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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

XVIII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

MODELAGEM NUMÉRICA DE ESTACAS DA FUNDAÇÃO DE UMA PONTE EM


SOLO ESTRATIFICADO

Autor: Giulia Natalini


Orientador: Yuri Costa
Coautores: Alex Sousa, José Neres
___________________________________________________________________
Resumo
Este trabalho apresenta um estudo numérico tridimensional, via método dos
elementos finitos, da fundação por estacas de uma ponte em concreto armado que
atravessa um solo estratificado. A ponte estudada é localizada no Rio Jaguararibe, no
Município de Aracati, CE. As estacas são de concreto, moldadas in loco, com 15 m de
comprimento. As análises foram efetuadas em termos de distribuição dos
deslocamentos laterais e dos momentos fletores na estaca mais solicitada do bloco
de coroamento, mediante as ações oriundas da superestrutura da ponte. O efeito de
grupo foi avaliado utilizando-se duas configurações distintas de blocos de
coroamento. Avaliou-se também a influência da resistência do concreto do bloco e a
resposta produzida na estaca pela força horizontal e pelo momento fletor atuando no
bloco isoladamente e em conjunto. A consideração do grupo de estacas nas análises
numéricas atenuou a resposta de esforços e deslocamentos na estaca, em
comparação com análises feitas com a estaca isolada, e distanciou seus resultados
daqueles obtidos através do método analítico de Matlock e Reese (1961). O momento
fletor aplicado no bloco produziu uma alteração muito pequena nos deslocamentos
horizontais da estaca e muito elevada no momentos internos na estaca. Por outro
lado, o esforço lateral no bloco possui uma contribuição grande tanto nos
deslocamentos horizontais quanto nos momentos fletores na estaca.

Palavras-chave: Estaca. Ponte. Carregamento lateral. Método dos elementos finitos.


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XVIII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

NUMERICAL MODELING OF PILES OF A BRIDGE FOUNDATION IN STRATIFIED


SOIL

Author: Giulia Natalini


Adviser: Yuri Costa
Co-authors: Alex Sousa, José Neres
___________________________________________________________________
Abstract
This work presents a three-dimensional numerical study, using the finite element
method, on the pile foundation of a reinforced concrete bridge crossing a stratified soil.
The bridge crosses the Jaguararibe River at Aracati County, Ceará State, Brazil. The
foundation is composed of cast-in-place concrete piles with 15 m in length. Analyses
were carried out to study the distribution of lateral displacements and bending
moments of the most loaded pile in a pile cap, considering the loading from the bridge
superstructure. Pile group effect was evaluated by using two different cap layouts. The
study also included evaluation of the influence of the cap concrete compressive
strength on pile, and the isolated or combined response of the pile subjected to the
lateral force and the bending moment that reaches the pile cap. Numerical simulations
performed considering the whole pile group resulted in attenuated thrusts and lateral
displacements of the pile under analysis, as compared to numerical simulations
performed with a single pile. The investigated pile groups gave smaller lateral
displacements and bending moments as compared with the results provided by the
analytical method of Matlock and Reese (1961). The bending moment that reaches the
pile cap accounts for a small proportion in pile horizontal displacements and a very
large proportion in pile bending moments. On the other hand, the lateral force acting
in the pile cap significantly alters both horizontal displacements and bending moments
of the pile.

Keywords: Pile. Bridge. Lateral load. Finite elemento method.


