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INDICE
Avaliação do estilo atribucional de estudantes universitários de Portugal e do Brasil: uma
análise transcultural ...................................................................................................................2
Avaliação do impacto de um programa de educação emocional em jovens pré adolescentes 13
Avaliação do Processamento da Linguagem e Afasia em Português: A Bateria PALPA-P ...33
Avaliação Psicológica da Dislexia de Desenvolvimento.........................................................42
Bateria de Provas de Raciocínio: Estudos diferenciais segundo o ano escolar, género e opção
curricular ..................................................................................................................................56
Burnout e Satisfação Laboral em Professores de Apoio..........................................................73
Cancro Colo-rectal: Impacto psicológico do tratamento no doente e cônjuge ........................87
Características psicométricas de uma versão portuguesa do "Competitive State Anxiety
Inventory - 2" (CSAI-2): Dados preliminares relativos à sua validade e estrutura factorial .104
Maus-tratos em crianças ........................................................................................................126
Como medir a atracção sentida num primeiro encontro? Propriedades métricas do Índice de
Atracção Inicial (IAI).............................................................................................................138
Como é uma creche de boa qualidade? Estudo qualitativo acerca das ideias dos educadores
................................................................................................................................................146
Comportamentos das crianças na sala de jardim de infância: A importância das competências
sociais.....................................................................................................................................165
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
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Palavras-chave:
estilos atribucionais, estudantes universitários, transcultural.
Resumo/Abstract:
A sequência comportamental dos sujeitos é desencadeada pela obtenção do resultado
relacionado com as metas pessoais e que se atribuem a diferentes causas. A compreensão
destas variáveis pode favorecer a gestão das relações educativas em contexto escolar.
Nesta comunicação temos como objectivos: apresentar um instrumento de avaliação
psicológica que permite determinar o estilo atribucional perante resultados académicos, suas
propriedades psicométricas, e comparar as tendências atribucionais de estudantes portugueses
e brasileiros numa amostra de sujeitos de diferentes cursos universitários da Universidade do
Algarve, Portugal (n=155), e do Estado de Rondônia, Brasil (n=206).
O instrumento utilizado para a obtenção dos dados é a EACE – Escala de Atribuição Causal
do Estudante (adaptado de Jesus, 1996), onde são analisadas dimensões explicativas para o
sucesso e o fracasso académico, numa amostra de n=361, nos anos lectivos de 2005 e 2006.
1. Introdução
Qual o interesse da investigação acerca do fenómeno psicológico relativo às atribuições
causais de estudantes no contexto universitário? Possibilitar a ampliação da base teórica
acerca das variáveis intervenientes que podem determinar uma melhor gestão da relação
educativa.
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Diferentes estudos (Heider, 1958; Weiner, 1979, 1985; Barros, Barros & Neto, 1993; Leyens
& Yzerbyt, 2004; León, Barriga, Gómez, González, Medina, & Cantero, 1998; Vala &
Monteiro, 2004; Gleitman, Fridlund, & Reisberg, 2003; Mascarenhas, 2004; Mascarenhas,
Almeida, & Barca, 2005) demonstram que a atribuição é uma espécie de crença que as
pessoas adoptam acerca da causa do que vivenciam, seja em termos de sucesso ou de
fracasso. Este fenómeno psicológico existe em função da necessidade que o ser humano tem
de explicar a sua realidade, mais especificamente o que lhe acontece de positivo ou negativo.
Os primeiros estudos acerca do processo de atribuição causal manifestaram que as pessoas
estão motivadas a ver nosso mundo social, apesar de sua complexidade, como previsível e,
portanto, provavelmente controlável. É uma forma que utilizam para dar sentido ao que lhes
ocorre, para justificar um certo controlo e previsibilidade aos acontecimentos das suas
existências.
Entendemos que todas as contribuições teóricas e empíricas neste campo confirmam a teoria
da atribuição. A relevância desta teoria é evidente uma vez que as atribuições causais que
fazemos reflectem a nossa percepção do mundo social, as nossas expectativas, as nossas
crenças e atitudes, e têm importantes repercussões na nossa conduta social (León & Gómez,
1998, p.104).
2. Método
2.1. Participantes
Na realização deste estudo foi utilizada uma amostra integrada por n=361 estudantes de
Portugal (n=155) e do Brasil (n=206), de ambos os sexos, sendo 264 (73,1%) do sexo
feminino e 97 (26,9%) do sexo masculino, as idades variam entre os 17 e os 53 anos e
frequentam o grau de licenciatura de quatro faculdades e escolas da Universidade do Algarve,
Faro, Portugal (n=155); da primeira à terceira séries do ensino superior modalidade
presencial na Faculdade São Lucas, Porto Velho, Rondónia, Amazónia, Brasil (n=83); e dos
primeiro ao quarto períodos da Universidade do Estado do Amazonas, Humaitá, Amazónia,
Brasil (n=123).
Os cursos frequentados eram Administração Hospitalar (n=28; 7,8%), Administração de
Negócios (n=16; 4,4%), Odontologia (n=29; 8,0%), Nutrição (n=10; 2,8%), Psicologia
(n=111; 30,7%), Sociologia (n=17; 4,7%), Enfermagem (n=27; 7,5%), Ciência Política (n=
17; 4,7%), Normal Superior (n=23; 6,4%), Matemática (n=24; 6,6%) e Letras (n = 59;
16,3%).
2.2. Material
Os dados foram obtidos através da aplicação da EACE – Escala de Atribuição Causal do
Estudante, constituída por 16 itens, num formato Likert de sete pontos (de 1 = discordo
totalmente a 7 = concordo totalmente), repartidos em 8 factores auto-referenciados (visando a
auto-atribuição) associados ora à percepção de sucesso ora à percepção de fracasso
académico próprios: atribuição dos resultados obtidos às características pessoais, ao estilo de
avaliação dos professores, ao nível de concentração nos métodos pessoais de estudo e/ou no
desempenho nos momentos de avaliação, às características institucionais da escola /
faculdade, à própria competência académica, ao esforço na realização das tarefas de estudo,
ao reconhecimento do esforço por parte dos professores e à sorte (cf. Quadro 1). A
formulação desta escala de medida foi baseada na metodologia utilizada por Lens e
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Decruyenaere (1991) destinada à avaliação das atribuições causais dos alunos para os
sucessos e fracassos em tarefas escolares (cit. in Jesus, 1996).
Quadro 1
EACE – Escala de Atribuição Causal do Estudante (adaptado de Jesus, 1996)
Os meus sucessos ao nível académico (por exemplo: boas notas) são causados…
Os meus fracassos ao nível académico (por exemplo: más notas) são causados…
Para cada sinal de resultado, sucesso ou fracasso, são avaliadas duas dimensões, o locus da
causalidade e a estabilidade. O processo de adaptação da escala em análise, conducente à
avaliação da dimensão controlabilidade, foi iniciado em estudo realizado em paralelo
(Gonzaga, Morais, Santos, & Jesus, 2006).
2.3. Procedimentos
O questionário foi administrado aleatoriamente aos estudantes do ensino superior dos
estabelecimentos de ensino em causa, que participaram voluntariamente respondendo
individualmente no decurso dos 2ºs semestres lectivos de 2005 e 2006, no Brasil e em
Portugal. Os participantes foram informados de que não haviam respostas certas ou erradas e
que seria assegurada a confidencialidade dos resultados. O procedimento de tratamento dos
dados foi concretizado com o apoio do programa estatístico SPSS, versão 14.0 para
Windows. Na verificação das propriedades psicométricas realizou-se a análise de fiabilidade
dos dados, procedeu-se ao cálculo das médias dos grupos e avaliou-se a significação
estatística dos itens nas respectivas dimensões estudadas, realizando finalmente uma análise
das diferenças entre os sujeitos que integram as amostras dos respectivos países.
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3. Resultados
Na análise dos dados relativos à amostra de sujeitos que integram este estudo, verifica-se que
os objectivos atingidos para esta etapa da investigação podem ser considerados satisfatórios,
determinando a existência de diferenças entre o estilo atribucional dos sujeitos dos dois
países em análise.
O questionário em causa revelou uma consistência interna global dos resultados com alpha
de Cronbach igual a 0,477. Nas tabelas a seguir são apresentadas algumas propriedades
psicométricas relativas aos resultados obtidos (n=361).
Dimensão Resultado N M DP
Locus Sucesso 361 38,98 4,69
Fracasso 360 36,02 5,70
Estabilidade Sucesso 361 34,12 3,45
Fracasso 360 31,46 4,25
Dimensão Resultado N F p
Locus Sucesso 361 3,83 ,051
Fracasso 360 29,63 ,000
Estabilidade Sucesso 361 19,53 ,000
Fracasso 360 0,44 ,509
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Da observação dos dados acima apresentados (cf. Tabela 3), podemos constatar que os
estudantes portugueses são mais internos na explicação dos sucessos (M= 39,53; D.P= 5,12)
que os brasileiros (M= 38,56, D.P= 5,12) (F= 3,83; p=0,051). Para tal contribui, em
particular, a maior valorização pelos portugueses das suas características pessoais e do
esforço próprio nas actividades de estudo na explicação dos sucessos. Por outro lado, os
estudantes brasileiros explicam os seus sucessos a partir de causas mais estáveis (M= 34,79;
D.P= 3,63) que os seus pares portugueses (M= 33,22; D.P= 2,97) (F=19,53; p=0,000), em
particular, a partir das características da escola / faculdade e do reconhecimento do esforço
pelos professores.
Se, num estudo recente (Ferreira, Assmar, Omar, Delgado, Gonzalez, Silva, Souza, &
Cisne, 2002), a comparação com estudantes argentinos e mexicanos dá vantagem aos
brasileiros na dimensão Locus de Causalidade (por se revelarem mais internos nas
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explicações dos sucessos e fracassos), os dados que analisámos a partir das tabelas acima são
estatisticamente favoráveis aos estudantes portugueses que integram o conjunto deste grupo
amostral.
Finalmente, confirma-se a existência de um padrão atribucional ego-defensivo
(Barros, Barros & Neto, 1993) nos dois grupos, segundo o qual os sujeitos tendem a
internalizar os seus sucessos e a dissociarem-se dos seus insucessos.
4. Conclusão
A escala que aplicámos pode ser um instrumento que ajuda a diagnosticar as multidimensões
que caracterizam o perfil atribucional dos estudantes diante das suas actividades de estudo-
aprendizagem. Tomando em consideração as informações psicométricas dos dados que
analisámos, é possível afirmar que o instrumento em causa é suficiente para o objectivo a que
se propõe: avaliar aspectos relativos ao estilo atribucional no percurso académico dos
estudantes.
5. Bibliografia
Barros, J. H., Barros, A. M., & Neto, F. (1993). Psicologia do controlo pessoal, aplicações
educacionais, clínicas e sociais. Braga: Instituto de Educação da Universidade do
Minho.
Gleitman, H., Fridlund, A. J., & Reisberg, D. (2003). Psicologia (6ª ed.). Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian.
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Vala, J., & Monteiro, M. B (2004). Psicologia social (6ª edição). Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian.
Weiner, B. (1974). Achievement motivation and attribution theory. Morristown, NJ: General
Learning Press.
Weiner, B. (1979). A theory of motivation for some classroom experiences. Journal of
Educational Psychology, 71, 3-15.
Weiner, B. (1985). An attibutional theory of achievement motivation and emotion.
Psychological Review, 92, 548-573.
Weiner, B. (1988). Attribution Theory in Education. Revista Portuguesa de Educação, 1(1),
21-25.
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Palavras-Chave:
Educação Emocional, Competência Social
Resumo/Abstract:
adultos e pares, contribuindo para uma melhor coesão familiar, compatibilidade com pais e
amigos, envolvimento social e probabilidade de sucesso escolar.
A literatura que descreve a aplicação de programas de aprendizagem de competências
pessoais e sociais analisada por Matos (1997), inclui os seguintes objectivos: educação
afectiva, promoção do ajustamento social, prevenção do desajustamento social, programas de
comunicação interpessoal, programas de habilidades sociais, programas de aquisições sociais,
programas de solução de problemas, programas de enriquecimento cognitivo, de auto-
instrução, treino assertivo, programas de desenvolvimento pessoal e social. Em termos de
formato, a autora refere que os programas se organizam em sessões de 1 a 25 semanas, com
duração de 10 a 90 minutos, com 1 a 50 participantes, de 1 vez por semana a diariamente, não
se obtendo até à data resultados conclusivos acerca da eficácia relativa da opção do formato
dos programas (McIntosh, Vaughn, Zragoza, 1991, cit. por Matos, 1997, pp-92). Quanto às
técnicas, são referidos autores que descrevem a dramatização, a modelagem, o feedback e, a
generalização a diferentes contextos através de trabalhos de casa, programas que realçam o
corpo e o movimento e, programas que realçam o desporto e os jogos como meios de
desenvolvimento social em diferentes contextos.
Os conteúdos do programa de Educação Emocional, variável independente do
presente estudo, foram construídos e organizados de acordo com três orientações
fundamentais na investigação das emoções e do desenvolvimento emocional: orientação
evolucionista, cognitiva/construtivista e funcional.
A teoria evolucionista assume que as emoções estão profundamente inscritas nos
reportórios da espécie e têm ligações com os seus cérebros mais remotos. Ekman e Friesen;
Ekman & Oster; Izard; Izard & Malatesta (citados por Sroufe, 1995), consideram que as
emoções primárias são culturalmente universais e emergem precocemente na primeira
infância. O trabalho destes investigadores tem a sua origem em Darwin, que postulou que as
reacções emocionais devem ser funcionais no que se refere à promoção da segurança,
monitorização do ambiente e, essencialmente, no sucesso reprodutivo. Também para
Damásio (2000), as emoções são conjuntos complicados de respostas químicas e neurais que
formam um padrão e, cuja finalidade é a de ajudar o organismo a manter a vida. A teoria das
emoções discretas de Ekman, Davidson e de Izard, propõe que, tanto a regulação, como o
desenvolvimento emocional resultam da maturação do sistema nervoso, das necessidades de
alterações adaptativas e do desenvolvimento cognitivo.
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e exuberante sempre que as circunstâncias o permitam. Para tal contribui a sua progressiva
independência emocional, ou auto-suficiência, o jogo e a fantasia e, as relações com os
pares.
O desenvolvimento nas crianças da compreensão dos seus estados e da natureza das
emoções, aumenta nos anos posteriores com a desenvolvimento das capacidades de
representação e da memória de evocação, permitindo analisar consistências de causas e de
consequências, entre acontecimentos e, entre os comportamentos relacionados com as
emoções. Adicionalmente, aumenta também a compreensão das regras e das estratégias de
controlo das expressões emocionais nos contextos sociais durante os anos pré-escolares e
escolares, bem como a consciência do modo de usar estratégias mentais na regulação das
emoções. No entanto, segundo Thompson (citado por Eisenberg & Morris, 1997) a teoria
mental da emoção (por exemplo, como funcionam as emoções e como é que estas são geridas
pelo próprio) desenvolve-se ao longo da adolescência em conjunção com o desenvolvimento
da identidade: porque é neste período que a consciência de si e o auto-conhecimento se
definem mais, é também neste período que as crenças sobre as emoções e a sua regulação se
consolidam.
Muitos investigadores adoptaram uma perspectiva funcional. Esta perspectiva foca-se
nas transacções pessoa-evento, no impacto da emoção no comportamento e, na relação entre
emoção e acção, ou tendências para a acção, salientando a relevância do papel do contexto.
Uma outra competência que se pretendeu desenvolver no presente programa foi a
empatia que, segundo Thompson (citado por Eisenberg & Morris, 1997) afirmou ao sintetizar
as diversas perspectivas dos investigadores que estudam a empatia, tem bases afectivas e
cognitivas.
Plutchik (1987) concluiu que para que o comportamento de um grupo seja organizado,
teria de haver sinalização empática dos diversos estados emocionais, a fim de garantir que os
comportamentos de sobrevivência fossem executados de forma concertada. Assim, a empatia,
sob o ponto de vista evolucionista, contribuiria para os padrões de adaptação do grupo e,
aumentaria a probabilidade de sobrevivência do indivíduo. Outra função seria a vinculação
entre indivíduos, particularmente entre mães e filhos: as emoções expressas pelos bebés
funcionariam como sinais, com consequências adaptativas de imitação, a favor da sua própria
sobrevivência, como por exemplo, atraindo a prestação de cuidados por parte da mãe.
As crianças são contagiadas pelas expressões faciais dos adultos e, iniciam muito
precocemente a comunicação empática através da imitação das expressões faciais dos
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adultos, sendo esta, também, uma capacidade motivadora de princípios morais, como referido
por Staub (1987): no sentido do “cuidar de” de Hoffman, que se assemelha ao sentido moral
de Gilligan do “cuidar de” e do sentido de “orientação prosocial” ou orientação para valores
prosociais de Staub.
A opção tomada neste estudo pela investigação dos efeitos da promoção do
desenvolvimento de competências emocionais fundamentou-se, essencialmente, num estudo
experimental de Pons, Harris e Doudin (2002). Estes autores, por sua vez, basearam-se em
pesquisas prévias que revelaram evidência para uma correlação positiva entre a qualidade
das interacções com pares e adultos e a capacidade de compreensão global das emoções.
Salientaram a emergência desta relação em estudos onde se verificou que as crianças com
uma melhor compreensão das causas externas da emoção seriam mais populares entre os
seus pares, bem como, em outros estudos, a evidência numa correlação negativa, entre este
tipo de cognição e problemas de comportamento.
Paul Harris enquadra-se numa perspectiva de desenvolvimento emocional quasi-
piagetiana, tal como ele próprio se define em Harris e Saarni (1989). Estes últimos autores
consideram a existência de uma base universal em algumas características da compreensão
das emoções, desde idades muito precoces e, postulam o desenvolvimento emocional através
de estádios, numa teoria que reflecte esta universalidade. Consideram ainda a importância da
“teoria da mente” de Premack e Woodruff (cit. por Harris & Saarni, 1989): as crianças são
pensadas como participantes da vida social, tentando compreender as experiências mentais
dos seus pares e educadores. Para estes autores, a experiência social é mais um factor de
facilitação ou de inibição do desenvolvimento cognitivo, do que um determinante por si só.
Contrariam assim os sócio-construtivistas, dentro os quais, os mais “radicais”, postulam que
existe muito pouca compreensão das emoções que não seja transmitida culturalmente.
Assim, as hipóteses colocadas no referido estudo tiveram como principal objectivo
saber se seria benéfica a utilização de um contexto natural de ensino em sala de aula, na
promoção da compreensão global das emoções, em crianças de 9 anos. O estudo envolveu
uma fase de pré-teste e uma outra de pós-teste em dois grupos, um grupo experimental e um
grupo de controlo: cada grupo foi composto por 18 crianças, 9 raparigas e 9 rapazes, com
idades aproximadas de 9 anos, seleccionadas a partir de grupos turma equivalentes, embora
provenientes de escolas diferentes, com origens sócio-económicas semelhantes, no mesmo
nível de escolaridade, sem identificação de problemas de aprendizagem de leitura-escrita,
personalidade e de comportamento. Apenas as crianças do grupo experimental receberam o
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programa, que consistiu em sessões de treino diárias de meia hora administradas pelo seu
professor de ensino regular, o qual foi sujeito a formação específica para o efeito. Como
resultados, para esta hipótese, a maioria das crianças do grupo experimental manifestou
melhoria significativa na compreensão global das emoções, o que não sucedeu no grupo de
controlo. Os autores fizeram notar que não foram estudados os efeitos destes benefícios na
promoção das suas competências sociais, entre pares e adultos.
Com base nas conclusões destes autores, o problema colocado por este estudo
experimental foi o seguinte: será que a Educação Emocional aumenta a consciência
emocional e a percepção das competências pessoais e sociais em pré-adolescentes?
A variável consciência emocional foi definida por Steiner e Perry (2000), como o
conhecimento que o sujeito tem sobre aquilo que sente e sobre aquilo que os outros sentem,
da capacidade de descobrir as causas dos sentimentos e, do conhecimento acerca do efeito
provável dos seus próprios sentimentos nos outros. Goleman (1997) inclui a autoconsciência
nas competências emocionais e define-a de forma semelhante, como o conjunto de
capacidades que envolvem identificar, expressar e gerir os sentimentos, controlar o impulso e
adiar a recompensa e, lidar com o stress e a ansiedade. Este autor afirma também que ao
desenvolver estas capacidades, o objectivo é o de fazer subir o nível de competência social e
emocional não apenas nas crianças identificadas como “perturbadas”, mas como algo que faz
parte das capacidades e compreensões essenciais ao desenvolvimento.
Neste sentido, a primeira hipótese formulada neste estudo foi: se os pré-adolescentes
fossem sujeitos a um programa de Educação Emocional, então a sua consciência emocional
aumentaria.
