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VIABILIDADE DO APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS ORGÂNICOS POR MEIO

DO PROCESSO DA VERMICOMPOSTAGEM
M. F. G. de Oliveira 1; D. P. Nunes2; R. B. Pragana3; S. M. M. Malheiros4; M. M. P.
Souza5; F. A. G. Neto5; C.B.Pereira Junior6
1
Msc./UFRPE, Pesquisadora da Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária, Departamento Técnico
Científico/Área de Hortaliça, CEP: 50761000, Recife, PE. e-mail:mfatima@ipa.br; 2Bacharel em
Biologia/UFRPE; 3Msc/UFRPE; 4Bolsista de Iniciação Científica/FACEPE; 5Graduando de Bacharelado em
Biologia/UFRPE; 6Especialista em Paisagismo/ESUDA

Na tentativa de equacionar o problema de destinação de resíduos, vários métodos de


tratamento e disposição foram e vem sendo pesquisado em todo o mundo, destacando-se
como mais freqüentes os aterros sanitários, a compostagem, a vermicompostagem, a
incineração, entre outros (Bidone e Povinelli, 1999).
A vermicompostagem é uma técnica na qual utilizam-se as minhocas para degradar a
fração orgânica dos resíduos, possibilitando a obtenção de novas minhocas como matrizes e a
obtenção de humos, que apresenta larga aplicação na agricultura.
A minhoca Eisenia foetida, conhecida vulgarmente como vermelha da Califórnia, é
preferencialmente utilizada pela sua habilidade não só de conversão de resíduos orgânicos,
mas pelo seu rápido crescimento (Neuhauser et al. 1980), grande capacidade de multiplicação
(Hartenstein et al. 1979) e fácil adaptação em cativeiro (Knapper 1984).
Este trabalho teve como objetivo avaliar o efeito de diversos substratos isolados e
combinados, no desenvolvimento e na reprodução da minhoca vermelha da Califórnia
(Eisenia foetida L.) e as características físico-químicas do vermicomposto. Os substratos
utilizados foram: esterco de eqüino e resíduos orgânicos da AMBEV e Coca-cola, cedidos
pela empresa GREEN WORLD Tecnologia Ambiental.
A pesquisa foi realizada na Sede da Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária
– IPA. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado com 12
tratamentos e 4 repetições, totalizando 48 amostras.
Todos os substratos foram submetidos a 30 dias de curtição e posteriormente foram
analisados quimicamente, antes da vermicompostagem, conforme a Tabela 1.
Tabela 1. Características químicas dos substratos antes da vermicompostagem.
Parâmetros Substratos
Esterco de Eqüino Lodo industrial da AMBEV Lodo Industrial da Coca-Cola
pH (H2O) 5,8 7,30 6,30
Matéria orgânica (%) 67,58 32,19 82,96
N (%) 1,44 2,33 4,51
C (%) 37,54 17,88 46,09
C/N 26/1 7,67 10,22
Como as minhocas são seres hermafroditos, foram colocadas 10 vermes adultos
(número par) para cada 1kg de substrato em vasos de barro. Os vermes foram pesados a fim
de obter o resultado da média do peso inicial (PIM) (Tabela 2).
As minhocas escolhidas foram provenientes da Estação de Itapirema do IPA –
Goiana/PE, onde são criadas em cativeiro, utilizando-se como substrato esterco bovino. A
temperatura ambiente e a dos vasos foram monitoradas diariamente, utilizando-se um
termômetro de mercúrio comum, de escala interna, com sensibilidade de 0,5°C, fazendo-se a
média mensal. Os vasos foram regados em dias alternados tentando-se manter uma umidade
de 65 %, faixa ideal para o desempenho dos vermes (Knapper, 1984).
Aos 30 dias após a montagem da vermicompostagem foi iniciadas a separação dos
vermes e casulos e a contagem dos mesmos, por meio de processo de catação manual,
