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Manual - Psicologia - Da - Velhice Xavier
Manual - Psicologia - Da - Velhice Xavier
PSICOLOGIA DA VELHICE
PAULO XAVIER
JANEIRO 2009
OBJECTIVOS
No final do módulo de Psicologia da Velhice, as(os) formandas(os) deverão
ser capazes de:
DESTINATÁRIOS
Este manual dirige-se a formandas(os) do curso de Agente em Geriatria.
1. ASPECTOS BIOLÓGICOS E PSICOLÓGICOS DO
ENVELHECER
O processo de envelhecimento humano traz alterações ao nível biológico e
ao nível psicológico.
Por exemplo, as
perdas de memória
(dimensão psicológica)
estão associadas à
morte das células do
cérebro (dimensão
física).
Muitas depressões
(dimensão psicológica)
que ocorrem na
terceira idade são, por
um lado, causadas
pela percepção da
perda de capacidades
(físicas) e, por sua
vez, conduzem a uma
inércia e a uma
inactividade muito
prejudiciais para a
saúde (física) do
idoso.
Actividade 1. Identifique uma situação da sua vida na qual o seu estado físico tenha
influenciado o seu estado emocional e uma situação na qual uma tensão psicológica
tenha afectado a sua saúde física.
1.1. EMOÇÕES E VELHICE
Essa deterioração física pode ser de tal forma acentuada que compromete
os aspectos positivos acima mencionados. A percepção de que essa
deterioração é inevitável faz com que a velhice se torne um fenómeno
ameaçador e angustiante para muitas pessoas.
O processo de envelhecimento é frequentemente vivido com muitos medos que, por vezes,
desencadeiam reacções pouco racionais.
Nem sempre a envolvente social e familiar valoriza o património de experiência e de
conhecimento dos seus idosos que, desta forma, se vêem despromovidos e desinvestidos
social e afectivamente.
1.2. MOTIVAÇÃO
Motivação é o nome que damos às forças que nos movem. O que nos
impele a trabalhar? O que faz com que nos envolvamos em actos de
solidariedade e de cidadania? Porque é que cantamos e dançamos ou
saímos de casa para assistir a uma peça de teatro.
A necessidade de
Estima é também
conhecida como de
Estatuto ou de
afirmação pessoal. É
uma necessidade com
uma componente social
fortíssima. Já aqui
referimos que o idoso
se sente, por vezes,
despromovido
socialmente. Essa
percepção da perda de estatuto faz-se frequentemente acompanhar de
comportamentos que procuram reafirmar e reivindicar essa dignidade,
embora dificilmente sejam bem sucedidos. Não é invulgar assistirmos a
brigas entre idosos e crianças que resultam da necessidade do idoso
disputar a atenção e a consideração das quais as crianças são alvo.
O nível mais elevado e complexo é o
da Realização Pessoal. São as
necessidades desta ordem que nos
levam a agir em defesa de valores,
sacrificando o nosso conforto físico e,
inclusivamente, colocando em risco a
nossa própria vida. Por vezes
encontramos idosos que nos
transmitem um enorme sentimento
de serenidade e de realização
pessoal. Olham para trás e vêem
tudo o que construíram com o seu
trabalho, a família que criaram, a
sabedoria que apreenderam.
Contudo, não basta viver das
realizações do passado. É importante
que a motivação para continuar a
construir e a melhorar o mundo à sua
volta persista. Há idosos que se
mantêm activos e conscientes de que
o seu saber tem um papel importante e que deve ter utilidade prática.
Desde coisas simples como contar histórias aos netos, até formas mais
elaboradas de participação na comunidade, tudo contribui para que o idoso
alimente a sua necessidade de auto-realização.
I. Nível Fisiológico
Apatia
Apatia
Isolamento
Infantilização
O Sr. Albino é pouco ambicioso, pouco competente e com constantes sentimentos de fracasso. É
rígido, inflexível no modo de pensar, agressivo, competitivo, preconceituoso e culpa os outros pelo seu
insucesso. Tem enorme medo de envelhecer, critica os mais jovens pelas suas posturas e agarra-se
desesperadamente ao seu trabalho. Tende frequentemente à introspecção.
