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Cálculo IV

Simulado para a P2

• Tente resolver o simulado primeiro sem olhar a resposta.

1. Resolva o PVIC do calor unidimensional


 2
α ∂∂xu2 = ∂u
∂t
, −∞ < x < +∞, t > 0
u(x, 0) = x2u+10

onde α é a condutividade térmica do material e u0 é uma constante.

(a) Calcule a transformada de Fourier de u(x, 0): S(k) = F x2u+1



0

(b) Calcule
√ a solução do PVIC no espaço-k e mostre que U (k, t) = F{u(x, t)} =
u0 −|k|−αk2 t
2
2πe .
(c) Mostre que a solução no espaço-x é dada por
Z ∞
2
u(x, t) = u0 cos(kx)e−|k|−αk t dk
0

(d) Qual é a temperatura de regime estacionário?

2. Considere o problema de valor inicial: x00 − 2x0 + x = αδ(t − T ), x(0) = x0 , x0 (0) = 0.


Use o método da transformada de Laplace para achar a solução do PVI.

3. Uma placa de metal quadrada de lado ` está termicamente isolada nas extremidades
y = 0, y = ` e x = 0 e também nas suas faces. A extremidade x = ` é mantida a
uma temperatura fixa 0 em 0 < y < `/2 e +T em `/2 < y < `.

(a) Determine a temperatura u(x, y) da placa no regime estacionário e mostre que


é dada por
+∞
T X 2sen(nπ/2)  nπy  cosh(nπx/`)
u(x, y) = − cos
2 n=1 nπ ` cosh(nπ)

(b) Escreva uma aproximação de u(x, y) mantendo apenas os dois primeiros termos
não-nulos da série. À partir dessa aproximação responda qual das duas extrem-
idades da placa, a inferior y = 0, ou a superior y = `, está mais quente. Isso faz
sentido do ponto de vista fı́sico?

1
Resolução

(1.a) A transformada de Fourier de u(x, 0) é definida por


  Z +∞ ikx
u0 u0 e
F 2
=√ 2
dx ≡ S(k)
x +1 2π −∞ x + 1
ikz
Considere, primeiramente, a integral da função complexa ze2 +1 ao longo do cam-
inho γ ∪ C1 da figura 1 fechado “por cima”. Pelo teorema dos resı́duos

eikz eikz
I
−k
2+1
dz = 2πi × Res(f (z), z = i) = 2πi = πe
γ∪C1 z z + i z=i

Cuidado! Este função só vai a zero no infinito (necessário para que a transfor-
mada inversa convirja) se k > 0. No entanto, não há restrição alguma sobre o
sinal de k, que pode ser negativo. O que fazer, então, no caso onde k é negativo?
É preciso considerar a integral sobre um caminho fechado “por baixo” como o
da figura 2. Realizando o mesmo cálculo de resı́duos, mas agora sobre γ ∪ C2 ,
temos
eikz eikz
I
2
dz = −2πi × Res(f (z), z = −i) = −2πi = πek
γ∪C2 z + 1 z − i z=−i

mas agora com k < 0. Logo, independentemente do sinal de k, a resposta desta


integral pode ser escrita de forma concisa como πe−|k| que vai a zero quando
k → ±∞ como deve ser.
Parametrizando o caminho γ ∪ C1 , por exemplo, temos que
Z +R ikx
eikz
Z
e
2
dx + 2
dz = πe−|k|
−R x + 1 C1 z + 1

R
O Lema de Jordan garante que limR→∞ CR f (z)eiaz dz = 0 , a um número real,
sobre um semicı́rculo CR desde que |f (z)| seja limitado sobre o semicı́rculo de

Figure 1: Contorno γ ∪ C1 fechado por cima.

