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como.html

Húmus de Minhoca como Fertilizante do Substrato:


Método para Tratá-lo e Possibilitar seu Uso Seguro em Aquários

(Texto recuperado, escrito em 2003 por Vladimir Xavier Simões e republicado aqui com
autorização do mesmo)

Tenho usado há mais de três (desde março de 2000) o húmus de minhoca como
elemento fertilizante em substrato para plantas aquáticas, com excelentes resultados, e
absolutamente nenhum problema que possa ser relacionado a esse material.

Tendo lido vários textos sobre substratos e fertilizantes possíveis de utilização segura
em aquários ou para plantas aquáticas, logo percebi que esse seria o material mais
acessível tanto em disponibilidade no comércio, em nível nacional. Observação
importante é que praticamente 99% desses textos não eram brasileiros, ou seja, tratavam
de uma realidade diferente, onde se encontra com facilidade e por preços módicos
materiais como turfa, vermiculita, aditivos comerciais diversos e específicos a
aquariofilia etc.

Uma das considerações praticamente unânimes sobre o húmus de minhoca nesses textos
era sua alta carga biológica e de material orgânico, o que antes de ser problema, encarei
como qualidade: bastaria diminuir essa quantidade de material até um nível adequado,
que não oferecesse perigo; quanto à carga biológica, bastaria ser esterilizada via
aquecimento.

Assim, procurei desenvolver um método simples, barato e acessível que tornasse mais
seguro o uso do húmus de minhoca no aquário plantado. Para tanto, teria que eliminar
os “excessos” que inviabilizariam o seu uso, já que havia recolhido relatos via internet
de colegas que utilizaram o húmus sem tratamento (direto da embalagem). Esses relatos
eram em extremo semelhantes, sempre fazendo menção à formação excessiva de bolhas
de gás no interior do substrato, emanação de gases fétidos (H2S e outros gases tóxicos),
problemas com as raízes das plantas, surtos de algas incontroláveis, problemas de saúde
dos peixes, enfim, colapso de todo o sistema.

Características do Húmus de Minhoca

Alguma vez você já se perguntou por que esse material se chama "húmus de minhoca" e
não "estrume de minhoca" ? Ou mesmo “cocô” de minhoca ?

Antes, uma resumidíssima consideração sobre o termo “húmus”. Todo material


orgânico que decai até o ponto em que não há mais decomposição microbiana é
chamado húmus. Geralmente esse já está finamente particulado, passando a constituir
parte importantíssima do solo, garantindo-lhe propriedades de fertilidade e retenção de
umidade.

As minhocas ocupam papel de grande destaque na natureza, não apenas pelo fato de
aerar e descompactar o solo, mas especialmente por ser capaz de aproveitar de maneira
tão completa o seu alimento (praticamente qualquer matéria orgânica livre, geralmente
de origem vegetal) que, ao defecar o que não foi absorvido, esse material (coprólitos)
encontra-se praticamente humificado, isso é, está tão mineralizado que não há
praticamente mais ação microbiana decompositora possível. Por isso recebe o nome de
“húmus de minhoca”.

Isso se deve a uma fantástica ação de quebra molecular da matéria orgânica ingerida por
ação enzimática nos intestinos da minhoca

Como vimos, o húmus natural dos solos e o húmus de minhoca compartilham


características comuns, mas não devemos nunca confundir as duas coisas. Mas vale
esclarecer que o húmus natural do solo é também possível de ser usado como substrato
de aquário plantado com segurança.

Algumas características que demonstram a grande versatilidade e adequação do húmus


de minhoca como material fertilizante para substrato de aquários plantados:

1. Alta capacidade de trocas catiônicas (CTC) – é 30 vezes maior que a maioria


das argilas que ocorrem no Brasil (veja mais sobre CTC, em breve, no texto
sobre substratos para aquários plantados);
2. Rico em micro e macro elementos, – análise média: matéria orgânica 40 a
55%; Nitrogênio 1,7 a 2,0%; Fósforo 1,4 a 3,8%; Potássio 1,4 a 2,2%; Cálcio 5,4
a 7,2%; Magnésio 0,8 a 1,3%; Ferro 0,8 a 1,8%; Manganês 550 a 770mcg; Zinco
420 a 1200mcg; Cobre 200 a 300mcg; Cobalto 15 a 40mcg;
3. Preço baixo – o mais caro que você vai encontrar é sempre menos de R$ 2,00 o
Kg no varejo;
4. Acessibilidade – atualmente se encontra com facilidade até em hipermercados,
como tradicionalmente em floras, lojas de jardinagem etc;
5. Granulometria excelente -- sendo finamente particulado (semelhante a argilas),
possibilita a formação de raízes secundárias e até pelos radiculares, que por sua
vez proporcionam otimização quase total na nutrição radicular das plantas (isso
não é conseguido mesmo pelo uso de areia fina);
6. Segurança -- se houve qualquer tipo de contaminação por pesticida / produtos
tóxicos no material de alimento às minhocas, não há como ocorrer a formação de
húmus -- as minhocas morrem antes; e não se pode, de fato, usar pesticida na
criação das minhocas, senão elas morrem;
7. Ecologicamente correto – é 100% natural, matéria orgânica que ao invés de
poluir serviu de alimento para as minhocas, e agora se apresenta como matéria
praticamente biologicamente humificada; e não envolve mineração de qualquer
tipo, com derrubada de matas, destruição de encostas de rios, nascentes etc.

