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a 15 A Precacio Jobn MacArthur, Jr. Enire as varias responsabilidades atribuidas ao pastor, a pre- fio coloca-se acima das outras. Paulo, repetidas vezes, sali- enta a importdncia da pregacao a Timdteo, ressoando uma nota que ecoa continuamente no Novo Testamento. Pontos altos na historia da Igreja tém confirmado a importancia da pregacéo biblica. O fundamento apropriado da pregacdo é a Palavra de Deus, elemento que falta em muitas pregacdes contempordne- as. O contetido da pregacao deve incluir questées diddticas, hem:como exortagoes para que se produza um comportamento de acords com o ensinado. A pregacdo é persuasiva para os ouvintes quando feita por alguém que esteja intensamente com- prometido. Entre outros aspectos, tal comproniisso manifesta- se na labuta do pregador ao preparar seus sermées.' (O meio prescrito por Deus para salvar, santificar e fortalecer sua lgreja é a pregacao. A proclamacao do Evangelho € 0 que produz fé nos que foram esco- Thidos por Deus (Rm 10.14). Pela pregacdo da Palavra vem 0 conhecimento da verdade que resulta na piedade (Jo 17.17; Rm 16.25; Ef 5.26). A pregacdo tam- bém encorgja os crentes a viver na esperanca da vida ¢terna, permitindothes Suportar 0 sofrimento (At 1421.22). A pregacio fiel da Palavra é o elemento mais importante do ministério pastoral. 1, Vejauma discussdo abrangente das elementos.chaves da pregacio expositiva em John Macarthur Jet al, Redicovering Expository Preaching (Dallas; Word, 1992), 280 Revlescabrinda o Ministerio Past A Precacdo Drye Receser a Devipa PRIORIDADE _ Aase aproximar do final da viel, o veterano pastor Paulo dirigiu uma exo lagao a seu jovem protegido, Timéteo: Coonjurerte, pois, diante de Deus e do Senhor Jesus Cristo, que hi de julgar os vivos € 05 mortos, na sua vinda e no seu Reino, que pregues a palavra, instes a tempo ¢ fora do tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidace e doutrina. Porque vird tempo em que néo sofrero a s4 doutrina; mas, tendo comichdo nos ouvidos, amontaario para si doutores conforme as suas préprias concupiscéncias, ¢ desviario 08 ouvidos da verdade, voltando as fabulas (21m 414), Nessas palawras, que poclem ser as tiltimas que ‘liméteo recebeu de seu amado mentor, Paulo apresenta a mais alta prioridade pastoral. Embora as res- ponsabilidades do pastorado sejam muitas, conforme indicam os outros capi tulos na seco “Perspectivas Pastorais", nada é mais importante quea pregacao. Charles Jefferson demonstra boa percepcao ao observar: obra pastoral nao é simplesmente fazer contatos snciais, € também pre: Bar. O ministro mio cessa de ser pastor quando sobe 20 palpito; ali ele assume uma das tarefas mais sérias e pesadas do ministério, As vezes ous vimnos acerca de algum ministro: “E um bom pastor, mas no consegue pregar®, A frase & uma contradi¢io em si. Ninguém pode ser um bum pastor se nde conseguir pregar, assim como ninguém podle ser um bom pastor «le avelhas se nao conseguir alimentar o rebanho. Uma parte indise pensdvel do pastoreio é a alimentacdo. Alumas das melhores e mais efe- tivas obras de todo 0 ministério pastoral s40 realizadlas por meio tin ser mio. Num sermio, ele pode alertar, proteger, curar, resgatar e nutri. 0 pastorackuire uma estatura elevada no pulpito... Quando habilitado nessa obra nunca deixa de alimentar seu rebanho? Paulo nao esperou até o fim da vida para destacar a importincia da prega- 10 para Timéteo; foi um tema constante em suas cartas ao jovem pastor. Em 1 méteo 4.11, ele instrui Timéteo: “Manda estas coisas ¢ ensina-as”. Depois ordena-lhe: 2.Charle ihe Minister as She ig Kong: Living Books for All, 1980), 63.64. APregagio 281 Persiste em ler, exortare ensinar, até que eu va, Nao desprezes o dom que ha em ti, o qual te foi dado por profecia, com a imposicio das maos do presbitério, Tem cuidado de ti mesmo e da