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1. Introdução

O estudo de estacas carregadas horizontalmente tem sido prática corrente em


projetos nos quais estas ações apresentam grande magnitude, como em fundações
de torres eólicas, estruturas offshore e pontes. Dentre as ações horizontais atuantes
em pontes podem-se citar as oriundas do vento, frenagem e aceleração de veículos,
empuxo de terra, sobrecarga nas cortinas, variações térmicas, efeito dinâmico do
movimento de águas e sismos (FEAU et al., 2015; PERIĆ et al., 2016; CHEN et al.,
2016).
Diversos estudos numéricos e analíticos tem sido conduzidos para avaliar o
comportamento de estacas carregadas lateralmente. Em análise do efeito de ciclos
de carregamento horizontal devido a ações sísmicas ou do vento no deslocamento
horizontal de estacas, Bahrami e Nikraz (2017) mostraram haver boa concordância
entre o modelo de molas utilizado na representação da interação estaca-solo e
resultados descritos na literatura. Lin et al. (2012) apresentaram um estudo sobre a
integração entre o modelo numérico de modelagem da superestrutura de pontes com
um modelo numérico usado para a modelagem de fundações de pontes. Os autores
concluíram que análises mais precisas necessitam levar em conta a interação entre o
solo, a fundação e os elementos da superestrutura da ponte. Peng et al. (2010)
mostraram os efeitos da interação solo-estrutura em estacas tubulares de aço
carregadas lateralmente ao se adicionarem abas laterais no topo, e concluíram que
um dos principais influenciadores dos resultados é a espessura do tubo e das abas.
Um aspecto ainda pouco discutido, entretanto, é avaliação de situações
envolvendo estacas sujeitas ao carregamento lateral em solos estratificados. O
presente estudo investiga este tipo de problema analisando-se os esforços e
deslocamentos laterais gerados nas estacas da fundação de uma ponte hiperestática,
de concreto, atravessando solo estratificado. Analisa-se a resposta da fundação
considerando efeitos de grupo e variações da resistência do concreto do bloco de
coroamento. Avalia-se também as contribuições isoladas do momento fletor e esforço
lateral aplicado ao bloco nos deslocamentos laterais e momentos fletores resultantes
nas estacas.
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2. Metodologia

2.1. Geometria da Ponte Avaliada


A ponte avaliada atravessa o Rio Jaguararibe, no Município de Aracati, CE. Possui
uma extensão total de 50 m, subdividida em dois vãos de 20 m e dois balanços de 5
m (Fig. 1). O acesso à ponte é conseguido através das placas de transição com 4 m
de comprimento, posicionadas em cada bordo. As vigas são apoiadas em pilares de
seção circular que possuem gabarito livre de 4,5 m sob a ponte. Estes são engastados
em blocos de coroamento apoiados sobre estacas de concreto armado. Os aparelhos
de apoio são de Neoprene fretado. O concreto utilizado possui resistência
característica de 50 MPa e a carga móvel rodoviária padrão (TB), definida de acordo
com a NBR 7188 (ABNT, 2013), vale 450 kN. A armadura utilizada é de aço CA-50. A
seção transversal da ponte possui 13 m de extensão, sendo 6,6 m entre eixos de
longarinas e 3,2 m em balanço de cada lado (Fig. 2).

Figura 1 - Esquema longitudinal da ponte. Dimensões em m. Sem escala.

Figura 2. Seção transversal da ponte (meio do vão). Dimensões em m. Sem escala.


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2.2. Ações na Ponte


As ações calculadas nos pilares da ponte são apresentadas na Tabela 1. Os valores
das ações apresentados consideram a ação horizontal do empuxo absorvida por uma
estrutura de contenção projetada para não deixar transferir esforços para a
superestrutura e mesoestrutura da ponte.

Tabela 1. Resumo das forças e momentos fletores nos pilares da ponte.


Com- Ação Ação Ação Momento na Momento Ação
Pila pri- horizontal horizontal horizontal direção na direção Vertical
r mento, longitudinal transversal resultante transversal longitudinal (KN)
L (m) (KN) (KN) (KN) 𝑀𝑥 (𝐾𝑁. 𝑚) 𝑀𝑦 (𝐾𝑁. 𝑚)
P1 4,05 120,04 78,75 143,57 318,9546 486,16 3240,29
P2 5,7 30,52 5,03 30,93 28,6824 173,96 4007,12
P3 4,05 120,04 78,75 143,57 318,9546 486,16 3240,22

2.3. Propriedade dos Materiais


No intuito de simular o estudo de caso desenvolvido neste trabalho, foram utilizados
dados de sondagem da ponte sobre o Rio Jaguararibe, situado nas proximidades do
município de Aracati, no Estado do Ceará, na BR 403 (km 46).
A Tabela 2 apresenta um resumo dos parâmetros de entrada utilizados nos
modelos analíticos e nas simulações numéricas, obtidos por correlações com o índice
de resistência a penetração do solo (Nspt). Na Tabela 2. Parâmetros definidos para os
materiais., 𝑐 é a coesão do solo, 𝜑 é o ângulo de atrito do solo, 𝜈 é coeficiente de
Poisson do material, 𝛾 e 𝛾𝑠𝑎𝑡 são o peso específico aparente natural e o peso
específico saturado do solo e 𝐸𝑠/𝑐 é o módulo de elasticidade do solo ou do concreto.

Tabela 2. Parâmetros definidos para os materiais.