Ainda sobre a relação entre competências emocionais e competências pessoais e
sociais LaFreniere e Dumas (1996) afirmam que existe evidência na pesquisa em observação
de crianças em idades pré-escolares, que a expressão afectiva e a regulação emocional servem
funções relacionais importantes, enquanto Pons, Harris e Doudin (2002), descrevem um
estudo longitudinal de Dunn e Herrera, em 1997, em que ficou demonstrado que as crianças
de 6 anos com maior habilidade na resolução de conflitos teriam, com três anos de idade, uma
maior compreensão das emoções, bem como, um outro estudo em pré-adolescentes (11 a 13
anos), de Bosacki e Astington, que demonstrou a existência de uma correlação positiva entre
a compreensão global das emoções e as competência sociais nos julgamentos dos respectivos
professores. No entanto, estes mesmos autores, alertam para o facto de ser diferente concluir
acerca de um aumento da compreensão das emoções e qualquer outra conclusão sobre a
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melhoria das relações interpessoais entre os pré-adolescentes com pares e adultos, já que não
existe, tanto quanto estes autores conhecem, uma clara evidência empírica para esta relação.
O estudo que aqui apresentamos pretende também investigar a relação entre o
desenvolvimento da Consciência Emocional e a melhoria nas competências pessoais e sociais
enunciando-se assim a segunda hipótese: se os pré-adolescentes fossem sujeitos a um
programa de Educação Emocional, então a percepção das suas competências sociais e
pessoais aumentaria.
Metodologia
A análise dos benefícios do Programa de Educação Emocional consistiu na
verificação de diferenças significativas entre os valores médios obtidos nas situações de pré-
teste e pós-teste, considerando as seguintes variáveis: variável independente - programa de
Educação Emocional; variáveis dependentes - consciência emocional e competências
pessoais e sociais.
A variável consciência emocional foi avaliada em função das dimensões de
entorpecimento, sensações físicas, experiência primária, diferenciação, empatia e
interactividade obtidas através das respostas ao Questionário de Consciência Emocional. A
consciência emocional seria tanto maior quanto menor fosse a média dos valores das
dimensões de entorpecimento, sensações físicas e experiência primária e, quanto maior fosse
a média dos valores das dimensões de diferenciação, empatia e de interactividade.
A variável da percepção das competências sociais foi avaliada em função das
dimensões de agressividade, isolamento e competência social obtidas através das respostas à
Escala de Competência Social e de Avaliação do Comportamento. Esta variável seria tanto
maior quanto maior fosse a média dos valores da dimensão de competência social e, quanto
menor fosse as média dos valores obtidos pelas cotações das dimensões de agressividade e de
isolamento.
Utilizou-se um grupo Experimental, submetido ao tratamento (participação no programa
de Educação Emocional) e, um grupo de Controlo que não foi sujeito ao tratamento (sem
participar no programa de Educação Emocional).
O delineamento do estudo foi o seguinte: a) situação de pré-teste, com aplicação do
Questionário de Consciência Emocional e da SCBE, Escala de Avaliação do Comportamento
e Competência Social a ambos os grupos; b) situação experimental com execução do
programa de Educação Emocional sobre o grupo Experimental; c) primeira situação de pós-
teste, com nova aplicação dos mesmos questionários a ambos os grupos, na semana
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Participantes
O presente estudo contemplou uma amostra de 56 pré-adolescentes de ambos os sexos
(cerca 50% de cada), com idades compreendidas entre os 11 e os 14 anos, que frequentaram
uma Instituição Educativa pública, localizada numa zona de habituação urbana e não
degradada, tentando assim seleccionar uma origem sócio-económica média. A recolha da
amostra foi obtida por conveniência, incidindo sobre três turmas do 7º ano e da mesma
Instituição Educativa.
Instrumentos
Para a recolha junto dos pré-adolescentes de informação sobre a consciência
emocional utilizou-se um questionário descrito em Steiner e Perry (2000). Este questionário é
constituído por 36 itens, cotados de 1 a 4, sendo as cotações “0” ignoradas e excluídas do
cálculo das médias. As questões, originalmente concebidas para adultos, foram convertidas
através da adequação da linguagem usada por estes autores, para a população que constitui a
amostra deste estudo.
Dados os valores extremamente baixos de Alfa de Cronbach encontrados para as sub-
dimensões de entorpecimento (nível de indisponibilidade das emoções à consciência do
sujeito) e de sensações físicas (experiência de sensações físicas que acompanham as
emoções), considerámos que as deveríamos ignorar no presente estudo. Sendo assim a versão
final deste questionário passou a ser constituído por quatro dimensões: (1) Não consciência
emocional (correspondente à sub-dimensão de experiência primária), que se refere ao nível
de experiência consciente das emoções, mas ainda não capaz de compreensão e de; (2)
diferenciação ou, reconhecimento das diferentes emoções e da sua intensidade; (3) empatia,
nível que se atinge quando se percebe e intui as emoções daqueles que nos rodeiam; (4)
interactividade, que se refere ao nível de conhecimento do modo como as pessoas irão reagir
às emoções umas das outras.
A SCBE, Escala de Avaliação do Comportamento e Competência Social foi adaptada
por LaFreniere e Dumas (1996), tendo sido reduzida de 80 a 30 itens, cotados de 1 a 6,
mantendo as suas três características estruturais: elevada fidelidade, consistência interna e
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estabilidade temporal das escalas. As suas dimensões são a competência social (SC); a
agressividade (A) e o isolamento (I). Tal como a escala original, a sua versão reduzida é
usada para captar a qualidade afectiva das relações interpessoais de crianças entre 3 a 6 anos.
Procedimentos
O Grupo Experimental incluiu 28 alunos da mesma turma do 7º ano de escolaridade, e
o Grupo de Controlo foi constituído a partir de outras duas turmas, também do 7º ano,
totalizando 56 alunos, a partir das quais se seleccionou o grupo final de 28 alunos, de acordo
com os seguintes critérios de emparelhamento relativos ao Grupo Experimental: Habilitações
Literárias do Encarregado de Educação; repetências; idade cronológica e sexo.
Na semana imediatamente anterior à primeira sessão do programa, aplicou-se o
Questionário de Consciência Emocional e a Escala de Competência Social e de Avaliação do
Comportamento a todos os alunos, sendo esta última aplicada, de igual forma, aos respectivos
encarregados de educação. Estes instrumentos foram aplicados de novo, em iguais
circunstâncias, na semana imediatamente a seguir à última sessão do programa de Educação
Emocional, bem como um mês após esta última aplicação, mas desta vez excluindo o
preenchimento da Escala de Competência Social e de Avaliação do Comportamento pelos
respectivos Encarregados de Educação.
Os alunos que fizeram parte do programa de Educação Emocional foram divididos em
dois grupos, ambos com 14 alunos, tendo sido sujeitos a este programa, com uma
periodicidade quinzenal.
O programa de Educação Emocional foi composto por dez sessões (para cada um dos
grupos) de noventa minutos cada, uma por quinzena. As sessões de noventa minutos foram
organizadas de forma a tratarem os diversos tópicos numa perspectiva teórico-prática e
lúdica.
Os primeiros quarenta e cinco minutos foram preenchidos com a parte teórica-prática,
abordada essencialmente através dos métodos activo e interrogativo, apoiada por um suporte
em “Power Point” . Os restantes quarenta e cinco minutos foram preenchidos com uma
parte lúdica, que se pretendeu ilustrativa relativamente à primeira parte, mediante actividades
tais como debate, jogo, role-play, passagem de filmes e respectiva reflexão, etc.. Os temas
abordados foram, por ordem cronológica: (1ª sessão) – apresentação dos alunos entre si,
conhecer o significado que cada aluno atribui à definição das emoções, função de
comunicação das emoções; (2ª sessão) conhecer o significado que cada aluno atribui ao
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Discussão
Foi objectivo do presente estudo verificar se a frequência de um programa de
promoção da compreensão global das emoções, poderia desenvolver a consciência
emocional, a partir das respostas dadas a um Questionário de Consciência Emocional por um
grupo de 56 pré-adolescentes de idades compreendidas entre os 11 e os 14 anos, de ambos os
géneros, em que 28 foram sujeitos ao programa constituindo o Grupo Experimental e os
restantes 28 apenas responderam ao questionário, constituindo o Grupo de Controlo.
Verificámos que, ao contrário do estudo experimental efectuado por Pons, Harris e
Doudin (2002), cujas conclusões apontaram para um aumento significativo na compreensão
das emoções ao aplicar um programa de Educação Emocional sobre um Grupo Experimental
seleccionado a partir de uma amostra de pré-adolescentes, não foram encontrados efeitos
estatisticamente significativos resultantes da aplicação do programa de Educação Emocional
desenvolvido no nosso trabalho, sobre a consciência emocional.
Apesar das conclusões atrás referidas, os resultados indicaram diferenças
significativas de ganhos relativos entre as duas amostras (Grupo de Controlo e Grupo
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
28
não consciência emocional; 2) que a amostra seleccionada a partir de uma população com
origem sócio-económica média não obtenha tantos ganhos com o efeito de um programa de
Educação Emocional, como os que teria uma amostra seleccionada a partir de uma população
pertencente a um contexto identificado como sujeito a factores de risco; 3) que os pré-
adolescentes, sobretudo, para as questões que lhes foram colocadas para a dimensão de não
consciência emocional, se tenham questionado mais acerca daquilo que seria desejável
responder, imediatamente após a intervenção; 4) que a perda da utilização de uma
“linguagem emocional” possa diminuir o papel da linguagem no desenvolvimento da
consciência emocional; 5) que a perda da relação entre metacognição e a compreensão das
emoções, ou seja, a ausência de prática regular de tomada de consciência e de comunicação
acerca de estados emocionais, possa provocar uma diminuição dos ganhos adquiridos através
do efeito do programa de Educação Emocional.
Como segundo objectivo, pretendemos verificar se a compreensão das emoções
estaria relacionada com a percepção das competências pessoais e sociais, tendo levantado a
hipótese de que se os mesmos pré-adolescentes fossem sujeitos ao programa de Educação
Emocional, então a percepção das suas competências sociais e pessoais aumentaria,
analisando-a através das respostas dadas à Escala de Competência Social e de Avaliação do
Comportamento
Constatámos também que, ao contrário da afirmação de Harris e Saarni (1989),
segundo os quais, a promoção da compreensão global das emoções teria certamente
influência positiva para o desenvolvimento das competências sociais, não foram encontrados
efeitos estatisticamente significativos resultantes da aplicação do programa de Educação
Emocional desenvolvido no nosso trabalho, sobre a percepção de competências pessoais e
sociais. Estas conclusões estão de acordo, porém, com os autores Pons, Harris e Doudin
(2002) que afirmam não conhecer estudos com uma clara evidência empírica para a relação
entre o aumento da compreensão das emoções e qualquer outra conclusão sobre a melhoria
das relações interpessoais entre os pré-adolescentes com pares e adultos.
Na dimensão de não competência social, tanto na percepção dos educandos como na
percepção dos respectivos encarregados de educação, o efeito do programa de Educação
Emocional, caso tivesse existido, teria sucedido no sentido oposto à hipótese colocada, ao
contrário do Grupo de Controlo, cujos valores de média diminuíram entre a situação de pré-
teste e a de 1º pós-teste e, entre o valor do 1º pós-teste e o do 2º pós-teste. De facto, os
valores entre o grupo experimental e grupo de controlo tenderam a aproximar-se cada vez
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
30
mais entre si, tanto para os educandos, como para os encarregados de educação. Poderá
significar que a aproximação das médias ao valor 2 (média obtida em segundo pós-teste)
possa representar uma melhoria de “competência social”, tendo em conta que a escala de
medida varia entre 1 a 6, (1- nunca ocorre; 2,3 - algumas vezes; 4,5 – com frequência; 6 –
sempre).
Na dimensão de competência social, tanto na percepção dos educandos como na
percepção dos respectivos encarregados de educação, o efeito do programa de Educação
Emocional, caso tivesse existido, teria sucedido no sentido da hipótese colocada. No Grupo
de Controlo, a variação dos valores seguiu a mesma tendência.
Tal como para a dimensão de consciência emocional, observámos entre géneros, que
para a dimensão de competência social, o género masculino, partiu de uma situação inicial de
menor valor, tendo tido também o maior ganho relativo.
Ao contrário da dimensão de consciência emocional que, no segundo pós-teste, no
grupo sujeito aos efeitos do programa de Educação Emocional, perdeu todos os ganhos
previamente adquiridos, na dimensão de competência social, para o mesmo grupo e para a
mesma situação, mantiveram-se os ganhos previamente adquiridos. Poderá significar que,
mesmo tendo perdido alguma prática regular de tomada de consciência sobre as suas próprias
emoções e acções, a manifestação de novos comportamentos tivesse sido suficientemente
interiorizada, para que se tornasse automática.
Em suma, poderemos levantar as seguintes hipóteses: 1) que a de Escala de Avaliação
do Comportamento e Competência Social, adaptada a partir de uma concepção para crianças
entre os 3 e os 6 anos de idade, contenha itens inadequados para esta faixa etária, sobretudo
para a dimensão de não competência social; 2) que o aumento de valores verificados como
eventual efeito do programa de Educação Emocional, para a dimensão de não competência
social, possa significar uma maior aproximação ao significado do conceito de “competência
social”, considerando que a amostra seleccionada para o grupo experimental correspondeu à
melhor turma do 7º ano e, que a amostra seleccionada para o grupo de controlo foi feita a
partir de duas outras turmas sem características particulares de comportamento; 3) que a
amostra seleccionada a partir de uma população com origem sócio-económica média não
obtenha tantos ganhos com o efeito de um programa de Educação Emocional, como os que
teria uma amostra seleccionada a partir de uma população pertencente a um contexto
identificado como sujeito a factores de risco; 4) que os pré-adolescentes do grupo
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
31
experimental se tenham questionado mais acerca daquilo que seria desejável responder,
imediatamente após a intervenção com o programa de Educação Emocional.
Para além das questões ligadas ao estudo experimental, coloca-se também a hipótese
do programa de Educação Emocional ter sido curto e haver necessidade de melhor alguns
aspectos.
Na nossa perspectiva, apesar dos resultados não terem sido conclusivos relativamente
às hipóteses colocadas neste estudo, a sua discussão leva-nos a considerar pertinente
continuar a investigar a hipótese de que a Educação Emocional, nos moldes em que foi
aplicado neste estudo, terá um efeito positivo significativo na consciência emocional e nas
competências pessoais e sociais.
Em futuras investigações pensamos ser útil, primeiro, a adaptação de ambos os
instrumentos e, verificação rigorosa das suas propriedades psicométricas, para esta faixa
etária. Em segundo lugar, uma definição mais rigorosa do significado de “consciência
emocional” e de “competência social” em termos de operacionalização nos respectivos
instrumentos de medida. Terceiro, empreender investigações paralelas, efectuadas
simultaneamente em amostra seleccionadas a partir do tipo de população utilizada no
presente estudo e, amostras seleccionadas a partir de contextos identificados como sujeitos a
factores de risco. Quarto, considerar a hipótese de que uma intervenção pontual através de um
programa de Educação Emocional sobre pré-adolescentes não seja suficiente para promover
uma consciência emocional e, como tal, que a prevenção tenha que ter em conta modelos
mais sistémicos, que modelem a linguagem utilizada nos contextos da família e da escola.
Por fim, consideramos que o nosso trabalho permitiu levantar questões e equacionar
problemas, ampliar e explorar informação que poderá vir a contribuir para a prevenção de
comportamentos de risco, em populações de pré-adolescentes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Resumo/Abstract:
Apresentamos a bateria PALPA-P – Provas de Avaliação da Linguagem e Afasia em
Português –, adaptada do original homónimo de Kay, Lesser e Coltheart (1992). Enquadrada
numa perspectiva neurocognitiva, e tendo por base uma concepção modular do sistema de
processamento da linguagem, a PALPA-P reúne um conjunto de 60 provas psicolinguísticas
que avaliam aspectos específicos e finamente diferenciados do reconhecimento, da
compreensão, e da produção de palavras e frases faladas e escritas, permitindo, deste modo,
identificar que aspectos da linguagem se encontram perturbados e quais se mantêm
relativamente intactos. Estas provas avaliam quatro áreas do processamento da linguagem:
processamento fonológico, leitura e escrita, semântica de palavras e de imagens, e
compreensão de frases. As vantagens desta bateria na avaliação e diagnóstico de perturbações
de linguagem falada e escrita, em crianças e adultos, bem como no planeamento de
programas de intervenção/reabilitação, serão discutidas.
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
34
O Processo de Adaptação
Com início em 1995 no âmbito das actividades do Laboratório de Fala da Faculdade
de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, a versão portuguesa –
PALPA-P –, da responsabilidade das autoras do presente trabalho, foi desenvolvida a partir
do original (ibd.), consultando-se sempre que necessário a versão espanhola de Valle e
Cuetos (1995). Foi um processo trabalhoso, dadas as especificidades que têm de ser tidas em
conta quando se lida com a linguagem; para a maior parte das provas, foi necessário proceder
a uma selecção criteriosa dos estímulos tendo em conta critérios psicolinguísticos relevantes
para o português. Esta selecção dos estímulos foi feita a partir da base lexical Porlex (Gomes,
2001; Gomes & Castro, 2003), e complementada pelos dados de frequência de palavras do
corpus Corlex (Nascimento, Casteleiro, Marques, Barreto & Amaro, s.d.).
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
35
De salientar ainda que nas provas em que os estímulos usados são imagens, e sempre
que as palavras seleccionadas não correspondiam à tradução das usadas na versão inglesa, foi
foram inluídos novos desenhos, tendo havido a preocupação de respeitar o tipo de traçado dos
desenhos originais. Actualmente, encontra-se concluída a bateria PALPA-P, que dentro em
breve será disponibilizada para a comunidade profissional dos psicólogos1 de língua
portuguesa.
1
A PALPA-P será publicada pela Cegoc no ano corrente.
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36
Fala Escrita
Figura 1. Modelo de Processamento da Linguagem em que se baseiam as provas PALPA
Para além desta informação, as provas PALPA-P contemplam ainda, na sua maioria,
itens de treino para que seja possível assegurar que os sujeitos compreendem a tarefa que lhes
é solicitada. De salientar, ainda, que em algumas provas os estímulos se encontram
organizados em metades emparelhadas, o que permite, por um lado, a realização de re-
avaliações sem repetição de itens e, por outro lado, o uso desses estímulos como material de
treino em contexto de intervenção.
Ficha Técnica
População: Crianças e adultos, com diferentes perturbações de linguagem.
Idade: A partir dos 5 anos.
Administração: individual, na sua maioria.
EM SÍNTESE
As vantagens da PALPA-P na avaliação das perturbações de fala e de linguagem são
variadas. Por um lado, trata-se de uma bateria que avalia, de modo sistemático, aspectos
específicos, e finamente diferenciados, do processamento da linguagem a nível do
processamento fonológico, da leitura e da escrita, da compreensão de palavras e de imagens e
da compreensão de frases. Deste modo, permite obter informação sobre quais os módulos
preservados e quais os módulos comprometidos, o que contribui para uma melhor
interpretação dos vários padrões de perturbação de linguagem, bem como para um
planeamento de programas de intervenção e de reabilitação que tenham em conta as reais
dificuldades do indivíduo.
Uma outra vantagem da PALPA-P é a de poder ser usada na avaliação de diferentes
perturbações de fala e de linguagem, tanto em crianças como em adultos. Na verdade, apesar
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
38
de ter sido inicialmente concebida para avaliar sujeitos afásicos, a PALPA tem vindo a ser
usada junto de crianças e de pessoas com outras perturbações de linguagem com resultados
também promissores (cf. Kay & Terry, 2004).
A PALPA-P permite, ainda, uma avaliação ajustada a cada indivíduo, em que a
selecção das provas a administrar é feita de acordo com as dificuldades exibidas pelo
indivíduo. Para além disso, tem a vantagem de guiar as escolhas das avaliações a realizar – o
que pode ser particularmente útil para profissionais menos familiarizados com o racional
teórico subjacente a cada prova –, pois, como referido anteriormente, cada prova tem
indicações de como prosseguir a avaliação de acordo com o desempenho observado.
Por outro lado, a PALPA-P tem a vantagem de se encontrar adaptada às dificuldades
dos pacientes, na medida em que inclui provas que avaliam os mesmos aspectos linguísticos
diferindo apenas no tipo de resposta exigida ao indivíduo (e.g., resposta verbal, por escrito,
resposta tipo Sim-Não, resposta gestual). Dois outros aspectos a salientar dizem respeito ao
facto de a PALPA-P permitir a realização de reavaliações de progressos sem repetição de
itens e de conter material/estímulos que podem ser usados em contexto de intervenção e de
reabilitação, e não só em contexto de avaliação. Por fim, o uso da PALPA-P tem a vantagem
de possibilitar a condução de estudos translinguísticos, pois esta bateria tem vindo a ser usada
na investigação e avaliação da linguagem em várias línguas (cf., e.g., Hillis, 2002; Kay &
Terry, 2004).
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VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
39
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from Psycholinguistic Assessments of Language Processing in Aphasia (Kay, J.,
Lesser. R., & Coltheart, M., 1992). Hove: Lawrence Erlbaum Associates.