cloutrina; persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvards, tanto a ti mesmo comoags quete ouvem (1 Tm 4.13,14,16). Em 1 Timéteo §.17, ele ordena: “Os presbiteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra ena doutrina”, Depois de dar suas instrugdes acerca do relacionamento entre senhores e escravos cristios, Paulo diz. a Timoteo: “Isto ensina € exorta’ (1Tm 6.2). Paulo ordena a Timdteo: “O que de mim, entre muitas testemunhas, ‘uviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idéneos para também ensinarem as outros” (2 Tm 2.2). A pregacdo c 9 ensino $40 140 importantes que a unica qualidade do presbitera, no que se refere a habilidades ou fungdes, € que ele seja “apto para ensinar” (1 Tm 3.2). Essa énfase 4 pregagao também nao cra exclusividade de Paulo; ela permeia todo 0 Novo Testamento. Em Lucas 4.43, 0 Senhor Jesus Cristo revela o lugar de importancia que a pregacao ocupava em seu ministétio terreno quando diz: “Também é necessario que eu anuncie a outras cidades 0 evangelho do Reino de Deus, porque para isso fui enviado". Alids, seu ministério terreno foi, em grande parte, um ministério de pregacio ¢ de ensino (por exemplo, Mt 4.17. Mc 1,14,38,39; Le 8.1; 20.1), Ele deixow sua Igreja com a incumbéncia: “Ide por todo o mundo, pregai” (Mc 16.15). A pregacao também foi central no ministério da Igeeja Primitiva, como indica uma leitura superficial de Atos. Imediatamente depois do surgimento da Tgeeja, no dia de Pentecostes, Pedro pregou ¢ tés mil foram convertidos (At 2.14-41). Logo em seguida, Pedro pregou outro sermao importante no pértica de Salomao, no templo (At 3.11-26). As pregagdes de Filipe (8.5, 12, 35, 40), Paulo (9.20; 13.5,16-41;14.7,15, 21; 15.35; 16.10; 17.13; 20.25; 28.31), dos apés- tolos (4.2; 5.42) e outros na Igreja (8.4; 11.20) também sio uma caracteristica importante de Atos. Ao longo de sua historia, a Ipreja verdadeira tem dado forte énfase a prega Qo biblica. A pregacdo ocupou lugar central na Reforma do século XVI, no Avi vamento Puritano do século XVII na Inglaterra € no Grande Avivamento do sé. ‘eulo XVIIL A Iereja do século XIX confrontau-se com o surgimento da onda de apostasia € modernismo através de uma pregaco podcrosa de homens como Charles Spurgeon, Joseph Parker, Alexander Maclaren Alexander Whyte. 282 Redcscobrindo o Ministécio Pastoral AAs palavras de Paulo em 1 Corintios 1.17-25 resumem melhor a prioridade da pregagio: Porque Cristo enviou-me nao para batizar, mas para evangelizar; no em sabedoria de palavras, para que a cruz de Cristo se ndo faa vi. Porque a Palavra da cruz ¢ loucura para os que perecem; mas para nds, que somos salvos, €0 poder de Deus. Porque estd escrito: Destruirei a sabedoria dos ssibios eaniquilarei a intelig¢ncia dos inteligentes. Onde estd osdbio? Onde estd o escriba? Onde estd 0 inquiridor deste século? Porventura, ndo tor nou Deus louca a sabedoria deste mundo? Visto como, na sabedoria cle Deus, o mundo nao conheceu a Deus pela sua sabedorla, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregacao, Porque os judeus pedem sinal, € 0s gregos buscam sabedoria; mas nés pregamos a Cristo crucificado, que é escandalo para os judeus ¢loucura para os gregos. Mas, para os que sio chamadas, tanto judeus como gregos, Ihes pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus. Porque a Joucura de Deus € mais sébia do que os homens; ¢ a fraqueza de Deus € mais forte do que os homens. Aos olhos de Deus, ninguém seri bem-sucedido no ministénio pastoral, se no der o devido lugar a pregacio. ‘A Precacio Deve Receser a Devipa FuNDAMENTAGAO Se a pregacao deve clesempenhar o papel designado por Deus na igreja, entdo ela deve ser edificada sobre a Palavra de Deus. Em anos passados, tal declaragio teria sido dbvia, até axiomvatica. Stivzinger escreve: “Um estudo da historia da pregacdo expositiva deixa claro que tal pregacdo esta profundamen- te arraigada no solo das Escrituras”.