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O substrato para bonsai.


Por: Olavo Pastore - SP
O substrato “ideal” para bonsai era algo que me intrigava muito no início do meu aprendizado na Arte. Não achava
muito lógico o porquê de ser necessário algo diferenciado, sendo que via várias plantas de diferentes espécies e
tamanhos em vasos de diferentes proporções de altura e largura.
Hoje, já passada esta fase, acredito que muitos colegas ou iniciantes possam ainda ter estas mesmas dúvidas e por
este motivo achei que seria conveniente tentar ajudar quem ainda esteja trilhando este caminho que é realmente básico
no cultivo saudável de qualquer bonsai.
Já repararam que existem bonsai na China e Japão com séculos? E muitas das plantas diferentes tamanhos que vemos
em vasos comuns, cedo ou tarde vão parar no chão ou acabam morrendo em alguns anos?
Já repararam que os vasos e substratos para orquídeas são diferenciados do restante? E a tendência é regar menos
para que o substrato para tais orquídeas não fiquem encharcados, devido as grandes perdas em estufas por conta da
“podridão negra” nas raízes causada pelo excesso de umidade?
Se você entender melhor as necessidades de uma planta e tiver uma noção básica, bem básica mesmo de botânica irá
ver que não é nada assustador. Como as orquídeas ou parasitas, nossos bonsai também tem necessidades diferentes.
Próximo ao século XX quando os bonsai foram levados para a Europa e Estados Unidos começou-se a criar um “mito”
que havia algum “segredo oriental” em cultivar estas plantas pois elas morriam em pouco espaço de tempo e este
“segredo” superaria os conhecimentos básicos da botânica. Mas na verdade um dos “segredos” era justamente as
técnicas e conhecimentos da formulação do substrato utilizado nestes bonsai.
É útil sabermos que a função das raízes é absorver a água e nutrientes em suas pontas (meristema ou raízes capilares)
mais claras, finas e ramificadas; É a “boca” da planta e suas raízes mais velhas, fortes e grossas fazem sua fixação e
sustentação no solo!
Precisamos entender agora que as plantas precisam de espaço pra crescer suas raízes sustentando e fixando a planta
e as raízes precisam de ar, água pra hidratar-se, absorverem nutrientes e fazer suas reações químicas, os próprios
nutrientes, uma base para sustentar-se, fixarem algumas bactérias que vivem em associação com a planta, ajudando na
absorção e ou elaboração de nutrientes e PH ideal de solo a cada espécie. (Quanto às bactérias associadas, não se
preocupem, a planta saudável se vira muito bem sozinha e chegam naturalmente à raiz da planta pelo ar água etc).
Em contra partida temos as bandejas ou vasos de bonsai que normalmente são bem pequenos, cabem pouco substrato
e por isso também mantêm a umidade por um curto período de tempo.
O substrato não pode compactar-se como terra comum, pois irá perder aeração e reter só umidade, asfixiando,
matando e apodrecendo as raízes e conseqüentemente matando a planta...

Então este solo “ideal” tem que ter:


- aeração (espaços vazios onde possam circular o ar)
- retenção de umidade e nutrientes suficientes para suprir a planta sem compactar-se nem encharcar
- sustentação, propiciando a fixação das raízes e a planta como um todo
- pH ideal para espécie cultivada. Por curiosidade um método pratico para se determinar o pH do solo para cada
espécie de acordo com o tamanho das folhas é o seguinte: Folhas maiores pH mais ácido, folhas menores pH mais
alcalino. Com Exceção as azaléias em geral se o seu solo tiver aeração, retenção de umidade/ drenagem adequados
isso não será de grande problema..

Se pensarmos bem, o “segredo” está na composição e também na granulometria ou tamanho das partículas deste
substrato, é simples!!!!
Ainda não! Tem mais algumas coisas que vamos obter se prestarmos mais atenção com a composição e granulometria
deste tal substrato “ideal”...
· Mais oxigênio nas raízes
· Melhor drenagem
· Mais fácil de transplantar sem os danos às raízes capilares
· Mais fácil de expor e limpar as raízes durante a poda
· Maior área de superfície em que as raízes possam crescer
· Aumento do número de raízes e suas ramificações
· Menor elevação de temperatura do substrato em nível danoso à planta
· pH correto do solo para a espécie
· Condições ideais para a troca de íons
· Meio apropriado para o desenvolvimento de bactérias benéficas associadas
· Cor e aparência agradável
· Facilidade em aplicar e controlar nutrientes;
· Menos estresse pela diminuição dos riscos em quebrar raízes mais grossas
· Menor probabilidade de galhos mortos
· Melhora na saúde da planta
· Aumento da longevidade do bonsai

Vamos entender essa granulometria ou tamanho das partículas nesse substrato.


