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A Cessação da Vigência

O CC, no seu artigo 7º alude sobre a cessação de vigência da lei.


1º A lei que não for temporária, só deixa de vigorar se for revogada por outra lei.
2º A revogação pode resultar por declaração expressa, por incompletude, ou se a nova lei regular
toda a matéria da lei anterior.
3º A lei geral não revoga a lei especial, exceto se outra for a intenção do legislador.
“Guilherme Moreira especifica que a lei geral não revoga necessariamente a lei especial,
porque os motivos desta podem coexistir com os daquela”.
4º A revogação da lei revogatória não importa o renascimento da lei que esta havia revogado.

Causas de cessação da vigência da lei

- por auto-limitação
→ explicita: a própria lei coloca balizas temporais à sua vigência
→ implícita: quando tal decorra da matéria por ela versada.

- por revogação operada por outra lei subsequente – lei nova

Uma figura especifica da cessação da vigência é o desuso →existem numerosas leis que nunca
foram revogadas, mas que , com o passar dos séculos, ninguém se lembraria de vir invocar ou de
aplicar.

A Caducidade da Lei
qualidade daquilo que cai, que é fraco ou transitório. Supressão de situações
juridicamente relevantes.

Caducidade em sentido amplo: a caducidade traduz a cessação de um efeito jurídico, pela sua
superveniência de um facto a que o Direito confira eficácia extintiva ou pelo desaparecimento da
base que lhe facultava a produção de efeitos.

Caducidade em sentido estrito: a caducidade exprime a cessação de efeitos pelo decurso do prazo
a que eles estava sujeitos.

As Leis Transitórias
→ Aquelas que, segundo o que nelas próprias se disponha, se destinam a vigorar apenas durante um
período limitado.
- leis destinadas a situações passageiras (diplomas referentes a época de incêndios)
- leis que visam efeito predeterminado
- leis que se destinam a ocorrências destinadas a desaparecer
O diploma transitório pode conter um prazo explícito e certo, quanto à sua vigência: até ao fim do
ano ou ao termo da legislatura, como exemplo.

A auto-limitação temporária de uma lei deve ser inserida em todo o seu processo interpretativo.
A transitoriedade de uma lei permite fixar a sua dimensão teleológica e calibrar a ponderação das
consequências a efetuar.

Qualquer lei visa regular os factos que, nela própria se prevejam. Quando se verifique que tais
factos não se podem mais verificar, a lei cessa, automaticamente, a sua vigência (o diploma
destinado a proteger um lince ibérico cessa com a morte do ultimo exemplar dessa espécie).
A caducidade de uma lei não se confunde com a sua não-aplicação.
Temos também a eventualidade de a lei visar uma solução que se tornou impossível ou inútil (as
regras destinadas a promover o novo aeroporto perderam aplicação com o cancelamento do projeto.
Desta feita, devemos lidar com a teleologia das normas. A inviabilização do seu escopo faz cessar a
sua vigência, numa manifestação de caducidade ampla).

Desuso
Ocorre quando, justificadamente, uma lei deixe de se aplicar. A justificação deve ser procurada no
plano do sistema. Ela pode advir.

→ de se atenuarem fortemente os fins que levaram à promulgação da lei


→ de a lei se revelar contraproducente ou inútil, com a evolução sócio-económica
→ de se terem apurado valores ou princípios que contraditem a via prosseguida ou que a tornem
menos eficaz

O simples facto de a lei atravessar um período longo de não funcionamento, indica um desinteresse
geral que provavelmente, advirá de não encontrar apoio no sistema. A este compete sempre a última
palavra.

A Revogação da Lei – artº 7


Diz-se revogação ou cessação de exigência de uma lei (a lei velha) por determinação de outra (a lei
nova).

→ Revogação: figura mais geral. Abrange as diversas situações de cessação de vigência de uma lei,
pela ocorrência de uma nova lei que a tanto conduza.
→ Ab-rogação: traduz uma revogação expressa e completa de uma lei velha por uma lei nova.
→ Derrogação: equivale ao afastamento da lei velha, pelo surgimento de um novo regime com ela
incompatível.

Revogação expressa: sempre que uma lei nova suprima, explicitamente, a lei velha.
Revogação implícita: verifica-se nos casos em que uma lei venha estabelecer um regime diverso
do anterior. É pontuada por normas que dispõem “é revogada toda a legislação em contrário”.
Revogação global: acode sempre que uma lei substitua toda a matéria regulada na anterior.

As leis especiais:
Diz-se especial a norma que retire, de um regime comum (a lei geral), uma situação determinada em
função de uma certa característica e estabeleça, para ela, um regime não-conforme com o aplicável
às demais situações.

Quando uma lei geral seja substituída por outra lei geral, entende-se que é conservada a lei especial
porventura existente, salvo se a lei geral nova visa pôr termo aos regimes especiais porventura
existentes.

As leis podem remeter umas para as outras. Quando um diploma remeta para um preceito revogado
à que fazer a distinção entre:

- remissões estáticas
A lei remissora apela ao concreto regime constante da lei para que remeta: se este for
revogado a lei remissora perde o seu sentido, havendo-se, também, por revogada.

- remissões dinâmicas
Tem-se em vista o regime “ad quem”. Se ele for substituído, subentende-se que a remissão,
automaticamente, se vai reportar à lei nova.
O denominado princípio da não-repristinação das leis emerge o artigo 7º/4: a revogação da lei
revogatória não importa o renascimento da lei que esta revogara.