* Infelizmente, isso j4 ndo ocorre, mesmo em igrejas evangélicas. Muitas pregaces hoje destacam a psicologia, o. comen- tario social e a ret6rica politica. A exposicao biblica assume lugar secundario, suplantada por uma obsess4o mal dirigida que busca a “relevancia”. Mayhue observa: “No alvorecer la década de 1990, existe evidentemente uma inclina- Gio irresistivel de focalizar no pulpito © que € relerante, com uma conseqiiente desatengio para a revelagdo de Deus”.‘ Lamentavelmente, “percebe-se uma 3, James F Sttzinger, “The History of Expasitory Preaching” em Rediscovering Expository Preweh- fing Joho Maciithute Jc et al. (Dallas: Woe, 1992), 60. 4, Richard 1. Mayhue, “Rediscovering Expository Preaching’, Ze Master's Seminary Journal 1, 1.2 (fall 1990), 112. APregagin 283 tendéncia no meio evangélico contemporineo: adistdncia ca pregagio biblica €a retomada no piilpito de uma abordagem pragmatica, t6pica, centrada na experiéncia’S yx ; problema de tal abordagem na pregacio é que os pregadores de hoje fanbase para pregar suas proprias nogées e opinides; eles devem “pregar a palavra” apostolica registrada nas Escrituras. Sempre que 10s pregaciores se afastam do propésito do trecho biblico, perdem sua au- totidade para pregar. Em suma, 0 propésito de ler, explicar e aplicar um trecho das Escrituras ¢ obedecer a ordem de “pregar a Palavra’. De ne- snhuma outra maneira pademos esperar vivenciat a presenga 0 poder do Espirito Santo em nossa pregacao. Ble nao gastou milhares de anos pro: duzindo o Antigo eo Novo Testamento (emcerto sentido, a Bibliaé pecu- liarmente-sew Livro) para depois ignoré-lo! Aquilo que ele “inspirou” os homens aescrever, agora nos motiva a pregar. Ele ndo prometeu abengo- ‘ar nossas palavras; tal promessa estende-se apenas 4 sua propria palavra (1855.10,11). Uma vez que... no hd pregacio genuina onde o Espirito de Deus ndo esteja atuando, podemos dizer que o propésito fundamental da aseads na Biblia é simplesmente que, em qualquer sentido ge nuino da palavra, possamos pregi-la!* Aperda de uma fundamentacao biblica ¢ o motivo primario do declinio da pregagio na lgreja contemporanea.’E este declinio € 0 principal fator que con- tribui para a fraqueza e parao mundanismo na igreja. Portanto, se a igreja quiser reaclquitir satide espiritual, a pregagio deve voltar a seu devido fundamento biblico, Os apéstolos baseavam seu ministério na Paliivra. Em Atos 6.4, eles decla- ram: “Mas nds perseveraremos na oracao € no ministério da palavra”. Eles sabi- am muito bem quea Palavra de Deus (no a sabedoria humana) é responsavel pelo crescimento espiritual, pois denuncia o pecado c revelaa vontade de Deus Paulo salientou nao apenas a prioridade da pregacdo, como também seu devido fundamenio. A outro de seus protegidos, Tito, ele escreve que o prega- 6 Joln F MacArtbur Je, “The Mandate of Biblical Inerrancy: Expository Preaching”, The Maer : Seminary journal 1,1 (1990), 4 6. Jy E. Adams, Paching With Purpose (Grand Rapids: Zondervan, 1982), 19-20. 7. Veja uma discussie de alguns dos outros fatores envolvidos em 1. Martyn Loy Jones, Pregragckr ¢ Pregadores (Sao José dos Campos: Fic), 1991), 1932 284 Redescobrindo o Ministério Pastoral dor deve se destacar por estar “retendo firme a fiel palavra, que € conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar coma sa doutrina como Pata convencer os contradizentes” (Tt 1.9). “Reter firme” vem de anthecho, que significa “apegar-se” ou “segurar firme”. Um contraste com seu oposto elucida 0 significado da palavra. Em Lucas 16.13, Jesus disse: “Nenhum servo pode servir a dois senhores, porque ou ha de aborrecer.a um € amar a0 outro ou se hd de chegar a um e desprezar ao outro, Ndo podeis servir a Deus ¢ a Mamom". “Reter firme” (a@nthecho) € 0 contrario de “aborrecec”. Reter firme a Palavra, portanto, é ter grande apreco e