modelo social/autoritário/comunista soviético -
passou a ficar confuso após a queda do muro e do fim da União Soviética.
Muitos "esquerdistas" migraram para concepções mais democráticas e
progressistas, enquanto alguns "direitistas" começaram a ser identificados
como pessoas mais reacionárias. A verdade é que os rótulos
"direita/esquerda" já são muito limitados para definir a diversividade política
do século XXI, talvez sendo mais interessante a abrangência do discurso,
definindo-se de forma mais clara a concepção política de cada um (e.g.
liberal/anti-liberal, democracia/ditadura, individualismo/coletivismo,
intervencionismo/não intervencionismo, etc.).
Os cientistas políticos têm observado que as ideologias dos partidos
políticos podem ser mapeadas ao longo de um único eixo esquerda-
direita.[31] Klaus von Beyme categorizou os partidos europeus em nove
famílias, que descreviam a maioria dos partidos. Ele foi capaz de organizar
sete delas a partir da esquerda para a
direita: comunismo, socialismo, política verde, liberalismo, democrata
cristão, conservador e extrema-direita. As posições dos partidos étnicos e
agrários variaram.[32] Um estudo realizado no final de 1980, considerando
duas bases, as posições sobre a propriedade dos meios de produção e as
posições sobre questões sociais, confirmou esta organização. [33]

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