Você está na página 1de 8

23/01/2020 Gramsci: Controle Operário

MIA > Biblioteca > Gramsci > Nov idades

Carta ao Comitê Central do PC da


URSS [1]

Antonio Gramsci
14 de outubro de 1926
Transcrição Autorizada
pela
Editora Civ ilização Brasileira

Escrito em: 1926


1ª Edição: Rinascita, ano XXI, nº 22, 30 de maio de 1964.
Origem da presente transcrição: Escritos Políticos, volume 2, Editora Civilização Brasileira, Brasil
2004.
Direitos de Reprodução: © Editora Civilização Brasileira

Caros companheiros:

Os comunistas italianos e os trabalhadores


conscientes de nosso pais sempre acompanharam com a
máxima atenção as discussões entre vocês.

Às vésperas de cada congresso ou conferência do


Partido Comunista Russo, estávamos seguros de que -
apesar da aspereza das polêmicas - a unidade do PCR não
estava em perigo; ao contrário, estávamos seguros de
que, tendo alcançado uma maior homogeneidade
ideológica e organizativa através de tais discussões, o
Partido ficaria mais preparado e aparelhado para superar as inúmeras
dificuldades ligadas ao exercício do poder num Estado operário.

Hoje, às vésperas da XV Conferência do PCR[2], não temos mais a


segurança do passado; sentimo-nos irresistivelmente angustiados.

Parece-nos que a atual atitude do bloco das oposições e a dureza das


polemicas no PCR exijam a intervenção dos partidos irmãos.

Foi partindo desta precisa convicção que tomamos a decisão de lhes enviar
esta carta.

Pode ser que o isolamento em que nosso Partido é obrigado a viver nos
tenha induzido a exagerar os perigos referentes à situação interna do Partido
Comunista da URSS; de qualquer modo, não são certamente exagerados
nossos juízos sobre as repercussões internacionais dessa situação e, como
internacionalistas, queremos cumprir com nosso dever.

https://www.marxists.org/portugues/gramsci/1926/10/14.htm?fbclid=IwAR2fFGKMGMwT_a1pPZ8T8afbXfMEgLORVSAVYcc-qW7qFY88D1HfI_4DsKU 1/8
23/01/2020 Gramsci: Controle Operário

A atual situação de nosso partido irmão da URSS parece-nos diversa e


muito mais grave do que a ocorrida em anteriores discussões, já que hoje
vemos ocorrer e aprofundar uma cisão no grupo central leninista, que foi
sempre o núcleo dirigente do Partido e da Internacional.

Uma cisão desse tipo, quaisquer que sejam os resultados numéricos das
votações congressuais, pode ter as mais graves repercussões, não só se a
minoria oposicionista não aceitar com a máxima lealdade os princípios
fundamentais da disciplina revolucionária de partido, mas também se ela, ao
travar sua polêmica e sua luta, ultrapassar certos limites superiores a qualquer
democracia formal [3].

Um dos mais preciosos ensinamentos de Lênin foi o de que devemos


estudar muito as opiniões de nossos inimigos de classe.

Ora, caros companheiros, é certo que os jornais e os estadistas mais fortes


da burguesia internacional apostam neste caráter orgânico do conflito
existente no núcleo fundamental do PC da URSS; apostam na cisão de nosso
partido irmão e estão convencidos de que tal cisão levará à desagregação e a
agonia da ditadura proletária, provocando assim o colapso da revolução, o que
não foi conseguido pelas invasões e pelas insurreições dos guardas brancos.

A própria atitude friamente circunspecta com que a imprensa burguesa


tenta hoje analisar os eventos russos, o fato de que ela busque evitar, na
medida do possível, a violenta demagogia que a caracterizava no passado são
sintomas que devem levar os companheiros russos a refletir e a se tornar mais
conscientes de suas responsabilidades.

Há ainda outra razão que leva a burguesia internacional a apostar na


possibilidade de uma cisão ou de um agravamento da crise interna do PC da
URSS.

O estado operário já existe na Rússia há nove anos.

Decerto, somente uma pequena minoria não só das classes trabalhadoras,


mas dos próprios partidos comunistas dos demais países tem condições de
reconstruir em seu conjunto todo o desenvolvimento da revolução, de encontrar
a continuidade que liga até mesmo os detalhes de que se compõe as vida
cotidiana do Estado dos sovietes à perspectiva geral da construção do
socialismo.