retornando os vermes ao vaso. Com mais 30 dias, foi realizada nova contagem de vermes e
casulos, conforme a tabela 2. Foram realizadas as análises químicas do vermicomposto,
conforme a Tabela 3.
Como resultados observa-se que houve diferença significativa entre os tratamentos,
em relação ao parâmetro peso total das minhocas (PTM), verificando-se uma perda de peso
dos vermes em todos os tratamentos. O substrato onde ocorreu o maior peso das minhocas foi
o formado pelos componentes resíduo de Coca-cola e esterco (Tabela 2), comprovando que a
composição de substratos com estes componentes favoreceram o desenvolvimento das
minhocas.
Segundo Bidone & Povinelli (1999) para período de vermicompostagem de 60 a 90
dias, tem-se observado que o máximo crescimento de minhocas ocorre entre 2 a 5 semanas do
processo, com sobrevivência de 100% dos indivíduos de 2 a 7 semanas, presença de 90% de 8
a 9 semanas e decréscimo para 40% depois de 10 semanas de processamento.
Foi observado um efeito altamente significativo dos tratamentos sobre a quantidade de
ovos (QO) ao final do experimento. Constatou-se no tratamento T2 a ausência de casulos,
pois as minhocas não sobreviveram neste tratamento, conforme demonstrado na Tabela 2.
Também pode ser observado no Tabela 2, que os substratos que apresentaram a maior
quantidade de ovos foram os formados por resíduo da Coca-cola e esterco, nos períodos com
30 e 60 dias. Provavelmente com a mistura desses componentes obteve-se condições físicas e
nutricionais estimulante a reprodução das minhocas.
Com relação ao parâmetro quantidade de minhocas (QM), pode-se verificar que de
uma forma geral não houve diferença significativa entre os substratos vermicompostado,
exceto o tratamento T2, com 30 e 60 dias e o T3 com 60 dias, provavelmente, devido ao baixo
teor de nutrientes necessários ao desenvolvimento das minhocas, encontrado nos substratos
isolados (resíduo da Coca-cola e Ambev), ou presença de elementos tóxicos (Tabela 2).
Segundo Aquino (1991), a escassez de nutriente do substrato e as condições
ambientais do meio onde os vermes se desenvolvem podem levar a fuga ou a morte das
minhocas.
Tabela 2: Avaliação do peso inicial (PIM), peso total (PTM), quantidade de ovos (QO) e
quantidade de minhocas (QM) com 30 e 60 dias de vermicompostagem.
Tratamentos PIM PTM PTM QO QM
(g) 30 dias (g) 60 dias (g) 30 dias 60 dias 30 dias 60 dias
T 1 = 100% E 3,87 a 4,02 cd 2,82 bcd 48,00 cde 17,75 def 10,00 a 7,75 ab
T11 = 50% E +50% C 4,15 a 5,67abc 4,30 abc 103,25 a 66,0 ab 9,75 a 9,50 a
T12 = 75%E+ 25% C 4,30 a 5,15 bc 2,75 bcd 96,75 ab 51,50 abc 10,25 a 9,25 ab
T13 = 25%E+75%C 4,27 a 7,40 a 5,77 a 88,50 abc 74,50 a 10,25 a 8,75 ab
T2 = 100%C 3,67 a 0,00 e 0,00 e 0,00 f 0,00 f 0,00 b 0,00 c
T21 = 50%E+50%A 4,27 a 5,00 bc 1,52 de 62,00 bcd 48,25 abcd 9,75 a 4,75 abc
T22 = 75%E+25%A 4,50 a 3,57 cd 1,80 de 68,75abcd 30,75 cdef 9,25 a 6,75 ab
T23 = 25%E+75%A 3,72 a 4,85bcd 1,85 de 59,00 bcd 6,75 ef 10,00 a 7,00 ab
T3 = 100% A 4,12 a 2,75 d 1,15 de 15,75 ef 15,75 def 9,15 a 4,00 bc
T31 = 50%C+50%A 4,07 a 5,72abc 2,30 cd 57,25 bcd 31,50 cdef 9,75 a 6,25 ab
T32 = 75%C+25%A 4,12 a 6,22 ab 4,85 ab 43,00 de 57,25 abc 9,50 a 8,75 ab
T33 = 25%C+75%A 3,55 a 4,30bcd 3,25 bcd 56,75 bcd 35,50 bcde 10,50 a 8,75 ab
Médias seguidas com uma mesma letra não são significativamente diferentes para o teste de Tukey a 0,5%.

Quanto às características físico-químicas do vermicomposto observa-se que os teores