Material Tipo 𝑃𝑟𝑜𝑓𝑢𝑛𝑑. (𝑚) 𝑐 (𝐾𝑃𝑎) 𝜑 (°) 𝜈 𝛾 (𝐾𝑁/𝑚³) 𝛾𝑠𝑎𝑡 (𝐾𝑁/𝑚³) 𝐸𝑠/𝑐 (𝐾𝑁/𝑚²)
Areia 0-4 1 29,7 0,2 16 19 11475
Argila 4-5,6 180 1 0,2 19 - 66150
Solo Argila 5,6-8,6 465 1 0,2 21 - 73237,5
Areia 8,6-16,05 1 45 0,2 18 21 200500
Rocha 16,05-27 1 45 0,2 25 - 25000000
Estaca - 1-16 - - 0,2 25 - 25000000
Bloco - 0-1 - - 0,2 25 - 40000000
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2.4. Blocos de Fundação


No presente estudo, foram consideradas fundações com blocos hexagonais de sete
estacas de diâmetro D = 410 mm ou fundações com blocos quadrados de nove
estacas de diâmetro D = 300 mm, como mostrado na Fig.3. No presente trabalho, os
blocos são designados BL7 e BL9, respectivamente. As estacas possuem 15 m de
comprimento e os blocos possuem 1 m de espessura.

a) b)
Figura 3. Blocos estudados: a) Bloco hexagonal de sete estacas; b) bloco quadrado de
nove estacas. Dimensões em m. Sem escala.

2.5. Características da Modelagem Numérica


Para as simulações numéricas da fundação foi utilizado o software comercial Plaxis
3D Foundations, que permite considerar a continuidade do meio tridimensionalmente.
Os elementos da malha são de 15 nós. O modelo constitutivo do solo utilizado nas
simulações é o Mohr-Coulomb, escolhido pela maior simplicidade de dados
requeridos, compatível com o nível de informações disponíveis em projeto acerca do
solo.
As Figs. 4 e 5 apresentam os dois tipos de bloco avaliados na modelagem
numérica. Nas Figuras 4a e 5a é mostrada, em planta, a geometria dos blocos e o
esquema de aplicação de cargas. Em cada bloco possui cinco pontos de aplicação
das cargas. No ponto central foram aplicadas as ações verticais e horizontais,
simultaneamente. Nos pontos ao redor foram aplicados binários de força,
representando os momentos fletores provenientes do pilar. A malha tridimensional de
elementos finitos gerada para cada tipo de bloco é exibida nas Figuras 4b e 5b.
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a) b)
Figura 4. Modelo de Bloco hexagonal de sete estacas: a) Geometria b) Malha de elementos
finitos

a) b)
Figura 5. Modelo de Bloco quadrado de nove estacas: a) Geometria b) Malha de Elementos
Finitos

2.6. Características da Modelagem Analítica


As curvas de deslocamentos horizontais e momentos fletores foram obtidas
analiticamente através do método de Matlock e Reese (1961). A variação do
coeficiente de reação horizontal (nn) com a profundidade foi determinada através da
proposição de Christian (2012), a qual utiliza uma correlação entre n h e o índice de
resistência à penetração do solo Nspt.

3. Resultados e Discussão

3.1. Comparação entre Resultados dos Modelos Numérico e Analítico e Efeito


de Grupo

Os resultados dos deslocamentos horizontais e esforços de flexão de serviço,


verificados nas estacas mais solicitadas de cada um dos blocos estudados, são
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apresentados na Fig. 6. São comparados os resultados numéricos por MEF e


analíticos pelo método de Matlock e Reese (1961).
De maneira geral, o modelo numérico utilizado foi menos conservador que o
método analítico para as duas configurações de blocos estudadas. Essa constatação
é coerente com os resultados de Kim et al. (2011), nos quais os deslocamentos
verificados com métodos analíticos também superaram os numéricos.
Os valores de deslocamento horizontal (y) divergiram bastante na região do
topo da estaca, sendo bem inferiores com as simulações numéricas. Também houve
significativa divergência entre os métodos nos resultados de momentos fletores (M)
até aproximadamente 4 m de profundidade na estaca. O resultado numérico indica
um pequeno momento de engastamento no topo da estaca, o que não é previsto com
o modelo analítico. A previsão dos momentos máximos de serviço é muito divergente
entre as duas abordagens. Contudo, tanto num caso quanto no outro, sua magnitude
é bem inferior aos momentos calculados para o estado limite último, de acordo com
as taxas de armadura utilizadas.

y (m) M (KNm)
-0.001 0.001 0.003 0.005 -10 0 10 20 30
0 0
2 2
4 4
Profunidade (m)

Profunidade (m)

6 6
8 8
10 10

12 12

14 14

16 16

BL7-MEF BL9-MEF BL7 - MEF BL9 - MEF

BL7-Analítico BL9-Analitico BL7 - Analítico BL9 - Analítico

a) b)

Figura 6. Resposta da estaca mais solicitada do bloco considerando-a no grupo: a)


deslocamentos horizontais; b) momentos fletores.