ANEXO
Quadro 1. Provas PALPA-P que avaliam o Processamento Fonológico
Processamento Fonológico (n = 17)
1. Discriminação de Pares Mínimos em Pseudopalavras
2. Discriminação de Pares Mínimos em Palavras
3. Discriminação de Pares Mínimos em Palavras Escritas
4. Discriminação de Pares Mínimos em Imagens
5. Decisão Lexical Auditiva: Imaginabilidade e Frequência
6. Decisão Lexical Auditiva: Morfologia
7. Repetição: Extensão Silábica
8. Repetição: Lexicalidade
9. Repetição: Imaginabilidade e Frequência
10. Repetição: Classe Gramatical
11. Repetição: Morfologia
12. Repetição: Frases
13. Amplitude de Memória de Dígitos
14. Julgamento de Rima com Imagens
15. Julgamentos de Rima com Palavras
16. Segmentação Fonológica de Sons Iniciais
17. Segmentação Fonológica de Sons Finais
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
40
Palavras-chave:
Dislexia de Desenvolvimento; Avaliação Psicológica; Instrumentos de Avaliação.
Resumo/Abstract:
A dislexia de desenvolvimento é uma dificuldade de aprendizagem, que afecta cerca de 10%
de crianças e adolescentes em idade escolar. Este facto leva a que profissionais da área da
saúde e da educação tenham que, com frequência, proceder à avaliação de distúrbios de
leitura e escrita. Neste sentido, pretende-se apresentar uma abordagem teórica sobre o
conceito de dislexia e a sua etiologia, bem como sobre os modelos de leitura e consciência
fonológica, para uma posterior reflexão sobre a construção de um instrumento psicométrico
que permita a avaliação da dislexia de desenvolvimento.
Portanto, a aprendizagem dos meses do ano pode ser comparável à aprendizagem do alfabeto
e à aprendizagem dos dias da semana. A avaliação será conduzida como no Teste da
Esquerda e Direita.
O Teste de Nomeação dos Meses Invertidos tem como tarefa a nomeação dos meses do ano,
mas de forma invertida, sendo mais complexo que o teste anterior. Os objectivos e o processo
de avaliação serão idênticos ao Teste de Nomeação do Meses.
O Teste de Nomeação Rápida de Dígitos está dividido em duas séries, sendo que cada série é
composta por sete sequências de números, que variam entre os 3 e os 9 dígitos. O avaliador
apenas contará a resposta como certa ou errada. Esta prova requer o processamento activo e o
armazenamento de informações, que são recuperadas num curto espaço de tempo. Trata-se de
uma nomeação sequencial, uma vez que são apresentados os números numa determinada
ordem, que o examinando deverá repetir. A nomeação sequencial de dígitos está fortemente
relacionada com competências exigidas na leitura.
No que concerne ao grupo dos Testes de Literacia, não foi possível a tradução e adaptação
para o português dos que fazem parte do Bangor Dyslexia Test. Neste sentido, e tendo em
conta a inexistência de testes de leitura e escrita padronizados para a população portuguesa,
foram criados novos testes. De entre os Testes de Literacia foram criados o Teste de
Consciência Fonológica, o Teste de Leitura de Pseudopalavras, o Teste de Leitura de
Palavras Isoladas, o Teste de Velocidade de Leitura, o Teste de Compreensão da Leitura e o
Teste de Escrita sob a forma de Ditado. Em relação ao modelo teórico adoptado, acrescentou-
-se o Teste de Consciência Fonológica e o Teste de Velocidade de Leitura, que não faziam
parte dos testes do Bangor Dyslexia Test.
O Teste de Consciência Fonológica está dividido em quatro subtestes de acordo com o tipo
de tarefa a executar, nomeadamente Teste de Segmentação, Teste de Identificação, Teste de
Eliminação e Teste de Manipulação. Estas tarefas vão permitir avaliar um conjunto de
construtos relacionados com a consciência fonológica, nomeadamente a consciência do início
e rima das palavras, a consciência da estrutura silábica e a consciência fonémica. Cada um
dos subtestes é composto por instruções iniciais e exercícios de treino. Cada teste é composto
por 6 questões, sendo duas relativas à consciência fonémica, duas relativas à consciência do
início e rima e duas à consciência silábica. As tarefas seleccionadas para trabalhar os
construtos já definidos estão de acordo também com a bibliografia de referência (cf. Gillon,
2004; Capovilla, 2000). Com a tarefa de segmentação pretende-se avaliar a capacidade de
identificar cada fonema, sílaba e início e rima da palavra apresentada. No que concerne à
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
52
tarefa de identificação, são apresentadas três palavras à criança e esta terá que identificar o
som, sílaba ou rima que lhe é solicitada. Neste caso, pretende-se apenas avaliar a capacidade
de identificação. Já no caso da tarefa de eliminação, a criança terá que apresentar uma nova
palavra ou não-palavra depois de eliminar um segmento. Por fim, o exercício mais complexo
que implica, para além da identificação do segmento e da consciência da sua posição na
palavra, a capacidade de o manipular para a formação de novas palavras, à semelhança dos
exercícios de trocadilhos (spoonerisms). Com este Teste de Consciência Fonológica,
subdividido em quatro testes, pretende-se avaliar a capacidade de processamento fonológico
das crianças disléxicas, uma vez que vários estudos têm corroborado esta visão. As
avaliações serão distribuídas por certo, errada e meio ponto.
O Teste de Leitura de Pseudopalavras é composto por vinte palavras, sendo que dez palavras
apresentam trocas e outras dez palavras sem qualquer proximidade com palavras da Língua
Portuguesa. A escolha destas dez últimas palavras prende-se com a necessidade de avaliar a
leitura efectuada pela via fonológica pura. Contudo, estas palavras mantêm a estrutura
silábica e alfabética da nossa língua. A pontuação máxima neste teste é de vinte pontos.
Antes da realização do teste, o avaliador apresentará as tarefas à criança e duas palavras de
treino.
O Teste de Velocidade de Leitura é composto por quarenta palavras, de alta-frequência e com
uma extensão que pode ir até às quatro letras, como por exemplo, “Dar”. O teste deverá ser
executado num minuto, sendo que o avaliador deverá assinalar se a leitura foi bem executada
e qual a última palavra lida pela criança, caso esta não consiga completar a tarefa. A leitura
lenta das crianças disléxicas, sobretudo depois do terceiro ano de escolaridade é um sintoma
assinalado pelos profissionais e pelos encarregados de educação. Antes da realização do teste,
são dadas as instruções à criança, fazendo-se referência à questão do tempo. Será apresentada
uma lista à criança com os itens, que deverá ler.
O Teste de Reconhecimento de Palavras é composto por vinte palavras regulares e irregulares
da Língua Portuguesa, de frequência elevada e com uma extensão até quatro sílabas. No que
diz respeito às palavras regulares, estas foram escolhidas pela complexidade que apresentam,
nomeadamente pelos grupos consonânticos que as constituem, como por exemplo, o grupo
/gl/ na palavra “Globo”. No grupo das palavras irregulares, foram seleccionadas quer palavras
irregulares com explicação gramatical como o caso do /s/ em posição intervocálica, por
exemplo, “Mesa” e as palavras irregulares, para as quais não existe explicação gramatical,
como o caso dos diferentes fonemas do grafema /x/ como na palavra “Exame”. Com este
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
53
respeito à memória de curto prazo, como não se recordar da tabuada que estava a enunciar,
bem como a necessidade de se repetir as séries anteriores pois já não se lembra em que
número estava.
Uma vez analisados os resultados da bateria, e caso a criança revele um rebaixamento em
termos de leitura e escrita para o que seria esperado para a idade serão aplicadas as Matrizes
Progressivas Coloridas de Raven, no sentido de excluir do grupo das crianças disléxicas
aquelas que apresentam um quociente abaixo da média, bem como serão questionados os pais
sobre a incidência familiar desta dificuldade de aprendizagem e de problemas visuais ou
auditivos, que se manifestaram durante o crescimento. O teste de Raven permite avaliar o
raciocínio não verbal e consiste num conjunto de imagens e alternativas de escolha.
Quanto aos procedimentos, o estudo terá dois momentos de aplicação do instrumento. Num
primeiro momento, serão recolhidos os dados para verificar a qualidade das instruções e dos
exercícios de treino e para determinar quais as médias e desvios-padrão, esperados em
crianças com níveis de leitura normal a elevada. Depois deste momento de aplicação do
instrumento, proceder-se-á a uma avaliação já com uma amostra de crianças disléxicas. A
BADD será aplicada individualmente a dois grupos: ao grupo de crianças com diagnóstico de
dislexia e ao grupo de crianças com níveis de leitura médios a elevados, evitando neste caso
as crianças quer com atrasos de leitura, não associados à dislexia, como os casos de crianças
com dificuldades de leitura causadas por factores ambientais, nomeadamente as que se
encontram integradas num sistema educativo desajustado, quer crianças com outras
comorbidades, associadas por vezes à dislexia. A avaliação será feita sem que o avaliador
saiba qual o diagnóstico da criança. O desempenho dos dois grupos será comparado nas
diversas tarefas, de modo a verificar aquelas em que se existem diferenças. Serão realizadas
análises de covariância unifactoriais.
Em conclusão, a aplicação desta bateria tem assim como objectivo validarum conjunto de
testes psicométricos capazes de distinguir uma criança disléxica de uma criança com níveis
de leitura normais. Será possível também analisar processos cognitivos, que estão subjacentes
à leitura e escrita, comparando a performance de bons e maus leitores. Por outro lado, a
validação de uma bateria nestes moldes vem reforçar a importância de testes psicométricos
como um dos elementos de uma avaliação psicológica.
Referências Bibliográficas
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
55
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VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
56
Palavras-chave:
Raciocínio; desempenho cognitivo; diferenças de grupo.
Resumo/Abstract:
A Bateria de Provas de Raciocínio (BPR) é formada por três versões segundo o ano de
escolaridade, do 5º ao 12º ano. Assim, a versão BPR5/6 reporta-se a alunos do 5º e 6º anos de
escolaridade (2º Ciclo), a versão BPR7/9 aos alunos entre o 7º e 9º ano de escolaridade (3º
Ciclo), e a versão BPR10/12 aos alunos entre o 10º e 12º ano de escolaridade (Ensino
Secundário). Todas as provas da bateria avaliam a capacidade de inferir e aplicar relações
(raciocínio), recorrendo a tarefas de conteúdo diferenciado (figurativo-abstracto, numérico,
verbal, mecânico e espacial). Através de uma estratificação da população discente a nível
nacional por regiões do país, comunidades urbanas e rurais, ano escolar, género e opção
curricular (esta variável apenas no Ensino Secundário), procedeu-se à selecção aleatória de
escolas e turmas, avaliando sensivelmente 5.5% da população estudantil nessas
circunstâncias. Neste artigo apresentam-se alguns dados referentes às diferenças de
desempenho cognitivo encontradas nas provas e globalidade da bateria, considerando os
alunos em função do ano de escolaridade, género e, nos anos correspondentes ao Ensino
Secundário, opção escolar/agrupamento de estudos (Ciências e Humanidades).
Introdução
Método
Amostra
A amostra é composta por 4899 alunos, repartidos por cada ano de escolaridade, do 5º ao 12º
ano. Esta amostra foi constituída a nível nacional (Continente), com base nos dados
estatísticos obtidos junto do Ministério da Educação, obedecendo aos critérios de
representatividade (quota de referência de 6%) e aleatoridade, tomando a distribuição dos
alunos por zonas do país (Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo e Sul), meio de proveniência
dominante dos alunos (meio urbano e meio rural), ano de escolaridade, género e opções
escolares/ agrupamentos de estudo, nos anos do Ensino Secundário (cursos gerais de índole
científico-tecnológica, aqui apelidados “ciências” e cursos gerais de índole social-
humanística e sócio-económica, que designámos “humanidades”).
A constituição da amostra passou, numa primeira fase, pela selecção “ao acaso” dos
estabelecimentos de ensino, de entre as zonas do País e especificidades do meio em que as
escolas se inseriam. Numa segunda fase, e perante o elevado número de efectivos a tomar,
avançou-se para a selecção aleatória das turmas, na medida em que o quantitativo global da
amostra não permite qualquer tentativa de individualização dos sujeitos, nem a organização
das actividades escolares permitem uma aleatorização da amostra a observar em base em
cada aluno individualmente tomado. Em termos da selecção dos alunos do Ensino
Secundário, convém salientar as dificuldades sentidas na identificação dos sujeitos do meio
rural, em virtude da escassez de escolas secundárias nas comunidades rurais. Para ultrapassar
esta contrariedade, procurou-se, junto dos Conselhos Executivos das escolas dos grandes
centros populacionais, identificar as turmas constituídas maioritariamente por alunos
provenientes de aldeias e vilas limítrofes, com algum sucesso, pois por vezes verificava-se
uma ponderação deste aspecto na elaboração dos horários das turmas (organização das turmas
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
61
de acordo com os horários dos transportes). Por outro lado, a selecção da amostra no 10º, 11º
e 12º anos de escolaridade complicava-se, nomeadamente no que toca a população masculina,
sobretudo dos cursos de índole mais humanística ou económica, agrupamentos esses
predominantemente “femininos”. Houve, então, a necessidade de aumentar substancialmente
o número de turmas a observar para se atingir o número de efectivos fixado. Estes aspectos
devem ser levados em consideração, acautelando para uma utilização mais cuidadosa das
normas elaboradas junto desses grupos de alunos e das considerações feitas a propósito das
análises diferenciais dos resultados. No Quadro I estão indicados os efectivos esperados e
observados por nível de escolaridade, tomando o ano escolar e o género dos sujeitos.
Quadro I – Amostra dos alunos observados/ esperados por nível de escolaridade, ano escolar e género
Nível 2º Ciclo
Ano 5º 6º
O E % O E %
Masc. 309 278 5.6 299 278 5.4
Femin. 307 278 5.5 295 278 5.3
Total 616 556 5.6 594 556 5.4
Nível 3º Ciclo
Ano 7º 8º 9º
O E % O E % O E %
Masc. 298 278 5.4 303 278 5.4 303 278 5.4
Femin. 307 278 5.5 316 278 5.7 308 278 5.5
Total 605 556 5.5 619 556 5.6 611 556 5.5
Instrumento
A Bateria de Provas de Raciocínio (BPR; Almeida, 2003) aplicada contempla três versões de
acordo com os níveis de escolaridade, designadamente: a versão BPR5/6 para alunos que
frequentam o 5º e 6º anos de escolaridade; a BPR7/9 para alunos que cursam os 7º, 8º e 9º
anos; e, por fim, a BPR 10/12 para alunos dos 10º, 11º e 12º anos.
Esta bateria pretende avaliar a realização cognitiva dos alunos entre o 5º e o 12º ano de
escolaridade, no que respeita à apreensão de relações entre elementos (raciocínio indutivo) e
à aplicação das relações inferidas a novas situações (raciocínio dedutivo). A bateria integra
quatro ou cinco provas, consoante estejamos perante a versão para 2º ciclo (BPR5/6) ou as
versões para 3º ciclo e Ensino Secundário (BPR7/9 e BPR10/12), respectivamente. Como se
afirmou, tais processos cognitivos são avaliados em contextos diferentes consoante o
conteúdo dos itens em cada prova. Assim, a prova RA ou de raciocínio abstracto é formada
por analogias envolvendo figuras sem qualquer significado aparente; a prova RN ou de
raciocínio numérico é formada por sequências numéricas, lineares ou alternadas; a prova RV
ou de raciocínio verbal é formada por analogias tomando as relações entre palavras; a prova
RP ou de raciocínio prático (BPR5/6) apresenta problemas com alguma complexidade
informativa; a prova RM ou de raciocínio mecânico (BPR7/9 e BPR10/12) apresenta
problemas associados a experiências do quotidiano, cobrindo também conhecimentos básicos
de física e mecânica; e a prova RE ou de raciocínio espacial (BPR7/9 e BPR10/12) é formada
por séries, lineares ou alternadas, de cubos em movimento. Nos Quadros II e III estão
descritas as quatro (BPR5/6)/ cinco (BPR7/9 e BPR10/12) provas da bateria, em função do
formato e número de itens, bem como o tempo de realização para cada uma delas.
Quadro II – Descrição das provas da BPR5/6, tomando o formato, nº de itens e tempo de realização
Quadro III – Descrição das provas da BPR7/9 e BPR10/12, tomando o formato, nº de itens e tempo de
realização
Procedimento
A bateria foi aplicada colectivamente, em contexto de sala de aula, tomando os tempos
lectivos necessários cedidos pelos professores. Previamente à aplicação da bateria, os alunos
foram informados dos objectivos do estudo, da confidencialidade dos dados e da importância
da sua participação numa investigação deste género, reforçando o seu papel na representação
de outros colegas do mesmo ano, da mesma escola e, numa perspectiva mais alargada, dos
alunos da sua zona do País. Não surgiram dificuldades na aplicação das provas e na sua
compreensão pelos alunos. As instruções, todas elas transcritas nos cadernos de cada prova,
integram exemplos esclarecedores do tipo de actividade a realizar. O resultado de cada prova
corresponde ao número de itens correctamente respondidos. No caso da Prova RN, o
resultado corresponde ao número de itens correctamente respondido quando ambos os
números coincidem no seu valor e na sua posição correcta, sendo atribuído metade da cotação
quando o sujeito indica correctamente os valores mas inverte a sua posição.
Resultados
Quadro V – Intercorrelações dos resultados nas quatro/cinco provas por nível de escolaridade
RA RN RV RP RA RN RV RM RE RA RN RV RM RE
RA k RA k RA k
RN .48 k RN .48 k RN .39 k
RV .48 .44 k RV .47 .45 k RV .31 .31 k
RP .46 .42 .55 k RM .37 .38 .39 k RM .35 .40 .31 k
RE .44 .47 .40 .37 k RE .47 .49 .33 .45 k
Quadro VI – Saturação factorial dos resultados nas quatro/cinco provas por nível de escolaridade
No Quadro VII estão indicados os resultados médios e respectivos desvios-padrão por ano e
género.
Quadro VII – Média e desvio-padrão dos resultados nas provas e globalidade da bateria em função do ano e do
género
De acordo com os resultados obtidos, parece não existir diferenças significativas em função
do género na pontuação total da bateria, sendo que, na generalidade das provas, a população
masculina tende a obter desempenhos médios mais elevados do que a população feminina. De
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
66
Quadro VIII – Média e desvio-padrão dos resultados nas provas e globalidade da bateria em função do ano
escolar, género e opção curricular nos anos correspondentes ao Ensino Secundário
Assim, como podemos observar, os resultados tendem a ser superiores nos estudantes de
Ciências, que revelam, em todas as provas e na globalidade da bateria, desempenhos mais
elevados do que os colegas de Humanidades. Os dados sugerem também que as discrepâncias
nas médias apresentam-se mais vincadas na prova RN, prova RM e prova RE. Ao longo do
Ensino Secundário, tais diferenças em função da opção curricular parecem manter-se ou
apresentam pequenas oscilações, ainda que a “hegemonia” dos estudantes da opção de
Ciências permaneça em todas as provas e na nota total da bateria.
Considerações finais
Ao longo deste artigo, procurámos descrever em que medida as variáveis ano escolar, género
e opção curricular diferenciavam os resultados dos alunos em tarefas de raciocínio,
nomeadamente nas provas da Bateria de Provas de Raciocínio (BPR; Almeida, 2003). Os
resultados obtidos, muito na linha da bibliografia consultada na área, reforçam a ideia de um
aumento progressivo no nível médio de realização cognitiva na transição para anos escolares
mais avançados. De acrescentar que, quando tomamos alunos do Ensino Secundário (com
correspondência ao período da adolescência), as diferenças de desempenho são menos
acentuadas, verificando-se, inclusivamente, situações em que o resultado médio se mantém
na transição de ano escolar (por exemplo, na prova RE do 10º para o 11º ano ou na prova RA
na transição do 11º para o 12º ano). Também, comparando as matrizes de correlação nas
quatro/cinco provas, observamos uma diminuição dos coeficientes à medida que progredimos
no nível de escolaridade e registam-se alterações na percentagem de variância explicada pelo
factor geral raciocínio (60.4% na BPR5/6, 53.9% na BPR7/9, 50.6% na BPR10/12), ainda
que não se assinalem alterações no número de factores ou configuração estrutural, ao
contrário do que alguma literatura tem vindo a relatar (Almeida, 1988b; Meuris, 1970; Pinto,
1992; Ribeiro, 1998). Apesar de haver estudos empíricos orientados para a diferenciação
cognitiva progressiva que encontram mudanças nas matrizes de correlação de crianças e
jovens, os resultados não são coincidentes, sendo que alguns apontam, como o nosso, para
uma diminuição com a idade (Meuris, 1970), outros registam uma ausência de diferenças
(Meyer & Bendig, 1961) e outros, ainda, relatam um aumento dos coeficientes (Pinto, 1992).
A par destes resultados contraditórios, aparecem outros igualmente polémicos no que toca a
alterações na percentagem de variância explicada dos desempenhos cognitivos ou ausência
delas (Anastasi, 2003; Dawis et al., 1992). No que diz respeito à configuração estrutural da
realização cognitiva dos nossos sujeitos, em qualquer dos níveis escolares/etários, ela não se
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
68
altera, observando-se sempre um único factor em cada uma das baterias. Estes resultados não
vão ao encontro dos dados reportados na literatura (Almeida, 1988b; Kamphaus et al., 1994;
Pinto, 1994). Ainda assim, é de realçar que, apesar de não ser extraído senão um factor
isolado, outros factores mais específicos parecem tomar alguma parte na percentagem de
variância explicada, ao longo da escolaridade/idade, presumindo-se, então, que as
componentes como o conteúdo e o formato dos itens poderão ganhar aqui alguma relevância.