de matéria seca, nitrogênio e relação carbono/nitrogênio, não apresentaram diferença
estatística entre os tratamentos.
De acordo com o Decreto-Lei nº 86.955/82, a Portaria MA nº 84/82 e a Portaria nº
01/83 da Secretaria de Fiscalização agropecuária do MA, para composto em geral, a exigência
em relação ao teor de matéria orgânica total, N-total, relação C/N e pH são respectivamente
40%, 1%, 18/1 e 6,0 (ABES, 1999).
Quanto ao nitrogênio, o vermicomposto resultante dos tratamentos 100% C e 75% E +
25% A foram os mais enriquecidos com este macronutriente, embora esse elemento nutriente
ficou dentro das especificações da portaria do Ministério da Agricultura em todos os
tratamentos. Quanto ao teor de matéria orgânica, com exceção dos tratamentos T23 =
25%E+75%A e o T3 = 100% A, cujos resultados foram 35,83 e 31,01 % respectivamente, os
demais tratamentos apresentaram valores dentro das especificações da portaria, assim como
os resultados da C/N, cujos valores ficaram todos abaixo de 18/1, também determinado na
portaria. Quanto ao pH os tratamentos T11 = 50% E +50% C, T13 = 25%E+75%C e T2 =
100%C, apresentaram valores abaixo de 6,0, os demais atenderam a portaria com valores
acima (Tabela 3).
Tabela 3: Teores de matéria seca (105ºC), nitrogênio (N), carbono (C), matéria orgânica
(MO), relação carbono/nitrogênio (C/N), condutividade elétrica (CE) e potencial
hidrogeniônico (pH) após 60 dias de vermicompostagem. Valores médios de quatro
repetições.
Tratamentos MS N C MO C/N CE pH
% µS/cm (H2O)
T 1 = 100% E 96,14 a 1,84 a 27,73 abcd 49,92 abcd 16,36 a 7.055 a 7,63 a
T11 = 50% E +50% C 92,87 a 2,11 a 35,37 a 63,67 a 16,78 a 6.360 ab 5,82 cd
T12 = 75%E+ 25% C 96,12 a 1,80 a 32,44 abc 58,39 abc 18,02 a 8.882 a 6,02 c
T13 = 25%E+75%C 91,16 a 2,44 a 34,52 ab 62,15 ab 15,49 a 8.572 a 5,50 cd
T2 = 100%C 89,66 a 3,31 a 32,23 abc 58,02 abc 9,72 a 8.967 a 5,26 d
T21 = 50%E+50%A 86,90 a 1,94 a 22,69 cde 40,85 cde 12,56 a 6.467 ab 6,85 b
T22 = 75%E+25%A 88,31 a 3,10 a 24,93 bcde 44,88 bcde 15,72 a 7.867 a 6,95 b
T23 = 25%E+75%A 95,54 a 1,68 a 19,90 de 35,83 de 11,88 a 6.130 ab 7,07 ab
T3 = 100% A 92,50 a 1,79 a 17,28 e 31,01 e 9,64 a 3.187 b 7,35 ab
T31 = 50%C+50%A 94,80 a 2,23 a 23,76 cde 49,00 abcd 10,68 a 7.085 a 7,17 ab
T32 = 75%C+25%A 93,82 a 2,57 a 28,80 abcd 51,85 abcd 11,20 a 9.597 a 6,77 b
T33 = 25%C+75%A 96,50 a 1,88 a 26,87 abcde 46,16 abcde 16,82 a 8.485 a 7,20 ab
Médias ligadas com uma mesma letra não são significativamente diferentes pelo teste de Tukey a 0,5%.

De acordo com os resultados pode-se concluir que é possível adotar a


vermicompostagem como tratamento para os resíduos orgânicos da AMBEV e Coca-cola,
observando a composição do substrato, utilizando esterco como um dos componentes. O
vermicomposto obtido nos tratamentos atendeu, de uma forma geral, as determinações da
Portaria do Ministério da Agricultura.
Como continuidade da pesquisa é importante a análise da viabilidade econômica da
aplicação da vermicompostagem no tratamento dos resíduos orgânicos das industrias
pesquisadas no presente trabalho.

Literatura citada
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL. Manual
prático para compostagem de biossólidos. Rio de Janeiro, 1999. 84p.
AQUINO, A. M. de; Vermicompostagem de esterco bovino e bagaço de cana - de – açúcar
inoculador com bactéria fixadora de N2 (Acetobacter diazotrophicus). Itaguaí: UFRJ, 1991.
246p. Tese Mestrado.
BIDONE, F.R.A. & POVINELLI, J. Conceitos básicos de resíduos sólidos. São Carlos: EESC
– USP, 1999. 120p.
HARTENSTEIN, R. NEUHAUSER, E.F.; KAPLAN, D.L. Reproductive potencial of
earthworms Eisenia foetida Oecologia ,Berlin, v.43, 1979. p. 329-340.
KNÄPPER, C. A criação de minhocas em viveiros. Estudos Leopoldenses, São Leopoldo,
UNISINOS, n.78, 1984 b. p.37-40.
NEUHAUSER, E.F.; HARTENSTEIN, R.; KAPLAN, D.L. Growth the earthworm Eisenia
Foetida in relation to population density and food rationing. Oikos, Copenhagen, v.35, 1980
a. p.93-98.

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