devocao pela Palavra. E améa, apegar- se aela e crer nela. Além de um compromisso com sua inspiracao e inerrancia, também implica um compromisso com sua autoridade e suficiéncia absolura. Somenteas Escrituras s4o.0 fundamento da pregacdo. Apenas a Biblia apre- senta a mensagem de salvacéo e edificagéo — mensagem que traz vida, a qual Deus deseja ver proclamada no ptilpito. As Escrituras sio-a Palavra fiel, em que se pode erer, confiar, de que se pode depender, em contraste com as palavras da sabecoria humana que nao sao fidedignas, nem confidveis. Somente nas Es: crituras esta a mente de Deus, seu propdsito eo seu plano. O salmista escreve: Alei do Senriog é perfeita e refrigera a alma O testemunho do Sexaor é fel, eda sabedoria aos simplices. Os preceitos do Sennok $40 retos: calegram 0 coracio; O mandamento do Sinnok € puro ealumia os alhos. O tema do Savor é limpo € permanece eternamente; Os jutzos do Sexo sto verdadeiros € justos juntamente. Mais desejiveis sio do que 0 aura, sim, do que muito euro fina; E mais doces do que o mel 0 licor dos favos. Também por eles é admoestado @ teu servo; E emos guardar hd grande recompensa (S! 1 71D. APreacio 285 Somente as Escrituras sio a fonte de alimento espititual. Pedro insta os crentes: “Desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, nao falsificado, para que, por ele, vades crescendo” (1 Pe 2.2), Somen- tea Biblia é “poderosa para [nos] edificar € dar heranga entre todos os santifica- dos” (At 20.32). Somente nas Escritutas encontramos 2 sabedoria “para a salva cao, pela fé que haem Cristo Jesus" (2°Im 3.15). Somente aBiblia “divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redargiiis, para corrigir, para instruir em justia” (2‘Tm 3.16). Os pregadores precisam retornar a sua voragao de expositores das Escri- turas e devem fazer como Esdras, que “tinha preparado 0 seu corago para buscar a Lei do Seno , € paraa cumprir, e para ensinar ¢m Israel os seus esta tutos ¢ os seus direitos” (Ed 7.10). Deve ser como Apolo, que se esforcou para ser “poderoso nas Bscrituras' (At 18.24), e como Paulo, que co mpreendeu que foi feito ministra “segundo a dispensacao de Deus’, a fim de que pudesse “cumprir a palavra de Deus” (Cl 1.25). Somente, assim, poderio recuperar 0 devido fundamento da pregacao. ‘A Precacio Deve Possutr 0 Devino Contstibo Qs sermbdes”, escreveu Spurgeon, “devem conter ensino valioso ¢ sua doutrina deve ser sdlida, substanciosa e abundante”.* Ele destaca um ponto importante: a pregagao nao deve ter apenas a devida fundamentagao; 0 devido edificio, mas deve ser construido sobre esse fundamento, A pregacio baseada nas Escrituras procurard, naturalmente, comunicar 08 ensinos das Eserituras. Spurgeon continua, alertando: Dirigir apelos aos sentimentos afctivos é excelente, mas se ndo vao acom- panhados de instrugio, sie apenas um lampelo no panorama, & pdlvors gasta, sem acertar 0alvo... 0 método divino € pora lei na mente, ¢ depois fa no coracko... escre’ § sadia a informacio sobre os assuntos biblicos que as seus ouvintes de- sejam ardentemente, ¢ precisem t€-a. les tém direito a explicagées pre Gisas da Bscritura Sagrada, ¢ se-cada um de voces for “um intérprete, um com mil”, um verdadeiro mensageio, as darao.com abundancia. Qualquer 4.¢ TL Spurgeon, Ligdes aos MeusAlunes, vol, 2 (Si0 Paulo: PES, 1982 286 Redescobrindo o Ministero Pastoral © coisa mais que esteja presente, a auséncia da verdade instrutiva, edificante, {a semelhanca da auséncia de farinha no pao, serd fatal? - Na mesma linha, Paulo escreveu a Tito que o pastor deve ser.capaz de “admoestar com asa doutrina” (Tt 1.9), Admoestar ” vem de parakaleo, signi- ficando “chamar para dentro”, chamar uma pessoa e fortalecé-la. O conceito aqui expresso é 0 de uma exortacao terna, compassiva e vigorosa para que se obedega as Escrituras. Isso pressupde, no entanto, que as pessoas aprenderam estas