Quanto às saturações factoriais, a literatura também não reúne consenso, porém a nossa
investigação acaba por reproduzir resultados muito similares aos obtidos noutras
investigações desenvolvidas no mesmo âmbito, apontando para valores coincidentes
(Almeida, 1988b; Kamphaus et al., 1994; Pinto, 1994).
No que diz respeito às diferenças de género, os dados não sugerem diferenças significativas
na pontuação total da BPR, aliás, muito no sentido do que a literatura tem apontado sobre a
não diferenciação dos géneros quanto aos seus níveis de realização cognitiva global
(Maccoby & Jacklin, 1974). Também na linha do que a investigação empírica na área tem
constatado (Almeida, 1988b; Halpern, 1992; Maccoby & Jacklin, 1974; Pinto, 1992; Ribeiro,
1998; Simões, 1994, 2000), encontrámos diferenças de género nas habilidades cognitivas, em
determinadas aptidões. Olhando apenas às médias obtidas nas provas e globalidade da bateria
pelos alunos, de cada ano escolar, constatámos que, de uma forma geral, os rapazes tendem a
obter desempenhos médios mais elevados do que as raparigas. O género parece diferenciar os
resultados médios da realização cognitiva dos sujeitos, em particular na prova de raciocínio
numérico (em todos os anos escolares considerados) e na prova de raciocínio mecânico (em
todos os anos a que se aplica).
Assim, se no 2º e 3º Ciclos, na prova RN, a diferença de resultados em função do género
coloca as raparigas numa “desvantagem” média sensivelmente de 1 ponto, quando
apreciamos as oscilações dos desempenhos naquela prova, mas agora no Ensino Secundário,
os rapazes “superam” as raparigas, com diferenças nos níveis de realização cognitiva com
uma magnitude de 1.7 pontos no 10º ano e de 1.4 pontos no 11º e 12º anos. As diferenças
encontradas na prova de raciocínio numérico, favoráveis à população masculina estão de
acordo com os trabalhos que referem a “superioridade” dos rapazes quando as tarefas
numéricas envolvem o relacionamento e a compreensão dos problemas (Hyde et al., 1990;
Maccoby & Jacklin, 1974; Almeida, 1988b; Almeida & Campos, 1985).
Quando tomamos os resultados na aptidão mecânica, as diferenças de género são ainda mais
vincadas. No 3º Ciclo, a “vantagem” masculina traduz-se numa diferença de 2.0 pontos no 7º
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
69
ano, 1.9 pontos no 8º ano e 2.2 pontos no 9º ano escolar. No Ensino Secundário, a
discrepância torna-se mais acentuada, favorecendo os rapazes em 2.5 pontos no 10º e 11º
anos, e em 3.0 pontos no 12º ano de escolaridade. Os melhores resultados nas tarefas de
conteúdo prático-mecânico associados aos rapazes, encontram apoio nos estudos que
sugerem que tais diferenças decorrem da maior facilidade de codificar, compreender e
resolver problemas desta índole pela população masculina (Maccoby & Jacklin, 1974). Por
outro lado, a tendência para essas diferenças de género aumentarem à medida que se progride
no nível de escolaridade, ou se quisermos, à medida que se avança no desenvolvimento dos
sujeitos conta também com suporte na literatura (Almeida, 1988b; Almeida & Campos, 1985;
Almeida, Campos, & Fontes, 1986; Marques, 1969; Pinto, 1992; Ribeiro, 1998).
Por fim, e com base na análise das diferenças de resultados médios em função da opção
curricular por que os alunos do Ensino Secundário optaram, por ano e por género, podemos
afirmar que os estudantes de Ciências apresentam melhores resultados do que os seus colegas
de Humanidades, em todas as provas de raciocínio, independentemente do conteúdo da
tarefa. Nesta ordem de ideias, importa investigar em que medida a diferenciação cognitiva é
influenciada pelas experiências educativas, apresentando-se o estudo das práticas
pedagógicas e planos curriculares distintos, um campo de interesse pelas implicações
desenvolvimentais e vocacionais que podem acarretar.
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VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
73
O desgaste profissional (i.e., Burnout) surge hoje como um dos problemas Formatada: Tipo de letra: 12
pt
psicossociais que afectam profissionais de diversas áreas, apresentando consequências a nível
individual e organizacional e emergindo como um factor de interferência nas relações
interpessoais. O Burnout é um sindroma que afecta sobretudo indivíduos que trabalham com
pessoas caracterizando-se por exaustão emocional, despersonalização e sentimento de não
realização profissional (Maslach, 1993). Alguns estudos revelam que o burnout se encontra
associado negativamente com a satisfação laboral (Pierce & Molly, 1990; Garcia, 1995; Gil
& Peiró, 1999).
Os objectivos do estudo aqui apresentado consistiram em averiguar da existência do
síndrome de Burnout em 212 Professores do Ensino Básico, que atendem crianças com
N.E.E. no distrito de Évora, e em identificar os seus principais factores de
satisfação/insatisfação. Para o efeito usámos o Maslach Burnout Inventory (MBI) de Maslach
& Jackson (1986) e o questionário de satisfação laboral de Mélia & Peiró (1989).
Os resultados obtidos revelam que estes professores apresentam um grau mais elevado
de Burnout na dimensão cansaço emocional, revelando uma elevada realização pessoal e uma
baixa despersonalização e que são determinados aspectos relacionados com os factores de
satisfação com a supervisão, com a satisfação intrínseca e com a participação os que se
constituem como fonte de maior satisfação. Pelo contrário, é em aspectos ligados a factores
de Satisfação com as prestações recebidas e Satisfação com o ambiente físico do trabalho
que se revela maior insatisfação por parte destes professores.
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
74
1. INTRODUÇÃO
Formatada: Avanço:Primeira
A tendência da política social nas duas últimas décadas tem consistido em promover a linha: 1,25 cm
actuar com os alunos com N.E.E., mas também que professores sem especialização a este Eliminado: ¶
Eliminado: ,
nível saibam como intervir face às diferenças existentes entre os alunos de uma mesma
Eliminado: necessitam de saber
turma. Eliminado: á
Eliminado: ¶
Em Portugal, o despacho conjunto 105/97 irá contextualizar os apoios educativos na
Eliminado: ¶
escola, de acordo com os princípios veiculados na Conferência de Salamanca. Assim, para a ¶
educação especial, é pedido que preste apoio educativo à escola no seu conjunto (professor, Eliminado: ¶
Eliminado: lhe
aluno e família) e que identifique as necessidades educativas especiais, planifique,
Eliminado: ,
implemente os apoios educativos adequados, organize e gira os recursos e medidas Eliminado: car
Eliminado: ear
diferenciadas a introduzir no processo de ensino aprendizagem, diversifique estratégias
Eliminado: ar
pedagógicas e promova uma flexibilização curricular (Jesus, 1996 ). Eliminado: ar
Apesar da existência de normativos, a proposta da escola inclusiva está longe de ser Eliminado: ir
Eliminado: car
uma realidade. Até ao presente momento, percebemos o processo da inclusão como gerador
Eliminado: ,
de situações difíceis nas relações escolares desencadeando um processo de desgaste Eliminado: er
institucional e pessoal. Por parte da escola, no que se refere à remoção de barreiras Eliminado: s
Eliminado: a
arquitectónicas e ao pôr em prática o projecto pedagógico (limitado por politicas
Eliminado: o
economicistas restritas que agravam a situação por provocarem contradições discrepantes
entre as necessidades reais e as respostas oferecidas). Por parte dos professores em geral e,
em particular, dos professores de apoio por lhes exigirem tarefas psicopedagógicas
Eliminado: e
complexas e uma multiplicidade de papéis profissionais, não lhe proporcionando meios e
Eliminado: mal estar
caminhos que facilitem e promovam um trabalho eficaz, provocando situações de mal-estar
docente que têm implicações directas na sua intervenção.
Formatada: Avanço:Primeira
Esta realidade implica relações interpessoais muitas vezes carregadas de emotividade, linha: 0 cm
tensão e ansiedade devido às características especialmente problemáticas das situações a que Eliminado: ¶
Eliminado: á
nem sempre os professores conseguem dar resposta. Surgem assim medos e angústias
Eliminado: e
potenciadoras de sentimentos de escassa satisfação com o seu trabalho (Jiménez, Hernández e Eliminado: suscitando
Eliminado:
Gutiérrez, 2000). Não é por acaso que o mal-estar docente tem assumido na última década
Eliminado: u
uma crescente importância traduzindo-se em sintomas de stress que, quando muito Eliminado: levando
prolongado ou mal resolvido, induz à fadiga crónica ou burnout (Carlotto, 2002). A escassez Eliminado: na maioria dos casos
a professores pouc
de recursos, a multiplicidade de papéis sem preparação suficiente por parte dos professores Eliminado: o
para os pôr em prática, a indisponibilidade e desresponsabilização dos pais ou ainda a sua Eliminado: eitos
Eliminado: ¶
inadequada participação, uma deficiente interacção entre os diferentes tipos de organização, a ¶
Eliminado: ,
falta de apoio social e reconhecimento são alguns dos factores que têm relevância a nível
Eliminado: ,
organizacional e laboral e que induzem a situações de Stress e Burnout (Jesus,1996). Os Eliminado: ¶
¶
professores encontram-se vulneráveis, sujeitos a uma grande taxa de mobilidade e outras
Eliminado: ¶
anomalias que derivam do estatuto dos professores tais como baixos salários, falta de Eliminado:
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
76
Eliminado: ,
formação e incremento de funções docentes. A intensificação do “fazer” docente leva a
Eliminado: aparte do seu
interesse e muitas vezes da sua
conflitos, pois ao ter que arcar com essa sobrecarga, vê reduzido o seu tempo para participar carga horária.¶
em cursos ou outros recursos que possam contribuir para a sua qualificação e favorecer o seu Formatada: Tipo de letra:
Itálico
desenvolvimento e realização profissional (Esteve, 1999).
Eliminado: ¶
Face a estas questões torna-se evidente que, tanto na natureza do trabalho do professor Frente
Eliminado:
como no contexto em que exerce as suas funções, existem diversos stressores que se
Eliminado: fica
persistentes podem levar ao Síndrome de Burnout. Este síndrome é considerado por Harrison Eliminado:
(1999) como um tipo de stress de carácter duradouro vinculado às situações de trabalho, Eliminado: ¶
¶
sendo resultante da constante e repetida pressão emocional associado ao intenso
Eliminado: ¶
envolvimento com pessoas por longo período de tempo. O Burnout em professores afecta o
ambiente educacional e interfere na obtenção dos objectivos pedagógicos, levando estes
profissionais a um processo de alienação, desumanização e apatia no trabalho, ocasionado
problemas de saúde, absentismo ou intenção de abandonar a profissão (Guglielmi, Tatrow,
1998).
Eliminado: ¶
Apesar de existirem diferentes teorizações sobre este fenómeno, o modelo mais aceite ¶
Eliminado: assim como é
é o de Christina Maslach, sendo da sua autoria o instrumento de avaliação mais utilizado, o
Eliminado: b
MBI – Maslach Burnout Inventory (Maslach et al.,1996).Esta autora concebe o Burnout
Eliminado: ¶
como um construto multidimensional e define-o como uma síndroma caracterizada por
Eliminado: ¶
exaustão emocional, despersonalização e sentimento de não realização profissional que afecta
Eliminado: foi operacionalizado
da seguinte form
sobretudo indivíduos que trabalham com pessoas (Maslach, 1993). Este instrumento contém
Formatada: Cor do tipo de
as seguintes dimensões: (a) Exaustão emocional, designando o esvaziamento dos recursos letra: Vermelho
Eliminado: a
emocionais, ou seja, a sensação de em termos emocionais se ter dado tudo e não ter mais
Eliminado: ,
nada para dar; (b) despersonalização, designando a atitude fria, distante e por vezes cínica Eliminado: ria
com que a pessoa afectada trata as pessoas que recebem os seus serviços; (c) realizações Eliminado: ria
Eliminado: ,
pessoais reduzidas, representando a reduzida satisfação profissional que se traduz por uma
Eliminado: ¶
avaliação negativa feita pela pessoa sobre o seu rendimento laboral, expectativas e aspirações Eliminado: (sendo o seu
tratamento difícil e moroso)
do posto de trabalho (Maslach, 1993).
Eliminado: .
O Burnout acarreta implicações graves tanto para as pessoas que dele sofrem como Eliminado: ¶
Eliminado: P
para as organizações onde elas trabalham sendo o seu tratamento difícil e moroso. Apesar das
Eliminado: êm
pesquisas sobre este síndrome em professores terem uma longa tradição na América do Eliminado: porém
Norte, em países europeus, excluindo o Reino Unido, encontram-se ainda em fase Eliminado: , com excepção da
Inglaterra ainda estão em fase
embrionária (Rudow, 1999). Em Portugal, encontramos poucos estudos que abordem o stress embrionária
Eliminado: ¶
ocupacional e o Síndrome de Burnout. Alves (1994) associou o Burnout a aspectos de saúde ¶
Eliminado: ,
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
77
física e mental, absentismo e baixa produtividade. Um outro autor, Leal (1997), constatou
que os professores do ensino secundário apresentam valores médios de Burnout. Também
Eliminado: no seu estudo
Lousada (2001), analisa a relação do Burnout com o clima organizacional e o apoio social pretendeu analisa
Eliminado: r
numa amostra de professores do 1º ciclo da região de Almada, apontando os resultados
Eliminado: ,
obtidos para níveis médios de Burnout nos professores que fizeram parte da amostra. Eliminado: e
Recentemente o estudo IPSSO 2000 da autoria de Cardoso, Araújo, Ramos e Gonçalves Eliminado: apontaram
Eliminado: ¶
(2002), pretendeu conhecer a distribuição do grau de stress docente, suas potenciais fontes e ¶
prevalência de algumas das suas consequências, concluindo que 6.3% a 34% dos professores Eliminado: . C
Eliminado: u
portugueses podem sofrer de uma forma grave ou moderada do Síndrome de Burnout.
Formatada: Avanço:Primeira
As relações entre Burnout e a Satisfação Laboral têm recebido uma notável atenção, linha: 0 cm
existindo bastantes estudos que analisam estes dois conceitos conjuntamente. Por um lado, Eliminado: ¶
Eliminado: ¶
esta preocupação e interesse crescente justifica-se porque a satisfação profissional se reflecte
Eliminado: i
positivamente em outras dimensões de vida do indivíduo. Por outro, porque tem implicações
Eliminado: n
e consequências em outras atitudes e comportamentos, tanto a nível individual como a nível
Eliminado: quer
organizacional. Nesta perspectiva, a insatisfação profissional tem sido considerada Eliminado:
determinante a nível do absentismo, desgaste e exaustão profissional e até do abandono da Eliminado: , quer
Eliminado: ¶
profissão (Seco, 2002). ¶
Eliminado: ¶
Alguns estudos indicaram que o stress era um antecedente poderoso da Satisfação
Profissional (DeFrank e Stroup, 1989; Travers e Cooper, 1996), considerando mesmo a
insatisfação profissional como uma possível resposta à situação de stress. No entanto, os
trabalhos publicados revelam-se contraditórios: Kyriacou e Sutcliffle (1979) descobriram que
72,5% dos professores se mostravam satisfeitos ou muito satisfeitos com a profissão, ao
passo que DeFrank e Stroup (1989) verificaram que 13% de professores se consideravam
Eliminado: ¶
muito insatisfeitos e 45% não completamente satisfeitos. Outras investigações associaram ¶
negativamente o Burnout com a satisfação laboral (e.g., Pierce & Molly, 1990; Wolpin,
Burke & Greenglass, 1991; Garcia, 1995; Gil Monte & Peiró, 1999).
Eliminado: ¶
Não conhecemos nenhuma investigação que analise o Burnout em professores que
atendem crianças com N.E.E., nem os factores que implicam (in) satisfação laboral nessa
Eliminado: é
população e acreditamos que são necessário investigações neste campo, pois quanto mais se
souber sobre esta classe profissional, tanto maior o potencial para uma sólida intervenção na
Eliminado: ¶
vida escolar. Pretendemos deste modo, analisar a problemática laboral dos professores de ¶
apoio educativo que atendem crianças com N.E.E., pois esta profissão implica relações
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
78
interpessoais muitas vezes carregadas de grande emotividade, tensão, ansiedade e hostilidade, Formatada: Avanço:Primeira
linha: 1,25 cm
devido às características especialmente problemáticas das situações com que se defrontam. Eliminado: , ¶
Este questionário engloba aspectos biológicos, sociais e laborais e aspectos de Eliminado: seguintes
Eliminado: :
carácter cognitivo e motivacional. O factor sóciodemográfico engloba variáveis como: sexo,
Eliminado: ¶
idade e estado civil. O factor laboral compreende dados descritivos do posto de trabalho e a Eliminado: ¶
situação docente tais como: situação profissional, tempo de serviço, habilitação académica, Eliminado: ¶
Eliminado: ¶
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
79
Formatada: Avanço:Primeira
O MBI é uma escala de auto- resposta criado em 1986 pelas autoras americanas linha: 0 cm
Christina Maslach e Susan Jackson. É um instrumento constituído por 22 itens, que, através Eliminado: ¶
Eliminado: norte
de análise factorial, revelou três dimensões que caracterizam o Burnout: Exaustão emocional
Eliminado: ¶
(9 itens), Falta de realização pessoal (8 itens) e Despersonalização (5 itens). Os autores não
tomaram em consideração a pontuação total da escala, mas sim cada uma das três dimensões
Eliminado: .¶
que passaremos a descrever. A exaustão emocional diz respeito à falta de recursos ¶
emocionais e à sensação de que nada se tem para dar ao outro e de que nada mais se pode dar
Eliminado: ¶
de si mesmo em termos afectivos. A falta de realização pessoal liga-se à percepção da
impossibilidade de realização na profissão, o que implica uma diminuição das expectativas
pessoais e uma autoavaliação negativa onde se incluem os sentimentos de fracasso e baixa
Eliminado: ¶
auto-estima. A despersonalização relaciona-se com o desenvolvimento de atitudes negativas e
Eliminado: ¶
insensíveis para com os destinatários dos serviços que se prestam (Correia, 1997). A escala Como já referimos, esta
consta de 22 itens com resposta valorada mediante uma escala de tipo Likert de pontos, sendo
0 (nunca) e 7 (sempre).
Eliminado: ¶
C) Questionário de Satisfação Laboral (versão S20/23) – Mélia y Peiró, 1989
Eliminado: ¶
Com
Este questionário visa obter conclusões gerais sobre as condições de trabalho, as Eliminado: e
Eliminado: s
relações com os colegas e o trabalho em si mesmo, por forma a melhorar as relações humanas
Eliminado: os autores
e aumentar, a satisfação pessoal e a qualidade de vida. É um instrumento constituído por 23 pretenderam
Eliminado: ¶
itens, com resposta valorada mediante uma escala de tipo Likert de pontos, sendo 1 (muito
Eliminado: ¶
¶
insatisfeito) e 7 (muito satisfeito). A estrutura factorial deste questionário oferece cinco
factores que avaliam as seguintes facetas da satisfação laboral: Satisfação com a supervisão Eliminado: ¶
-
(6 itens);Satisfação com o ambiente físico do trabalho (5 itens);Satisfação com as prestações Eliminado: ¶
-
Eliminado: ¶
-
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
80
Eliminado: ¶
recebidas (5 itens); Satisfação intrínseca do trabalho (4 itens) e Satisfação com a participação -
Eliminado: ¶
(3 itens). -
5 Eliminado: que
4
Eliminado: aria
3
2 Eliminado: ¶
1 ¶
I II III IV V Eliminado: ¶
¶ ... [6]
Factor N.º
Eliminado: Análise descritiva do
Quadro nº 1 : Distribuição das médias por factor do S20/23 Questionário de
Eliminado: S
Eliminado: L
Passaremos a descrever os cinco itens do questionário de Satisfação Laboral que apresentam os
Eliminado: Os Professores
valores médios superiores e inferiores. Como se pode verificar através do quadro nº 2, os valores sentem-se “Bastante Satisfeitos”
... [7]
com factores que apontam para
médios mais altos encontram-se por ordem decrescente nos itens: 13, 1, 21, 19 e 3. O item 13 está Formatada: Avanço:Primeira
linha: 0,95 cm
Eliminado: ¶
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
81
relacionado com a satisfação com a supervisão; os itens 1 e 3 com a satisfação intrínseca e os itens
Eliminado: ¶
19 e 21 com a satisfação com a participação. ¶
Os cinco valores médios mais baixos recaem sobre os itens: 4, 12, 10, 7 e 11 conforme
ilustrado no quadro nº 3. Excepto os itens 4 e 11, que pertencem ao factor Satisfação com as
prestações recebidas, os restantes correspondem ao factor Satisfação com o ambiente físico do
trabalho.