E isso não apenas nos países onde não mais existe a liberdade de reunião
e onde a liberdade de imprensa foi completamente suprimida ou está
submetida a drástica limitações, com na Itália( onde os tribunais apreenderam
e proibiram a publicação de livros de Trotski, Lênin, Stalin, Zinoviev e,
ultimamente, até mesmo o Manifesto Comunista), mas também nos países
onde nossos partidos ainda têm a possibilidade de fornecer aos seus membros
e às massas em geral uma documentação satisfatória.

https://www.marxists.org/portugues/gramsci/1926/10/14.htm?fbclid=IwAR2fFGKMGMwT_a1pPZ8T8afbXfMEgLORVSAVYcc-qW7qFY88D1HfI_4DsKU 2/8
23/01/2020 Gramsci: Controle Operário

Nesses países, as grandes massas não podem compreender as discussões


que ocorrem no PC da URSS, sobretudo se são tão violentas como as atuais e
envolvem não um aspecto particular, mas todo o conjunto da linha política do
Partido.

Não somente as massas trabalhadoras em geral, mas as próprias massas


de nossos partidos vêem e querem ver na Republica dos Sovietes e no Partido
que a governa uma única unidade de combate que trabalha na perspectiva
geral do socialismo.

Somente na medida em que as massas ocidentais européias vêem a Rússia


e o Partido russo deste ponto de vista é que aceitam de bom grado e como um
fato historicamente necessário que o PC da URSS seja o partido dirigente da
Internacional; somente por isso é que a República dos Sovietes e o PC da
URSS são um formidável elemento de organização e de propulsão
revolucionária.

Os partidos burgueses e socialdemocratas, pela mesma razão, exploram as


polêmicas internas e os conflitos existentes no PC da URSS; eles querem
contra essa influência da Revolução Russa, contra a unidade revolucionária que
vem se constituindo em todo o mundo em torno do PC da URSS.

Caros companheiros: é extremamente significativo que num país como a


Itália, onde a organização estatal e partidária do fascismo consegue sufocar
toda, manifestação expressiva de vida autônoma das grandes massas
operárias e camponesas, é significativo que os jornais fascistas, sobretudo os
de província, estejam repletos de artigos tecnicamente bem feitos do ponto de
vista da propaganda, com um mínimo de demagogia e de atitudes injuriosas,
nos quais se tenta demonstrar, com um esforço evidente de objetividade, que -
de acordo com as próprias declarações dos líderes mais conhecidos do bloco da
oposição do PC da URSS - o Estado dos sovietes está seguramente se
transformando num puro Estado capitalista, e que , portanto, no duelo mundial
entre fascismo e bolchevismo, o fascismo triunfará.

Está campanha, se, por um lado, demonstra quanto ainda é grande a


simpatia que a República dos Sovietes desfruta entre as grandes massas do
povo italiano (que, em algumas regiões, há seis anos não recebe mais que
uma escassa literatura partidária ilegal), demonstra também, por outro, como
o fascismo, que conhece muito bem a real situação interna italiana e
apreendeu a lidar com as massas, busca utilizar a atitude política do bloco das
oposições para quebrar definitivamente a firme aversão dos trabalhadores ao
governo de Mussolini e para gerar no mínimo um estado de espírito no qual o
fascismo apareça, pelo menos, como uma inelutável necessidade histórica,
apesar da crueldade e dos males que o acompanham.

Acreditamos que, no quadro da Internacional, nosso Partido é o que mais


sofre as repercussões da grave situação existente no PC da URSS.

https://www.marxists.org/portugues/gramsci/1926/10/14.htm?fbclid=IwAR2fFGKMGMwT_a1pPZ8T8afbXfMEgLORVSAVYcc-qW7qFY88D1HfI_4DsKU 3/8
23/01/2020 Gramsci: Controle Operário

E não só pelas razões já expostas, que, por assim dizer, são externas e se
referem às condições gerais do desenvolvimento revolucionário em nosso país.

Vocês sabem que todos os partidos da Internacional herdaram da velha


socialdemocracia e das diversas tradições nacionais existentes nos diversos
países(anarquismo, sindicalismo, etc., etc.) uma massa de preconceitos e de
temas ideológicos que representam a fonte de todos os desvios de direita e de
esquerda.

Nestes últimos anos, mas sobretudo depois do V Congresso mundial,


nossos partidos começaram a conquistar, através de uma dolorosa experiência,
de crises fatigantes e extenuantes, uma segura estabilização leninista;
estávamos nos tornando verdadeiros partidos bolcheviques.

Novos quadros proletários se vinham formando a partir de baixo, das


fábricas; os elementos intelectuais estavam sendo submetidos a uma rigorosa
seleção e a um controle rígido e criterioso, com base no trabalho prático, no
terreno da atuação.

