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ISSN 1983-392X

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Gramatigalhas
José Maria da Costa

Voz passiva sintética – Como reconhecer e diferenciar?


quarta-feira, 15 de abril de 2020

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O leitor Angelo Castro envia a seguinte mensagem ao Gramatigalhas:

"Prezado Professor. Primeiramente, venho dizer que estou sempre atento a suas
dicas. Acho excelente a sua didática. Por isso, requisito seu auxílio para a seguinte
dúvida, que diz respeito às vozes verbais. Normalmente é fácil diferenciar a voz
passiva sintética da voz passiva analítica, principalmente devido à presença da fomentadores
partícula apassivadora (SE) na forma da passiva sintética. Contudo, na forma abaixo,
essa não era a melhor forma para identificar qual a voz verbal de cada frase. (a)
'Quando os portugueses descobriram as terras que vieram a se chamar Brasil,
encontraram povos...'; (b) 'Quando os portugueses descobriram as terras A QUE
VEIO a se chamar Brasil, encontraram povos...' Tendo em vista as duas frases
acima, o senhor poderia me ajudar a identificar qual delas é a passiva sintética,
analítica e o porquê? Muito obrigado."

Envie sua dúvida

1) Um leitor diz ter dificuldade em reconhecer, em determinados casos, a voz passiva


sintética e, em outros casos, em diferenciá-la da voz passiva analítica. E pede auxílio para
proceder a tal identificação nos seguintes exemplos: (i) "Quando os portugueses descobriram
as terras que vieram a se chamar Brasil, encontraram povos..."; (b) "Quando os portugueses
descobriram as terras a que veio a se chamar Brasil, encontraram povos..."

2) No plano dos conceitos, é importante observar que voz ativa e voz passiva são duas
maneiras sintaticamente diversas de dizer a mesma realidade de fato, conforme o sujeito
pratique ou receba a ação indicada pelo verbo. Exs.: (i) "O magistrado proferiu a sentença"
(voz ativa, porque o sujeito magistrado pratica a ação indicada pelo verbo proferir); (ii) "A
sentença foi proferida pelo magistrado" (voz passiva, porque o sujeito sentença recebe a
ação indicada pelo verbo proferir).

3) Seguindo um pouco mais à frente, têm-se os seguintes exemplos, os quais, em comum,


têm um se acoplado ao verbo e apresentam problemas quanto à questão das vozes verbais:
(i) "Aluga-se uma casa"; (ii) "Gosta-se de um bom vinho".

4) Quanto ao primeiro exemplo – "Aluga-se uma casa" – , trata-se de uma frase reversível,
pois pode ser dita de outro modo (Uma casa é alugada), e a seu respeito podem-se extrair
as seguintes ilações: (i) um exemplo reversível assim está na voz passiva sintética; (ii) nele,
o se é uma partícula apassivadora; (iii) o sujeito é uma casa (sujeito, e não objeto direto); (iv)
porque o sujeito é uma casa, se este vai para o plural, o verbo também vai, em razão da mais
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se casas); (v) apenas para completar os conceitos, tendo em vista os fins da indagação do
leitor, o exemplo "Casas são alugadas" está na voz passiva analítica, que é assim chamada
por ser mais extensa que a voz passiva sintética.

5) Já quanto ao segundo exemplo – "Gosta-se de um bom vinho" – trata-se de uma frase


não reversível, pois não pode ser dita de outro modo (ninguém pensaria em dizer "De um
bom vinho é gostado"), e a seu respeito podem-se tirar as seguintes conclusões: (i) um
exemplo não reversível assim não pode estar na voz passiva sintética; (ii) nele, o se não é
partícula apassivadora, e sim um símbolo de indeterminação do sujeito; (iii) o sujeito dessa
oração é indeterminado; (iv) porque o sujeito é indeterminado, se o termo um bom vinho vai
para o plural, não é o sujeito que se modifica (esse termo, aliás, é o objeto indireto); (v) se,
ao passar um bom vinho para o plural, não se toca no sujeito, o verbo não se modifica; (vi)
seu plural, por conseguinte, há de ser "Gosta-se de bons vinhos".

6) Com essas ponderações, volta-se à primeira frase trazida pelo leitor: (i) a frase é "Quando
os portugueses descobriram as terras que vieram a se chamar Brasil..."; (ii) por
facilidade – e sem alterar a estrutura analisada quanto a seu mérito – reduz-se a frase para
"... as terras ... vieram a se chamar Brasil..."; (iii) trata-se de uma frase reversível (pois pode
ser dita de outro modo, a saber, "as terras ... vieram a ser chamadas Brasil..."; (iv) se a frase
é reversível, o exemplo está na voz passiva sintética; (v) o se é partícula apassivadora; (vi) o
sujeito é as terras, razão pela qual o verbo está no plural; (vii) se o sujeito fosse a terra,
então a frase seria "... a terra ... veio a se chamar Brasil..."; (viii) na voz passiva analítica, as
frases são "a terra ... veio a ser chamada Brasil..." e "as terras ... vieram a ser chamadas
Brasil..."

7) Altera-se ligeiramente a frase, omitindo-se o se, e se extraem outras conclusões: (i) a


frase passa a ser "Quando os portugueses descobriram as terras que vieram a chamar
Brasil..."; (ii) quando se pergunta pelo sujeito de vieram nessa nova frase, a resposta é
portugueses, e não terras; (iii) por facilidade de análise – e também sem alterar a estrutura
analisada quanto a seu mérito – reduz-se a frase para "... as terras que (eles – os
portugueses) vieram a chamar Brasil..."; (iv) não se há de pensar em reversibilidade da
frase, até porque não há um se; (v) como o sujeito (eles ou os portugueses) pratica a ação
de chamar, o exemplo está na voz ativa; (vi) se terras for para o singular, o sujeito não será
modificado, de modo que não haverá alteração alguma quanto à concordância ("... a terra
que (eles – os portugueses) vieram a chamar Brasil...".

8) Por fim, importa observar que a última frase trazida pelo leitor ("Quando os portugueses
descobriram as terras A QUE VEIO a se chamar Brasil, encontraram povos..."), o certo é que
ela apresenta erro de sintaxe exatamente no trecho trazido em destaque por ele próprio, de
modo que não admite análise nem considerações outras, além das que foram feitas nos itens
acima.

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José Maria da Costa, é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no


concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito
pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São
Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na
Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia
Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e
José Maria da Costa Sociedade de Advogados.

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