M.B.I.
Dimensões de Burnout Média
Cansaço Emocional 13,22
Despersonalização 2,88
Realização Pessoal 38,96
Quadro nº 4 – Pontuações médias de Burnout Eliminado: 2
Eliminado: -
Da análise dos valores médios de cada dimensão do Burnout que apresentam os
professores que atendem crianças com N.E.E. e ao comparar estes resultados com os valores
médios obtidos nas diferentes investigações internacionais que utilizaram o M.B.I. em
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
82
As cinco pontuações médias mais baixas recaem nos itens: 5, 15, 20, 10 e 6. Excepto
os itens 6 e 20, que pertencem à dimensão Cansaço emocional, os restantes itens
correspondem à dimensão Despersonalização .
Eliminado: ¶
¶
¶
4. CONCLUSÕES ¶
¶
¶
Da análise descritiva dos dados obtidos através do questionário, relativamente à ¶
¶
caracterização da amostra, concluímos que: ¶
¶
- A esmagadora maioria dos professores que atendem crianças com Necessidades Eliminado: ¶
- Existe uma grande mobilidade do corpo docente que atende crianças com
Necessidades Educativas Especiais.
- Mais de 50% dos professores que atendem crianças com Necessidades Educativas
Especiais já se ausentaram por baixa laboral apontando causas “menores” na origem da
ausência laboral (constipação, mal estar geral, alterações intestinais, dores de cabeça).
Eliminado: -
Os Professores na sua maioria apontam como aliciante da profissão “a relação que se
Formatada: Avanço:Primeira
estabelece com os alunos”, ou seja, um factor intrínseco à natureza do próprio trabalho. Por linha: 1,25 cm, Espaçamento
entre linhas: 1,5 linhas
outro lado, apontam como principal inconveniente “a instabilidade do corpo docente”, factor Eliminado: ¶
-
que não podem controlar. Da análise dos cinco factores utilizados para avaliar a satisfação da Eliminado: seu
amostra podemos referir que os professores se sentem “Bastante Satisfeitos” com os factores Eliminado:
Eliminado: ¶
que apontam para aspectos intrínsecos ligados à natureza do próprio trabalho tais como: ¶
-
“Satisfação intrínseca que o trabalho proporciona” (Factor IV); “Satisfação com a
participação” (Factor V) e “Satisfação com a supervisão” (Factor I) especificamente nas
Eliminado: ¶
“relações pessoais com os seus superiores”.Pelo contrário, consideram-se “Pouco satisfeitos” -
com factores como “Satisfação com o ambiente físico” e “Satisfação com as prestações
recebidas”
Eliminado: ¶
Da análise dos valores médios de cada dimensão do Burnout concluímos que os -
Eliminado: ¶
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Eliminado: ¶
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¶
¶
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VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
84
Palavras-Chave:
Cancro colo rectal, cônjuge, tratamento, morbilidade psicológica
Resumo/Abstract:
O presente estudo analisa o impacto dos tratamentos de cirurgia, cirurgia/quimioterapia e
cirurgia/radioterapia em doentes com cancro colo-rectal e respectivos cônjuges, ao nível das
representações de doença, qualidade de vida, depressão, ansiedade e stress pós-traumático. A
amostra é composta por 114 doentes com o diagnóstico de cancro colo-rectal e 67 cônjuges.
Os instrumentos utilizados foram: “Ilness Perception Questionnaire” (IPQ-R) de Weinman &
Petrie (1996); “Quality of Life Scale-Cancer” (QOL-CA) de Padilla (1983); “Hospital
Anxiety & Depression Scale” (HADS) de Zigmund & Snaith (1983), “Impact of Events
Scale” (IES) de Weiss & Marmer (1977), “Inventário de Beck de Beck, Mendelsohm &
Mock (1961) e o “State Trait Anxiety Inventory” de Spielberger, Gorush, Lushene, Vagg &
Jacobs (1983). Os dados foram recolhidos no Instituto Português de Oncologia no ano de
2005.Os resultados obtidos revelam que os doentes que efectuaram apenas cirurgia
apresentam melhor qualidade de vida (total e em quase todas as dimensões especificas) em
comparação com os restantes dois grupos de doentes que efectuaram cirurgia/quimioterapia
ou cirurgia/radioterapia. Foram também encontradas diferenças a nível das representações de
doença. Finalmente, verificou-se uma relação positiva entre a depressão no doente cancro
colo-rectal e a depressão no respectivo cônjuge.
Introdução
As descrições acerca da doença oncológica e formas de a tratar são muito antigas, desde que
existem documentos escritos.
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
88
O cancro colo-rectal é a segunda maior causa de mortalidade por cancro nos países
ocidentais, ambos os sexos são igualmente afectados por esta patologia, verificando-se no
entanto uma maior incidência em pessoas com mais de cinquenta anos.
Em Portugal, segundo o Registo Oncológico Nacional (Gouveia, António & Veloso,1993), a
taxa de incidência por cancro do colon é de 15,15% no sexo feminino e de 22,09% no sexo
masculino. O cancro do recto apresenta uma taxa de incidência de 12,15% no sexo feminino
e de 20,14% no sexo masculino.
Muitos estudos relacionam esta patologia com o estado económico, localização geográfica e
dieta, sendo esta ultima a mais citada por diversos autores (Imbembo & Lefour,1993; LaMont
& Isselbacher, 1980; Belcher,1996).
A fase de tratamento é uma fase muito problemática, onde o doente é frequentemente
confrontado com tratamentos mais ou menos invasivos, que podem afectar a imagem
corporal, sexualidade, bem-estar físico, psicológico (McCray, 2000) e consequentemente a
qualidade de vida e representações de saúde.
O tratamento de eleição para o cancro do colon e recto é a cirurgia, surgindo por vezes a
necessidade de se efectuar uma ostomia de eliminação (Ganzl, 1996; LaMont et al., 1980;
Murphy, 2000). A criação de um estoma parece exercer um profundo efeito no doente. O seu
exito no âmbito da qualidade de vida depende fundamentalmente da forma como ele se
adapta em termos psicológicos ao estoma. Alguns doentes nunca chegam a aceitar a sua nova
condição, sentindo-se estigmatizados e marginalizados pela sociedade (Santos, 1999).
A literatura refere que as crenças positivas ou negativas acerca dos tratamentos a realizar,
influenciam os mesmos (Santos, 2003; Garcia, Wax & Chawtzmann, 1996).
A descoberta de uma doença crónica num indivíduo, não afecta apenas esse indivíduo doente
mas também toda a sua envolvência, em particular a sua família (Camdressus et al., 1989).
Tem-se verificado com frequência que, reacções emocionais desencadeadas pelo cancro são
encontradas não só no doente como nos membros da sua família (Figueiredo, Ferreira &
Figueiredo, 2001), nomeadamente no conjugue, onde o impacto da doença e seus tratamentos
é sentida com grande intensidade (Sobral, 1987). Weihs e Reiss (1996) referem que relações
caracteristicamente inseguras são mais vulneráveis aos efeitos destrutíveis da ameaça do
cancro do que prelações familiares seguras, onde se verifica uma protecção do impacto
destrutivo da ameaça.
Para Bishop (1994) e Weitzner (1999), o impacto da doença oncológica associado ao stress e
à depressão são frequentemente de amplitude superior ou igual para os cônjuges, quando
comparados com os doentes. Neste contexto Blanchard e col. (1997) referem que a
percentagem de cônjuges que apresenta perturbações de humor e deterioração psicológica
varia entre 20 a 30%.
Sabe-se que a doença oncológica tem determinadas particularidades que diferem de muitas
outras situações capazes de contribuir para o desenvolvimento de perturbação de stress pós-
traumático. A quantidade de situações complexas que se vão desenvolvendo ao longo do
tempo, que passam pela suspeita de doença oncológica, diagnóstico da mesma, tratamentos
com os seus efeitos adversos, consultas de folow-up, exames e por vezes notícia de recidiva,
fazem com que o doente se exponha continuamente às recordações da doença e seus sintomas
(Passik & Grummon, 1998).
Metodologia:
Amostra
A amostra do estudo é constituída por 181 indivíduos. Destes, 114 são doentes com o
diagnóstico de cancro colo-rectal e 67 são cônjuges dos referidos doentes.
Estes 114 doentes encontram-se divididos em 3 grupos, sendo o grupo A constituído por 35
doentes que efectuaram apenas tratamento cirúrgico, o grupo B constituído por 41 doentes
que efectuaram tratamento de cirurgia/quimioterapia e o grupo C constituído por 38 doentes
que efectuaram tratamento de cirurgia/radioterapia. O grupo de cônjuges é também
constituído por 3 grupos, sendo o grupo 1 constituído por 19 cônjuges de doentes que
efectuaram apenas o tratamento de cirurgia, o grupo 2 constituído por 26 cônjuges de doentes
que efectuaram o tratamento de cirurgia/quimioterapia e o grupo 3 constituído por 22
cônjuges de doentes que efectuaram tratamento de cirurgia/radioterapia. O quadro 1 mostra
as características sócio-demográficas da amostra.
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
91
Instrumentos
Os instrumentos utilizados nos doentes foram: “Ilness Perception Questionnaire” (IPQ-R) de
Weinman & Petrie (1996); “Quality of Life Scale-Cancer” (QOL-CA) de Padilla (1983);
“Hospital Anxiety & Depression Scale” (HADS) de Zigmund & Snaith (1983); “Impact of
Events Scale” (IES) de Weiss & Marmer (1977).
Os instrumentos utilizados nos cônjuges foram: “Inventário de Beck para a Depressão” (BDI)
de Beck, Mendelsohm & Mock (1961), “State Trait Anxiety Inventory” (STAI) de
Spielberger, Gorush, Lushene, Vagg & Jacobs (1983) e o “Impact of Events Scale” (IES) de
Weiss & Marmer (1977).
Os dados foram recolhidos no Instituto Português de Oncologia no ano de 2005. Todos os
instrumentos originais que não se encontravam adaptados à população portuguesa foram
devidamente traduzidos, depois de obtidas as autorizações dos autores, e estudadas as suas
características psicométricas nos doentes e também nos respectivos cônjuges.
• “Hospital Anxiety & Depression Scale” – HADS de Zigmund & Snaith (1983) Para
se efectuar a avaliação das qualidades psicométricas da escala HADS foi utilizada a
versão de investigação de McIntyre, Pereira, Soares, Gouveia e Silva (1999). A
escala mantém os 14 itens da escala original, sendo 7 referentes à depressão e 7
referentes à ansiedade. As características psicométricas na versão portuguesa foram
determinadas de forma semelhante à escala original, através de uma avaliação da
fidelidade e validade. Foi calculado o Alfa de Cronbach total da escala e das 2 sub-
escalas em separado (depressão e ansiedade). O coeficiente de fidelidade para o
HADS – Total é de .94, o da sub-escala HADS-A é de .91 e da sud-escala HADS-D
de .88 indicando uma elevada consistência interna dos itens, e as correlações dos
itens com o total variam entre os valores .48 e .83.
• “Impact of Events Scale” – IES de Weiss & Marmer (1977). Para se efectuar a
avaliação das qualidades psicométricas da escala, nesta amostra, utilizou-se a versão
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
93
Resultados:
1. Representações de Doença
Os resultados revelam que existem diferenças estatisticamente significativas nos três grupos
de doentes apenas na variável “Duração aguda/crónica da doença”. Os quadros 2 e 3
apresentam os resultados.
Cirurgia/quimioterapia .033
Duração Cirurgia
Cirurgia/radioterapia .012
Aguda/crónica
quimioterapia
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
95
2. Qualidade de vida
A Qualidade de vida foi avaliada pela escala QOL-CA2. Um resultado elevado significa
menor qualidade de vida em qualquer uma das dimensões.
Os resultados revelam que existem diferenças significativas na qualidade de vida total, assim
como nas sub-escalas: “Bem-estar psicossocial e existencial”, “Bem-estar físico e funcional”,
“Sintomas nutricionais” e “Atitude de inquietação”, entre os vários grupos de doentes. Na
sub-escala “Sintomas dolorosos e intestinais” não foram encontradas diferença
estatisticamente significativas. Os quadros 4, 5, 6, 7, 8 e 9 apresentam os resultados dos testes
de Scheffe .
Verifica-se que existem diferenças significativas na Qualidade de vida total dos doentes que
efectuaram apenas cirurgia, quando comparados com os doente que efectuaram
cirurgia/quimioterapia e cirurgia/radioterapia e não se verificam diferenças significativas
quando comparados os grupos de doentes que efectuaram cirurgia/quimioterapia e
cirurgia/radioterapia. Os doentes que efectuaram apenas cirurgia apresentam melhor
Qualidade de vida do que os doentes dos restantes grupos.
Tendo em conta os resultados obtidos, os doentes que efectuaram apenas cirurgia apresentam
maior Qualidade de vida total a nível de quase todas as dimensões estudadas em comparação
com os restantes dois grupos de doentes, que efectuaram cirurgia/quimioterapia e
cirurgia/radioterapia. Os doentes que efectuaram cirurgia/quimioterapia em comparação com
os doentes que efectuar cirurgia/radioterapia apresentam menor qualidade de vida.
Os resultados revelam que existe uma correlação positiva entre a Depressão do doente e a
Depressão do cônjuge. Relativamente às restantes variáveis não verificamos relação.
1. Representações da Doença
A fase de tratamento da doença é considerada muito problemática, uma vez que os doentes
são confrontados com tratamentos mais ou menos invasivos (McCray, 2000) que lhes
provocam diferentes efeitos colaterais e que proporcionam por vezes internamentos. Estas
diversas situações provocam nos doentes uma diferente compreensão acerca da duração
aguda e crónica da sua doença, uma vez que os doentes que efectuam apenas cirurgia
apresentam efeitos colaterais com menor intensidade do que os doentes que efectuam
cirurgia/quimioterapia e cirurgia/radioterapia, o que possibilita uma maior alternância de
fases agudas e crónicas nos doentes que efectuaram cirurgia/quimioterapia e
cirurgia/radioterapia.
este facto se verifique devido a esta doença se apresentar muitas vezes com características de
longa duração, onde a imagem corporal é frequentemente afectada, assim como a sua
autonomia (Santos, 2003). Esta situação é encontrada tanto nos doentes que efectuaram
apenas o tratamento de cirurgia como nos doentes que efectuaram os tratamentos de
cirurgia/quimioterapia e cirurgia/radioterapia.
2. Qualidade de vida
Assim, a qualidade de vida total é considerada diferente entre os doentes que efectuaram
apenas cirurgia e os doentes que efectuaram os restantes tratamentos (cirurgia/quimioterapia
e cirurgia/radioterapia), sendo esta situação compreensível uma vez que os efeitos colaterais
dos tratamentos de cirurgia se apresentam com menor intensidade do que os efeitos colaterais
desse tratamento em associação com outro tipo de tratamento (quimioterapia ou radioterapia).
O mesmo se verifica nas várias dimensões da qualidade de vida (bem-estar psicossocial e
existencial, bem-estar físico e funcional, sintomas nutricionais e atitude de inquietação), com
excepção da dimensão dos sintomas dolorosos e intestinais.
É conhecido que o tratamento de cirurgia nos doentes com cancro colo-rectal pode deixar
marcas a nível da imagem corporal com consequências negativas para a sexualidade e bem-
estar psicológico (McCray, 2000; Ganzl, 1996; LaMont e tal, 1980), principalmente se a
cirurgia der origem a uma ostomia de eliminação. Esta situação é também frequentemente
causadora de dor e de alterações a nível do funcionamento do trânsito intestinal. Se for
associado ao tratamento de cirurgia um tratamento de quimioterapia ou radioterapia é natural
que a sintomatologia sentida por os doentes se exacerbe devido aos efeitos colaterais destes
dois últimos, e também, devido à acumulação dos mesmos.
A literatura refere que o facto de se descobrir uma doença crónica em determinado indivíduo
promove o aparecimento de problemas psicológicos tanto nesse indivíduo como nos que o
rodeiam, particularmente na sua família (Camdressus e tal, 1989). Refere também que, os
familiares dos doentes oncológicos têm demonstrado uma sobrecarga emocional associada ao
cuidado, com tendência a diminuir ao longo do decurso da doença. Constata-se também uma
enorme tristeza, nervosismo e frustração no período pós-diagnóstico de doença oncológica, e
o processo adaptativo, secundário à aprendizagem da vivência com a doença no núcleo
familiar permite uma percepção de menor sobrecarga, com o passar do tempo (Santos, 2003).
Segundo Sobral (1987), o impacto da doença exerce repercussões a nível familiar, onde se
inclui o cônjuge, alterando planos, papéis e responsabilidades, bem como os padrões de
interacção familiar. No entanto, a adaptação da família a esta fase problemática da sua vida
depende do apoio da unidade que trata o doente e posteriormente dos outros recursos do
sistema social.
Estes factos, podem ter de alguma forma contribuído para os resultados encontrados no nosso
estudo, uma vez que foi encontrada uma relação positiva apenas entre a Depressão do doente
e respectivo cônjuge, não se verificando o mesmo relativamente à Ansiedade e Stress pós-
traumático.
Conclusão:
Em termos clínicos, o presente estudo veio evidenciar diferenças relevantes, a nível da
morbilidade psicológica dos doentes com cancro colo-rectal e dos seus cônjuges nas várias
vertentes dos tratamentos (cirurgia; cirurgia/quimioterapia; cirurgia/radioterapia), assim como
nas dimensões da qualidade de vida dos doentes, nas diferentes situações de tratamento.
A nível das representações de doença por parte dos doentes, foram encontradas algumas
diferenças nos vários grupos no que se refere à duração aguda e crónica da doença.
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
101
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VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
102
Palavras-Chave:
CSAI-2; Ansiedade competitiva; Psicologia do desporto.
Resumo/Abstract:
Com o objectivo de analisar as suas características psicométricas, administrou-se o
"Competitive State Anxiety Inventory-2" (medida multidimensional do estado de ansiedade
competitiva, com 27 itens), a 157 atletas de 5 modalidades (antes e depois da competição). Os
dados obtidos sugerem, nesta versão portuguesa, uma estrutura de 3 factores idêntica à
original, mas com a redução para 22 itens. Foram obtidos bons índices de fidelidade desta
versão de 22 itens (.89 ans. cognitiva; .87 ans. cognitiva; e .81 auto-conf.). Sugere-se a
validade desta versão no estudo da relação ansiedade-rendimento desportivo.
INTRODUÇÃO
avaliar repetidamente o estado de ansiedade dos atletas (Martens, Vealey & Burton, 1990).
Nesse sentido, Martens, Vealey & Burton (1983, 1990) desenvolveram um inventário do
estado multidimensional de ansiedade, específico para contextos competitivos: o "Competitive
State Anxiety Inventory 2" (CSAI-2). Este instrumento, baseado na distinção conceptual entre
ansiedade cognitiva e somática, já bem evidenciada noutros contextos de realização e
rendimento (e.g., ansiedade nos testes e exames escolares), englobou ainda uma terceira
componente relacionada com estas duas dimensões: a auto-confiança. O CSAI-2 foi assim
entendido como uma medida multidimensional do estado de ansiedade, que na sua versão
original, é constituído por um total de 27 itens, distribuídos por três sub-escalas, com base nos
resultados de análise factorial exploratória: a) Ansiedade cognitiva; b) Ansiedade somática; c)
Auto-confiança (ver Anexo 1). Para os autores do CSAI-2, a "ansiedade cognitiva e a
ansiedade somática representam pólos opostos de um continuum de avaliação cognitiva, sendo
a auto-confiança vista como a ausência de ansiedade cognitiva. Ou, inversamente, sendo a
ansiedade cognitiva vista como falta de auto-confiança". Martens, Vealey e Burton (1990)
relataram coeficientes "alpha" de Cronbach (consistência interna) entre .76 e .91, para as
diferentes sub-escalas do CSAI-2 (Burton, 1998).
Uma abordagem mais recente e alternativa à avaliação da ansiedade competitiva foi
apresentada por Thomas, Hanton e Jones (2002), que sugeriram uma versão reduzida de auto-
relato da ansiedade, a "Escala de Medida Imediata da Ansiedade" ("Immediate Anxiety
Measurement Scale - IAMS"), contemplando e avaliando para cada item não só uma dimensão
interpretativa da ansiedade (a direcção facilitativa ou debilitativa), mas também a frequência
ou intensidade das preocupações e intrusões cognitivas.
44). Tendo sempre por base a distinção conceptual entre ansiedade cognitiva e ansiedade
somática, Martens e colaboradores (1983, 1990) aplicaram esta distinção às reacções de
ansiedade no desporto, onde "a ansiedade cognitiva se manifesta usualmente através de
expectativas negativas acerca do rendimento e de uma auto-avaliação negativa", enquanto a
ansiedade somática se reflecte "em respostas como um rápido ritmo cardíaco, respiração
'curta', mãos húmidas, 'borboletas' no estômago e músculos tensos" (p. 6). Estes autores
conceptualizaram assim a ansiedade competitiva como englobando pelo menos duas
dimensões ou componentes principais: a ansiedade cognitiva e a ansiedade somática. No
entanto, como já foi referido, uma terceira dimensão adicional, a auto-confiança, viria também
a ser encontrada no processo de desenvolvimento do CSAI-2 e entendida como uma terceira
componente da ansiedade competitiva.