2
Figure 2: Contorno γ ∪ C2 fechado por baixo. Note que o sentido da curva é horário.

raio R. No nosso caso, f (z) = 1/(z 2 + 1), então, usando uma das desigualdades
triangulares, deduzimos que

|z 2 + 1| ≥ ||z|2 − |1|2 |

1 1
z 2 + 1 ≤ |R2 − 1| , |z| = R, limitada sobre C1

eikz
R
Logo, a integral C1 z 2 +1
dz vai a zero no limite R → ∞ e temos
+∞
eikx
Z
dx = πe−|k|
−∞ x2 + 1
u0 √
S(k) = 2πe−|k|
2

(1.b) Aplicando a transformada de Fourier à EDP


 2   
∂ u ∂u
αF 2
= F
∂x ∂t
dU
−αk 2 U (k, t) = , U (k, t) = F{u(x, t)}
dt
2
U (k, t) = Ae−αk t , A = A(k)

Para determinar A precisamos de U (k, 0) obtida da transformada de Fourier da


condição inicial
 
u0
F{u(x, 0)} = F
x2 + 1
u0 √
A = U (k, 0) = S(k) = 2πe−|k|
2
u0 √ −|k|−αk2 t
∴ U (k, t) = 2πe
2

3
(1.c) Transformando a solução de volta ao espaço-x, temos que
√ Z
−1 u0 2π +∞ −|k|−αk2 t −ikx
u(x, t) = F {U (k, t)} = √ e e dk
2 2π −∞
u0 +∞ −|k|−αk2 t
Z
= e [cos(kx) − isen(kx)] dk
2 −∞
Z +∞
2 2
= u0 e−|k|−αk t cos(kx) dk, pois e−|k|−αk t é par em k
0

2
(1.d) No regime estacionário t → ∞, a exponencial e−αk t tende a zero, logo, a solução
de estado estacionário é u(x, t) = 0. Fisicamente, todo o calor da barra escoa
para as extremidades baixando a temperatura da barra até 0.

(2) Transformando a EDO com Laplace temos

L{x00 − 2x0 + x} = L{αδ(t − T )}


Z ∞
0
2
s X(s) − sx(0) − x (0) − 2sX(s) + 2x(0) + X(s) = α e−st δ(t − T )dt
0
(s2 − 2s + 1)X(s) = (s − 2)x0 + αe−sT
(s − 2)x0 e−sT
X(s) = + α a solução no espaço-s
(s − 1)2 (s − 1)2

A solução do espaço-t é, então, calculada pela transformada inversa de Laplace

x(t) = L−1 {X(s)}


   −sT 
−1 s−2 −1 e
x(t) = x0 L 2
+ αL
(s − 1) (s − 1)2

Para calcular a primeira transformada, vamos usar o segundo teorema de translação:


L−1 {F (s−a)} = eat L−1 {F (s)}, nesse caso identificando F (s) = (s−1)
s−2
2 e a = −1,

de modo que
 
−1 −t −1 s−2
L {F (s + 1)} = e L
(s − 1)2
   
−1 s−1 −t −1 s−2
L = e L
s2 (s − 1)2
   
−1 1 1 −t −1 s−2
L − = e L
s s2 (s − 1)2
 
s−2
L−1 2
= (1 − t)et
(s − 1)

4
Para calcular o outro termo, usamos o primeiro teorema de translação: L−1 {e−as F (s)} =
H(t − a)f (t − a)
 
−1 −T s 1
L e = H(t − T )f (t − T )
(s − 1)2
 
−1 1
f (t) = L {F (s)} = = tet
(s − 1)2
 
−1 −T s 1
L e 2
= H(t − T )(t − T )et−T
(s − 1)
usando a fórmula 23, coluna da esquerda, da tabela de transformadas.
Somando os dois termos calculados temos x(t)
x(t) = x0 (1 − t)et + α(t − T )et−T H(t − T )

(3.a) O PVIC com as condições de contorno dadas pode ser formulado como segue
 ∂2u ∂2u