O Direito Transitório

O Direito não é estático. As fontes evoluem. Quando uma situação jurídica se prolongue no tempo e
tenha contacto com, pelo menos, uma lei velha e uma lei nova, qual delas aplicar?

Soluções possíveis:
→ ou surgem regras especiais para as situações em causa, dispensando-lhes um tratamento misto
adequado à sua materialidade: DIREITO TRANSITÓRIO MATERIAL
→ ou ocorrem regras de conflito as quais, ponderando a situação atingida, determinam a aplicação
ou da lei nova, ou da lei velha: DIREITO TRANSITÓRIO (DE CONFLITOS)

O problema da aplicação intemporal da lei surgiu com as primeiras leis. Aplicam-se apenas a
situações futuras? Às atuais? Às passadas?
As leis gregas já referiam o problema, determinando que só se aplicavam para o futuro
No período intermédio, mormente sob as leis dos soberanos do Ocidente, conviveu-se com as
constituições romanas de aplicação da lei nova apenas para o futuro, e com novas tendências
declarativistas.

Princípios clássicos do Direito Transitório:


- principio da não retroatividade
- principio do respeito pelos direitos adquiridos
- principio da aplicação imediata da lei

A não retroatividade levanta diversas questões que acabam por originar regras distintas. Ela pode
pretender significar:
- que a lei nova não se aplica às questões que já foram definitivamente resolvidas à luz da lei velha
- que a lei nova não funciona perante os factos jurídicos operados perante a lei anterior
- que a lei nova respeita os direitos adquiridos

A lei nova rege para o futuro, respeitando os direitos constituídos. Mas os direitos constituídos não
se confundem com meras expectativas: estas são atingidas pela lei nova.

A regra do respeito pela lei – ou a da sua imperatividade – leva a que a mesma se deva aplicar
imediatamente, uma vez em vigor.
A aplicação imediata da lei não envolve uma aplicação retroativa, no sentido mais imediato do
termo. Mas veda a manutenção ultra-ativa da lei velha. Uma vez revogada pela lei nova, esta não
mais pode reger as situações da vida social.

O direito lusófono subscreveu o principio da não retroatividade, bem como o respeito, pela lei nova,
dos direitos adquiridos.
A aplicação da lei no tempo, no que tange ao regime geral, consta do artigo 12º.

“1. A lei só dispõe para o futuro; ainda que, lhe seja atribuída eficácia retroativa, presume-se que ficam
ressalvados os efeitos já produzidos pelos factos que a lei se destina a regular.

Retroatividade forte: lei nova dispõe alterado um caso julgado decidido ao abrigo da lei velha (ela vem
invalidar um contrato cuja eficácia fora reconhecida por sentença transitada)
INCONSTITUCIONAL: 282º/3 CRP prevê que a declaração, pelo TC, de uma inconstitucionalidade
com força obrigatória geral produza efeitos desde a entrada em vigor dessa norma, mas com ressalva dos
casos julgados. Se mesmo perante o vicio máximo de inconstitucionalidade, o caso julgado é intocável, por
maioria de razão assim será perante uma lei nova.
Retroatividade média: a lei nova vem atingir efeitos decorridos no passado, nos termos da lei velha ( a lei
nova vem baixar a taxa de juros e obriga a restituir as importâncias legitimamente percebidas como juros,
ao abrigo da lei velha)
TENDENCIALMENTE INCONSTITUCIONAL: a constituição não a proibe, a não ser em matéria
penal e salvo se a lei nova for mais favorável ao arguido, em matéria de leis restritivas para os direitos,
liberdades e garantias e em domínios fiscais. Além disso a retroatividade contraria o princípio básico da
proteção da confiança, próprio do Estado de Direito, e tal como temos vindo a preconizar, conectado com a
regra básica da igualdade.

Retroatividade fraca: a lei nova vem atingir posições consubstanciadas ao abrigo da lei velha ( ela vem
ampliar os prazos de um arrendamento anterior).
ADMISSÍVEL DESDE QUE não contradiga valores constitucionais e, no caso concreto, não dê azo
a posições que, a serem invocadas, se revelem abusivas, por contrárias ao sistema.

2. Quando a lei dispõe sobre as condições de validade substancial ou formal de quaisquer factos ou sobre
os seus efeitos, entende-se, em caso de dúvida, que só visa os factos novos; mas, quando dispuser
diretamente sobre o conteúdo de certas relações jurídicas, abstraindo dos factos que lhes deram origem,
entender-se-á que a lei abrange as próprias relações já constituídas, que subsistam à data da sua entrada
em vigor.”

A lei nova dirige-se para situações preexistentes: relações duradouras (de arrendamento ou de
trabalho) ou direitos reais, como exemplos.

As leis interpretativas – artº 13 -

A lei diz-se interpretativa quando, perante uma lei velha que admita diversas interpretações, opte por
validar uma delas. Nessa eventualidade, tudo se passará como se a lei interpretativa aderisse,
desde, o início, à lei interpretada: ela não inovaria, assim se justificando a eficácia retroativa,
reportada à entrada em vigor da lei velha.

1. A lei interpretativa integra-se na lei interpretada, ficando salvos, porém, os efeitos já produzidos pelo
cumprimento da obrigação, por sentença passada em julgado, por transação, ainda que não homologada,
ou por atos de análoga natureza.

2. A desistência e a confissão não homologadas pelo tribunal podem ser revogadas pelo desistente ou
confitente a quem a lei interpretativa for favorável.

Veda a retroatividade forte: a lei interpretativa não pode atingir os efeitos integralmente
decorridos no passado ou cobertos pelo caso julgado, por transação ainda que não homologada ou
por atos de análoga natureza.

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