As raízes vão crescer entre as partículas do solo, se olharmos bem de perto iremos ver que a parte merismática ou
capilar vai de encontro com as partículas, hora mudando de direção no seu crescimento, hora ramificando-se e
aumentando-se de tamanho e área deste tipo de raiz e isso é muito bom.
Neste crescimento as raízes estarão em busca da água disponível que estará junto ao ar. Isso mesmo!
Todos já viram na escola sobre as propriedades da tensão superficial dos líquidos, que criam um efeito capilar e que
elevam um líquido, aderindo a pequenos corpos. Isso fará a água aderir às partículas do nosso substrato granulado,

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mantendo tanto oxigênio como também a água.


Sabemos hoje que a granolometria ideal neste substrato estaria também entre 2 e 5 milímetros, variando entre estes
tamanhos.
Pra conseguirmos estes tamanhos precisamos então de duas peneiras. Uma com 1 ou 2 milímetros de malha e a outra
entre 4 ou 5 milímetros de malha.
Vamos moendo o nosso substrato escolhido e peneirando na de malha maior, o que não passar pela peneira maior
mói-se novamente até que tudo passe. Depois peneiramos na mais fina, o que passar tem que ser descartado, pois é
pó ou pequeno demais. O que ficar nesta última peneira será utilizado!
Temos também grãos de 2 tipos, o liso do tipo cascalho de rio lavado (meio vítreo) e os ásperos do tipo calcário
dolomítico (ou Dolomita) moído.
O grão mais áspero tem uma área de superfície muito maior que o grão mais liso e isso proporciona uma capacidade
de retenção de líquidos muito maior que o grão liso. Portanto, os grãos ásperos são muito mais apropriados na
utilização em bonsai

Informação polêmica!!!
Costumamos colocar só cascalho mais grosso no fundo dos vasos com a finalidade de melhorar a drenagem do
substrato e isso é utilizado pela maioria dos mestres, foi o que me ensinaram e é o que faço ainda, mas pesquisas
recentes mostraram que esta prática pode estar fazendo mal aos nossos bonsai.
A capilaridade da água no substrato, que nos ajuda, tende a mover-se de uma partícula grande para uma partícula
menor e isso tende a carregar a umidade do vaso para a camada mais superior do substrato e criando uma “falta” de
água nas raízes mais baixas do vaso, formando um acúmulo de sais. Muitos mestres de bonsai estão começando
concordar que o ideal é conter uma mistura homogênea em todo o vaso sem a camada de cascalho mais grossa no
fundo!!! (vamos pesquisar?)

Mais algumas coisas a serem levadas em consideração na formulação do substrato


Profundidade do vaso - influencia drasticamente na evaporação da água, vasos muito pequenos como os de mame
ou muito rasos tendem a reter a umidade por bem menos tempo.
Insolação - ou período em que o vaso permanece exposto ao sol. Um vaso que fica o dia todo exposto ao Sol
obviamente perderá mais umidade que um vaso que fique ao Sol apenas durante a manhã
Clima - as estações do ano, clima ou micro clima local, ventos, média pluviométrica etc
Espécie cultivada - algumas espécies preferem solos bem encharcados como as Ericas Chinesas-(Leptospermum -
Na verdade é originária da Nova Zelândia e Austrália) Outros como os pinheiros e tuias se desenvolvem melhor em um
substrato que não se encharque.
Vaso - A superfície e material do vaso também influência na umidade de certa forma, um vaso mais poroso tende a
reter mais água

Características e possibilidades de materiais


No Japão utiliza-se uma composição de “Akadama” que é uma argila vulcânica e compõe a maior parte do substrato,
“Kiryu” extraído próximo a uma cidade de mesmo nome tem sua composição argilo-arenoso e “Kanuma” também
extraído próximo a cidade de mesmo nome, amarelado, ácido, de origem vulcânica, sem matéria orgânica e muito
usado puro para azaléias. Mas este material todo é muito difícil de ser encontrado no Brasil.

Dolomita - ou qualquer material mineral calcário, proporciona boa aeração, drenagem ph alcalino, livre de matéria
orgânica e nutrientes.