verdacles, Nao faz sentido fazé-las obedecer a verdades que néo compre- endem, “Sd" vem de bugiaino, de que deriva nossa palavra higiene. Significa “saudavel’, “que da vida” ou “que preserva a vida", em contraste com 0 erro devastador ou destruidor do falso ensino. Os pastores devem chamar para den- tro seus rebanhos ¢ fortalecé-los, levando-Ihes o ensino sadio e divino. Oavesso da admoestagio com as doutrina encentea-se na segunda parte de Tito 1.9, Para ser capaz de proteger suas ovelhas das “lobos cruéis” (At 20.29) que tentam destrutlas, 0 pastor deve ser capaz de “convencer os contradizentes”, Qs [alsos mestres tém assolado a Igreja desde seu inicio e vio continuar asso- lando. Fles sao um perigo mortal contca 0 qual o pastor deve estar em constan- te guarda, Jefferson alerta: Muitos ministros falham como pastares porque nao estéo vigilantes. les permitem que a igreja seja despedagada porque caem no sono. Eles toma- ram por Certo qué ndo existiam lobos, nem aves de rapina, nem ladroes. € enquanto cochilavam chegou o inimigo. Idétas falsas, interpretacdes destrutivas e ensinos desmoralizantes entraram em s¢u grupo, € ele nem ficou sabendlo... Alguns destes $20 o ferozes como os lobos e crus hie- nas que despedacam a fé, a esperanca € 0 amor, deixands igrejas, antes prdsperas, mutiladas e semimortas.” O melhor antidote para o falso ensino € a doutrina sadia. Spurgeon ésabio ao aconselhar que “o ensino saudével é a melhor protegao contra as heresias que assolam a direita a esquerda entre n6: a congregacao bem instrui- da é muito menos suscetivel ao falso ensino. Portanto, a énfase priméria do pastor em sua pregacdo é estar ensinando a verdade ao seu povo. Ha €pocas, 9, Ibid, 89. W. Jefferson, 11. Spurgean, Ligdes, 73, vsteras Shepherd, 43-44 APregicio 287 porém, em que ele precisa refutaro falso ensino publicamente, do pilpito. Os contradizentes, 0s opdsitores, os que como Elimas, 9 magico, nao cessam. de “perturba os caminhos retos do Senhor” (At 13.10) devem terscus erros anun- ciados diante da igrejan’ "8 97% aie *! Para cumprirseu propdsito, a verdadeira pregacto biblica deve conter tan- toa proclamacéo como ainstrugio, tanto okerugma comoodidache, Odidache forma o contetido do kerugma, pois, conforme observamos acima, as Escritu- ras sio o fundamento da pregacio. Mas 0 pregador deve instar as pessous @ aplicar as verdades bfblicas que aprenderem, Essa é a fungio do Rerugma -a proclamagao publica com 0 objetivo de atingir a vontade. O puritano Thomas Cartwright expressa essa verdade: “ Gomo 0 fogo quando agitado produz mais calor, assim também a Palavra, como que soprada pela pregacao, flameja mais nos ouvintes do que quando lida.” : Somente quando a pregacdo tem o seu devido contetid jo é que cla pode cumprira fungao que Deus Ihe outorgou na igreja. Ela nfo € um exercicio de coratdria para. 0 pregadar, mas um elemento essencial no crescimento espiritual do corpo de Cristo. Nenhuma passagem das Escrituras afirma isso com mais clareza que Efésios 411-16: ele mesmo deu uns pata... pastores e autores, querendo oaperfcicna- ‘mento dos santos, para a obra do ministério, para edificacio do corpo de Cristo, até que todos cheguemos # unidade da fé ¢ ao conhecimenta do Filho de Deus, a vardo perfeito, 4 medida da estatura completa de Cristo, para que ndo sejamos mais meninas incomstantes, levados cm roda por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que, com asticia, enga- nam fraudulasamente. Antes, seguindo a verdade em caridade, cresca- mos em tudo naquele que é 4 cabeca, Cristo, do qual tedo o corpo, bem ajustacio e ligado pelo ausilio de todas as juntas, segundo ‘ajusta aperacio de cada parte, faz. 0 aumento do corpo, para sua edificagdo.em amor. ‘A Precacio Deve Conter 0 Devipo Compromisso Nao era desejo de Paulo tornarse pregador do Evangelho de Jesus Cristo. Alids, cle havin dedicado sua vida a destruigio da Igreja cristi: “Bem tinha eu imaginado que contra o nome de Jesus, 0 Nazareno, devia cu praticar muitos 12. Thomas Cartwright, ctado por D. Maryjn Loyd jones, Toe Puritans: Thetr Orig finburgh: Banner of Truth, 1987), 376. 