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Antonio Gramsci
14 de outubro de 1926
Transcrição Autorizada
pela
Editora Civ ilização Brasileira
Caros companheiros:
Foi partindo desta precisa convicção que tomamos a decisão de lhes enviar
esta carta.
Pode ser que o isolamento em que nosso Partido é obrigado a viver nos
tenha induzido a exagerar os perigos referentes à situação interna do Partido
Comunista da URSS; de qualquer modo, não são certamente exagerados
nossos juízos sobre as repercussões internacionais dessa situação e, como
internacionalistas, queremos cumprir com nosso dever.
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Uma cisão desse tipo, quaisquer que sejam os resultados numéricos das
votações congressuais, pode ter as mais graves repercussões, não só se a
minoria oposicionista não aceitar com a máxima lealdade os princípios
fundamentais da disciplina revolucionária de partido, mas também se ela, ao
travar sua polêmica e sua luta, ultrapassar certos limites superiores a qualquer
democracia formal [3].
E isso não apenas nos países onde não mais existe a liberdade de reunião
e onde a liberdade de imprensa foi completamente suprimida ou está
submetida a drástica limitações, com na Itália( onde os tribunais apreenderam
e proibiram a publicação de livros de Trotski, Lênin, Stalin, Zinoviev e,
ultimamente, até mesmo o Manifesto Comunista), mas também nos países
onde nossos partidos ainda têm a possibilidade de fornecer aos seus membros
e às massas em geral uma documentação satisfatória.
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E não só pelas razões já expostas, que, por assim dizer, são externas e se
referem às condições gerais do desenvolvimento revolucionário em nosso país.
É sobretudo com base neste fato que acreditamos ser nosso dever de
internacionalistas chamar a atenção dos companheiros mas responsáveis do PC
da URSS.
Parece-nos que a paixão violenta pelas questões russa está fazendo com
que vocês percam de vista os aspectos internacionalistas das próprias
questões russas; está fazendo com que esqueçam que os seus deveres de
militantes russos só podem e devem ser cumpridos no quadro dos interesses
do proletário internacional.
foi deste ponto de vista realista (e que acreditamos leninista) que o Birô
Político do PC da Itália estudou as discussões entre vocês.
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Reside neste elemento a raiz dos erros do bloco das oposições e a origem
dos perigos latentes contidos em sua atividade.
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Notas:
[1] -Gramsci foi encarregado de redigir esta carta pelo Birô Político do PCI.
Ele o fez no escritório da Embaixada Soviética em Roma, que se responsabilizou por seu envio a
Togliatti, então em Moscou.
A carta foi publicada pela primeira vez em 1938, por Angelo Tasca, numa revista do partido
socialista Italiano editada na França.
Depois da libertação, foi republicada na Itália por periódicos socialistas e trotskistas.
Somente em 1964, pouco antes de morrer, Togliatti reconheceu sua existência e cuidou de sua
publicação"oficial", juntamente com sua própria resposta, num órgão do PCI: rinascitta, ano XXI,
numero 22, 30 de maio de 1964, p. 17-20.
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[3] -A constituição do bloco de oposição à maioria liderada por Stalin e Bukarin foi anunciada por
Trotski na reunião do Comitê Central de 12-13 de julho de 1926.
O Birô Político do PCI foi informado da dureza do embate por Togliatti, que estava em Moscou
quando da mencionada reunião do CC.
Em 4 de outubro, Trotski, Zinoviev, Kamenev e outros expoentes da oposição de esquerda
apresentaram ema proposta de "trégua", que não foi aceita pela maioria. (retornar ao texto)
[4] - Cabe aqui recordar, ainda que brevemente, o que estava em jogo na dura disputa em curso
no PCUS. Além da discussão sobre o regime interno do Partido (com a oposição advogando mais
amplo espaço para o debate e a democracia internos), maioria se opunham sobre a continuidade
ou não da Nova Política Econômica (NEP), que - adotada em 1921, ainda sob direção de Lênin, em
substituição ao chamado "comunismo de guerra", posto em prática logo após a revolução e
durante a guerra civil - restabelecia relações mercantis no campo em algumas atividades urbanas,
garantindo aos camponeses que a coletivização agrícola só ocorreria por adesão voluntária.
Assim, em muitos casos, os camponeses(sobre tudo os médios e os grandes) chegaram a desfrutar
de um padrão de vida superior ao dos operários urbanos.
A manutenção da NEP - defendida então por Stalin e, sobretudo, por Bukarin, que se tornara seu
principal teórico - era apoiada também pela maioria do Comitê Central do PCUS.
O "bloco das oposições", liderado por Trotski e Zinoviev, defendia, ao contrário, o abandono da
NEP e a adoção de uma política de industrialização acelerada, com base num rigoroso
planejamento central e numa "acumulação primitiva socialista", a ser feita mediante a transferência
de renda do campo para a cidade, ou seja, mediante a expropriação dos camponeses.
Gramsci se coloca abertamente, nesta carta, a favor da c0onservação da NEP, embora demonstre
também preocupação com os métodos de luta interna adotados pela maioria "nepista".
É interessante observar que , depois de derrotar a oposição e expulsar Trotski da URSS, Stalin
rompeu em 1929 também com Bukarin, abandonou a NEP e passou a pôr em prática algo muito
semelhante ao programa de industrialização acelerada e de coletivização forçada defendido pela
oposição trotskista-zinovievista.
Em conseqüência, esta o acusou de ter "roubado " o seu programa.
Stalin não hesitou em chamar de "revolução pelo alto" esta sua nova política. (retornar ao texto)
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