Três linhas distintas de investigação têm evidenciado fortemente a distinção conceptual
e a independência entre ansiedade cognitiva e ansiedade somática: 1) a evidência empírica que
sugere que apesar de ambas as componentes interagirem entre si, elas podem ser elicitadas por
diferentes tipos de antecedentes; 2) a evidência de vários estudos que demonstram a
independência conceptual de ambas as componentes, nomeadamente ao nível de um padrão
temporal diferencial em cada uma das componentes da ansiedade, mas também os efeitos
diferenciais da ansiedade cognitiva e da ansiedade somática no rendimento, em termos de
magnitude e em termos de forma (linear ou curvilinear); e 3) a evidência para a redução da
ansiedade e para a eficácia de diferentes métodos de tratamento da ansiedade, em indivíduos
que manifestam, predominantemente, ansiedade cognitiva ou somática (ver Cruz, 1987;
1996a,b; Cruz & Viana,1993; Jones & Hardy, 1990; Martens et al., 1983; 1990; Parfitt &
Hardy, 1987; Smith et al., 1990).
Mas os desenvolvimentos no domínio do estudo da ansiedade competitiva, parecem ser
contraditórios no que se refere ao uso do CSAI-2, sem dúvida nehuma o instrumento de
avaliação dos estados de ansiedade competitiva mais utilizado internacionalmente. Um dado
relevante para a avaliação da ansiedade competitiva viria a ser a introdução, através no
chamado "CSAI-2d" da necessidade de distinção entre a intensidade (maior ou menor) e a
direcção (facilitativa ou debilitativa do rendimento) dos sintomas dos estados de ansiedade,
que foi inicialmente sugerida por Jones e Swain (1992). Estudos e investigações posteriores
(e.g., Jones, 1995; Jones & Hanton, 2001; Woodman & Hardy, 2001) parecem indicar a
importância de analisar a interpretação das respostas de ansiedade e uma maior "sensibilidade"
da "direcção", comparativamente à "intensidade" das respostas. Para além da escala tradicional
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
107
O presente estudo integrou uma primeira etapa do processo de validação de uma versão
adaptada do CSAI-2 em língua portuguesa, tendo subjacente uma concepção de validação de
um constructo como um processo contínuo (Messick 1989). Em Portugal, coloca-se o
problema adicional da existência e proliferação , de "várias" versões traduzidas e,
supostamente, "adaptadas", de um mesmo instrumento ou constructo psicológico,
originalmente desenvolvidas noutros países, sobretudo de língua inglesa. Neste sentido,
apresentam-se seguidamente os dados preliminares de um estudo destinado a validar uma
versão portuguesa do CSAI-2 junto de atletas nacionais, nas suas versões pré-competitiva e
competitiva (avaliada retrospectivamente no final da competição).
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
111
MÉTODO
Sujeitos
Os participantes neste estudo incluiram 157 atletas praticantes de diferentes
modalidades, dos quais 109 são do sexo masculino e 48 do sexo feminino. Estes atletas
encontravam-se distribuídos por diferentes modalidades: a) 44 atletas de andebol do sexo
masculino; b) 13 atletas de futebol do sexo masculino; c) 64 atletas de natação de ambos os
sexos; d) e) 27 atletas de escalada de ambos os sexos; e f) 9 atletas de atletismo do sexo
feminino. No seu conjunto, a amostra de atletas incluiu sujeitos de vários clubes nacionais que
competiam em diferentes escalões competitivos (juvenil, júnior e sénior). O Quadro 1 permite
visualizar as características gerais e demográficas da amostra.
Quadro 1
Características demográficas da amostra total
Instrumentos
Procedimento
Todos os atletas responderam voluntariamente e com consentimento prévio ao CSAI-2, que foi
administrado a primeira vez, antes de uma competição com moderado ou elevado nível de
dificuldade e importância. Estas duas percepções da competição (dificuldade e importância)
foram avaliadas através de dois itens respondidos numa escala tipo-Lickert de 9 pontos
(1=Nada difícil/Nada importante; 9= Muito difícil/muito importante). No caso do CSAI-2,
todos os atletas responderam aproximadamente 30 a 15 minutos antes, e entre 5 e 15 minutos
depois de uma prova/competição, com moderada dificuldade e importância (avaliando
retrospectivamente o estado de ansiedade experienciado "durante"): percepcionada com níveis
moderados de dificuldade (M=5.4; DP=2.1) e importância (M=5.6; DP=2.8). Adicionalmente,
cerca de um terço da amostra (N=53) responderam antes e depois de uma outra prova
percepcionada com um elevado grau de importância (M=7.6; DP=1.7) e dificuldade (M=6.7;
DP=2.3), incluída em fases finais ou finais de campeonatos nacionais, nos respectivos escalões
competitivos e modalidades.
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
113
RESULTADOS
Uma análise factorial exploratória foi realizada inicialmente nos dados relativos à
administração do CSAI-2 antes da competição, avaliando por isso a ansiedade pré-competitiva.
Os itens originais da versão pré-competitiva do CSAI-2 foram sujeitos a uma análise factorial
de componentes principais com rotação "varimax", que sugeriu uma redução deste instrumento
para 22 itens. Os critérios utilizados para reter um item foram os seguintes: a) saturação igual
ou superior a .40 no hipotético factor; b) saturação do item de, no mínimo, menos .20 em
qualquer outro factor; c) o item não devia ser redundante com outro item no mesmo factor
(ex.: as correlações inter-item não deviam exceder .90); e d) a retirada do item não fazia baixar
a fidelidade da suposta sub-escala ou do "score" total da sub-escala. Adicionalmente, a
percentagem da variância total que é explicada pela solução factorial devia ser superior a 50%
e a solução factorial final deveria ser coerente. Esta série reduzida de 22 itens foi novamente
analisada factorialmente recorrendo à análise de componentes principais e à rotação
"varimax". Tal como na versão original do CSAI-2, emergiram três factores principais que
explicavam 58.0% da variância total. Os factores e respectivos "eigenvalues", assim como a
matriz factorial com os itens individuais que saturaram em cada factor, são apresentados
respectivamente nos Quadros 2 e 3. A consistência interna foi também calculada para cada
uma das sub-escalas calculando o "alpha" de Cronbach. Para as diferentes sub-escalas foram
obtidos coeficientes de fidelidade de .89, .87, e .81, respectivamente para os factores 1 (auto-
confiança), 2 (ansiedade cognitiva) e 3 (ansiedade somática). No Quadro 3 (entre parêntesis),
indicam-se adicionalmente os valores "alpha" de Cronbach obtidos na versão competitiva do
CSAI-2 (avaliando retrospectivamente, após a competição, o estado de ansiedade
experienciado "durante" a competição).
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
114
Quadro 2
Estrutura factorial do CSAI-2
% Variância
Factor “Eigenvalue” % Variância Acumulada
1. Ansiedade Cognitiva 8.21 37.3 37.3
2. Ansiedade Somática 2.60 11.8 49.2
3. Auto-confiança 1.94 8.8 58.0
Quadro 3
Matriz factorial após rotação “varimax” do CSAI-2 e valores "alpha" de Cronbach
FACTOR 1 FACTOR 2 FACTOR 3
ITEM Auto-confiança Ansiedade Cognitiva Ansiedade Somática
6 .63
9 .78
12 .74)
15 .81
18 .84
21 .50
24 .77
27 .79
1 .59
7 .70
10 .69
13 .63
16 .85
19 .82
22 .73
25 .41
5 .62
11 .73
14 .47
17 .73
20 .76
23 .71
________________________________________________________________
MODERADA ELEVADA
SUB-ESCALAS DIFIC/IMPORT DIFIC/IMPORT
M (DP) M (DP)
Ans. Cognitiva
Ans. Somática
Auto-confiança
Quadro 6
Intercorrelações entre as sub-escalas do CSAI-2 / IACD-2:
Ansiedade competitiva em provas/competições com moderado e elevado grau de
importância e dificuldade (1)
DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
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VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
124
Anexo 1
Itens versão portuguesa inicial do CSAI-2 (*)
Maus-tratos em crianças
Palavras-chave:
Formação; Funcionárias; Centro de Acolhimento.
Resumo/Abstract:
Com o intuito de melhorar as práticas educativas e comportamentais para com as
crianças do Centro de Acolhimento Mãe d’Água realizamos um plano de formação sobre a
temática dos maus-tratos infantis para todos os funcionários desta instituição. Abordaram-se
casos reais e discutiu-se de forma multidisciplinar a adequabilidade da intervenção junto
desta população. Foram usados diferentes métodos (expositivo, interrogativo e
demonstrativo) e avaliada a acção através de uma metodologia qualitativa. Os resultados
foram positivos e espelham a mudança nas práticas correntes de cuidado das crianças.
1. Introdução
A violência contra crianças e adolescentes é uma realidade dolorosa, responsável por
altas taxas de mortalidade e de morbilidade nessa faixa etária. Isso exige uma resposta séria e
urgente da sociedade. Esta realidade é excessivamente complexa e que a todo o momento nos
deparamos com ela. A violência contra a criança não se manifesta só nas ruas. Costuma ser
praticada pelas pessoas que convivem com a criança. Muitas vezes, essas pessoas agem com
violência, achando que estão a educar a criança.
As experiências vividas na infância e na adolescência, positivas ou desfavoráveis,
reflectem-se na personalidade adulta. As dificuldades inevitáveis se tornam mais brandas
quando enfrentadas com afecto e solidariedade. A violência gera sentimentos como o
desamparo, o medo, a culpa ou a raiva, que, não podendo ser manifestados, se transformam
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
127
seu papel perante a criança e, consequentemente, dá-se o seu afastamento. A nível social,
denota-se uma estigmatização e discriminação social das crianças institucionalizadas, como
também, denota-se que a institucionalização tem uma função de controlo social/reprodução
das desigualdades sociais, quando se constrói um paralelismo estreito do risco e os meios
mais desfavorecidos. Todavia, os maus-tratos existem em todos os níveis socio-económicos
(Alberto, 2003).
Cada instituição é um caso particular, é uma entidade activa que procura (ou deve
procurar) todos os dias transmitir afectos, vivências, planeando projectos de vida das
crianças, de forma a (re)construir as suas vidas. A instituição que serve de mote a esta
discussão sobre os maus-tratos às crianças, direitos e a responsabilidade social é o Centro de
Acolhimento Mãe d’Água, uma valência da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de
Valongo.
projecto de vida em ambiente e com as condições essenciais que os retirem do perigo em que
se encontram; proporcionar às crianças a satisfação de todas as suas necessidades básicas em
condições de vida o mais aproximado possível da estrutura familiar; proporcionar os meios
necessários que promovam a sua valorização pessoal e social, a sua segurança, saúde,
educação, formação, assim como o seu desenvolvimento integral; promover a sua
reintegração na família e/ou na comunidade.
2º - Objectivos Específicos: respeitar a individualidade e privacidade das crianças e
jovens; acompanhar e estimular o seu desenvolvimento físico, intelectual, bem como a
aquisição de normas e valores; garantir, com recurso aos serviços de saúde locais, os
cuidados necessários a um nível de saúde, particularmente nos aspectos preventivos e de
despiste de situações anómalas; proporcionar uma alimentação saudável, qualitativa e
quantitativamente adequada às respectivas idades; assegurar os meios necessários à sua
formação escolar em cooperação estreita com a família e a escola; criar, tendo em conta os
recursos do meio, as condições para a ocupação dos tempos livres, de acordo com os
interesses e potencialidades das crianças.
A equipa técnica multidisciplinar tem como função estudar a criança e a família e a
definição do seu projecto de vida. Posteriormente, e após o diagnóstico técnico estar
elaborado e o respectivo projecto de vida definido, a criança poderá ser reintegrada na família
de origem, numa família adoptante ou acolhida num lar. Através desta equipa, o Centro de
Acolhimento tem como princípios básicos: diagnosticar a situação concreta de cada criança
ou jovem; delinear o respectivo projecto de vida; facultar o apoio educativo adequado à idade
e às características pessoais da criança ou jovem; despistar, diagnosticar e intervir nas áreas
mais carenciados ao nível da saúde, equilíbrio psico-afectivo, socialização e escolaridade,
recorrendo sempre que necessário aos espaços educativos e lúdicos existentes no meio
envolvente; intervir junto das famílias e da comunidade de origem pretendendo caracterizar o
meio sócio-familiar e encontrar soluções possíveis em articulação e colaboração com as
instituições e serviços locais.
Desta forma, pode-se afirmar que este Centro tenta minimizar os efeitos da
repercussão dos maus-tratos nas crianças, promovendo o seu desenvolvimento integral. Neste
seguimento, a equipa sentiu necessidade de realizar acções de formação com o intuito de
melhorar as suas práticas educativas e comportamentais para o bem-estar das crianças.
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
130
Devido ao facto de trabalharem por turnos, pelo centro se encontrar aberto 24h por
dia, as auxiliares foram divididas em dois grupos, em que a formação foi dada a uma grupo
numa semana e o outro grupo foi dada na semana seguinte. Não havendo mudança de
conteúdo nem de estratégias a utilizar.
Tendo em conta as características desta população e o trabalho por turnos, sendo então
bastante exaustivo, foi necessário criar algo motivador para que as auxiliares comparecessem
em todas as sessões. Assim, foi-lhes dito que se estivessem presentes nas cinco sessões da
formação teriam um acréscimo de cinco dias de férias.
3.3 Metodologia
A formação teve lugar na sala de reuniões do centro, para que este fosse um ambiente
acolhedor e mais receptivo a uma abertura por parte das auxiliares para falarem e discutirem
sobre as suas dúvidas e receios de como trabalhar com estas crianças. A formação teve a
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
134
duração de uma semana, com 3 horas por dia, havendo uma pausa para café a meio da sessão.
As sessões foram divididas da seguinte forma:
No fim de cada sessão era realizado um sumário, para registar o que foi dado e
assinalar as ausências das auxiliares. Como forma de registar a aplicação dos conhecimentos
apreendidos, a motivação, a participação, a atenção, a iniciativa das formandas, durante a
realização de cada sessão, no fim de cada uma, as formandas expunham a sua opinião numa
“Grelha de avaliação do desempenho dos formandos”, numa escala que ia de insuficiente,
suficiente, bom e muito bom. Em sequência do referido, era também registado numa grelha o
comportamento não verbal das auxiliares. Estas fichas serviam para no fim da formação,
ajudar na avaliação qualitativa de todo o processo.
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
135
4. Conclusão
entre as auxiliares e os técnicos, em que este processo é denominado por Dunst (1982) e
Dunst e Trivette (1988 a) por "Fortalecimento Proactivo através da Parceria". O
fortalecimento é, portanto um processo interactivo que se constrói através de experiências,
em que as variáveis do comportamento intra e interpessoal actuam como mediadores,
enfatizam a noção de controlo sobre a situação como um dos objectivos do processo de
fortalecimento e assumem que há um conjunto de crenças que guiam as práticas de
fortalecimento e que, em conjunto, constituem a ideologia do fortalecimento (Pimentel,
2005).
A violência é um problema de saúde pública com implicações clínicas, legais e
sociais, que deve haver uma intervenção multidisciplinar (Magalhães, 2005). Hoje em dia
ainda é possível encontrar pessoas e até mesmo profissionais de saúde, que não dão o valor
adequado ao impacto da violência nas crianças, levando a não agir em conformidade,
aumentando deste modo as consequências da violência. Uma das crenças erradas, que ainda
vigora nos dias actuais, é que as crianças mais novas irão esquecer os acontecimentos
violentos, se não as fizermos lembrar do sucedido (Sani, 2003).
Ao identificarmos os efeitos que os maus-tratos causam à criança, sejam eles qual for
o seu tipo, poder-se-á compreender melhor as suas reacções e consequentemente, agir em
conformidade aos seus comportamentos, de forma a colmatar os seus défices.
Vamos juntos, “lutar” todos os dias, para que estas crianças tenham um presente onde
sejam capazes de construir raízes sólidas de desenvolvimento, estando aptas para percorrerem
com confiança e com um sorriso nos lábios o futuro que lhes avizinha. Como Anne Frank
citou em seu diário: "Todos vivemos sem saber porquê e para quê. Todos procuramos ser
felizes. Todos vivemos de modo diferente e, no entanto, somos todos iguais".
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VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
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Palavras Chave:
Atracção inicial, Escala de medida, Análise psicométrica
Resumo/Abstract:
O fenómeno da atracção interpessoal engloba sentimentos que vão desde a simples
empatia e atracção sexual até à amizade e amor. A compreensão da atracção que induz amor
romântico passa pela compreensão dos sentimentos activados no primeiro momento em que
uma pessoa toma consciência da presença de outra: a atracção inicial. As diferentes
medidas do nível de atracção inicial sentido têm sido criticadas por carecerem de validade
facial e diferencial. As medidas integram sentimentos relacionados com amizade, confiança e
respeito, não associados necessariamente a atracção de cariz romântico.
Com vista a desenvolver uma medida e definir operacionalmente o conceito de
atracção inicial, realizaram-se dois estudos com base nas metodologias propostas por
Berscheid e Meyers (1996), para a compreensão de constructos complexos: (a) análise
prototípica do constructo e (b) análise das experiências subjectivas. Dos resultados
seleccionaram-se os 31 itens que integram o Índice de Atracção Inicial (IAI), sujeito a análise
métrica e estudos diferenciais.
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
139
O nosso objectivo, foi assim o de criar uma medida do constructo de atracção inicial
tal como “todos nós” coerentemente o definimos. Para tal, o primeiro passo foi o de tentar
compreender o que as pessoas em geral entendem por “Sentir-se atraído por...”, ou seja, de
que forma as pessoas percebem e experienciam atracção inicial no seu quotidiano.
Para aceder e compreender determinados conceitos centrais ao campo das relações
interpessoais, Berscheid e Meyers (1996) sugerem duas metodologias: (a) a análise
prototípica de conceitos e (b) a análise da experiência subjectiva. Por um lado, a análise
prototípica (e.g. Fehr, 1988) tem como objectivo ajudar os investigadores a estabelecer uma
categorização hierárquica dos atributos associados a um determinado conceito, sendo uma
metodologia útil para compreender conceitos latos (Mervis & Rosch, 1981). Por outro lado,
a análise da experiência subjectiva (e.g. Lamm e Wiesmann, 1997) permite aceder os
aspectos associados ao conceito e que o definem no quotidiano. Com base nestas duas
metodologias, numa primeira fase pedimos a 124 estudantes universitários para realizarem
uma de duas tarefas: (a) fazerem uma listagem livre dos atributos associados ao conceito de
atracção inicial (54.8% da amostra) ou (b) descreverem uma situação em que tivessem
sentido atracção inicial por outra pessoa (45.2% da amostra). A análise do conteúdo das
listagens e dos relatos obtidos permitiu a extracção de 55 atributos referidos por, pelo menos,
dois participantes.
Numa segunda fase pretendemos compreender a estrutura prototípica do conceito, ou
seja, de que forma os atributos obtidos são percebidos, relativamente à sua centralidade ou
periferia para a atracção inicial. Para tal, pedimos a 98 estudantes universitários para
indicarem: (a) o quão característico consideravam cada atributo para o conceito em estudo
(1=Característico a 7=Extremamente característico), (b) a obrigatoriedade do atributo para a
experiência de atracção inicial (Sim/Não) e (c) os 10 atributos mais importantes para definir
atracção inicial. Estes dados foram analisados por atributo, dando origem às variáveis: (a)
média dos julgamentos de centralidade, (b) percentagem de juízes que seleccionaram o
atributo como obrigatório (resposta Sim) e (c) percentagem de juízes que seleccionaram o
atributo como um dos dez mais importantes para o conceito. As variáveis correlacionaram-se
significativamente (rcentralidade-obrigatoriedade =.978, rcentralidade-importância =.811, robrigatoriedade-importância
=.788, com todos os ps < .001), sugerindo que a maior percepção de centralidade de um
atributo, leva a uma maior obrigatoriedade e a uma maior importância desse mesmo atributo
para a atracção inicial. Esta ideia foi adicionalmente corroborada pela correlação positiva
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
141
Concepção do índice de atracção inicial (IAI) e estudo das suas características métricas
Sabendo que o Índice de Atracção Inicial (IAI) tem como objectivo dar suporte à
mensuração do nível de atracção inicial sentida pelos participantes em estudos futuros,
pretendia-se que: (a) não integrasse atributos directamente relacionados com o conceito de
atracção (e.g. Atracção Imediata) e que (b) fosse sensível a medidas de atracção de baixa
intensidade de activação (maior adaptação ao contexto laboratorial), sendo retiradas
referências sexuais explícitas (e.g. Desejo Sexual). Além disso, foram considerados apenas
os atributos com valores de centralidade, obrigatoriedade e importância superiores à mediana
(ver Rodrigues & Garcia-Marques, 2006 para mais detalhes).
Após a construção, o IAI foi submetido ao estudo das suas características métricas e
da sua capacidade para diferenciar o sentimento de atracção inicial dependendo do contexto.