Cascalho lavado de rio - pedrisco ou areão de rio, normalmente formado por quartzo proporciona boa aeração,
drenagem pH Neutro, livre de matéria orgânica e nutrientes. Menos indicado pra algumas regiões que o cascalho de
dolomita por ter superfície mais lisa e de menor área retendo menos umidade.

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Terra de cupinzeiro moída - tem sua composição argilosa, boa aeração, retém boa umidade e nutrientes,
compactação moderada a (compacta-se em até um ano), tende ao ph neutro, pouco ou nenhum nutriente. È
conveniente assar este material depois de peneirado pra se evitar contaminações e semente de plantas indesejáveis.
Cupinzeiros de cor mais escura são menos arenosos e tendem a compactar-se ainda menos.

Vermiculita - Material de origem mineral com grande capacidade de absorção e retenção de umidade e retenção de
nutrientes, ph neutro, isento de nutrientes . Usado somente em vasos muito pequenos (mame) ou regiões muito
quentes em proporções não maiores que 10% do total da mistura. Pode ser encontrada em casas de agro pecuária.

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Substrato comercial - Do tipo Plantimax, Biomix etc Normalmente vem com matéria orgânica “curtida” incorporada
(restos de folhas, madeira, serragem, pó de xaxim) e terra preta. Não utilizar ou evitar os substratos que tenham a
adição de adubos (ou adubado). Alguns fabricantes colocam também vermiculita na composição, é bom observar isso
e tomar o devido cuidado. Pode ser bem aproveitado para composição se substrato para Azaléias, acidificando a
mistura. Por aqui uso 1/3 ou ¼ para as Azaléias.

Carvão vegetal - Tem certa propriedade fito-sanitária e pode ser usado em até 5% da mistura moída na mesma
granulometria dos outros componentes.

Material orgânico - em geral restos de vegetais em decomposição e esterco. Rico em nutrientes, pH ácido, grande
capacidade de retenção de umidade, compacta-se facilmente.

Argila expandida moída – Boas propriedades em retenção de umidade e absorção de nutrientes, boa aeração, pouca
ou nenhuma compactação, inerte, pH neutro, isento de nutrientes. Tem uma aparência desagradável por ser cinza
escuro quando quebrado.

Tijolo ou telha moído - Boas propriedades em retenção de umidade e aeração, pouca ou nenhuma compactação,
inerte, ph neutro, isento de nutrientes.

Laterita – Ou laterita mineira. Granulado rico em minério de ferro. Não seria normalmente parte do substrato, mas
podem ser usados alguns grãos em Azaléias e plantas com deficiência em ferro. Comumente usado como material em
aquário plantado e fácil de ser achado em lojas deste ramo

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Composição final do substrato “ideal”


Eu não diria que exista um substrato ideal, mas sim uma mistura básica para cada região do país (clima) e espécies.
Em geral mão se acrescenta material ou adubo orgânico, nem adubos químico ao substrato. Toda a necessidade de
nutrientes que a planta exigir será colocado periodicamente através de adubos específicos sejam eles químicos ou
orgânicos e retidos no vaso pelos materiais com boa absorção de água.
Uma mistura de uso geral que eu uso aqui na região Sudeste (São Paulo) seria de 50% de pedrisco de dolomita e 50%
de terra de cupinzeiro moída ou tijolo moído mais 5% de carvão vegetal.

Se for azaléia tiro 10% de cada material e acrescento 20% de material orgânico ou só acrescento 20% ao total da
mistura, mais para acidificar a mistura.
Se o caso for mame e você não tem como ficar sempre de olho na umidade, aquela pequena porcentagem de
vermiculita pode ajudar e ser acrescentada.
Tendo em mãos estas informações acredito que seja mais fácil para cada um formular o “Seu substrato ideal”! Levando
em consideração agora o gosto pessoal, clima local e disponibilidade do material citado!

As alternativas não faltam.

Recomendaria também os substratos prontos comercializados nos sites de Mizuno, Bonsai Brasil, e Nipon Bonsai,
entre outros poderemos encontrar diversos tipos de substratos.

Todo o texto acima foi lido ou estudado em livros, revistas, internet, conversas com os amigos ou meus Sensei,
portanto fica difícil citar uma fonte específica.

Também não sou nenhum expert, só um aficionado na Arte do Bonsai e se você é um aficionado como eu, vai perceber
que vale e muito a pena estudar a respeito, fontes para isso é o que não faltam e seus bonsai é quem agradecem!

Bom cultivo para os seus bonsai e boa sorte!

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