Tratamento do húmus de Minhoca: como fazer

O “tratamento” dá um pouco de trabalho, mas rende bastante. Se fizer com quantidade


pequena, mais rapidamente estará feito; mas se fizer com quantidade maior, rende mais,
porque dá para guardar o excedente (depois de seco ao sol) por muito tempo, e depois
usar quando precisar.

Materiais:
 Um recipiente para efetuar as lavagens e fervura: balde de alumínio é o mais
indicado
 Húmus de minhoca puro (sem aditivos);
 Água limpa (de torneira);
 Fogão ou fogareiro

Método:

1. Adquira húmus 100% puro, sem fertilizantes, conservantes etc; você o encontra
desde floriculturas e floras, até em alguns grandes supermercados;
2. Dê uma primeira lavada, da seguinte forma: encha o recipiente até a boca, sem
deixar vazar; mas agitando com a mão enquanto enche – vá desmanchando
torrões e aglomerados; depois disso feito, espere uns minutos e com muita
delicadeza, vá entornando o balde lentamente, de modo que apenas a água com o
material em suspensão seja jogada fora (a “água suja”); pode repetir isso mais
uma ou duas vezes, eliminando tudo aquilo que flutue;
3. Com água cobrindo no mínimo 3 cm acima do material, ferva-o por cerca de 10
- 15 minutos; cuidado que pode formar-se espuma e transbordar, então nunca
encha de água até as bordas do balde;
4. Espere dar uma esfriada (não vá se queimar !!! Cuidado !!!), e então comece a
lavar da mesma forma que foi descrito no item 1; lave bastante (várias e várias
vezes), eliminando todo o material mais leve e que turva a água e permaneça em
suspensão depois de 1 a 2 minutos depois que você cessa de agitar;
5. Ao final dessas lavagens não se deve perder mais que 30% do volume original
do húmus; o que está sendo “perdido” é apenas a maior parte da matéria
orgânica e material microparticulado que pode vir a facilmente turvar a água do
aquário.
Dica: você pode regar plantas com a água que vai ser eliminada nessas lavagens,
pois a mesma é um “caldo” rico em nutrientes.
6. A hora de parar de lavar: é difícil esclarecer isso por palavras. Tenho feito isso a
partir do ponto em que a água dentro do balde, mesmo turva, começa a dar
alguma visibilidade – pode-se ver a mão mergulhada a 10 – 15 cm de
profundidade; também não deve mais haver materiais grandes (pedacinhos de
galhos, folhas ou ovos de minhoca) que flutuem. O material final deve conservar
textura semelhante ao húmus original, com certa glutinidade e, em aparência,
igualmente semelhante ao húmus original, de cor marrom escuro.

O ideal é ainda colocá-lo em camada não espessa, em bacias ou folha de plástico (pode-
se cortar um saco, abrindo-o e estendendo-o) sob sol forte para que seque de uma vez.
Assim, esse material pode ser guardado por muito tempo (mais de ano), e facilita
demais o seu emprego na composição de novos substratos (facilita misturar à areia).

Mas se não puder secá-lo, ou estiver com muita pressa, já pode aplicar direto no
aquário, mas nunca direto na água: é na montagem inicial (em aquários já montados,
pode-se usá-lo usando técnicas descritas abaixo).

Dosagens
Sugiro sempre que faça o uso do húmus de minhoca com moderação. Também
recomendo que o use "diluído" com areia grossa já lavada (granulometria 1 a 3mm), de
preferência nas proporções de 50% de areia e 50% húmus.

As quantidades devem ser entre 1 a 2 Kg de húmus já tratado para cada 50 litros do


volume bruto do aquário; por exemplo, num aquário de 100 litros recomendo usar entre
2 e 4 Kg de húmus.

Procure evitar usá-lo na camada mais profunda do substrato, especialmente se esse for
muito espesso (mais de 10cm); o melhor é colocá-lo devidamente misturado a material
inerte (areia), compondo uma camada intermediária do substrato, e sempre coberto por
uma última camada de no mínimo 3-4cm de areia pura, de modo que essa isole as
demais camadas da coluna d’água.

Em aquários já montados dá para usar o húmus tratado colocando-o em vasos a serem


enterrados no substrato (não esqueça de, nos vasos, colocar uma camada de areia por
cima antes de inserir o vaso no aquário).

Uma técnica também é possível, e que já usei bastante, são os “pacotes” de


refertilização. Com o húmus seco, o misturamos à areia (50 a 50%) e/ou outros
materiais (outros fertilizantes, argila etc). Essa mistura deve, então, ser envolvida /
embrulhada com papel manteiga, do usado em culinária. Não use muito papel, apenas o
suficiente para fazer o embrulho. Para fechá-lo, faça dobraduras no papel.

Para colocar o embrulho no substrato faz-se assim: previamente, limpe a área a ser
refertilizada, se necessário desenterrando plantas; afaste parte do substrato, fazendo ou
cavando uma cova, onde o embrulho será depositado; seja rápido, mas delicado, ao
colocar o embrulho, pois o papel logo pode se desfazer; por fim, cubra novamente a
“cova” com o embrulho. Se quiser acelerar o processo, você pode furar o embrulho com
alguma haste longa e fina – mas não se esqueça, sempre faça isso apenas depois de
enterrado o embrulho !!!!

Outra forma um pouco mais trabalhosa é colocar o húmus tratado seco e puro em
cápsulas gelatinosas (dessas usadas com medicamentos), que serão então enterradas
junto das raízes das plantas.

E uma última opção é fazer bolotas de argila com recheio de húmus, cozendo essas
bolotas em forno até ficarem secas e duras, e então proceder como no caso das cápsulas
– enterra-se junto às raízes das plantas.

Texto por Vladimir Xaveir Simões, junho 2003

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