Método
Participantes
A amostra constituiu-se por 400 alunos do ensino superior (61.3% do sexo feminino e
38.8% do sexo masculino), com idades entre os 18 e os 38 anos (M=21, d.p.=2.75).
Material
O IAI compõe-se por 31 itens definidos pela frase “Sinto/Senti...[atributo]” (e.g.
Sinto/Senti vontade de trocar sorrisos), associados uma dimensão de intensidade do
sentimento de sete pontos (1=Nada até 7=Muito). Sabendo que o instrumento deverá medir a
atracção sentida e ter capacidade para a diferenciar de outros sentimentos positivos, criaram-
se quatro grupos experimentais mos quais se pedia para responderem ao IAI pensando: (a)
numa pessoa por quem se tivessem sentido atraídos (Atracção Inicial), (b) na pessoa com
quem têm/tiveram uma relacionamento amoroso (Namoro), (c) num amigo com quem nunca
teriam uma caso amoroso (Amizade) ou (d) num colega de trabalho de quem gostem com
quem nunca teriam um relacionamento amoroso (Colega).
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
142
Procedimento
Os questionários foram distribuídos de uma forma aleatória pelos estudantes, sendo-
lhes dado cerca de 5 minutos para responderem. No final, esclareceram-se quaisquer dúvidas
apresentadas.
Resultados
Características Métricas do IAI
A análise da tabela 1 permite verificar que a normalidade da distribuição das respostas
é violada apenas em circunstâncias particulares, como no caso em que se acede à atracção
sentida por um namorado. O facto da distribuição das respostas nesta condição apresentar
dois valores de moda (3.58 e 5.06) pode, no entanto, referir uma sensibilidade específica do
índice de atracção inicial, já que se espera que namoros com diferentes durações se associem
a diferentes graus de atracção inicial (hipótese a ser empiricamente testada no futuro).
Tabela 1
Análise da sensibilidade do IAI
Condição K-S M d.p. Assimetria Curtose Mínimo Máximo
Atracção K-S=7.67, p=.598 5.45 .748 -.053 -.895 4.01 6.87
Namoro K-S=1.69, p=.007 4.75 1.10 -.871 .072 1.06 6.19
Amizade K-S=5.25, p=.946 4.26 1.07 -.128 -.281 1.65 6.71
Colega K-S=5.12, p=.956 3.64 1.30 -.088 -.571 1.00 6.32
Global K-S=1.60, p=.012 4.53 1.26 -.555 -.211 1.00 6.87
Uma análise de conteúdo aos itens que compõem cada factor sugere a seguinte leitura
dos factores:
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
143
Tabela 2
Estrutura factorial do IAI
Item Peso Dimensões
01. Vontade de chamar a atenção .489
02. Atrevido .381
03. Intenso .650
04. Vontade de interagir .667 Querer interagir / Positividade
05. Reciprocidade de sentimentos .532 21.59% Variância explicada
06. Vontade de agradar .542 C.I. =.948
07. Borboletas no estômago .637
08. Interessado .630
09. Coração acelerado .682
10. Carinho .741
11. Troca de sorrisos .660
12. Vontade de estar .673
13. Click .592
14. Vivacidade .519 Reacções fisiológicas
15. Vontade de sentir .604 16.54% Variância explicada
16. Vontade de rir .753 C.I. =.907
17. Fascínio .489
18. Curiosidade .455
19. Alegria .773
20. Vontade de olhar .488
21. Empatia .675
22. Vontade de passar tempo .620
23. Algo estranho .648
24. Inexplicável .706 “Flirting” / Fantasia
25. Química .560 15.93% Variância explicada
26. Atractividade física .502 C.I. =.921
27. Pensamento .470
28. Agradável .630
29. Vontade de conhecer .482
30. Corar .567
31. Desejo .594
Conclusão Geral
Berscheid, E. & Meyers, S. (1996). A social categorical approach to a question about love.
Personal relationships, 3, 19-43.
Berscheid, E. & Reis, H. (1998). Attraction and close relationships. In D. Gilbert, S. Fiske &
G. Lindzey (Eds.), The handbook of social psychology (4th Edition, pp. 193-281).
New York: McGraw-Hill.
Byrne, D. (1971). The attraction paradigm. New York: Academic Press.
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
145
Byrne, D. & Griffitt, W. (1973). Interpersonal Attraction. Annual Review of Psychology, 11,
317-336.
Fehr, B. (1988). Prototype analysis of the concepts of love and commitment. Journal of
Personality and Social Psychology, 55, 557-579.
Lamm, H. & Wiesmann, U. (1997). Subjective attributes of attraction: How people
characterize their liking, their love and their being in love. Personal Relationships, 4,
271-284.
McCroskey, J., & McCain, T. (1974). The measurement of interpersonal attraction. Speech
Monographs, 41, 261-266.
Mervis, C. & Rosch, E. (1981). Categorization of natural objects. Annual Review of
Psychology, 32, 89-115.
Michinov, E. & Monteil, J. (2002). The similarity-attraction relationship revisited:
Divergence between the affective and behavioral facets of attraction. European
Journal of Social Psychology, 32, 485-500.
Moreland, R. & Beach, S. (1992). Exposure effects in the classroom: The development of
affinity among students. Journal of Experimental Social Psychology, 28, 255-276.
Rodrigues, D. & Garcia-Marques, T. (no prelo). Como medir a atracção sentida num
primeiro encontro? Construção do Índice de Atracção Inicial (IAI). Actas da XI
Conferência Internacional de Avaliação Psicológica: Formas e Contextos. Braga:
Psiquilíbrios Edições.
Rubin, Z. (1970). Measurement of romantic love. Journal of Personality and Social
Psychology, 16, 265-273.
Sternberg, R. (1986). A triangular theory of love. Psychological Review, 93, 119-135.
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
146
Como é uma creche de boa qualidade? Estudo qualitativo acerca das ideias dos
educadores
Sílvia Barros (Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto e Fundação para
a Ciência e a Tecnologia, BD/10721/2002)
sbarros@fpce.up.pt
Joaquim Bairrão (Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do
Porto)
Resumo/Abstract:
Introdução
os primeiros anos de vida poderá também ter contribuído para o aumento da taxa de cobertura
da rede nacional de creches. Diversos estudos têm revelado que a participação das crianças
em programas pré-escolares de elevada qualidade influencia positivamente o seu
desenvolvimento nas diversas áreas, favorece a posterior adaptação à escola e promove o
sucesso escolar (Bairrão & Tietze, 1995; Bryant, Burchinal, Lau, & Sparling, 1994; NICHD
Study of Early Child Care, 2005). Contudo, a definição de cuidados de elevada qualidade em
contexto de creche não é consensual. A “European Commission Childcare Network” (1990)
defende que qualquer definição é, de algum modo, transitória e que compreender a qualidade
e definir indicadores de qualidade são processos dinâmicos. De facto, aquilo que se considera
importante para as crianças é em grande parte influenciado pelas crenças, pelas percepções
sociais e valores (ibd.). A cultura surge, então, como factor importante na definição da
educação e cuidados de elevada qualidade.
Entre os investigadores há algum consenso relativamente aos aspectos que
influenciam positivamente os resultados ao nível do desenvolvimento e adaptação das
crianças a curto e a longo prazo (OECD, 2001). A um nível sistémico, essas condições
incluem: níveis adequados de investimento, políticas e regulamentações coordenadas;
estruturas de gestão eficientes e coordenadas; formação adequada do pessoal e condições de
trabalho adequadas; abordagem pedagógica adequada; e monitorização do sistema baseada
em recolha de dados fidedigna. Ao nível da instituição, podem identificar-se aspectos como:
tamanho e composição do grupo adequados, rácios adulto-criança favoráveis e factores
relacionados com o espaço físico, como a qualidade dos contextos interiores e exteriores.
Além dos aspectos estruturais, a qualidade também é definida em termos de processo e
resultados. A qualidade processual está relacionada com as condições de saúde e segurança,
as interacções entre crianças e adultos, a relação com os pais e as oportunidades sociais e de
aprendizagem. As variáveis de resultado avaliam o progresso das crianças em áreas do
desenvolvimento e aprendizagem, procurando avaliar a eficácia das abordagens (ibd.).
Vários autores (e.g., Cryer, Tietze, Burchinal, Leal, & Palacios, 1999) agrupam os
indicadores de qualidade em duas grandes dimensões: estrutura e processo. A dimensão
estrutural relaciona-se com os aspectos físicos, humanos e organizativos; e a dimensão de
processo relaciona-se com as interacções ou trocas (transacções) adulto/criança e
criança/criança que ocorrem nesses programas. Harms, Cryer e Clifford (1990)
desenvolveram um instrumento, a Infant Toddler Environment Rating Scale- ITERS, que se
tornou amplamente conhecido e cujo objectivo é a avaliação global da qualidade de centros
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
148
educativos para crianças com menos de 30 meses de idade, sendo considerado uma medida
da qualidade de processo (Vandell & Wolfe, 2000). A edição revista da ITERS (Infant
Toddler Environment Rating Scale- Revised Edition – ITERS-R) foi publicada em 2003
(Harms, Cryer, & Clifford, 2003), sendo constituída por 39 itens, que se encontram
agrupados em 7 áreas ou subescalas conceptualmente definidas: (1) Espaço e mobiliário; (2)
Rotinas de cuidados pessoais; (3) Escuta e conversação; (4) Actividades; (5) Interacção; (6)
Estrutura do programa; e (7) Pais e pessoal.
Ainda que este instrumento tenha sido divulgado e utilizado em diversos países e com
diferentes objectivos e os investigadores tenham algumas perspectivas consonantes, o
conceito de qualidade difere de acordo com as prioridades e perspectivas dos diferentes
grupos (e.g., pais, profissionais, políticos) envolvidos. Segundo a OCDE (OECD, 2001), os
pais frequentemente valorizam aspectos da educação e cuidados que não coincidem
necessariamente com os objectivos prioritários oficiais, enquanto que os educadores por
vezes têm expectativas muito diferentes acerca do que os serviços devem proporcionar às
crianças. Do mesmo modo, as crianças, se questionadas, expressarão as suas perspectivas da
qualidade e, em certas idades, colocarão mais importância em fazer amigos ou dominar uma
competência própria da infância do que nas preocupações educacionais dos seus pais ou
educadores.
Alguns estudos têm tentado perceber as ideias dos pais e dos educadores acerca da
temática da qualidade da educação e cuidados para crianças pequenas. Cryer e Burchinal
(1997) verificaram que os pais de crianças que frequentavam creches e jardins-de-infância
tendiam a sobrestimar a qualidade das instituições que os filhos frequentavam, apesar de
valorizarem o mesmo tipo de características que os profissionais. Na Suécia, foi desenvolvido
um estudo com o objectivo de estudar a relação entre a avaliação da qualidade de salas de
jardim-de-infância realizada pelo educador responsável pela sala e a avaliação realizada por
observadores externos. Verificou-se que os educadores de salas de baixa qualidade tendiam a
sobrevalorizar a qualidade da sua sala, acontecendo o inverso com os educadores de salas de
qualidade mais elevada (Sheridan, 2000).
Em Portugal os pais tendem a mostrar-se relativamente satisfeitos com a qualidade
das creches e jardins-de-infância (Olmsted & Weikart, 1994; Folque, 1995), parecendo
ocorrer o mesmo com os educadores de infância e auxiliares de educação. De facto, um
estudo realizado por Barros, Silva, Peixoto e Bairrão (2005) analisou em que medida estes
profissionais (N=30) estavam satisfeitos com a creche onde trabalhavam, de uma forma
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
149
Método
Participantes
Participaram neste estudo 20 responsáveis por salas de creche, 10 de Instituições
Particulares de Solidariedade Social e 10 de instituições com fins lucrativos. As instituições
foram seleccionadas aleatoriamente a partir de uma listagem de creches do distrito do Porto,
disponibilizada pela Direcção-Geral de Estudos, Estatística e Planeamento do Ministério do
Trabalho e da Solidariedade Social. Todos os participantes eram do sexo feminino. Nos casos
em que oficialmente a responsável pela sala era uma educadora de infância, mas a pessoa que
realizava todo ou a maior parte do trabalho na sala era uma auxiliar, foi esta a participante no
estudo, sendo que 15 eram educadoras de infância e 5 eram auxiliares de educação.
Independentemente da sua formação, todas serão designadas educadoras. As educadoras de
infância tinham bacharelato (n = 1), licenciatura (n = 12) ou pós-graduação (n = 2). As
auxiliares de educação tinham em média 10 anos de escolaridade (DP = 2.12), variando entre
7 e 12 anos. A idade das educadoras variava entre 23 e 48 anos (M = 32.20 anos, DP = 7.52)
e a sua experiência na área da educação de crianças pequenas variava entre 1 e 23 anos (M =
7.01, DP = 6.25).
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
150
Instrumento
Foi elaborado um guião de entrevista semi-estruturada para administrar às
responsáveis pelas salas de creche, no sentido de determinar de uma forma exploratória que
características valorizam na creche. Na pilotagem destas entrevistas foram colocadas
questões que permitiram aperfeiçoar o guião da mesma. Os temas definidos e propostos para
as educadoras desenvolverem foram: (1) Quais são os objectivos de uma creche? (2) Na sua
opinião quais são as características mais importantes de uma “boa” creche? (3) Descreva o
mais pormenorizadamente possível uma “boa” sala de creche. (4) Descreva o mais
pormenorizadamente possível uma sala de creche de “má” qualidade. (5) Qual é a sua opinião
acerca da qualidade desta creche? (6) O que gostaria que fosse diferente?
Procedimento
As entrevistas foram realizadas em dias da conveniência das educadoras, num local
disponibilizado pela instituição, no ano lectivo 2003-2004. Foi garantida a confidencialidade
das informações recolhidas. Todas as entrevistas foram realizadas pelo mesmo investigador,
tendo demorado em média 20 minutos.
educadoras que referiram cada um dos temas (e não à quantidade de vezes que o tema foi
referido ao longo das entrevistas).
De modo a verificar a fidelidade deste processo, dois meses após a codificação de
todas as entrevistas procedeu-se a uma nova codificação de cinco destas entrevistas,
seleccionadas aleatoriamente. Para cada categoria e subcategoria, considerou-se acordo
quando um código foi atribuído a cada um dos documentos (ou seja, entrevistas) nos dois
momentos de codificação e desacordo quando um código foi atribuído em apenas um dos
momentos de codificação. O valor do acordo para as oito categorias foi de 80% na categoria
Programa e de 100% em todas as outras categorias (M = 97.5%). Relativamente às
subcategorias, o acordo médio foi também de 97.5%, tendo variado entre 80 e 100%. Todas
as codificações efectuadas ao nível das categorias e subcategorias que obtiveram menor
percentagem de acordo foram confirmadas.
Resultados
N.º de
Subcategoria %
educadoras
1. Espaço interior 17 85
2. Mobiliário para cuidados de rotina e jogo 6 30
3. Medidas para relaxamento e conforto 5 25
4. Arranjo da sala 9 45
5. Material exposto para as crianças 2 10
6. Chegada/ partida 2 10
7. Refeições/ refeições ligeiras 14 70
8. Sesta 6 30
9. Práticas de saúde/ Higiene 18 90
10. Práticas de segurança 11 55
11. Rotinas sem especificar 9 45
12. Ajudar as crianças a compreender e usar a linguagem 6 30
13. Utilizar livros 8 40
14. Motricidade fina 10 50
15. Jogo físico activo 13 65
16. Arte 2 10
17. Música e movimento 7 35
18. Blocos 4 20
19. Jogo dramático 8 40
20. Natureza 2 10
21. Materiais/ actividades sem especificar 19 95
22. Supervisão de jogo e aprendizagem 7 35
23. Interacção entre pares 5 25
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
154
Os dados recolhidos através das entrevistas permitem caracterizar uma creche de boa
qualidade, segundo a opinião das educadoras participantes. Apresentamos de seguida as
características enunciadas pela maioria das educadoras (pelo menos 50%), o que corresponde
a 10 do total de 40 subcategorias, incluindo a sua definição e excertos das entrevistas que
permitem ilustrá-las.
I. Espaço
II. Rotinas
“Tem um refeitório em que não se junta um grande número de crianças. Acho que para esta
idade um ambiente de confusão interfere no bem-estar deles.” (Educadora 17)
“A alimentação é muito boa, é pensada, não por uma nutricionista, mas é pensada por
pessoas que já estão muito habituadas a escolher a ementa. Os alimentos em si estão bem
guardados, bem conservados, são bem confeccionados e é uma alimentação rica, com a sopa,
com o prato do essencial, fruta sempre de boa qualidade.” (Educadora 19)
10. Práticas de segurança - Esta subcategoria refere-se aos cuidados relacionados com a
segurança das crianças, desde as características dos materiais, às condições dos espaços e aos
cuidados implementados pela educadora para evitar que as crianças se coloquem em
situações perigosas.
“E os cuidados que tem que ter, porque são crianças que se magoam muito facilmente e tem
de ser tudo muito bem escolhido, com muito cuidado para não haver acidentes. (…) E aqui todos
os materiais são escolhidos ao pormenor, até as prateleiras, as… tudo, tudo, tudo. O que se põe
nos aquecedores, as tomadas. (…) As cadeirinhas, têm as cancelas de protecção das portas,
aquelas protecções para as portas não fecharem, não sei se reparou, tem umas coisinhas para as
portas não fecharem, os materiais dos brinquedos são escolhidos de maneira a não magoarem, a
não terem arestas, materiais de tecido. As cadeiras, as mesas com aquelas protecções de lado,
não sei se também reparou nas cadeirinhas, também são de madeira.” (Educadora 10)
IV. Actividades
14. Motricidade fina - As actividades de motricidade fina são aquelas que encorajam o
desenvolvimento da coordenação olho-mão, requerendo a utilização dos dedos e dos olhos
para manipular objectos. Nesta subcategoria são incluídas as alusões das educadoras a este
tipo de actividades, bem como à existência de materiais que as possibilitem.
“(…) durante os primeiros anos de vida a criança percepciona o mundo que a rodeia a
partir dos sentidos e então tento focar todo o meu trabalho nessa área. E daí toda a importância
da creche tentar criar um ambiente multi-sensorial, ou seja, rico do ponto de vista das sensações,
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
156
em que a criança possa tocar, manipular determinados objectos de diferentes texturas, que eu
penso que vai conduzir a um desenvolvimento integral e holístico da criança.” (Educadora 2)
“Jogos de encaixe, eles gostam muito dos jogos de encaixe. Principalmente jogos de encaixe,
para esta faixa etária. Principalmente esses jogos, eles adoram os legos.” (Educadora 16)
V. Interacções
crianças muito pequeninas, ainda com muita dificuldade em se expressar e que lhes custa muito o
corte, com o pai, a mãe, ou com a ama eventualmente e eu acho que a parte afectiva é a que
realmente, pelo menos para mim, é a mais importante.” (Educadora 14)
VI. Programa
27. Jogo livre - Esta subcategoria diz respeito à existência de tempo no dia-a-dia da creche
para as crianças brincarem livremente, sem a estruturação da educadora, bem como à
disponibilidade de materiais para utilizarem nestes períodos, quer decorram no interior quer
no exterior da creche.
“Uma creche como a nossa. Já teve oportunidade de ver, acho que é uma boa creche.
Estagiei em muitos sítios, vi muitas creches e nunca vi uma creche com tantos materiais como
esta, com… de uma diversidade de materiais, desde materiais para eles brincarem...”
(Educadora 10)
“[boa qualidade] onde podem brincar isoladamente ou com os adultos (…) [má qualidade]
onde as crianças tenham que estar sentadas muito tempo, porque há creches em que as crianças
são obrigadas a estar num espaço mesmo sentadas ou presas a cadeiras.” (Educadora 19)
Discussão e conclusões
Sistematizando os resultados obtidos neste estudo, importa salientar que todas as
educadoras referiram que as Rotinas de cuidados pessoais e as Actividades (incluindo os
materiais disponíveis) são aspectos importantes numa creche. A terceira categoria que reuniu
mais consenso (focada por 19 educadoras) foi a Interacção, seguida pelas características do
Espaço e mobiliário e outros aspectos não incluídos na ITERS-R. As categorias menos
enunciadas foram Escuta e conversação, Estrutura do programa e Pais e pessoal.
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
158
às interacções, saúde e segurança. Estes temas foram também mencionados por um grande
número de educadoras que participaram no nosso estudo. Ao nível das categorias, 19
educadoras abordaram o tema das interacções, tendo 15 destas educadoras focado a
importância da relação adulto-criança. Relativamente aos cuidados de saúde e segurança,
podemos estabelecer um paralelo com a categoria Rotinas de Cuidados Pessoais, que obteve
referências de todas as educadoras. Contudo, será de salientar que 18 focaram
especificamente os cuidados de Saúde/ Higiene, enquanto que apenas 11 focaram os aspectos
da Segurança.
