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– Parte II
Luciano R. M.
O poeta e o mundo
Falei sobre inspiração. Quando lhes perguntam “o que ela é” ou se “ela é”,
os poetas quase sempre respondem evasivamente. Não é por nunca
terem sentido a benesse desse impulso interior. A causa é outra. Não é
fácil explicar aquilo que nós mesmos não entendemos.
Tais pessoas não são abundantes. A maioria das pessoas nessa terra
trabalha para manter seus meios de subsistência, trabalha porque
precisa. Eles não escolhem seus trabalhos por paixão, são as
circunstâncias da vida que decidem isso. O trabalho não amado, que é
tedioso, valorizado apenas porque, mesmo sendo assim, nem todos o
têm, essa é uma das maiores desgraças humanas. E não há indicações de
que os próximos séculos trarão mudanças felizes.
Por isso valorizo muito essas duas palavrinhas: “não sei”. Pequenas, mas
com asas poderosas. Expande nossas vidas aos espaços que existem
dentro de nós e aos espaços nos quais está suspensa nossa insignificante
Terra. Se Isaac Newton não tivesse dito a si mesmo “não sei”, as maçãs
do pomar poderiam cair em frente a seus olhos como granizo, e ele, na
melhor das hipóteses, abaixar-se-ia até elas e acabaria com seu apetite.
Se minha compatriota Maria Skłodowska-Curie não tivesse dito a si
mesma “não sei”, teria certamente se tornado uma professora de química
num internato para garotas de boa família, e nesse trabalho de outro
modo respeitável, passaria sua vida. Mas repetia a si mesma “não sei” e
essas exatas palavras a levaram não uma, mas duas vezes a Estocolmo,
onde pessoas de espírito incansável e eternamente em busca recebem o
prêmio Nobel.