Esta reelaboração ocorria sob a direção do PC da URSS em conjunto


unitário e de todos os grandes líderes deste Partido.

Ora, a intensidade da atual crise e a ameaça de cisão aberta ou latente


nela contida paralisam este processo de desenvolvimento e de elaboração em
nossos partidos, cristalizam os desvios de direita e de esquerda, tornam
novamente distante o êxito da unidade orgânica do partido mundial dos
trabalhadores.

É sobretudo com base neste fato que acreditamos ser nosso dever de
internacionalistas chamar a atenção dos companheiros mas responsáveis do PC
da URSS.

Companheiros: vocês foram, nestes nove anos de história mundial, o


elemento organizador e propulsor das forças revolucionárias de todos os
países; a função que vocês desempenharam não tem, em toda história do
gênero humano, nenhum precedente que iguale em amplitude e profundidade.

Mas vocês estão hoje destruindo o que construíram; estão se degradando e


correm o risco de anular a função dirigente que o PC da URSS havia
conquistado graças ao impulso de Lênin.

Parece-nos que a paixão violenta pelas questões russa está fazendo com
que vocês percam de vista os aspectos internacionalistas das próprias
questões russas; está fazendo com que esqueçam que os seus deveres de
militantes russos só podem e devem ser cumpridos no quadro dos interesses
do proletário internacional.

O Birô Político do Partido Comunista da Itália estudou com o maior


cuidado e atenção possíveis todos os problemas que estão hoje em discussão
no PC da URSS.
https://www.marxists.org/portugues/gramsci/1926/10/14.htm?fbclid=IwAR2fFGKMGMwT_a1pPZ8T8afbXfMEgLORVSAVYcc-qW7qFY88D1HfI_4DsKU 4/8
23/01/2020 Gramsci: Controle Operário

As questões que vocês estão enfrentando hoje podem se pôr amanhã


diante de nosso Partido.

Também em nosso país as massas rurais são a maioria da população


trabalhadora.

De resto, todos os problemas inerentes à hegemonia do proletariado se


apresentarão entre nós sob uma forma mais complexa e aguda do que na
própria Rússia, já que a densidade da população rural da Itália é muito maior;
já que nossos camponeses tem uma riquíssima tradição organizativa e sempre
conseguiram fazer com que seu peso específico de massa se fizesse sentir de
modo sensível na vida política nacional; já que entre nós o aparelho
organizativo eclesiástico tem dois mil anos de tradição e se especializou na
propaganda e na organização dos camponeses de um modo que não tem igual
em outros países.

Se é verdade que a indústria é mais desenvolvida entre nós e o


proletariado tem uma importante base material, é também verdade que esta
indústria não dispõe de matérias-primas no país e, portanto, está mais
exposta a crises.

Por isso, o proletariado só poderá desempenhar sua função dirigente se


tiver um grande espírito de sacrifício e souber se libertar completamente de
todo resíduo de corporativismo reformista ou sindicalista.

foi deste ponto de vista realista (e que acreditamos leninista) que o Birô
Político do PC da Itália estudou as discussões entre vocês.

Até agora, expressamos uma opinião partidária somente sobre a questão


estritamente disciplinar das frações, atendo-nos assim ao convite que nos foi
feito, depois do XIV Congresso de vocês, no sentido de não transferir a
discussão russa para as seções da Internacional.

Declaramos agora que consideramos fundamentalmente justa a linha


política da maioria co Comitê Central do PC da URSS e que é neste sentido,
certamente, que se pronunciará a maioria do Partido italiano, se se tornar
necessário que ele enfrente toda a questão.

Não queremos e consideramos inútil fazer agitação e propaganda junto a


vocês e aos companheiros do bloco das oposições.

Por isso faremos um elenco de todas as questões particulares, com nosso


juízo ao lado.

Repetimos que nos impressiona o fato de que a atitude do bloco das


oposições envolva toda a linha política do Comitê Central , atingindo assim o
coração mesmo da doutrina leninista e da ação política de nosso partido da
URSS.

https://www.marxists.org/portugues/gramsci/1926/10/14.htm?fbclid=IwAR2fFGKMGMwT_a1pPZ8T8afbXfMEgLORVSAVYcc-qW7qFY88D1HfI_4DsKU 5/8
23/01/2020 Gramsci: Controle Operário

É o princípio e a prática da hegemonia do proletariado que estão postos


em discussão; são as relações fundamentais da aliança entre operários e
camponeses que estão sendo abaladas e postas em perigo, ou seja, os pilares
do Estado operário e da revolução[4].