288 _ Redescobrindo 0 Ministério Pastoral atos” (At 26.9). Em seu caminho para Damasco, no intuito de perseguira lgreja, Paulo encontrou-se, porém, com o Senhor Jesus Cristo. Este encontro dramati- co mudou sua vida para sempre, wansformando-o do mais terrivel perseguidor do Cristianismo em seu defensor mais zeloso. Daquele momento em ante, Paulo proclamou o Evangelho de Cristo com um ‘compromisso superior ao de todos os outros pregadores da Histéria. Muitos desejam pregar com o mesmo poder de Persuasdo de Paulo, mas sem um intenso compromisso — impossivel. Os que foram chamados para pre- g2ra Palavra de Deus devem perceber que uma dispensacio lhes foi confiada, e eles devem estar comprometidos com ela. Paulo compreendeu isso claramente (Tt 1.3). Ele ndo se voluntariou para o ministério, mas foi “constituido” prega- dor (1 Tm 2.7; conforme Cl 1.25; 2 Tm 1.11). Aos corintios confessou: “Porque, se anuncio o evangelho, no tenho de que me gloriar, pois me & imposta essa Obrigacio; € ai de mim se no anunciar o evangelho! E, por isso, se 0 fago de boa mente, terei prémio; mas, se de ma vontade, apenas uma dispensagao me é confiacla” (1 Co 9.16,17). Como uma dispensac3o de Deus, a pregacao exige diligéncia, disciplina e trabalho arduo, Os que “trabalham na palavra e na doutrina”, escreve Paulo, s40 especialmente “dignos de duplicada honra” (1 Tm 5.17). John Stott escreve: Apregagio expositiva € uma disciplina muito rigorosa. Tilvez s¢ja esse 0 motivo de ser tio rara, S6 vio assumi-la os que estiverem dispostos a se- guir o exemple dos apdstolos e dizer: “Nao é razndvel que nds deixemos.a Palavra de Deus e sirvamios fis mesas... Mas néis perseveraremos na oragio- Cho ministério da palavra” (At 6.2.4). A pregacda sistemmitica da Palavea & impossivel sem um estudo do mesmo nivel. Nao basta pincat alguns versiculos ma leitura biblica didria, nem estudar uma passagem apenas quando precisamos pregara parti dcla, Nao. Precisamos nos imbuirdiari- amente das Escrituras. Precisamos nao somente estudar, como que atra: vés de um microscopio, as minticias lingilisticas de uns paucos versiculas, Mas tomar nosso telescépio e esquadrinhar as vastas amplidées dla Pala vra de Deus, assimilando scu grande tema de soberania dlivina na reden Gao da humanidade. “Bem-aventurado”, escreveu C,H. Spurgeon, “é pe- netrar na propria alma da Biblia, até que, finalmente, venhas a falar em linguagem biblica ¢ teu espirito seja temperado pelas palavras do Senhor, de modo que a propria esséncia da Biblia Qua de ti." 13, John R. W. Stott, Tbe Preacher's Portrait (Grand Rapids: Eerdmans, 1979), 30-31 APregagio 289 Jay Adams é convicto: “Uma boa pregagao exige trabalho arduo... Estou convencido de que o motivo bisico das pregacées pobres é a falta de gastar 0 devido tempo e energia na preparacdo”." O nobre pastor puritano do século XVII, Richard Baxter, concorda com essa verdade: £ comum sermos negligentes em nossos estudos. S40 poucos os que se preocupam em ser bem informados e preparados para a realizagio pro- gressista da obra. Alguns nao tém prazer nenhum em seus estudos, 10- mando para isso uma hora aqui, uma hora ali, ¢ ainda como uma tarefa nao bem-vinda, que sao forcados a fazer. Alegram-se quando podem esca- par dese juga. Que precisamos para manter-nos apegados aos nossos estudos € para fazcrmos a nossa ardua busca da verdade? Sera o descjo natural de aprender? Sera o impulso espiritual para conhecermos a Deus? Sera a consciéncia da nossa grande ignoriincia e fraqueza? Ou sera 0 senso do solene dever que temos para com a obra ministerial? Nem o descjo natural do conhecimento, nem o dlesejo espiritual de se conhecer