Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
na Europa
Publicado em junho 25, 2013 por pucminasconjuntura
Resumo
As eleições europeias deste ano trouxeram mais uma vez à tona os apontamentos –
muitas vezes críticos – sobre o modelo de governo sociopolítico implantado no
continente e sua funcionalidade ante os reveses atuais. Nesse sentido, na discussão
sempre presente entre Esquerda e Direita foi reforçado o debate a respeito (da crise)
do Estado Providência ou Welfare State. Tem-se colocado propostas alternativas ao
papel do Estado frente à sociedade, e uma delas é a Terceira Via.
Bobbio (1995) chama-nos atenção também para o fato de que Direita e Esquerda não
indicam apenas ideologias – pois, isso seria uma simplificação –, mas revelam
programas políticos que se contrapõem em relação a diversos problemas. Os contrates
vão além da esfera das ideias; envolvem também interesses e valorações sobre a direção
que a sociedade deve seguir. O autor propõe dois conceitos – e seus pares dicotômicos,
por consequência – para distinguirmos Direita e Esquerda: igualdade e liberdade.
A Esquerda tende a considerar que os homens são mais iguais do que desiguais e, por
isso, entende as desigualdades como sendo de cunho social e, assim, passíveis de
eliminação. A Direita, entretanto, percebe mais desigualdades entre os homens do que
igualdade. Para ela, essas desigualdades são naturais e, dessa maneira, não há formas de
extingui-las. Isso porque a lógica direitista está mais ligada ao habitual, à tradição, à
força do passado. Enquanto a Esquerda acredita ser o homem capaz de corrigir tantos os
males naturais quanto os sociais (BOBBIO, 1995).
Situações como essas se expressam, por exemplo, na tão exaltada liberdade econômica
que acaba por gerar desigualdades.
Para Norberto Bobbio (1995), a igualdade tem por efeito uma limitação da liberdade,
usufruída ou não, como uma norma que obrigasse os cidadãos a usarem transporte
público, tirando-lhes a liberdade de escolher o meio de transporte preferido. Mas, ele
ressalva que nem toda medida igualitária limita a liberdade – como o sufrágio universal.
O que justificaria, na concepção de alguns, tomar a Direita como libertária e a Esquerda
como igualitária, embora o autor acredite que tanto Esquerda quanto Direita podem ser
libertária ou igualitária. Os critérios adotados e seus pares dicotômicos distinguiriam
extrema-Esquerda (igualitários e autoritários – jacobinismo) de centro-Esquerda
(igualitários e libertários – social-democracia) e centro-Direita (libertários e não
igualitários – partidos conservadores) de extrema-Direita (antiliberais e anti-igualitários
– fascismo e nazismo). Sendo igualdade a diferença entre Esquerda e Direita, e
liberdade a gradação desses pensamentos.
A Terceira Via
Nos estudos de Bobbio (1995), o que o autor denomina como “Terceiro Inclusivo”
aproxima-se daquilo que é proposto como Terceira Via.
O Terceiro Inclusivo tende a ir além dos dois opostos [Esquerda e Direita] e a englobá-
los numa síntese superior, e, portanto anulando-os enquanto tais: dito de outro modo,
ao invés de duas totalidades que se excluem reciprocamente e não são, como a frente e
o verso da medalha, visíveis simultaneamente, faz deles duas partes de um todo, de uma
totalidade dialética (BOBBIO, 1995, p.38).