Companheiros: jamais ocorreu na história que uma classe dominante, e


seu conjunto, se visse em condições de vida inferiores a determinados
elementos e estratos da classe dominada e submetida.

Essa inaudita contradição foi reservada pela história ao proletariado;


residem em tal contradição os maiores perigos para a ditadura do proletariado,
sobretudo nos países onde o capitalismo não alcançou um grande
desenvolvimento e não consegui unificar as forças produtivas.

É desta contradição - que , de resto, apresenta-se já sob alguns aspectos


nos países capitalistas onde o proletariado alcançou objetivamente uma função
social elevada - que nascem o reformismo e o sindicalismo, que nascem o
espírito corporativo e as estratificações da aristrocacia operária.

Mas o proletariado não pode se tornar classe dominante se não superar


essa contradição, sacrificando seus interesses corporativos; não pode manter
sua hegemonia e sua ditadura se, mesmo quando se torna dominante não
sacrificar tais interesses imediatos em nome dos interesses gerais e
permanentes da classe.

Decerto, é fácil fazer demagogia neste terreno, insistindo sobre os lados


negativos da contradição:"É você o dominante, ó operário mal vestido e mal
alimentado, ou é dominante o nepman[5] encasacado e que tem à sua
disposição todos os bens da terra?"

Do mesmo modo, os reformistas - após uma greve revolucionária que


ampliou a coesão e a disciplina da massa, mas que, com sua longa duração,
empobreceu ainda mais cada operário- dizem: "Você lutou para que? Para ficar
ainda mais arruinado e mais pobre!"

É fácil fazer demagogia neste terreno; e é difícil de deixar de fazê-la


quando a questão é posta nos termos do espírito corporativo e não naqueles
do leninismo, ou seja, da doutrina da hegemonia do proletariado, que se
encontra historicamente numa posição e não em outra.

Para nós, é este o elemento essencial das discussões entre vocês.

Reside neste elemento a raiz dos erros do bloco das oposições e a origem
dos perigos latentes contidos em sua atividade.

Na ideologia e na prática do bloco das oposições, renasce plenamente toda


a tradição da socialdemocracia e do sindicalismo, que impediu até agora o
proletariado ocidental de se organizar em classe dirigente.

https://www.marxists.org/portugues/gramsci/1926/10/14.htm?fbclid=IwAR2fFGKMGMwT_a1pPZ8T8afbXfMEgLORVSAVYcc-qW7qFY88D1HfI_4DsKU 6/8
23/01/2020 Gramsci: Controle Operário

Somente uma firme e unidade e uma firme disciplina no partido que


governa o Estado operário podem assegurar a hegemonia proletária em regime
de Nova Política Econômica, ou seja, em pleno0 desenvolvimento da
contradição mencionada.

Mas a unidade e a disciplina, neste caso, não podem ser mecânicas e


coercivas.

Devem ser leais e obtidas pela convicção; não devem ser as de um


destacamento inimigo aprisionado ou cercado, que pensa sempre em fugir ou
em atacar de surpresa.

É isso, queridos companheiros, o que queremos lhes dizer, com espírito de


irmãos e de amigos, ainda que de irmãos mas jovens.

Os companheiros Zinoviev, Trotski, Kamenev contribuíram poderosamente


para nos educar para a revolução; algumas vezes nos corrigiram com muita
energia e severidade.

Foram nossos mestres.

Especialmente a eles nos dirigimos como os maiores responsáveis pela


atual situação, já que gostaríamos de estar seguros de que a maioria do
Comitê Central do PC da URSS não pretende vencer de modo esmagador esta
luta e está disposta a evitar medidas excessivas.

A unidade de nosso partido irmão da Rússia é necessária para o


desenvolvimento e o triunfo das forças revolucionárias mundiais: todo
comunista e internacionalista deve estar disposto a fazer os maiores sacrifícios
para que tal necessidade se realize.

Os prejuízos de um erro cometido pelo partido unido são facilmente


superáveis; os prejuízos de uma cisão ou de uma prolongada situação de cisão
latente podem ser irreparáveis e mortais.