Com intuito de se avaliar o efeito de grupo, procedeu-se a simulações


numéricas de estacas isoladas, segundo os mesmos preceitos adotados no modelo
analítico. Os resultados são apresentados na Fig.7. De maneira geral, os resultados
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numéricos se aproximam mais dos analíticos quando se desconsideram os efeitos de


grupo. A modelagem numérica resultou em valores de deslocamentos horizontais
superiores, em comparação com o resultado analítico. Por outro lado, os momentos
fletores obtidos numericamente foram ligeiramente inferiores aos obtidos via método
analítico.
Os deslocamentos e momentos com a estaca isolada são bem superiores
àqueles obtidos considerando-se a estaca em um grupo. Em outras palavras, o grupo
de estacas tem a tendência de atenuar os esforços e deslocamentos na estaca mais
solicitada. Em nível de projeto, o cálculo apenas da estaca mais solicitada do bloco
desconsiderando-se o efeito do grupo está do lado da segurança.
De modo a quantificar o efeito do grupo na estaca mais solicitada nas análises
numéricas, podem-se definir o parâmetro  como a razão entre o deslocamento
horizontal máximo da estaca calculado considerando a estaca isolada e em grupo (
= ymax,i/ymax,g). Da mesma forma, pode-se definir β como a razão entre o momento
máximo obtido para a estaca isolada e em grupo (β = Mmax,i/Mmax,g). Para o bloco
hexagonal de sete estacas (BL7), obtém-se  = 1,8 e β = 2,5 e para o bloco quadrado
de nove estacas (BL9), obtém-se  = 3,6 e β = 2,4. Percebe-se que a consideração
da influência do grupo é bastante relevante na avaliação do comportamento da estaca
estudada.

y (m)
M (KNm)
-0.001 0.001 0.003 0.005 0.007
-10 0 10 20 30
0
0
2
2
4 4
Profunidade (m)

Profunidade (m)

6 6
8 8
10 10

12 12
14
14
16
16
BL7- MEF BL9 - MEF
BL7 - MEF BL9 - MEF
BL7 - Analítico BL9 - Analítico
BL7 - Analítico BL9 - Analítico

a) b)
Figura 7. Resposta da estaca mais solicitada do bloco considerando-a isolada: a)
deslocamentos horizontais; b) momentos fletores.
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3.2. Influência da Resistência do Concreto do Bloco na Ligação Bloco-Estaca

Uma análise teórica fundamental, mas que merece maiores estudos, diz respeito ao
momento de engastamento entre o bloco e as estacas. Nesse sentido decidiu-se
investigar a influência da resistência do concreto do bloco na ligação bloco-estaca.
Foram testadas diferentes do concreto do bloco hexagonal de sete estacas,
sendo medidos os deslocamentos horizontais na estaca e os esforços de flexão (Fig.
8). Nas análises, a resistência característica do concreto (fck) do bloco foi adotada
igual a 30, 40 e 50 MPa, enquanto que para as estacas f ck foi mantida constante e
igual a 30 MPa.

y (m) M (KNm)
-0.001 0.001 0.003 0.005 0 5 10
0 0

2 2

4 4
Profunidade (m)

Profunidade (m)

6 6

8 8

10 10

12 12

14 14

16 16
fck = 50 MPa fck = 50 MPa
fck = 40 MPa fck = 40 MPa
fck = 30 MPa fck = 30 MPa

a) b)
Figura 8. Efeito da variação da resistência do concreto: a) Deslocamentos horizontais; b)
Momentos fletores.