O Sr. Romeu é sempre vítima das circunstâncias, vivendo em constante conflito. É hostil consigo
mesmo e não se interessa pelos outros. Considera a velhice uma triste etapa da vida, não se revolta
contra ela mas também não faz nada para mudar ou construir algo de novo. Não tem medo da morte
porque ela representa a possibilidade de libertar-se dessa vida tão insatisfatória.
2. AJUSTAMENTOS PSICOSSOCIAIS DA VELHICE
Eis algumas das coisas mais importantes às quais o idoso pode ver-se
obrigado a ajustar-se:
Ao reformarmo-nos, abandonamos
uma carreira, uma profissão e a
forma como isso nos definiu como
pessoa durante anos. Se não
encontramos uma forma de nos
mantermos activos, corremos sérios
riscos de nos virmos a sentir inúteis
e sem valor.
O idoso também pode ser estimulado a procurar ocupações que lhe tragam
realização e auto-estima (por exemplo, trabalho voluntário, cursos nas
universidades sénior, etc.).
2.3. AS PERDAS
Por outro lado, quanto mais tempo vivemos, mais pessoas queridas
perdemos. São os familiares, os amigos e, por vezes o(a) nosso(a)
companheiro(a). Nem sempre é fácil aprender a viver sem pessoas que
fizeram parte da nossa vida durante anos.
O idoso que vive em sua casa ou com familiares precisa que a casa sofra
alterações para ajudar na sua deslocação e segurança. As escadas e as
casas de banho são, normalmente, espaços que exigem requisitos especiais
de adaptação ao idoso.
O idoso que vai viver para uma instituição (lar, hotel geriátrico…) tem que
se adaptar a um ambiente completamente diferente da sua casa. Apesar de
poder ganhar em termos de conforto e da qualidade dos cuidados de saúde,
deixa de estar no seu “território” para estar num espaço alheio, deixa de ser
único para ser um entre muitos, perde grande parte da sua autonomia bem
como a liberdade de alterar o espaço onde vive.
É claro que outras coisas podem ocorrer com o cérebro que podem acelerar
esse declínio das funções cognitivas. Eis alguns exemplos:
• Medicamentos, especialmente os
calmantes e hipnóticos
• Abuso de bebidas alcoólicas ou tabaco
• Doenças silenciosas (por ex. mau
funcionamento da tiróide)
• Stress e ansiedade
• Depressão
• Inactividade e desinteresse pela vida
• Falta de desafios e novos objectivos
• Problemas sensoriais (diminuição da
visão e da audição)
• Infecções
• Exposição a tóxicos
• Factores genéticos
3.1. A MEMÓRIA
Porém, isso não é verdade. O fenómeno é comum mas não normal e muito
menos se trata de algo simples e linear
Através do estudo das dificuldades de memória observadas em acidentados
ou vítimas de guerra que sofreram uma lesão cerebral, a Neuropsicologia
Cognitiva confirmou a existência de múltiplos sistemas de memória.
Actualmente acredita-se que a memória não é una. Ela pode ser classificada
segundo diferentes parâmetros e um deles é o temporal.
“Não te ofendas, Alzira, mas nós éramos amigos, parentes, esposos, ou quê?”
3.2. A INTELIGÊNCIA
Um dos factores que parece estar correlacionado com uma manutenção das
capacidades de aprendizagem é o nível de escolaridade.