A Terceira Via caracteriza-se então como aquilo que está para além da Direita e da
Esquerda e sua proposta é ser uma “revisão das políticas públicas associadas à
socialdemocracia clássica, com a finalidade de criar-se uma solução para os males do
neoliberalismo.” (LIMA; LAGEMANN, 1998, p.146). Para isso, se propõe a atenção
haja pelo menos três valores. São eles: oportunidade real, responsabilidade cívica e
comunidade. Sobre o primeiro podemos dizer da noção de que a sociedade garanta aos
seus cidadãos um nível mínimo de oportunidade real de acesso aos bens públicos,
independentemente do acesso por meritocracia. O segundo valor relaciona-se a atuação
social do indivíduo. Esta não pode prejudicar os interesses públicos compartilhados
pelos demais cidadãos. Eles devem assumir suas responsabilidades sociais primárias e
assim contribuir para a harmonia e a manutenção do bem comum. Por fim, sobre
comunidade podemos dizer que esse conceito deriva dos dois primeiros e refere-se ao
incentivo à formação de associações e organizações coletivas, relações de ajuda
recíproca ou comunitária. Dessa maneira os indivíduos não ficam isolados nem passam
a agir individualmente (LIMA; LAGEMANN, 1998).
Esta última é herdeira política do pai Jean-Marie Le Pen, que lhe passou a liderança do
partido. Jean-Marie sempre negou a existência do Holocausto e tinha como plataforma
clara a disposição de expulsar todos os imigrantes do país. A filha segue dizendo que a
culpa da decadência francesa são os imigrantes. E com um discurso antieuropeu e de
fracasso da União Europeia, Marine Le Pen dá força para a extrema-Direita na França.
O que pode aumentar a atenção ao futuro político da Europa são estudos como o
realizado pelo think tank britânico Demos, em 2011, que apontam o crescimento de
grupos de extrema-Direita pela Europa, através das redes online. Os adeptos são em sua
maioria jovens que se revelam cada vez mais críticos aos seus governantes e à União
Europeia, estando profundamente preocupados com o futuro e identidade cultural, bem
como com o crescimento da imigração e o alastrar da influência islâmica na Europa. A
pesquisa revela ainda que os partidos que difundem ideias xenófobas, anti-imigração e
anti-islâmicas, estão a espalhar-se para além de terrenos tradicionais como França,
Itália.
Considerações Finais
O que se vê na Europa da crise é que muito se procura culpados para o problema atual,
levando a responsabilidade a causas estruturais como o sistema, a burocracia, o
mercado. Porém, ao lançar mão da Terceira Via, o que se quer dizer na verdade é que a
questão pode ser um “equívoco” ideológico.
Nota-se que a discussão acima descrita não é atual, mas perpassa anos da história
europeia – e da humanidade. E não só da história europeia no campo político, mas
sociológico – e que sejam considerados outros! Busca-se retomar o sentimento de
pertencimento, de unidade, e que fazer com que sejam eliminados os pensamentos de
que “o outro é um peso para o governo e para mim” quando se trata de políticas de
seguridade e imigração, por exemplo.
Com a Terceira Via pretende-se restabelecer a ideia de que o Estado não pode ser o
provedor dos bens sociais, mas o garantidor. É preciso que as pessoas assumam seu
papel social enquanto cidadãos e entendam que é preciso agir de acordo com um
entendimento do coletivo – e não individual – para que se estabeleça o bem comum e
todos tenham acesso aos recursos necessários para viver naquela sociedade. Repensa-se
o papel do Estado e repensa-se o papel do indivíduo. A grande questão é como fazê-lo.
Será que a atual Europa suportaria uma reforma nas estruturas de organização social?
No pleito eleitoral realizado este ano em dois dos mais importantes países europeus
colocou-se em evidência a polaridade assumida pelo eleitorado em relação às propostas
políticas dos partidos. O que nos diz que uma maioria esmagadora não se constituiu na
França ou na Itália, mas que duas ideologias rivalizaram entre si em paridade. Tal fato
nos propõe um problema: esta situação não significaria a consciência coletiva
reforçando a ideia política de Direita e Esquerda, ao invés de desejar uma síntese entre
elas?
Referências
[i] De acordo com LIMA; LAGEMANN (1998) os estudos sobre uma alternativa que
fosse a construção de uma nova social-democracia, uma terceira via entre o velho
trabalhismo na Inglaterra e a nova direita, se deu a pedido do então Primeiro Ministro
inglês Tony Blair. Este desafio iniciou sua condução pela London School of Economics
and Political Science e, nesta, pelo diretor, à época, Anthony Giddens.