a Deus e as coisas divinas, nem a consciéncia de nossa grande ignoran- cia e fraqueza, nem o peso de nosso ministério — nenhuma dessas coisas deve privar-nos de nossos estudos € impedit-nos de procurara verdade, Na verdade, quantas coisas hd que o ministro tem de compreender! Quio defeituoso é ignord-las! Quanto perdemas, quando nao utilizamos esse conhecimento-em nosso ministéria! Muitas ministros 86 estudam o bas- tante pam o preparo dos seus sermées € pouca coisa mais. Todavia, exis- tem muitos livros que podem ser lidos € varias assuntos com os quais Mesmoem nossos sermdOes, muitas vezes negligenciamos 0 estudo mais apurado e deixamos de ir mais fundo, para ver como poderemos fazer com que essas questOes invadam os coracbes das pessoas. Devemos estu- dar as maneiras de persuadir os outros, de conquistar-lhes o intimo e de expor a verdade a0 vivo — nao deixi-la naar, A experiencia nos diz. que nao podemos ser cultes ou sdbios sem um estudo arduo, trabalho incan- Savel ¢ exercicio constante,* 14, Jay E. Adems, “Editorial: Good Preaching is Hard Work", The Journat of fasioral Practice 4, n, 21980), 1 15, Richard Biter, O Rastor Aprovado (Sio Paulo: PES, 1996), 82-83, Os pregadores devem se dedicar a proclamar a yerdade em todo.o tempo e sob todas as condigdes, quando convém ou nao, Em sua carta de despedida a Timéteo, seu amado filho na fé, Paulo lhe ordena: i ‘Conjuro-te... que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, re- darguas, repreendas, exortes, com todaa longanimidade e doutrina. Por- que vird tempo em que nJo sofrerdo a si doutrina; mas, tendo comichio nos ouvides, amontoarao parasi doutores conformeas suas prdprias con- cupiscéncias; ¢ desviarao os ouvidos da verdade, voltando as fébulas @im 41-4). As estagbes vém ¢ v0, a5 modas chegam e partem, © humor do pavo muda constantemente, mas a tarefa do pregador permancce: prociamar fiel- mente a Palavra de Deus. Numa época como a nossa, em que muitos niio “so- frem a si doutrina®, mas querem ter “comichao nos ouvidos”, as palavras de Paulo sao especialmente instigantes. Nao ha lugar para a preguica no ministério, ainda mais na pregacio da Palavra. Todos os pregadores devem lembrarse das sérlas palavras de Tiago: “Meus irmaos, muitos dle vés ndo sejam mestre, sabendo que receberemos mais duro juizo” (Tg 3,1; conforme Hb 13,17), Os que nao assumirem o compromis- so de dedicar-se com esforgo & pregacdo devem ficar longe do pilpito, O Chamapo Suprema A incapacidade de pregar de modo expositivo ¢ didatico é indesculpivel. Isso sd pode ser atribuido a ignorancia das implicagdes de uma Eseritura inerrante, inspirada por Deus, ou a indiferenea a ela. Deus concedeu sua Pala- vra a S€U Povo € espera que seus subpastores o alimente. E a necessidade € grande, Kaiser observa: Nao é segredo que a Igreja de Cristo nao gora de boa satide em muitas partes do mundo. Ela esta desfalecendo porque tem sido alimentada, como se diz atualmente, de “lixa”; todo o tipo de conservantes art Ciais ¢ toda sorte de substitutos esto sendo servidos ala, Por conse- guinte, a desnutri¢ao teoldgica e biblica afetou a propria geracio que tem dado passos tio gigantescos para garantir que sua satide fisica nao seja prejudicada pelo uso de alimentos ou de produtos +4 APregacio ‘ cancerigenos ou danosos. Simultaneamente, uma fome espiritual de Ambito mundial resultante da falta de alguma proclamacdo genuina da Palayra de Deus (Am 8.11) continua correndo solta, quase que isrestrita, na maioria das igrejas.* Aigreja $6 recuperara sua forca e seu poder espiritual quando.a verdadeira pregacio biblica reassumir seu lugar de direito. E privilégio do pregador e sua maravilhosa responsabilidade ser uma parte desse proceso. Nao existe chama- do maior. 16 Milter C. Kaiser Je, Toward an Exagetical Ybeofagy (Grand Rapids: Baker, 1985), 7-8

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