3.3. A APRENDIZAGEM
• Saia de casa, tenha actividades sociais (muito importante para a saúde mental);
• Seja flexível, veja um problema sob diferentes prismas, como se fossem diferentes pessoas;
• Procure os seus amigos;
• Mantenha-se sempre activo;
• Experimente escovar os dentes com a outra mão (esse pequeno gesto activa outras áreas do cérebro);
• Vista-se com uma mão só. Um dia com a direita, outro com a mão esquerda;
• Aprume-se; use uma roupa de cor diferente das usuais;
• Experimente escrever com a mão “errada”;
• Saia da rotina;
• Varie a ordem de sua rotina;
• Escolha um caminho diferente;
• Leia um livro;
• Leia em voz alta (activa outras áreas do cérebro);
• Ouça música;
• Troque de estação do rádio para uma diferente;
• Vá ao teatro e ao cinema;
• Assista a um documentário;
• Faça palavras cruzadas;
• Durma do outro lado na cama, durma virado para os pés da cama, de vez em quando, só para variar;
• Tenha mais contacto com a natureza e observe-a;
• Experimente sabores diferentes dos habituais;
• Dedique um dia a um sentido diferente (a todos os cheiros, formas geométricas, cores, sons, etc.);
• Preste atenção a todos os sons e cheiros na rua, junto aos cafés, à padaria, ao supermercado, à
peixaria, às livrarias;
• Compre barro e modele um peixe, uma flor, etc.;
• Pinte uma tela. Faça de conta que é um artista;
• Faça de conta que é um cantor. Cante sua música;
• Preste atenção a sua refeição, sabor, cheiro, textura do alimento, talheres, louça, conversas, risos;
• Inicie um novo passatempo;
• Cuide de uma planta ou de um aquário;
• Pratique o relaxamento;
• Experimente um banho com óleos aromáticos, perfumes diferentes, etc.;
• Pratique a meditação;
• Exercite seu corpo;
• Escreva uma história, um conto, uma poesia;
• Faça exercícios respiratórios;
• Faça exercícios físicos moderados;
• Decore um verso, uma música, a lista de compras;
• Faça aulas de dança ou pratique a dança;
• Faça um curso de culinária;
• Associe uma música a uma cor e a um cheiro.
• Evite tensões desnecessárias.
• Quando não entender bem algo que lhe foi dito, pergunte!
• Anote tudo o que for importante num caderno ou numa agenda.
• Participe em jogos que envolvam raciocínio.
• Seja uma pessoa flexível, esteja aberto para ouvir. As pessoas que não são flexíveis acabam por ser
excluídas do seu meio social.
• Quando lhe fizerem uma pergunta e não conseguir lembrar-se da resposta imediatamente, não se sinta
constrangido, use recursos para ganhar tempo extra para responder: sorria, ajeite os óculos, repita a
pergunta, respire fundo, limpe a garganta, etc.
Actividade 5. Pense num jogo que conheça que exercite a memória, um jogo que
implique a resolução de problemas e um jogo que exija a realização de actividades
muito variadas (por exemplo, escrita, coordenação motora e expressão de emoções).
4. A SEXUALIDADE NA PESSOA IDOSA
Em primeiro lugar é importante compreender que, neste manual, o conceito
de sexualidade é entendido como muito mais do que sexo. É uma questão
de identidade, de expressão de afectos, de relação com o corpo e com os
papéis sociais associados ao género.
Determinantes Biológicos
• Diminuição da produção de
esperma e de testosterona, a partir
dos 40 anos e 55 anos
respectivamente;
• Erecção mais lenta e menos firme;
• Diminuição da quantidade de
sémen emitido;
• Elevação menor e mais lenta dos
testículos;
• Redução da tensão muscular.
A forma negativa com que os idosos vivem a sua sexualidade nesta fase da
sua vida é muitas vezes causada pela comparação da sexualidade presente
com a do passado.
Condicionantes Psicossociais
Por este motivo não existe relação directa com a vivência da sexualidade na
terceira idade. Quer pelas questões morais, quer pela representação social
que existe sobre o idoso, a vivência da sexualidade na velhice tem
frequentemente uma conotação negativa, ou de estranheza, podendo esta,
acabar por ser interiorizada constituindo-se assim uma condicionante,
impondo muitas vezes a sua própria castração.
Com efeito, vivemos numa sociedade que por um lado estimula e por outro
lado reprime a sexualidade. Aos jovens é permitida, embora que criticado, a
vivência da sua sexualidade como fenómeno natural, mas ao idoso é
secundarizado esta dimensão, pensando-se mesmo, estes como seres
assexuados ou então como “um desbragado”.
São pois as pessoas idosas que devem ensinar-nos que o tacto, a carícia e a
ternura, não estão vinculados ao processo de envelhecimento biológico e,
com a idade em vez de diminuir e deteriorar-se, aumentam em qualidade e
necessidade para, como o melhor remédio, permitir viver com prazer e
alegria.
A carícia faz com que o idoso sinta o seu corpo como sendo valioso,
desejado, atraente e querido, numa sociedade que o abandona.
O tacto tem uma intensa conotação psíquica. Não é uma simples sensação
física, mas emoção e comunicação. Sentimos, amamos, detestamos e
comunicamos por meio da pele. Por intermédio do tacto estabelecemos a
nossa primeira comunicação quando nascemos e é a melhor linguagem que
nos resta para falarmos no processo de envelhecimento.