 ∂x2
+ ∂y2 = 0
 uy (x, 0) = yy (x, `) = 0


ux (0, y) = 0 


 0, 0 < y < `/2
 u(`, y) = f (y) =

T, `/2 < y < `
Pelo método de separação de variáveis, supomos que a solução do PVIC seja
fatorável como u(x, y) = X(x)Y (y). Substituindo na EDP
X 00 Y + XY 00 = 0 ÷ XY
X 00 Y 00
− = ≡ −α2
X Y

Por que o sinal negativo ficou na parte de X e não de Y ? Note que o lado
superior e o lado inferior da placa tem condições de contorno fixas, que só
poderão ser satisfeitas com uma função(ou sua derivada, como é o caso aqui)
que se anule periodicamente, logo a função Y (y) é que deve ser periódica nesse
problema. Vamos, portanto, começar o cálculo por Y (y).

Y 00 = −α2 Y
Y (y) = C1 cos(αy) + C2 sen(αy)
Y 0 (y) = −αC1 sen(αy) + αC2 cos(αy)
CC: Y 0 (0) = 0 =⇒ C2 = 0

CC: Y 0 (`) = 0 =⇒ C1 sen(α`) = 0 =⇒ α = , n∈Z
 nπy  `
Yn (y) = C1 cos
`
5
Figure 3: Placa isolada em três laterais e com temperatura constante na lateral direita.

A outra EDO em x também pode ser resolvida facilmente. Primeiro suponha


que n 6= 0
X 00 = αX
X(x) = C3 cosh(αx) + C4 sinh(αx)
X 0 (x) = αC3 sinh(αx) + αC4 cosh(αx)
CC: X 0 (0) = 0 =⇒ C4 = 0
 nπx 
Xn (x) = C3 cosh , n 6= 0
`
Se n = 0, a EDO é ainda mais simples X 00 = 0 cuja solução é uma função linear
X(x) = Ax + B, tal que X 0 (x) = A. Aplicando a CC neste caso, vemos que
X 0 (0) = A = 0, de onde concluimos que, se n = 0, X0 (x) = B, uma constante.
As soluções particulares do PVIC são, portanto,

BC1 , n = 0 
un (x) = Xn (x)Yn (y) =
C1 C3 cos nπy cosh nπx

` `
, n 6= 0
Para determinar estas últimas constantes precisamos aplicar a última CC, que
só pode ser satisfeita pela solução geral obtida pela combinação linear de todas
as soluções particulares (Princı́pio de Superposição)

c0 X  nπy 
u(`, y) = + cn cosh(nπ)cos
2 n=1
`
Z `
2
c0 = f (y)dy = T
` 0
2 `
Z  nπy  2
cosh(nπ)cn = f (y)cos dy = − sen(nπ/2)
` 0 ` nπ
A solução do PVIC é, portanto, dada pela série de Fourier
∞  nπy  cosh nπx 
T X 2sen(nπ/2) `
u(x, y) = − cos
2 n=1 nπ ` cosh(nπ)

6
(3.b) Mantendo apenas os dois termos não nulos da série de Fourier que representa a
solução do PVIC
T 2  πy   πx 
u(x, y) ≈ − cos cosh
2 π cosh(π) ` `

A parte de cima da placa y = ` fica a uma temperatura u(x, `) = T2 + π cosh(π)


2
cosh πx

`
,
T 2 πx

enquanto a parte inferior y = 0, a uma temperatur u(x, 0) = 2 − π cosh(π) cosh ` .
Como a função cosh(x) é uma função sempre positiva, concluimos que a parte
de cima da placa é mais quente do que a parte de baixo e a temperatura au-
mentando da extremidade esquerda para a parte direita, uma vez que cosh(x)
cresce com x.
Isso faz sentido fisicamente! Como apenas a lateral da direita pode trocar calor
com a placa (as outras laterais estão isoladas), a temperatura da placa deve ser
determinada pela distribuição de temperatura da lateral à direita de modo que
as regiões da placa mais pŕoximas da parte da lateral à temperatura T devem
ficar mais quentes do aquelas mais pŕoximas à metade inferior da lateral direita
que é mantida a 0o .

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