Como foi referido, a ITERS-R é um instrumento que tem sido utilizado em diversos
países e com diversas finalidades, sendo que a definição de qualidade subjacente ao grupo de
escalas a que pertence integra resultados da investigação, valores profissionais e
conhecimentos práticos (Harms et al., 2003). Esta escala serviu como base para a constituição
das categorias correspondentes aos temas que emergiram das entrevistas realizadas, tendo a
maioria dos critérios incluídos na ITERS-R sido focada pelas educadoras. Será importante
destacar que foram enunciadas características quer de processo, quer de estrutura, e que em
geral as ideias das educadoras coincidem com as características das creches valorizadas
internacionalmente. Contudo, nenhuma educadora focou os seguintes aspectos: Água e areia,
Uso de TV, vídeo e/ou computador, Promover a aceitação da diversidade, Actividades de
grupo, Medidas para crianças com incapacidades e Condições para satisfazer as necessidades
profissionais do pessoal. Por outro lado, emergiram temas que não são identificados na
ITERS-R de forma explícita, ou seja, definidos como item: Número de adultos, Número de
crianças, Faixa etária, Qualificação da educadora, Características do pessoal, Direcção/
organização e ainda os aspectos incluídos na subcategoria Outros critérios não definidos.
Relativamente a este facto, não devemos imprudentemente assumir que a ITERS-R não
aborda estes aspectos. De facto as características relativas à dimensão do grupo de crianças,
ao número de adultos e às características do pessoal e da direcção perpassam a escala sob a
forma de indicadores ou de uma forma subjacente a outros critérios. Por exemplo, não será
possível efectuar uma boa supervisão das actividades e rotinas se o número de crianças por
adulto for excessivo. Do mesmo modo, não existirá uma boa interacção adulto-criança se a
educadora não for meiga e atenciosa. Todavia, consideramos que efectivamente a escala não
foca o aspecto relativo à divisão das crianças por faixa etária e à qualificação inicial dos
educadores e/ ou auxiliares, apesar de incluir um item relativo ao desenvolvimento
profissional do pessoal. Relativamente à faixa etária, será de salientar que as próprias
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
160
educadoras que referiram este aspecto não o fizeram no mesmo sentido: surgiram opiniões a
favor e contra a divisão das crianças por faixa etária.
Tendo em conta que as educadoras não evocaram alguns dos itens da ITERS-R,
quando falando de forma pouco orientada sobre a qualidade das creches, e, por outro lado,
incluem alguns aspectos não incluídos na escala, estes resultados deverão ser tidos em
consideração quando avaliando o trabalho realizado actualmente nas creches em Portugal,
bem como na formação destes profissionais. Poderá ser pertinente tentar perceber, por
exemplo, por que razão as educadoras não evocam os aspectos Água e areia e Promoção da
aceitação da diversidade. As Orientações Curriculares para a Educação Pré-escolar
(Ministério da Educação, 1997, pág. 77 e 81), amplamente divulgadas e às quais todas as
educadoras podem ter acesso, salientam a importância da utilização da água, referindo que
“as brincadeiras com água permitem introduzir as medidas de capacidade. A utilização de
diferentes utensílios que se usam para esta forma de medição na vida corrente, desde copos
graduados até embalagens de água ou leite, permitem comparar e ordenar” e ainda “brincar
com água, encher e esvaziar recipientes pode ser, por exemplo, um meio de compreender que
o ar ocupa espaço, experimentar o princípio dos vasos comunicantes, questionar porque é que
há objectos que flutuam e outros que vão ao fundo”. Também os Guiões Técnicos da
Direcção Geral da Segurança Social (Rocha, Couceiro, & Madeira, 1996) alertam para a
necessidade de haver “área exterior para actividades ao ar livre, que deve conter zonas de
interesse para as crianças, nomeadamente relvados, areia e água”. Do mesmo modo, nas
Orientações Curriculares é valorizada a educação multicultural, referindo que “reconhecer
laços de pertença social e cultural, respeitando outras culturas, também faz parte do
desenvolvimento da identidade (ibd., pág. 54). O facto de as educadoras não terem referido
aspectos relacionados com as Medidas para crianças com incapacidades pode estar
relacionada com a ainda incipiente inclusão de crianças com incapacidade nas salas de
creche. Destas 20 educadoras, apenas 4 tinham nas suas salas crianças com incapacidades
diagnosticadas.
Os resultados obtidos nas subcategorias Supervisão e avaliação do pessoal e
Oportunidades para desenvolvimento profissional suscitam também alguma preocupação,
uma vez que apenas uma educadora focou cada um destes aspectos. A National Association
for the Education of Young Children (NAEYC), uma associação reconhecida
internacionalmente, responsabiliza os profissionais de educação pela implementação e
promoção de padrões de elevada qualidade e profissionalismo nas instituições de educação
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
161
para a infância, que devem reflectir conhecimentos actualizados e crenças partilhadas acerca
do que constitui educação de elevada qualidade e adequação ao desenvolvimento (NAEYC,
1997). A NAEYC considera que a forma como os conhecimentos acerca do desenvolvimento
e aprendizagem das crianças são aplicados influencia a qualidade das instituições. A
implementação de práticas adequadas ao desenvolvimento resulta do processo através do qual
os profissionais tomam decisões acerca do bem-estar e educação das crianças, o que exige
que os educadores (ou outros profissionais de educação) permaneçam aprendizes ao longo
das suas vidas profissionais. Assim, uma creche de boa qualidade deverá proporcionar aos
seus profissionais possibilidades de formação, à semelhança do que é também preconizado
pelo Ministério da Educação: “Este ambiente [o contexto institucional] deverá ainda
proporcionar ocasiões de formação dos adultos que trabalham nesse contexto” (Ministério da
Educação, 1997). O mesmo se verifica nos Guiões Técnicos da Direcção Geral da Segurança
Social: “Os estabelecimentos facultarão o acesso do seu pessoal técnico e auxiliar à
frequência de acções de formação organizadas pelas entidades competentes”.
Em suma, segundo a maioria das educadoras (mais de 50%), uma creche deveria ter
espaço interior suficiente para o número de crianças que a frequentam, com condições de
temperatura, iluminação e arejamento adequadas. As principais rotinas, como a alimentação e
as práticas de saúde/ higiene e de segurança, deveriam ser providenciadas de forma cuidada.
Deveriam existir nas salas materiais adequados e em quantidade suficiente e deveriam ser
desenvolvidas actividades de modo a promover o desenvolvimento das crianças, como
actividades de motricidade fina e de motricidade global (jogo físico activo) no interior e no
exterior da creche. Deveria haver também oportunidade para as crianças brincarem
livremente, tanto no interior como no exterior. Ao nível das interacções, a maioria das
educadoras salientou a importância da relação estabelecida entre os adultos e as crianças,
realçando também que os profissionais da creche deveriam ter características adequadas ao
trabalho que desempenham (e.g., serem meigos, alegres, sensíveis). Mobilizando também as
características enunciadas por um menor número de educadoras, podemos acrescentar a esta
descrição a necessidade de uma creche possuir mobiliário para as actividades e rotinas
adequado e em número suficiente e espaços confortáveis, que permitam que a criança relaxe.
A sala deveria estar bem organizada, com os materiais dispostos de modo a formar centros de
interesse, e deveria ter imagens afixadas nas paredes. Também as rotinas de chegada e partida
das crianças e a sesta deveriam ser adequadamente providenciadas, proporcionando à criança
bem-estar. Deveria ser promovido o desenvolvimento da linguagem, o que inclui a
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
162
Tendo em conta todos estes aspectos, consideramos que este estudo poderá ser útil
para entendermos melhor as práticas de educação desenvolvidas e os cuidados prestados nas
creches em Portugal, que têm sido avaliados por observadores externos e que, na maior parte
das vezes, não têm em consideração a perspectiva dos educadores. Parece-nos de particular
importância a realização e divulgação de estudos mais aprofundados sobre esta temática, que
explorem, nomeadamente, a relação entre as percepções dos educadores, pais e
investigadores sobre os critérios valorizados ao nível da creche, bem como sobre as práticas
que estão a ser implementadas.
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VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
165
Resumo/Abstract:
Investigação recente tem salientado a importância de adoptar uma visão mais ampla
da adaptação escolar, mostrando que as crianças com sucesso na escola exibem igualmente
competências no domínio social.
No presente estudo, entre Maio e Julho de 2006, foram recolhidos dados sobre 175
crianças, com o recurso ao Inventário de Comportamentos na Sala.
Nesta comunicação, serão apresentadas algumas qualidades métricas da adaptação
portuguesa deste instrumento e serão discutidas as implicações de uma abordagem da
adaptação escolar que considere simultaneamente as competências académicas e sociais.
Introdução
Estudos recentes têm apontado para a influência determinante que algumas
características da criança desempenham no seu rendimento académico, sendo particularmente
relevantes as características cognitivas e de linguagem, e as competências sociais. Neste
segundo domínio estão incluídas as competências interpessoais da criança (a qualidade das
suas relações com outras crianças e com outros em geral) e a sua capacidade de trabalho (o
grau de autonomia, de responsabilidade e de auto-controlo exibidos na classe) (NICHD
ECCRN, 2003).
O ajustamento social da criança de idade pré-escolar tem recebido particular atenção,
sendo objecto de estudo em muitas investigações recentes (como por exemplo Howes, 2000;
Peisner-Feinberg, Burchinal, Clifford, Culkin, Howes, Kagan, & Yazejian, 2001). Aspectos
como comunicar eficazmente, seguir instruções e cooperar, entusiasmo, atenção,
envolvimento activo nas actividades da sala, saber pedir ajuda quando necessário e bom
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
166
relacionamento com os colegas, além de relacionados com o sucesso escolar, são também
competências que os professores valorizam e apreciam nos seus alunos, independentemente
do seu aproveitamento académico (Hamre & Pianta, 2001; NICHD ECCRN, 2003).
De acordo com Howes (2000), e no contexto da teoria da vinculação, as crianças
utilizam as suas relações com adultos significativos para organizar as suas experiências. Em
condições ideais o professor poderá funcionar como uma base segura que a criança utiliza
para explorar as oportunidades de aprendizagens da sala. Estudos longitudinais das relações
professor-criança desde o jardim de infância até ao primeiro ciclo sugerem que crianças com
relações próximas com os seus professores são também socialmente mais competentes com
os seus pares (Howes, 2000).
Por outro lado, crianças que aos quatro anos são avaliadas pelos seus professores como
difíceis, ou como apresentando maior frequência de problemas comportamentais, tendem a
estabelecer relações conflituosas com os professores. Estas relações negativas parecem
persistir no 1º ciclo, tornando as crianças menos capazes de lidar com os conteúdos
académicos (Howes, 2000). De facto alguns estudos mostram que as crianças que apresentam
problemas de comportamento a nível do pré-escolar, nomeadamente, falta de atenção,
impulsividade, dificuldades em seguir instruções e em se conformar com as regras e rotinas
da sala, comportamento disruptivo e agressividade, revelam, posteriormente, problemas
sociais e académicos (Birch & Ladd, 1997; Campbell, Spieker, Burchinal, Poe & NICHD
ECCERN, 2006). Há ainda outros estudos que apontam para que comportamentos
problemáticas como a agressão, mentira, ou roubo sejam muitas vezes percursores da
delinquência juvenil e da criminalidade (Farrington, 1987) estando frequentemente
relacionados com problemas académicos, sociais e comportamentais na adolescência (RTI,
1998).
É ainda de salientar que, num dos estudos realizados nesta área (Rimm-Kauffman,
Early, Cox, Saluja, Pianta, Bradley & Payne, 2002), os professores do 1º ciclo evidenciaram
claramente que consideravam como o comportamento mais problemático por parte dos seus
alunos a dificuldade em seguir instruções, e não a falta de competências académicas.
Neste sentido, parece relevante um instrumento como o Inventário de Comportamentos
na Sala (ICS), que permita avaliar não apenas a dimensão académica e cognitiva mas também
aspectos relacionados com os comportamentos da criança e com o domínio social e
emocional durante o período pré-escolar.
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
167
Método
Participantes
No presente estudo, foram seleccionadas aleatoriamente 60 salas de jardim-de-infância
na zona do Grande Porto e posteriormente 4 crianças por sala, através do método aleatório
multi-etápico. Responderam ao Inventário de Comportamentos na Sala 44 educadores de
infância relativamente a 175 crianças. As crianças têm idades compreendidas entre os 49 e os
78 meses (M=67 meses).
Instrumentos
Inventário de Comportamentos na Sala (ICS): A versão pré-escolar, usada no presente
estudo, é constituída por 60 itens, em que cada um produz uma afirmação sobre um
determinado comportamento da criança (ex. Está quase sempre bem disposto/a e alegre). É
pedido ao educador de infância que avalie, através de uma escala de tipo Likert de 5 pontos
(1= Nunca assim; 2= Raramente assim; 3=Às vezes assim; 4= Muitas vezes assim;5=Sempre
assim), o grau em que se observa na criança cada um dos comportamentos descritos. Os itens
estão organizados em 11 subescalas, que se organizam da seguinte forma:
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
168
Procedimentos
Após o estabelecimento dos contactos iniciais e a obtenção das devidas autorizações,
foi solicitado aos respectivos educadores de infância o preenchimento do ICS relativamente a
cada criança. Os educadores responderam e entregaram os questionários entre Abril e Julho
de 2006.
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
169
As crianças foram avaliadas com o PPVT entre Maio e Julho de 2006. Cada criança foi
avaliada individualmente, numa sala à parte, disponível no jardim-de-infância.
Resultados
Sensibilidade dos itens:
Com vista a estudar a sensibilidade dos itens da escala, procedeu-se à análise da
distribuição obtida para cada item. Dos 60 itens que compõem o instrumento, 54
apresentaram variação entre o mínimo e o máximo possíveis. Nos restantes itens, os valores
situaram-se entre 2 e 5.
Com a excepção de 3 itens, as distribuições de todos os itens são mesocúrticas e
simétricas. Se atendermos ao conteúdo desses 3 itens (item 18. Pede-me que faça coisas
fáceis; item 27. Mostra pouco interesse; item 39. Está normalmente triste, sério/a),
verificamos que existe coerência com o tipo de distribuição encontrada, sendo de esperar que
a maioria das crianças seja avaliada negativamente no que se refere a estes comportamentos,
havendo consequentemente uma concentração dos resultados nos valores mais baixos da
escala.
O primeiro factor, que designámos por Empenhamento, agrupa os itens das subescalas
Orientação para a Tarefa, Distractibilidade (invertidos), Autonomia e Dependência
(invertidos), sendo por isso um factor bipolar. Este factor explica 36,2% da variância.
O segundo factor, responsável por 12,3% da variância, é unipolar, contém todos os
itens de Inteligência Verbal e Criatividade/Curiosidade e um item de Orientação para a
Tarefa. Foi designado por Inteligência & Curiosidade.
O terceiro factor, denominado Sociabilidade, é bipolar e nele se encontram saturados
todos os itens de Extroversão e Introversão. Explica 8,5% da variância dos resultados.
O último factor, responsável por 4,0% da variância, inclui todos os itens de Hostilidade
(invertidos) e quase todos (5 em 6 itens) de Respeito pelos outros. Denominámo-lo Respeito
pelos Outros.
Desta forma, constatámos uma organização coerente em cada factor, corroborada pela
sua semelhança com o modelo conceptual proposto pelos autores da escala (Schaefer &
Edgerton, 1978).
No primeiro factor, Empenhamento, todos os itens exprimem interesse pelas
actividades da sala por parte da criança, motivação, persistência e autonomia na realização de
tarefas ou o oposto destes comportamentos, nomeadamente distracção, pouca atenção e pouca
autonomia.
É interessante verificar que no modelo encontrado, a dimensão Inteligência e
Curiosidade agrupa os itens destas duas subescalas, o que aponta para uma proximidade e
complementaridade de comportamentos como compreender palavras difíceis e possuir bons
conhecimento para a idade s com utilizar materiais de forma original ou fazer coisas
interessantes e originais.
Na Sociabilidade, estão agrupados itens que descrevem a criança na sua relação com
os outros, quer em termos positivos, nomeadamente, vontade em estar com outras pessoas,
sorrir espontaneamente, quer negativos, como por exemplo tende a isolar-se, prefere passar
despercebido.
Por fim, no factor Respeito pelos Outros, os itens incluídos, apesar da sua natureza
essencialmente social, distinguem-se da sociabilidade por se referirem a comportamentos que
mostram cuidado e atenção para com o outro (ex. espera a sua vez pacientemente) ou a sua
ausência (ex. apodera-se do que quer), não implicando necessariamente que a criança deseje
ou goste de estar com outras crianças.
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
171
Consistência interna:
Para analisar a consistência interna, utilizou-se o Alpha de Cronbach. No Quadro 2, são
apresentados os valores obtidos a nível das 4 dimensões e da escala total. Note-se que, para o
seu cálculo, as notas dos itens negativos foram invertidas.
Quadro 4. Correlações entre as dimensões do ICS, a idade cronológica das crianças e o nível
de escolaridade das mães (n=175)
Através do Quadro 5, verifica-se que os valores médios das dimensões e da escala total
estão próximos do valor 3, variando entre 3.64 e 4.14 no grupo de crianças nascidas em 2000
e entre 3.51 e 3.89 no grupo de crianças nascidas em 2001. Para a comparação entre as
médias dos dois grupos, recorremos ao teste t para amostras independentes, a um nível de
significância estatística de 0.05. As diferenças entre os valores médios obtidos para a escala
total e para as subescalas revelaram-se significativas no caso da subescala Sociabilidade (t
(171)=-2.524, p<.05) e na escala total (t (171)=-2.009, p<.05).
As crianças mais velhas apresentam resultados mais elevados na Sociabilidade e
também na escala completa, o que aponta para o carácter desenvolvimental desta dimensão, e
dos comportamentos avaliados pela escala no geral.
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
174
Conclusão:
Os resultados do nosso estudo mostram que o Inventário de Comportamentos na Sala
possui qualidades métricas adequadas podendo vir a constituir um instrumento
particularmente útil, não só para a investigação, permitindo caracterizar as crianças de idade
pré-escolar relativamente a um conjunto de dimensões académicas e sociais, como para a
intervenção, ao permitir o despiste de dificuldades nesses domínios. O modelo subjacente
enfatiza o papel relevante de outros domínios do desenvolvimento além do
cognitivo/académico e salienta a importância de promover diferentes competências nas
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
175
crianças, como as que envolvem a sociabilidade e o respeito pelos outros, também elas
cruciais para o sucesso educativo.
A dimensão Respeito pelos outros e o seu pólo negativo – hostilidade, tem recebido
alguma atenção na literatura e assim alguns autores defendem que, em crianças de idade pré-
escolar, é relativamente comum o recurso a comportamentos agressivos para lidar com os
seus pares. À medida que aprendem outras estratégias para a resolução de conflitos, as
crianças deixam de recorrer à agressividade (Campbell et al, 2006), sendo que, no início da
escolaridade obrigatória, as competências cognitivas e linguísticas que as crianças adquirem
facilitam a utilização dessas estratégias alternativas, como por exemplo, a negociação.
Neste sentido, colocamos a possibilidade da subescala Agressividade e o seu pólo
positivo, Respeito pelos Outros, não surgir associada de forma tão evidente às outras
competências, por ser mais ou menos generalizada, sendo de esperar que, à medida que a
criança cresce, a agressividade seja sinónimo de regulação emocional pobre e se relacione
com o insucesso na escola.
Consideramos, contudo, que outros aspectos para além dos da própria criança
deverão ser tidos em conta na conceptualização de sucesso escolar. Alguns estudos têm
salientado que a sensibilidade e responsividade dos educadores, assim como o tipo de
relação que estabelecem com as crianças, podem influenciar as competências sociais e
comportamentais das crianças (Hamre & Pianta, 2001; Howes, 2000; Rimm-Kaufman et
al, 2002), pelo que consideramos de extrema importância o desenvolvimento de mais
estudos que se debrucem e aprofundem esta temática.
Em síntese, o ICS parece ser um instrumento muito relevante para a avaliação dos
comportamentos das crianças na sala, tanto por apresentar características métricas
adequadas, como por aludir a uma concepção lata de adaptação escolar, centrada não
apenas em aspectos académicos, como também em aspectos de índole social e emocional,
cada vez mais reconhecidos como importantes.
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Rating Scale.
Página 78: [1] Eliminado Luísa 04-10-2006 5:42
Para a distribuição e recolha da amostra, seguimos o processo que passamos a descrever:
1º Contacto directo com as E.C.A.E., mais propriamente com os coordenadores.
Apresentação dos objectivos do trabalho a desenvolver recorrendo aos coordenadores como facilitadores
do processo de distribuição e recolha dos questionários junto dos Professores do 1º Ciclo e Educadores
de Infância de apoio educativo pertencentes às três E. C. A.E. do distrito de Évora.
O trabalho de campo decorreu entre Abril e Maio de 2002, tendo em conta os seguintes critérios:
1º Os questionários deveriam efectuar-se no decurso do ano lectivo;
2º Com exclusão do início e fim do ano lectivo;
3º Evitando, se possível, os períodos de avaliação e sobrecarga extraordinária;
4º No mais curto período de tempo.
INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO
Página 80: [3] Eliminado Luísa 04-10-2006 6:03
•Perfil socio-demográfico
•Perfil laboral
•Factores Motivacionais
•Factores de (In)Satisfação Laboral
•Síndrome de Burnout
Características sócio demográficas da amostra:
Na caracterização da amostra contemplámos três aspectos: sexo, idade e estado
civil.