A diminuição resistência do concreto do bloco de 50 MPa para 30 MPa não


influi no deslocamento horizontal e nos esforços de flexão nas estacas. Esperava-se
que para valores menores de resistências os resultados se aproximasem mais da
situação de estacas rotuladas no topo. Este resultado pode ter sido influenciado pelo
modelo constitutivo adotado para o concreto, uma vez que o bloco foi simulado apenas
como um material não poroso e especificado o módulo de elasticidade do concreto.
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Em adição, o modelo numérico não permite considerar o transpasse da armadura das


estacas para o bloco, o que provavelmente aumentaria a rigidez da ligação,
aproximando-se de uma situação de engaste. Nesta seção, o enrijecimento da ligação
foi estudado apenas em termos da reentrância da estaca no bloco (embutimento de
20 cm da estaca na região inferior do bloco), comum executivamente para garantir
melhor disposição das armaduras e arranjo das estacas depois de arrasadas.
Verificou-se em simulações preliminares que quanto maior o embutimento da estaca
no bloco, mais a vinculação se aproxima de uma situação engastada. Entretanto, isto
pouco ocorre na prática, pois que resultaria em aumento demasiado da altura e
consequente consumo de concreto dos blocos.
Trabalhos na literatura, como os de Kim et al. (2011), Araújo (2013) e Zhang et
al. (2017), não abordam este aspecto, o que demonstra a necessidade de maiores
estudos neste sentido.

3.3. Efeitos Isolados de Força Horizontal e Momento Fletor Aplicado ao Bloco

A Fig. 9 apresenta as curvas de deslocamentos e momentos na estaca, obtidas


isolando-se os efeitos da força lateral e do momento fletor no bloco. Os resultados
desta seção referem-se à estaca mais solicitada do bloco de formato hexagonal com
sete estacas. O deslocamento horizontal devido à solicitação de flexão no bloco é
pouco significativo, porém o mesmo não pode ser afirmado sobre o momento interno
na estaca. A contribuição do esforço de flexão no bloco gera elevados momentos
desde o topo da estaca até aproximadamente 3 m, profundidade onde começa a
decrescer.
Hazzar et al. (2017) verificaram que existe uma relação entre o efeito da ação
vertical atuante no bloco e o deslocamento horizontal produzido na estaca. Porém não
aborda a estratificação do solo, como no presente estudo. Entretanto, uma vez que o
solo superficial exerce grande influência nos deslocamentos horizontais do topo da
estaca, é de se esperar, com base nos resultados do trabalho de Hazzar et al. (2017),
que quanto maior for a solicitação vertical sobre o bloco em areias, menor será o
deslocamento horizontal do conjunto, devido ao maior confinamento do solo.
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y (m)
0 0.001 0.002 M (KNm)
0 -20 -10 0 10 20
0
2
2
4
Profunidade (m)

Profunidade (m)
6
6
8
8
10
10
12
12
14
14
16
16
Momento Momento
F. Horizontal F.Horizontal
Momento e F. Horizontal Momento e F. Horizontal

b)
a)

Figura 9. Efeitos isolados de rotação e translação no bloco: a) deslocamentos


horizontais; b) momentos fletores.

4. Conclusões

Neste trabalho foram efetuadas modelagens numéricas tridimensionais, via método


dos elementos finitos, das fundações por estacas de uma ponte atravessando um solo
estratificado, a fim de se analisarem os deslocamentos horizontais e os momentos
fletores nas estacas.
A consideração do grupo de estacas nas análises numéricas atenuou a
resposta de esforços e deslocamentos na estaca e afastou seus resultados daqueles
obtidos pelo método analítico empregado. As análises numéricas considerando o
grupo geraram resultados menos conservadores que o método analítico de Matlock e
Reese (1961) alimentado com valores de coeficiente de reação horizontal do solo
obtido por correlação com o NSPT. Os valores de deslocamento lateral divergiram
bastante na região do topo da estaca, sendo bem menores com as simulações
numéricas. Também houve significativa divergência entre os métodos nos momentos
fletores nesta região. Quando se desconsidera o grupo, os resultados numéricos se
aproximaram mais dos analíticos, apresentando deslocamentos superiores e
momentos fletores ligeiramente inferiores.
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O aumento de resistência do concreto do bloco de coroamento não produziu


diferenças na resposta do modelo numérico com relação aos deslocamentos
horizontais e aos momentos fletores. Contudo, o resultado pode ter sido influenciado
por limitações da modelagem numérica.
O momento fletor aplicado no bloco produziu uma alteração muito pequena nos
deslocamentos horizontais da estaca e muito elevada no momentos internos na
estaca. Por outro lado, o esforço lateral no bloco possui uma contribuição grande tanto
nos deslocamentos horizontais quanto nos momentos fletores na estaca.

Agradecimentos

Os autores agradecem o suporte do CNPq para o desenvolvimento deste trabalho.

Referências Bibliográficas

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