Com saudações comunistas,

o Birô Político do PCI

Início da página

Notas:

[1] -Gramsci foi encarregado de redigir esta carta pelo Birô Político do PCI.
Ele o fez no escritório da Embaixada Soviética em Roma, que se responsabilizou por seu envio a
Togliatti, então em Moscou.
A carta foi publicada pela primeira vez em 1938, por Angelo Tasca, numa revista do partido
socialista Italiano editada na França.
Depois da libertação, foi republicada na Itália por periódicos socialistas e trotskistas.
Somente em 1964, pouco antes de morrer, Togliatti reconheceu sua existência e cuidou de sua
publicação"oficial", juntamente com sua própria resposta, num órgão do PCI: rinascitta, ano XXI,
numero 22, 30 de maio de 1964, p. 17-20.

https://www.marxists.org/portugues/gramsci/1926/10/14.htm?fbclid=IwAR2fFGKMGMwT_a1pPZ8T8afbXfMEgLORVSAVYcc-qW7qFY88D1HfI_4DsKU 7/8
23/01/2020 Gramsci: Controle Operário

Em 1970, foi finalmente publicada a integra da correspondência, incluindo também a resposta de


Gramsci à carta de Togliatti: Franco Ferri, "Il carteggio completo tra Gramsci e Togliatti sula
situazone nel partiro bolscevico(1926)", in rinascitta, ano 27, numero 17, 24 de abril de 1970,
p.11-19. (retornar ao texto)

[2] -Esta conferencia teve lugar entre 26 de novembro e 3 de dezembro de 1926.


Conclui-se com a derrota, ou melhor, como Gramsci o temia, com o "esmagamento" da oposição
pela maioria ("stravittoria" em italiano): Trotski e Kamenev foram excluídos do Birô Político e
Zinoviev foi afastado de suas funções como dirigente da Internacional.
Estas foram apenas as medidas iniciais de uma stravittoria que levou mais tarde à condenação à
morte de Zinoviev e Kamenev, em processos montados por Stalin em 1936, e ao assassinato de
Trotski em seu exílio mexicano, em 1941. (retornar ao texto)

[3] -A constituição do bloco de oposição à maioria liderada por Stalin e Bukarin foi anunciada por
Trotski na reunião do Comitê Central de 12-13 de julho de 1926.
O Birô Político do PCI foi informado da dureza do embate por Togliatti, que estava em Moscou
quando da mencionada reunião do CC.
Em 4 de outubro, Trotski, Zinoviev, Kamenev e outros expoentes da oposição de esquerda
apresentaram ema proposta de "trégua", que não foi aceita pela maioria. (retornar ao texto)

[4] - Cabe aqui recordar, ainda que brevemente, o que estava em jogo na dura disputa em curso
no PCUS. Além da discussão sobre o regime interno do Partido (com a oposição advogando mais
amplo espaço para o debate e a democracia internos), maioria se opunham sobre a continuidade
ou não da Nova Política Econômica (NEP), que - adotada em 1921, ainda sob direção de Lênin, em
substituição ao chamado "comunismo de guerra", posto em prática logo após a revolução e
durante a guerra civil - restabelecia relações mercantis no campo em algumas atividades urbanas,
garantindo aos camponeses que a coletivização agrícola só ocorreria por adesão voluntária.
Assim, em muitos casos, os camponeses(sobre tudo os médios e os grandes) chegaram a desfrutar
de um padrão de vida superior ao dos operários urbanos.
A manutenção da NEP - defendida então por Stalin e, sobretudo, por Bukarin, que se tornara seu
principal teórico - era apoiada também pela maioria do Comitê Central do PCUS.
O "bloco das oposições", liderado por Trotski e Zinoviev, defendia, ao contrário, o abandono da
NEP e a adoção de uma política de industrialização acelerada, com base num rigoroso
planejamento central e numa "acumulação primitiva socialista", a ser feita mediante a transferência
de renda do campo para a cidade, ou seja, mediante a expropriação dos camponeses.
Gramsci se coloca abertamente, nesta carta, a favor da c0onservação da NEP, embora demonstre
também preocupação com os métodos de luta interna adotados pela maioria "nepista".
É interessante observar que , depois de derrotar a oposição e expulsar Trotski da URSS, Stalin
rompeu em 1929 também com Bukarin, abandonou a NEP e passou a pôr em prática algo muito
semelhante ao programa de industrialização acelerada e de coletivização forçada defendido pela
oposição trotskista-zinovievista.
Em conseqüência, esta o acusou de ter "roubado " o seu programa.
Stalin não hesitou em chamar de "revolução pelo alto" esta sua nova política. (retornar ao texto)

[5] - Ou seja, os que enriqueceram com a implementação da NEP, sobretudo os grandes


camponeses e os comerciantes.(retornar ao texto)
Inclusão 01/01/2007

https://www.marxists.org/portugues/gramsci/1926/10/14.htm?fbclid=IwAR2fFGKMGMwT_a1pPZ8T8afbXfMEgLORVSAVYcc-qW7qFY88D1HfI_4DsKU 8/8

Você também pode gostar